quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Edifício das Quatro Estações, Aveiro




Em Portugal, o Azulejo é um símbolo da arte popular que espelha a história e a cultura de um povo e a identidade de uma região. Uma das cidades portuguesas onde esta arte se encontra muito bem representada é na"Veneza Portuguesa", Aveiro, que para alem dos seus famosos canais fluviais, possui também um rico património azulejar. 
São variadíssimas as ruas  onde as fachadas dos edifícios ostentam inúmeros exemplares desta arte, todavia existe uma razão que explica esta forte presença de cerâmica na cidade, com efeito, toda a região possui um solo rico em argila,  os oleiros da região desempenharam um papel importante no desenvolvimento da arte local, valorizando a abundante matéria-prima.
A indústria da olaria começou a desenvolver-se em Aveiro por volta do século XVI,  a actividade foi-se desenvolvendo próximo da actual Sé, num local que ficou conhecido como o “Bairro dos Oleiros” que se foi expandindo até a "Travessa da Olaria", actual Avenida 25 de Abril.
O município de Aveiro foi um dos cofundadores da  Associação Portuguesa das Cidades e Vilas Cerâmicas(AptCC) e a conceituada Universidade de Aveiro, reconhecendo a importância da industria na região, em meados dos anos 70, promove a formação superior na área ao criar a licenciatura em Engenharia Cerâmica e do Vidro. 


A cerâmica rapidamente assumiu um preponderante papel na arquitectura ao ser utilizada como revestimento de edifícios, esta tendência de utilizar azulejos no exterior, apresentando motivos florais e cores muito vivas, foi importada do Brasil, sobretudo pelos emigrantes que regressavam ao país natal e que utilizavam os painéis de azulejos como símbolo de estatuto, poder e ostentação de riqueza. Até então, em Portugal, os azulejos eram usados sobretudo no revestimento de paredes interiores dos edifícios.

No inicio do século XX, a corrente artística denominada "Arte Nova", promove o revivalismo do azulejo como elemento decorativo na arquitectura. Entre muitos outros edifícios, é exemplo desse movimento um edifício de arquitectura civil localizado no centro da cidade, nos números 47 e 49 da Rua Manuel Firmino e conhecido como "Edifício das Quatro Estações" por representar na sua fachada quatro painéis representativos das quatro estações do ano. 


O edifício terá sido construindo por volta de 1922, ano a que reportam os azulejos da sua fachada que estão datados e cuja pintura das composições é atribuída a Francisco Pereira e Licínio Pereira, executados na Fábrica Fonte Nova em Aveiro, uma das mais importantes industrias cerâmicas da região.

Construído para casa de habitação, o edifício ao gosto "Arte Nova" do qual se destaca o referido conjunto de azulejos de qualidade  estilística e cromática que revestem a fachada principal, é composto por dois pisos, a fachada principal apresenta-se integralmente revestida com os painéis, no piso térreo, o "Inverno", no lado direito, e o "Outono", à esquerda. No 2º piso, à direita o "Verão" e à esquerda a "Primavera", o restante é preenchido a azulejos com motivos florais e cores tropicais.

Durante o século XX a casa ficou desabitado e foi-se degradando gradualmente e no inicio do século XXI estava em avançado estado de ruína, subsistindo apenas a fachada, que então exibia portas e janelas de madeira com guardas de ferro. 

Em 1999 o edifício foi homologado como IM - Interesse Municipal, por despacho de 25 abril, foi reconhecida a importância artística e arquitectónica que o mesmo representa para a cidade e em 2004, a fachada do edifício, parte principal do que restou da estrutura original, foi integrado num moderno complexo de habitações e escritórios, e os azulejos que o ornamentam foram restaurados.
A Fábrica Fonte Nova foi fundada em 1882 por três irmãos da família Melo Guimarães cuja instalações se situavam a sul da desaparecida fábrica do Côjo e produzia diferentes géneros de louça, em faiança grosseira ou faiança fina, em pó de pedra ou noutras variantes, e ainda deslumbrantes painéis de azulejo que podem ser apreciados ainda hoje um pouco por todo o país, exibidos nas fachadas de edifícios, como habitações, estações de Caminho de Ferro, com relevo para a velha estação de Aveiro com mais de 50 painéis ilustrativos da região, infelizmente um violento incendeio devastou a fábrica no ano de 1937.

Fontes:
SIPA;
DGPC;

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