sábado, 13 de junho de 2020

Ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro, Viana do Alentejo

Foto: Kina Barbosa, 2020

Viana do Alentejo, A terra que não quis senhor;


Viana do Alentejo é uma vila portuguesa, localizada a sudoeste, no Distrito de Évora, região Alentejo e sub-região do Alentejo Central. 
É sede de um município subdividida em 3 freguesias: Aguiar,  Alcáçovas e Viana do Alentejo.
O município é limitado a norte pelo município de Montemor-o-Novo, a nordeste por Évora, a leste por Portel, a sueste por Cuba, a sul pelo Alvito e a sudoeste e oeste por Alcácer do Sal.
Postal Ilustrado: Santuário de Nossa Senhora de Aires
Título: Igreja da Senhora de Aires. Viana do Alentejo (Portugal)
Descrição: Reprodução de postal ilustrado com fotografia do Santuário de Nossa Senhora de Aires.
Autor: Desconhecido. Data: início do século XX.
Apesar da Vila apresentar um carácter modesto, não deixa de ser notada uma certa opulência monumental que causa um certo espanto a quem visita a região. Todavia este fenómeno, se assim o poderei chamar, deve-se sobretudo à proximidade da corte que passava grandes temporadas em Évora, contribuindo assim para o desenvolvimento de toda a região circundante, sobretudo no que ao aspecto religioso diz respeito, Viana localiza-se apenas a cinco léguas de caminho da Évora, distancia considerada já para a época como uma jornada normal.
A Vila terá servido como distracção cortesã, são disso prova o Castelo, os antigos Conventos, a magnifica Igreja Matriz, obra do mestre Diogo de Arruda, um extraordinário artífice que trabalhou nas obras de D. Manuel, e ainda o Santuário de Nossa Senhora de Aires, um esplendoroso templo Rococó onde se venera uma Pietá gótica de pedra de Ançã e cuja arquitectura actual remonta a 1760.  
O actual santuário foi construindo sobre uma ermida quinhentista, cercada por cinco hospedarias para romeiros. Aqui ocorriam numerosos grupos de peregrinos para cumprimento de votos e novenas em honra da Nossa Senhora de Aires, romarias que chegaram às 12.000 pessoas. Os peregrinos atraíram mercadores e forasteiros fazendo da grande feira uma feira franca no ano de 1751 por alvará do Marquês de Pombal.   
O Brasão é composto por um escudo com um leão acompanhado lateralmente por dois escudetes carregados cada um, pela Cruz de S. Jorge ou pela Cruz da Ordem de Cristo. O escudo central é ainda acompanhado em cima e em baixo por uma estrela formada por dois triângulos com seis raios.
Esta velha vila diocesana representa o renascer de uma povoação muito antiga, que subsistira até ao inicio da reconquista cristã e destruída no âmbito dessa reconquista. 
Ali muito perto fica a herdade de Paredes, nome que vem das grandes paredes ou muralhas que lá existiam, com efeito são frequentes os achados arqueológicos que apontam para a existência de uma acrópole romana onde hoje domina o Santuário de Nossa Senhora de Aires. Os estudos mais consistentes que apontam para essa possibilidade foram levados a cabo por José Leite de Vasconcelos. 
Rodeada por hortas e quintas abundantemente irrigadas, elevada a 250 metros de altitude, e sitio plano, na elevação a que dá o nome. Viana do Alentejo foi durante muitos anos conhecida apenas por Viana e antes disso por Viana de Fochem ou Fosen ou simplesmente por Fochim ou Fosin, Viana de a par de Alvito e ainda Viana de Alvito
A origem actual da vila pode estabelecer-se com precisão,  num diploma  de 9 de novembro de 1313, onde D. Dinis cria a vila incluindo os lugares de Alvito, Benalbergue, Malcabrão, Oriola, Vila Nova e Vila Ruiva. Nesse mesmo documento os moradores comprometiam-se a edificar uma muralha de protecção militar em torno da vila. Para ajudar com a construção, o Rei entrou com 1.000 libras.  Recebeu foral em 1321.
As muralhas são hoje tão baixas que mal se lhe pode atribuir uma finalidade militar, mas apenas a intenção de fechar a vila.
As cortes e os reis refugiavam-se ali quando Évora era assolada por grandes epidemias, terá sido por uma dessas alturas que em 1482  terá sido realizada a reunião das cortes de Viana que havia sido convocada para sere realizada em Évora. Durante algum tempo D. João II ali ocupou o seu trono, ignorando a suposta maldição de que os senhores de Viana "tinham vida curta", com efeito o 1.º Conde, João Afonso Melo morreu poucos anos depois de receber o título, em 1383, passados alguns anos D. João I atribui o mesmo titulo a D. Pedro Meneses, o famoso governador de Ceuta, que viria a falecer três anos após a dita atribuição, em 1437. As terras ficariam assim atribuídas às "Capelas de D. Afonso IV", isto é, um acervo de bens que este rei havia instituído para sustentação de uma das capelas da Catedral de Lisboa, e só voltariam a ser doadas em 1640 a um filho de D. Fernando, 2.º Duque de Bragança, por coincidência o donatário adoece e conhecedor da maldição daquelas terras pede para que a doação seja revogada e D. Afonso V proibiu solenemente aos seus descendentes, doarem, alienarem ou trocarem fosse a que titulo fosse a Vila de Viana do Alentejo.
Não voltou a haver conde destas terras, D. João II ainda desafiou a maldição quando ali reuniu as primeiras cortes do seu reinado,  mas também para ele não houve muito tempo de vida. Definitivamente a vila não consentiria um senhor.
Viana do Alentejo foi também terra com grande tradição na Olaria, foram abundantes os oleiros nas feiras mercados no século XVII, a classe fora tão representativa que no século XX for instituída uma escola de cerâmica que possibilitou a investigação e reunião dos conhecimentos técnicos dos oleiros e a criação artística de que foram mestres: José Albino Dias; Júlio Resende; e Francisco Lagarto.  São seguidores desta corrente tradicional Feliciano Agostinho, António Agostinho e António Lagarto, no entanto surge uma nova corrente de artistas, jovens oleiros das oficinas do Sol, que fundem os processos tradicionais com o design moderno.

Ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro;

Postal Ilustrado: Ermida do Cruzeiro
Título: N.º 370 – Viana do Alentejo – Cruzeiro
Descrição: Reprodução de postal ilustrado com fotografia onde são visíveis a ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro e uma casa próxima. Autor: Desconhecido Data: início do século XX.
No antigo caminho das romarias à devoção de Nossa Senhora d’Aires, isolada numa planície que se estende entre Évora e a Serra de Viana, ergue-se a cerca de 200 metros a sudeste desse Santuário, a velha Ermida do Senhor do Cruzeiro, onde o tempo e a incúria dos homens deixou estragos quase irreparáveis a que urge pôr fim.
Foto: Kina Barbosa, 2020
A evolução dos impérios ultramarinos portugueses permitiu que a religião se materializa-se em grandes e múltiplas estruturas religiosas espalhadas por todo o território, ainda que a devoção a Cristo remonta-se aos primórdios da religião, com excepção dos mosteiros e conventos, que já abundavam no território ainda antes da constituição deste como pais, é a partir do séculos XVII e XVIII que o numero de pequenos santuários cresce exponencialmente por todo o país. 
Foto: Kina Barbosa, 2020
De acordo com documentação da época, a construção da ermida datará do ano de 1724, para ser edificada em local determinado, onde outrora existira já uma "Cruz do Senhor Jesus da Pedra", que segundo alguns historiadores essa cruz corresponderá ao cruzeiro do castelo, que terá sido transferido para o interior do recinto por volta do ano de 1804.
Segundo os registos de dia quinze de Novembro de 1742, Geraldo da Silva Rocha, morador em Ferreira, senhor das terras no sítio do cruzeiro, doou,  junto à Cruz do Senhora da Pedra, um pedaço de terra para que lá se pudesse erguer uma ermida. Determinou-se no mesmo acto, que a ermida ficaria orientada para o Santuário de Nossa Senhora de Aires e ainda que esta consagraria a sua devoção ao Senhor Jesus da Pedra, que já era venerado no local pelos fiéis.
Também a estrutura base da construção da Ermida, com a planta em forma de cruz grega, revela-se, no século XVIII, uma manifestação da devoção popular ao Crucifixo.
Foto: Kina Barbosa, 2020
Com planta em cruz grega mas com as laterais pouco expressivas, apresenta praticamente uma planta quadrangular, coberta por abóbada em calota(cúpula hemisférica), influencia de arquitectura árabe, muito embora o edifício apresente uma dimensão superior ao habitual para este tipo de função, isso talvez justifique as grandes fendas exibidas na cobertura, originadas sobretudo devido ao peso da grande cuba.
Foto: Kina Barbosa, 2020
A sua arquitectura é uma testemunha da fusão de estilos arquitectónicos, promovido sobretudo pela região onde o edifício se insere, o que o torna tão singular e belo. A planta é em forma de cruz grega, estilo muito apreciado pela arquitectura românica, a cúpula é de inspiração árabe, arquitectura com muita influencia em Portugal, sobretudo no sul, onde os árabes permaneceram durante mais tempo, e ainda uma belíssima fachada ao gosto barroco com origem e motivos franco-italianos.

Foto: Kina Barbosa, 2020
Em 1755 a Ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro estaria já construída, nela existia uma inscrição com essa data com menções honrosas ao fieis que terão financiado a sua construção e que ali se celebrou a primeira missa a data de 26 de setembro de 1756. 
Raquel Seixas considera que, tal como aconteceu noutros locais, a Capela do Senhor Jesus do Cruzeiro poderá obedecer a uma lógica da fusão entre o culto mariano e o culto cristocêntrico. Desde logo, afirmado na iconografia de Nossa Senhora de Aires que, na verdade, é uma representação de Nossa Senhora da Piedade, ou seja, a figuração da Senhora como testemunha da crucificação de Cristo, que é representado disposto sobre o seu regaço. Deste modo, ao santuário da Senhora de Aires acrescentou-se, nas suas imediações, a capela do Senhor Jesus do Cruzeiro, representativa do último dos passos da Paixão de Cristo. No dizer da autora, “Estes dois templos em conjunto contam a mesma história, tornando-se, por isso, complementares. Ao Cristo Crucificado sucede-se a Senhora de Aires (da Piedade) que conjuntamente com o Filho sofreu diante da Cruz.” 
Foto: Kina Barbosa, 2020
O interior, espaço amplo, encontra-se despojado da maioria dos seus elementos elementos artísticos e religiosos, incluindo o retábulo-mor. Podem ainda ser observados alguns vestígios de pinturas morais. No topo da abobada assenta um lanternim octogonal, alto e esguio, coroado no exterior por um coruchéu, destinado a proporcionar mais iluminação ao interior.
Foto: Kina Barbosa, 2020
A ermida encontra-se muito degradada, com a entrada entaipada, e cercada por ruínas de construções anexas. 
Pelo interesse arquitectónico que possui por si só, pela importância do complexo histórico e patrimonial que integra, classificado como Monumento Nacional em conjunta com o Santuário de Nossa Senhora d'Aires, por Decreto n.º 31-J/2012, DR, 1.ª série, n.º 252 de 31 dezembro 2012.   É imperativo o seu restauro respeitando a sua traça primitiva, repondo o cruzeiro deslocado para as mediações do Castelo.

Fontes:
patrimoniocultural.gov.pt
monumentos.gov.pt
conhecerahistoria.pt

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