quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

As Minas de Carvão de S. Pedro da Cova - Gondomar (Antes)

Foto de grande plano, do lado norte, dos edifícios mais elevados do complexo 
das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar 

Decorria o ano de 1138, um ano antes do final do seu condado, D. Afonso Henriques, doa S. Pedro da Cova ao Bispo do Porto, Pedro Rebaldis, sucessor do famoso Bispo do Porto D. Hugo. Em 1379 a doação foi confirmada por D. Afonso III do Couto de S. Pedro da Cova no julgado de Gondomar.

Foto de grande plano, do lado sul, dos edifícios mais elevados do complexo 
das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar

Com a extinção dos Coutos em 1820, passou a ter a categoria de concelho que viria a ser extinto em 1836. Tinha, em 1801, 697 habitantes. Com a extinção do concelho de São Pedro da Cova, a povoação passou a fazer parte do município de Gondomar.

Foto do Edifícios dos reservatórios da pedras de carvão do complexo das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar

Manual Alves de Brito, em 1795, por mero acaso, nus terrenos que nem sequer eram da sua pertença, descobre umas pedras de carvão (antracite), daí ao reconhecimento e caracterização geológica de inúmeras e importantes jazidas de carvão de pedra, foi num ápice, que mais tarde viria a revelar-se como a maior zona carbonífera do País.

Foto do armazenes de escolha, reserva e carregamento de carvão 
do complexo das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, Gondomar 

Não tardou para que o Estado tenha despertado interesse na exploração mineira, que não chegou a exercer o auto titulado de “direito de concessão” e vende e a exploração passa de companhia em companhia até ser a extração ser de fato desenvolvida.

Foto de Mineiro puxando um cesto de carvão do poço da mina. 

Até 1804, a extração foi irregular, os métodos tecnológicos não foram bem aplicados, pelo que eram gastos mais recursos que os necessários para obter uma produção pouco expressiva, o excesso de recursos humanos e combustíveis aliados a insuficiente profundidade de 100 metros, constituiriam as principais causas.

Foto de aparelhagem de madeiras para ancorar as paredes da mina. 

A relutância, por parte dos concessionários, em introduzir os melhoramentos aconselhados pela moderna arte de exploração mineira, viria a condicionar a eficiência na extração da mina em todo o seu potencial, esta informação viria a ser afirmada num relatório levantado em 1890.

Foto de mulheres empurrando afincadamente vagonetes ou berlinas de carvão. 

A produção em 1900 era calculada em 6 mil toneladas.

Foto da linha do cabo aéreo para transporte de carvão, 1917 

Em 1914, foi instalado um cabo aéreo com a extensão de 9 quilómetros que transportava o carvão até ao Monte Aventino, no Porto, no Lugar das Antas e também para a Estação dos Comboios de Rio Tinto.

Foto do transporte de carvão utilizando Zorras, camionetas ou carros puxados a animais.

O Monte Aventino era um depósito da companhia mineira com cerca de 42.000 metros quadrados, de onde seguia o carvão que abastecia a cidade do Porto. Os compradores utilizavam as Zorras, camionetas ou carros puxados a animais. O actual Parque de S. Roque está encostado ao Monte Aventino que daquela época já pouco terá.

Foto de um dos armazéns de carga da mina. 

Em 1914 atingiu 25 mil toneladas.

Foto do cais do Rio Douro, carregamento dos barcos com carvão com o uso de certos, 1917. 

A estalarão do cabo aéreo em Medas veio facilitar também o transporte do carvão até à margem direita do Rio Douro, na travessia do cais, mulheres com cestos à cabeça, acondicionavam o carvão para embarcar pelo Douro.

Foto do “Eléctrico 10” percorrendo as linhas do Porto até S. Pedro da Cova,
assegurava o transporte de passageiros. 

Zorra percorrendo as linhas do Porto até S. Pedro da Cova , assegurava o transporte de carvão. 


Em 1918 surge a primeira ligação de transportes ao Porto, com a construção da linha do elétrico 10 com traço a qual chegou a S. Pedro da Cova proporcionando um contacto mais regular com uma nova realidade.

Foto da Central Hidro-Elétrica de Massarelos, 1917 

Foi feito também um desvio para o Couto Mineiro, onde as Zorras (carros eléctricos preparados para transportar mercadorias e que aqui se chamavam “Viúvas” pela sua cor negra e sujidade) recolhiam o carvão e transportavam-no para o Porto com destino à Central Hidro-Eléctrica de Massarelos, inaugurada em 1915 e que veio substituir a da Arrábida.

Foto da Torre-Cavalete , situada na parte superior do Poço de S. Vicente, construída posteriormente. 

Em 1921 abriu-se o Poço de S. Vicente que atingiu 157 metros de profundidade viria a ser aprofundado mais uma vez em 1935.


Foto de Operárias (Escolhedeiras de Carvão) da Minas, Década de 40. 

As duras condições de trabalho provocaram muitos acidentes, doenças e mortes. Talvez por isso e com o movimento e a organização sindical a apoiar, os mineiros e as gentes desta terra, ficaram com a fama de promover fortes lutas laborais contra o regime Salazarista por melhores condições de trabalho. 

Foto do carregamento dos cestos para transporte do carvão. 

Em 1923, da-se uma das famosas greves trabalhistas cuja manifestações foram contra o período de 16 horas de trabalho consecutivas (acho que é uma forma de dizer pois deveria haver um intervalo, pouco que fosse, para o lanche, embora comido no interior da mina).

Foto de vagonete ou berlinas de carvão empurrado por mulheres, década de 40. 

Em 1932 cerca de 183 mil.

Torre-Cavalete, construída para auxiliar o acesso ao poço de S. Vicente 

Em 1935 foi também construída a actual e arruinada Torre-Cavalete que se ergue acima do poço com a altura de 6 andares.

Foto de Mineiro munido dos objetos para entrada no poço da mina. 

Por relatos de quem vivenciou bem de perto essa realidade, descreveu que levavam o farnel ao ombro, o gasómetro numa mão e o machado na outra. Os homens desciam para a mina por um sistema idraulico, dentro de uma jaula nela encastrado.

Foto de um Mineiro a extrair carvão do subsolo da mina. 

O lugar mais fundo ficava a 450 metros de profundidade e só se atingia a pé. Da jaula seguiam, muitas das vezes com fardamento precário (muitos chegaram a trabalhar nus por não suportarem o calor), sobre as pedras afiadas para as suas frentes de trabalho, onde picavam as camadas de carvão durante oito horas, quando o elevador subia, devagarinho, e os homens cá fora falavam baixo uns com os outros, adivinhavam-se más noticias, morte ou ferimento grave teria resultado da infortunaria expedição.

Fotos de mulheres (Britadeiras)a prepara o carvão para as cestas ou carrinhos. 

Os relatos e depoimentos dos mineiros não precisam de ser ficcionados para os considerarmos como «trágicos» no que toca à caracterização do trabalho no interior das minas. Também as precárias condições de segurança em que labutavam estes trabalhadores originavam graves acidentes de trabalho, significando nalguns casos a própria morte.

Foto de mulheres carregando as berlinas com carvão para transportar até as linhas de carga. 

Um relatório estatístico referente a 1939 indica-nos que nesse ano foram contabilizadas 524 vítimas de acidentes de trabalho ocorridos nestas minas, o que equivale a cerca de 28 por cento do total dos trabalhadores, sendo que 64 por cento desses mesmos acidentes implicaram mais de sete dias de incapacidade de cada uma das suas vítimas.

Foto do transporte subterrâneo de carvão auxiliado por veículos de tracção animal. 

Em 1941, em plena guerra atingiram-se 360 mil toneladas de carvão.

Foto da Cooperativa do pessoal das Minas de Carvão, 1917.


Foto da Cantina Social das Minas de Carvão. 

Foto da escola Particular de Adutos, Mina de Carvão. 

Foto da Padaria Social das Minas de Carvão 

Nem tudo era mau para os trabalhadores, já em plena II Grande Guerra Mundial, numa época de racionamentos, a empresa exploradora criou uma cooperativa onde vendia produtos abaixo do custo, uma cantina e promovia o ensino obrigatório para adultos e para os seus filhos, existe uma espécie de documentário em vídeo nos Arquivos da Cinemateca, produzido, pela Invicta Filmes, que reproduz o quotidiano da atividade minéiraa desde a extração, passando pelos diversos canais de distribuição e até alguns dos seus principais clientes industriais e de produção de energia.

Foto de uma empresa de fiação e tecelagem de Gondomar, utilizava carvão ativado como composto.

Foto da Fábrica de Fiação de Tecidos de Santo Tirso, 1917 

Foto da Fábrica de Riba D’ave, 1917 

Foto da Fábrica de Tecidos dos “Ingleses”. 

Foto do campo de Futebol das Minas de Carvão, 1917 

Foto das Piscinas das Minas de Carvão, 1917 

Foi criados espaços de lazer para ocupação de tempos livres dos trabalhadores, familiares e amigos, foi construído um campo de futebol em em “terra batida” , rudimentar, para os tempos de hoje, e ainda uma piscina de dimensão bastante generosa a ponto de ter sido utilizada para campeonatos nacionais de Polo Aquático, o primeiro desporto coletivo olímpico.

Foto de habitações em banda pertencente ao Bairro Social das Minas de Carvão 

Construíram também um bairro residencial,composto por 102 habitações, hoje restaurado e todo habitado, o Bairro Mineiro, e as Casas da Malta onde habitavam os trabalhadores que vinham de vários pontos do País para as Minas. Uma delas foi adquirida pela Junta de Freguesia que a restaurou e nela instalou o Bonito, Instrutivo e Simbólico Museu Mineiro, além de serviços sociais para a terceira idade, essencialmente composta por ex-mineiros.

Foto das Instalações Médicas das Minas de Carvão. 

Foto de cuidados Médicos e de Enfermagem das Minas de carvão. 

Foto da farmácia, fornecimento gratuito de medicamentos para trabalhadores. 

Apesar do descontentamento dos trabalhadores, pois trata-se de um setor de atividade, ainda hoje com os meios tecnológicos que dispomos,mais exigentes e desgastantes de sempre, pois foram evidentes as associações às maleitas de que padeceram muitos dos mineiros que trabalharam quase uma vida nas minas de carvão, as condições social dos trabalhadores, estavam muito acima do que eram as condiciones aplicadas a vários outras classes de trabalhadores, beneficiavam também de serviços médicos e de enfermagem no local de trabalho, assim como também os medicamentos eram fornecidos de forma absolutamente gratuita.

Ficha identificativa e representativa de um trabalhador. 


Ficha identificativa e representativa de uma trabalhadora. 

Na ficha pessoal de uma trabalhadora, pode ler-se um castigo aplicado por faltar às aulas. E também o pagamento de um subsídio de 100 escudos por maternidade. A questão das férias era outro direito cumprido dentro das normas, o que não acontecia com trabalhadores em outros lugares.

Foto de Mineiras com cestos de transporte de carvão na cabeça, década de 40. 

Até finais da II Guerra Mundial, por volta de 1945 as minas de São Pedro da Cova, que chegaram a empregar 1800 pessoas de ambos os sexos, incluindo rapazes e raparigas. Eram as mais importantes do país de onde se extraía 70% da produção nacional de carvão.

Imagem do Relatório da Greve de 1946 

Em 1946, dasse uma outra famosa greve dos mineiros de São Pedro da Cova, aquela que foi a primeira greve contra a ditadura “patronato nazi-fascista”, cerca de mil mineiros protestaram durante 6 dias para melhores condições salariais, ao todo, 31 operários mineiros foram detidos pela PIDE, no pós-Guerra, na sequência de uma luta que acabaria por resgatar um pouco da dignidade perdida ao fundo do túnel e teria impacto a nível nacional. Poucos sabiam ler e escrever.


Foto de trabalhadores de vários setores das minas de carvão. 

Mas apesar da repressão, conseguiram aumentos na ordem dos 15 por cento nos seus salários.

Também nos registos diários do pessoal em serviço, referente ao dia anterior à paralisação de 1946, regista-se a existência de 45 sinistrados e 124 doentes, entre mineiros e enchedores, número este assumido pela própria empresa.

Foto de cestos de carvão a ser transportado até a Estação de Rio Tinto através dos cabos aéreos.

A baixa dos preços do petróleo traz a crise e o complexo mineiro fecha a 25 de Março de 1970.

Foto Panorâmica das Minas 

Embora o declínio e extinção das Minas nos anos 70 do século passado tenha tido aspectos sócio-económicos gravíssimos, terá empregado aproximadamente 8.000 pessoas ao longo da sua existencia, o certo é que S. Pedro da Cova passou a ser um território mais populacional, até considerado um dormitório do Porto. 

A herança das minas permanece, porém, na freguesia.

Fontes:
cinemateca.pt/
olhares.sapo.pt/
porto24.pt/
joelcleto.no.sapo.pt/
doportoenaoso.blogspot.pt/
cris-sheandbobbymcgee.blogspot.pt/
restosdecoleccao.blogspot.pt/
monumentosdesaparecidos.blogspot.pt/
roteirodeminas.pt/
portojofotos.blogspot.com/
fanzeres-saopedrodacova.pt/
jpn.up.pt/
lugaresesquecidos.com/
expresso.pt/
visao.sapo.pt/
ocastendo.blogs.sapo.pt/
portoarc.blogspot.com/
pt.wikipedia.org/
rtp.pt/

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