sábado, 29 de junho de 2019

Cine-Teatro de Almeirim

Cine-Teatro e Café Império de Almeirim, 1991
Fotografia de Filomena Bandeira

Almeirim é uma jovem cidade portuguesa(cidade desde 1991) localizada numa planície ribatejana que se estende até ao Tejo, pertence ao distrito de Santarém, é sede do concelho subdividido em 4 freguesias,  limitado a norte pelo município de Alpiarça, a leste e nordeste pela Chamusca, a sul por Coruche e Salvaterra de Magos, a oeste pelo Cartaxo e a noroeste por Santarém. 
O vinho e o melão produzidos na região, para alem de serem de excelente qualidade, representam também uma importante fatia da economia local. Almeirim é uma terra de gente boa e generosa, é aqui que nasce a lenda da "Sopa da Pedra" que como toda gente sabe se baseia na solidariedade colectiva e que é ainda hoje um  marco gastronómico na região.  

Cine-Teatro e Café Império de Almeirim, c.1970
Fotografia do espólio de Eu Gosto de Almeirim.

O concelho é conhecido pela sua grande hospitalidade, possui uma quantidade anormalmente elevada de estabelecimentos de restauração e cafetaria, um dos atractivos são os numerosos eventos de carácter social e cultural, de dimensão regional, nacional e internacional, que o concelho acolhe anualmente por possuir boas estruturas de apoio a estas actividades.  

Cine-Teatro de Almeirim, Vista parcial da fachada, 1997
Fotografia de João Torres, Arquivo CMA.

Todavia, nem sempre foi assim, durante os anos 20 e inícios dos anos 30 a "sétima arte" chegou à então vila de Almeirim pelas "mãos" da Associação Recreativa de Almeirim,  e  as sessões cinematográficas era exibidas ao ar livre, nas antigas Cavalariças Reais ou nas instalações improvisadas da Sede da Associação. Com o  aparecimento do cinema sonoro, gerou-se um entusiasmo para a criação de  uma sala de espectáculo com as condições que acompanhassem as novas evoluções. 

Cine-Teatro de Almeirim, Vista da fachada principal, março de 2000
Fotografia de João Torres, Arquivo CMA.

Assim, em 1938 é constituída a  sociedade "Cine-Teatro de Almeirim Lda." fundada José da Silva Torrão Santos, Teodoro da Silva Santos e Bernardino Ribeiro Gonçalves, cujo objectivo era construir e explorar a nova sala de espectáculos da vila, sobretudo direccionada para cinema e teatro. A criação de estruturas com esta dualidade de valências era comum na época.

Alçado Principal do Cine-Teatro de Almeirim, Projecto de Amílcar Pinto, 1939
Aqruivo da IGAC.

A então recente construção do  Teatro Rosa Damasceno em Santarém, poderá ter constringido para que a escolha da realização do projecto "Cine-Teatro de Almeirim" tenha recaído sobre o arquitecto Amílcar Silva Pinto que o conclui a fevereiro de 1939, alguns meses depois foi comprado o terreno para nele construírem o edifício. A escolha recaiu sobre um terreno localizado numa artéria principal da vila, zona de expansão do núcleo urbano (Praça da República), onde se encontrava uma antiga capela ao Senhor dos Passos, entretanto demolida. A construção foi adjudicada ao empreiteiro Benjamim Almeida.

Cine-Teatro de Almeirim, Vista da fachada principal, março de 2000
Fotografia de João Torres, Arquivo CMA.

O Cine-Teatro foi concebido com base numa arquitectura modernista a que Amílcar Pinto já nos tinha habituado, contudo, esta obra constituiria uma das primeiras expressões modernistas nesta vila. O edifício desenvolve-se longitudinalmente, composto por dois andares e cobertura mista entre telhado e terraço acessível orientado para a praça proporcionando uma vista agradável aos frequentadores. A fachada principal foi construída em alvenaria e as laterais e posteriores foram formadas por uma estrutura em pilares de betão armado, ligados por vigas que recebem todas as cargas da construção conforme esquema geral e detalhes especiais a fornecer. 

Cine-Teatro de Almeirim, Vista da fachada principal, 2002
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

A fachada principal era rasgada por um vão de quatro portas de acesso ao nível do rés-do-chão com acesso aos vestíbulos de entrada, que se abriam para as bilheteiras e para a escada que se orientava para o foyer.  As portas de entrada  foram feitas em casquinha, para serem pintadas, levando puxadores em tubos metálicos pintados. Enter as  portas centrais foram colocadas duas caixas de parede para afixação de cartazes ou fotografias, levando um caixilho em ferro e vidro. Existia uma quinta porta que se diferenciava das restantes e que permitia acesso directo ao palco, servindo também como saída de emergência. 

Cine-Teatro de Almeirim, vestíbulo e bilheteiras da plateia, 2002
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

A primeira porta da fachada dava acesso a umas escadas para o primeiro piso onde existia um vestíbulo, onde se localizava a bilheteira da plateia, e que dava acesso a a uma entrada lateral para o balcão.As duas portas centrais serviam para a saída do público directamente da plateia para o exterior, atravessando a foyer. Ainda, neste foyer do balcão, estavam colocadas as instalações sanitárias para
homens e senhoras.

Cine-Teatro de Almeirim, pormenor da parede lateral, 2002
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

No interior era visível uma cuidada decoração nos revestimentos de paredes e tectos, com especial referencia para o tecto da sala de espectáculos, o vão da caixa da escada e os balcões.
A maquina de projecção original era ainda movida a carvão, a combustão de carvão produzia a luminosidade necessária para projectar as imagens na tela. Esta máquina acabou por ser substituída na década de 1950 por outra que se manteve até ao encerramento da sala.

Cine-Teatro de Almeirim, Plateia, 2002
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

A Cabina de projecção encontrava-se por de trás da plateia num espaço independente, entre as duas portas que dão acesso à plateia. A sala de espectáculos albergava 599 lugares  mas que nos tempos áureos a sua lutarão excedia de longe e sua capacidade, os corredores e escadas eram preenchidos também por pessoas durante as sessões, devido à elevada afluência.  Nos anos 40 o preço de um bilhete rondava os 5$00 e na plateia entre  4$02 e 1$50 escudos, existiam vários bancos corridos em madeira destinados aos camponeses devido ao preço barato, a plateia poderia ser dividida em 1ª e 2ª plateia consoante as necessidades do cinema ou teatro. O auditório estava classificado como tipo A1 (salas de espectáculos) de 3ª categoria (entre 200 a 500 lugares), com palco de tipo B2 (espaços cénicos integrados), com espaços de apoio dos tipos C1 (locais de projecção e comando), C2 (locais de apoio) e C3 (locais técnicos e de armazenagem).


O desenho do palco principal com pendente foi construído com a possibilidade de integração de um sub-palco e camarins, tendo para isso sido levantada uma parede de suporte das terras do piso da plateia. Tem fosso de orquestra e proscénio, junto deste ultimo, encontravam-se as cabines dos bombeiros.  Na boca do palco serão levantados 2 pilares de betão armado servindo de apoio a uma viga geral fazendo de verga e boca de cena que suporta 1 parede de tijolo fazendo de guarda-fogo saindo acima do telhado. Junto aos pilares do proscénio, Do palco saía uma escada para o sub-palco e uma outra para a teia, no subpalco previa-se a construção de umas cabines ou camarins.

Cine-Teatro de Almeirim, Vista da fachada principal, 2002
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

O Cine-Teatro de Almeirim foi um dos primeiros projectos de Amílcar Pinto para este fim, durante a década de 20 e 30 do século XX foram construídos vários edifícios  para fins semelhantes, cinema, teatro, anfiteatro, auditórios, etc, cuja semelhanças arquitectónicas eram evidentes,  planta rectangular, de cena contraposta, com auditório comportando plateia e um balcão.  

Cartaz de apresentação do filme "Serenata" de Franz Schubert, 1940
Imagem do Arquivo do IMDb

No dia 16 de junho de 1940 é inaugurado o Cine-Teatro na Praça da República com a peça de teatro "A Inimiga", Companhia da Actriz Maria Matos.  Já o  primeiro filme exibido foi uma estreia, A Serenata, um filme de Jean Boyer  com musica de Franz Schubert. Por esta sala passaram grandes companhias teatrais de Lisboa e amadoras, na década de 1960, a grande atracção era a exibição de filmes de cowboys. Após o 25 de Abril, foram muitos os filmes censurados a passarem nesta tela. Mais tarde, com a introdução dos cinemas nos grandes centros comerciais, afastou esta sala das grandes estreias e dos filmes de sucesso, acabando por provocar o seu encerramento em 1993. A Câmara Municipal de Almeirim acabaria por comprara o espaço em 1995 com a intenção de implementar novos projectos futuros para o mesmo.

Café Imperial, Almeirim, maio de 2010.
Fotografia de José R. Noras.

Um ano depois da inauguração do Cine-Teatro de Almeirim, também segundo projecto de Amílcar Pinto, abriu portas o Café Império, adossado à empena lateral do teatro. A grande harmonia entre os dois edifícios só foi possível conseguir, desta forma sublime, pelo facto de ambos os projectos terem sido da autoria do mesmo arquitecto. Na verdade, tratou-se de um projecto promovido pela mesma entidade que financiou a construção do cine-teatro, a Sociedade Cine-Teatro de Almeirim Lda., que acabaria por vender o imóvel em 1995. Assim como no projecto do Cine-Teatro, também no Café Império o arquitecto manteve o conceito da modernidade, com linha simples na fachada distribuída por dois pisos. No rés-do-chão, através de uma única porta giratória em metal entrava-se no espaço do café, cujo desenho do balcão reproduz a linhas estilizadas do bar do cine-teatro. Todo o interior era decorado com lambril de azulejos de motivos geométricos. Através de uma escada interior, semelhante à escada do Cine-Teatro, assedia-se ao piso superior, nesse piso, ficava o salão de jogos, cuja fachada era toda contornada por uma varanda. Também as portas do salão de jogos eram idênticas às do Cine-Teatro, tanto no desenho, como nos materiais empregues. A ligação entre o cine-teatro e o Café Império, confirma a continuidade e a interligação entre este tipo de estruturas, na perspectiva da utilização plural do espaço urbano e do encontro social como tema da modernidade.

Cine-Teatro de Almeirim, Vista da nova fachada principal, 2010
Fotografia de José R. Noras

Já pela tutela da Câmara Municipal de Almeirim, o edifício do Cine-Teatro foi reabilitado com a introdução de melhorias, transformações, demolições e ampliações. A intervenção efectuada pelo arquitecto responsável Césas de Jesus Ruivo durou desde 2002 a 2005 e resultou numa  nova casa de espectáculos parar a população de Almeirim. As características excelências da fachada principal, projectadas por Amílcar Pinto, foram mantidas, apenas foi ampliada num plano recuado por forma a não interferir com equilibrio das fachadas do antigo Cine-Teatro e o Café Império.

Cine-Teatro de Almeirim, Vista da nova fachada principal, junho de 2008
Fotografia de José R. Noras

Para a realização do projecto a Câmara Municipal de Almeirim elaborou uma candidatura  para recorrer ao apoio de fundos comunitários, o projecto de candidatura foi elaborado pelos serviços técnicos camarários.

Cine-Teatro de Almeirim, Vista da nova fachada principal, 2005

Na fachada principal, apesar de se ter preservado a plasticidade original, as antigas caixilharias foram substituídas por portas e janelas em vidro com o propósito de aumentar a entrada de luz natural, criar uma certa exposição do movimento interior e proporcionar uma maior leveza ao elementos constituintes dos vãos da fachada. Comparativamente com a fachada anterior, o grande elemento diferenciador da modernidade de Amílcar Pinto para a modernidade de César Ruivo, foi o acrescento uma pala de inox fortemente projectada, protegendo a fachada do piso totalmente revestida a vidro, que estabelece a a ligação entre a fachada antiga e os elementos da nova. 

Cine-Teatro de Almeirim, Nova Plateia, 2005
Fotografia de César Ruivo Arquitectos

O antigo teatro foi transformado num moderno equipamento cultural que reúne condições para a realização de espectáculos de diversas índoles. A nova sala de espectáculos tem capacidade para 289 pessoas e inclui duas salas de tradução, régie e cabina de som. 

Cine-Teatro de Almeirim, Novo Vestíbulo, 2005
Fotografia de César Ruivo Arquitectos

Depois da aquisição do imóvel pela Câmara, esta elaborou também uma proposta para a classificação do mesmo que viria a ser aprovada em 1998, data a partir da qual o Cine-Teatro passou a Imóvel de Interesse Municipal.

Cine-Teatro de Almeirim, Novo Projeto, 2005
Fotografia de César Ruivo Arquitectos

O projecto elaborado para a adaptação do espaço às novas necessidades e exigências funcionais à produção de espectáculos, teve sempre presente o conceito da modernidade. Neste sentido, foi elaborado um estudo prévio para avaliar as estruturas existentes com capacidade de se associarem ao novo projecto e dar continuidade às funções até então desempenhadas e ao mesmo tempo criar uma ponte de ligação entre as memórias passadas e vivenciais futuras unidas pela arquitectura de diferentes épocas.  

Cine-Teatro de Almeirim, Novas Escadas, 2005
Fotografia de César Ruivo Arquitectos

Assim, do edifício pré-existente, para além da preservação da fachada principal,  no seu interior foi mantida toda a estrutura do plano de boca de cena. A grande parte da estrutura foi demolido, tendo a intervenção levado a um reajustamento das divisões interiores e a construção de uma nova caixa de palco.

Cine-Teatro de Almeirim, Balcão Cafetaria, 2005
Fotografia de César Ruivo Arquitectos

No antigo foyer foi construindo um pequeno mostruário museológico que exibe objectos do antigo teatro e uma cafetaria de apoio às actividades.

Cine-Teatro de Almeirim, Pormenor do revestimento, 2005
Fotografia de César Ruivo Arquitectos

Com base numa reinterpretação da decoração anterior existente, César Ruivo procurou um diálogo e uma ligação à arquitectura inicial, reinterpretando os elementos com recurso a revestimentos em apainelados de madeira e pedra, usando um cromatismo com combinações fortes nos paramentos acabados a estuque.

Cine-Teatro de Almeirim, Visão Nocturna, 2005
Fotografia de César Ruivo Arquitectos

A Câmara Municipal de Almeirim integrou o seu novo Cine-teatro na rede de programação cultural ARTemREDE, com o intuito de dinamizar o seu Cine-Teatro e fomentar uma oferta cultural diversificada e de qualidade e ainda criar e sedimentar públicos e de assegurar conjuntamente a produção, a aquisição ou a circulação de espectáculos na região de Lisboa e Vale do Tejo. Esta rede pretende melhorar e qualificar a prestação de serviços públicos autárquicos no domínio cultural, bem como melhorar e qualificar as condições de funcionamento do mercado regional de bens e serviços culturais.
Integram esta rede 15 municípios da Região de Lisboa e Vale do Tejo, designadamente: Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada, Almeirim, Cartaxo, Entroncamento, Moita, Montijo, Nazaré, Palmela, Santarém, Sintra, Sobral de Monte Agraço, Torres Novas.

Arquitecto Amílcar Silva Pinto (1891-1978):


Arquitecto Amílcar Silva Pinto.
Espólio de Amílcar Pinto, Arquivo Rodrigo Pessoa, reprodução de 2011.

Amílcar Marques da Silva Pinto nasceu em Lisboa a 12 de Março de 1890 e faleceu a 6 de Julho de 1978 na mesma cidade. Licenciado em arquitectura pela Escola de Belas Artes de Lisboa, iniciou cedo a sua vida profissional, ingressando no serviço público logo após a fase de tirocínio, estabelecendo-se num atelier situado na Rua do Ouro, desde 1919. 

Desde 1918 a 1927 desenvolveu projectos ligados ao serviço público, a sua formação clássica agradava ao regime, construiu escolas, de entre elas os seus projectos mais conhecidos são Escola Primária das Azenhas do Mar, Sinta e da Escola Primária de Vila Verde de Ficalho, Serpa. Nesta época realiza ainda alguns projectos de moradias nas Beiras e no Alentejo, modelos histórico-cultural "Casa Portuguesa" ou até com algumas influências revivalistas. O seu percurso fica marcado por rupturas e continuidades.

No anos 30 a construção do Pavilhão da Achiles Brito coincide com a ruptura das formas clássicas como uma espécie de modernidade disfarçada, porem os edifícios dos Emissores e das Estações CTT assumiam já uma modernidade aproximada dos paradigmas internacionais.

Em 1938 Amílcar Pinto projectou uma da suas obras mais emblemáticas onde aplicou de forma eximia o seu conceito de “moderníssimo ”, apesar de abandonado, o Teatro Rosa Damasceno em Santarém, é ainda assim uma das suas obras mais conhecidas.

A partir de 1946, Amílcar Pinto desvinculou-se do serviço público. O período do pós-guerra trouxe o regresso das concepções tradicionais à obra do arquitecto. Assim nos anos 50 e 60, volta aos modelos associados à corrente “Casa Portuguesa” com simplificações decorativas e formais. Moradias unifamiliares, de considerável dimensão e luxo são características neste período da obra de Amílcar Pinto. 

Partindo de um processo de simplificação do tradicional, Amílcar Pinto desenvolve formas decorativas recorrentes, as quais associadas ao cuidado da decoração interior (desenhada pelo próprio) assumindo um estilo particular. Ainda hoje referido por “Casa Amílcar Pinto”, em certas localidades ribatejanas.

Durante a década de 60, brindou-nos ainda com alguns projectos, sobretudo de habitação particular, onde reincorpora pormenores de modernidade que actualizam a sua arquitectura a um certo “modernismo regional”. É exemplo destas características a Casa do Campino em Santarém de 1964. Objecto sem declarado valor arquitectónico, desfasado do tempo e da arte, mas que assume toda a simbologia da vivência tradicional do Ribatejo.

Amílcar Silva Pinto, um arquitecto português, hoje esquecido, mas cuja a obra se confunde com o percurso da arquitectura portuguesa do século XX, de entre as mais relevantes destacam-se:
Moradia da Quinta do Corjes, Covilhã, 1925;
Palacete na Rua Jacinto Freire de Andrade de António Joaquim Palma, Beja, 1925;
Escola primária as Azenhas do Mar, Sintra, 1927;
Pavilhão da Achiles Brito (Salão de Outono da Moda e das Artes Decorativas), Lisboa, 1927;
Casa para Magistrado (Biblioteca de Serpa), Serpa, 1928;
Mercado Municipal de Ponte de Lima, ponte de lima, 1931;
Emissora Nacional (Rua do Quelhas), Lisboa, 1933;
Emissora Nacional (Barcarena), Oeiras, 1933;
Café Central, Santarém, 1936;
Estação CTT, Ponte de Lima, 1936;
Estação CTT, Santarém, 1938;
Teatro Rosa Damasceno, Santarém, 1938;
Teatro Cine, Gouveia, 1942;
Teatro Cine Café Imperial, Almeirim, 1941;
Cine-Teatro e Restaurante Campino, Alcácer do Sal, 1948;
Hotel e Pastelaria Abidis, Santarém, 1942/44;
Moradia na Avenida Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Santarém, 1955;
Prédios multifamiliares na Avenida 5 de Outubro, Santarém, 1965/67;
Casa do Campino, Santarém, 1964/66;

Fontes:
"Amilcar Pinto - Um Arquitecto Português do Século XX", José Raimundo Noras, Coimbra, 2011;
"Amílcar Pinto, um arquitecto na província", Monumentos 29, VARIA, José Raimundo Noras e Tiago Soares Lopes;
"Cine-Teatro de Almeirim", Sistemas de Informação para o Património Arquitectónico, Isabel Mendonça, 2002;
"Cine-Teatro de Almeirim", Artigo do Blog Cinemas do Paraíso, pastagem de setembro, 2012;

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Sinagoga de Malhada da Sorda, Almeida

Fachada da Ruína da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação de António Reinas (facebook), 2017.

A Esnoga de Malhada Sorda, também conhecida como Casa do Relógio, Casa Quinhentista da Rua do Relógio e Sinagoga de Malhada Sorda, localiza-se na freguesia de Malhada Sorda no concelho de Almeida, distrito da Guarda, em Portugal. Esta pequena sinagoga, por essa razão denominada por Esnoga é um edifício aparentemente residencial utilizado para a prática religiosa clandestina da comunidade judaica de forma a não levantar suspeitas à perseguição da inquisição.

Fachada da Ruína da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

Vários autores defendem que a sua construção remonte ao inicio do século XVI, não só por apresentar na sua fachada principal uma janela em estilo manuelino(tardio), mas principalmente pelo tipo de arquitectura utilizado, Sinagoga camuflada de habitação e adaptada interiormente para nele celebrar o culto, revela que teria já sido decretada a expulsão judaica e a perseguição para os converter em "cristãos novos". 

Fachada da Ruína da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

O edifício apresenta uma arquitectura tipicamente rural, composta por dois pisos, o piso inferior aparentemente destinado a uma loja ou estábulo e o piso superior aparentemente destinado a habitação cuja acesso era efectuado por escada granítica exterior que se orientava para uma porta ao nível do primeiro andar. No ombral direito da porta de entrada não há vestígios da implantação da Mezuzah e uma pia de água benta encimada por uma cruz, sinal de conversão ao Cristianismo ou de dissuasão aos inquisidores, indicando que, supostamente, a habitação não tinha qualquer relação com a comunidade judaica. 

Cruciformes em Malhada Sorda, 2011
Fotografia partilhada pela J.F. Malhada Sorda (Facebook).

Na povoação existem cerca de 40 habitações com marcas cruciformes, normalmente exibidas nas cambas das portas que indicam que estamos perante uma comunidade judaica e de cristãos novos.

Floreira em forma de rosto com cruz na testa, sinal de conversão ao cristianismo, antiga casa de judeus, Malhada Sorda.
Fotografia partilhada por Filipe Antunes (Facebook), 2019.

Numa esquina da casa, no topo da fachada, encontra-se um relógio de sol, em granito, com numeração árabe esculpida e um espigão em ferro que mede as horas através da sua sombra projectada sobre o marcador. Este relógio foi acrescentado a fachada da casa depois do século XVII, altura em que é desenvolvida a 3.ª geração de relógios de sol. Os conhecimentos de astronomia, em particular do sistema solar levados a cabo pelas descobertas de Galileo permitiram, a partir do século XVII, construir relógios de sol e mecânicos com um elevado nível de precisão, esta geração de relógios ficou conhecida como "Relógios de Horas Francesas ou Modernos", este sistema encontra-se ainda actual. 

Relogio de Sol, Relógios de Horas Francesas ou Modernos, da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida.
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

Os historiadores da gnomónica dividiram a evolução tecnológica dos relógios de sol em três gerações: a primeira geração, até ao século XII, criando relógios de sol baseados na divisão do dia solar em 12 horas, de fundamentação religiosa, esta geração foi denominada de "Horas Canónicas ou Horas Temporais."; a partir do século XII, por influência da cultura árabe e também pela invenção do relógio mecânico, esta geração de sol, considera o dia solar dividido em 24 horas, vão ficar conhecidos como relógios de Horas Babilónicas ou Itálicas; a partir do século XVII, com as descobertas de Gagileo, aparecem os relógios com elevado nível de precisão, "ao minuto", conhecida por "Relógio Horas Francesas ou Modernas", tal como ainda hoje são projectados .

Aarom Hakodesh, armário sagrado do culto judaico, Esnoga de Malhada da Sorda, s/d
Fotografia partilhada por Filipe Antunes (Facebook), 2019.

No interior do templo, ao nível do 1.º andar existe um armário sagrado onde a comunidade judaica guardava a Torah, pergaminho manuscrito em forma de rolos que replica os textos hebraicos(Antigo Testamento) na base do Judaísmo e que é utilizado em todas as celebrações litúrgicas dessa comunidade religiosa. O Aarom Hakodesh, armário sagrado era conhecido também como Armário da Lei ou simplesmente Arca.

Torah, rolo em pergaminho mais antigo conhecido, data de entre 1155 e 1225.
Fotografia de Alma Mater Studiorum Universita' di Bologna

Estes armários sagrados eram designados por "Aarom Hakodesh" entre os judeus Sefarditas(termo usado para referir aos descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha) e encontravam-se em casas particulares usadas como sinagogas clandestinas (esnogas) espalhadas pelo país, alguns estavam escondidos por detrás de armários ou paredes falsas. Estes armários normalmente em pedra embutida na parede, apresentavam duas divisões, na divisão inferior eram colocados os livros sagrados, na divisão superior a lâmpada perpétua (Ner Tamid).

Vista geral da aldeia de Malhada da Sorda
Fotografia reproduzida de uma publicação dos amigos de Malhada da Sorda (Facebook)

A presença judaica na região de Ribacoa é anterior à própria formação do país, as primeiras medidas de regulamentação das relações entre cristãos e judeus foram empreendidas pelo Rei de Leão, D. Afonso IX. A permanecia destes no território, depois da sua integração no Reino de Portugal, foi pacifica.
Nos finais do século XV, Portugal acolhe cerca de 35.0000 judeus provenientes da região fronteiriça espanhola que entraram pela raia seca de Almeida e se estabelecem por terras de Ribacoa, privilegiando as localidades onde já havia comunidades judaicas. Os concelhos da Guarda, Trancoso e Celorico da Beira foram os mais escolhidos.

Fachada da Ruína da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação de António Reinas (facebook), 2017.

Poucos anos depois, com a subida ao trono de D. Manuel I, por casamento com a Princesa Isabel, filha dos Reis Católicos, o monarca comprometeu-se a expulsar de Portugal os judeus. Em 5 de Dezembro de 1496, por decreto, ordenou a saída de Portugal de todos os judeus, por discordar da medida, como alternativa poderiam permanecer desde que se convertessem ao Catolicismo, e viriam a ser descriminados como "Cristãos-Novos". Uma vez que essa conversão não foi promovida por convicção religiosa, a maioria dos "Cristãos-Novos" continuaram a pratica do judaísmo de forma secreta. 

Fachada da Ruína da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

Com o auxilio de algumas manobras de conspiração, D. João III consegue que o Papa autorize a introdução da Inquisição em Portugal, que se veio a verificar pela Bula Meditatio Concordia de 16 de julho de 1547. Esta prática de conspiração, com fundamentação religiosa, manteve-se até ao triunfo do Liberalismo em 1821.

Recuperação do interior da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

O município de Almeida viria a ser novamente porta de entrada para judeus e outros refugiados fugidos da Segunda Guerra Mundial, durante os primeiros anos da década de 40 do século XX. Nestes dois períodos, Vilar Formoso permitiu salvar a vida a cerca de 200.000 pessoas. 

Recuperação do exterior da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

Por integrar durante vários séculos o fluxo de entrada judaica no país, o concelho de Almeia havia de fixar uma comunidade bastante expressiva de judeus, que justifica a existência de tantos vestígios da sua cultura. Registos e artefactos confirma a existência de uma Judiaria na vila de Almeida e na antiga Villa de Castelo Mendo. Nas ultimas décadas têm aparecido indícios da prática judaica clandestina, disso são exemplos as Sinagogas descobertas em Vilar Formoso e na Malhada Sorda.

Recuperação do interior da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

Pelo destaque histórico que Almeida desempenhou ao longo dos séculos na receção de refugiados internacionais no século XV e, mais tarde, durante a II Grande Guerra Mundial no século XX. António Baptista, Presidente do Município de Almeida, decidiu recuperar a Esnoga de Malhada Sorda e em concluir o pólo museológico Vilar Formoso – Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes.

Recuperação do interior da Antiga Sinagoga, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

A Esnoga da Malhada Sorda foi recuperada e inaugurada a 30 de abril de 2017, o projecto decorreu em duas fazes distintas, na primeira fase, o arquitecto consultor da Câmara Municipal de Almeida, João Campos reconstruiu a casa tipicamente beirã recriando o aspecto que esta teria no século XVI, numa segunda foram estudados conteúdos e informações a disponibilizar no seu interior, no rés-do-chão um tear juntamente com informação e imagens sobre o linho desde a sua origem até ao produto final, no primeiro andar foram desenvolvidos conteúdos sobre o Judaísmo.

Antiga Sinagoga Recuperada, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

O porjeto representou um investimento na ordem dos 60 mil euro, apoiado pelo Estado Português, Câmara Municipal de Almeida e pelo EEA Grants “2009-2014”, um mecanismo financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA) através do qual a Noruega, Islândia e o Liechtenstein financiam diversas áreas prioritárias de acção junto dos países beneficiários do Fundo de Coesão da União Europeia.

Antiga Sinagoga Recuperada, Malhada da Sorda, Almeida
Foto reproduzida de publicação da Rádio Fronteira 106.9 FM Vilar Formoso (facebook), 2017.

O Município de Almeida integra agora a Rede de Judiarias de Portugal, que tem como objetivo principal a valorização do património judaico e cristão-novo. Para alem de Almeida entraram também mais sete municípios: Covilhã, Fundão, Torre de Moncorvo, Figueira de Castelo Rodrigo, Mêda, Idanha-a-Nova e Seia. 

Fontes:
Rotas de Sefarad - Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas, Edição n.º 101, janeiro, 2017;
Armários de pedra na arquitectura tradicional do Alto Côa. Testemunhos de culto judaico?, Texto de Marco Osório, SABUCALE;
Site da Amara Municipal de Almeida: cm-almeida.pt

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Os Pombais da Antiga Villa de Castelo Mendo, Almeida

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, 2006
Fotografia de domínio público, Wikipédia.

Castelo Mendo é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Almeida, extinta em 2013 no âmbito da reforma administrativa nacional, tendo sido agregada às freguesias de Ade, Monteperobolso e Mesquitela, é uma das Aldeias Históricas de Portugal. A freguesia foi formada em tempos por três paróquias: São Pedro, Santa Maria e São Vicente. Foi vila e sede de concelho entre 1239 e 1855. 

Aldeia de Castelo Mendo, Vista geral, s/d
Fotografia reproduzida e editada da DGPC.

Situada num alto fragoso nas margens do Côa, Castelo Mendo apresenta características predominantemente medievais, constituída por dois núcleos amuralhados, a Cidadela e a Barbacã. A cidadela de formato oval corresponde ao burgo velho originalmente protegido por muralhas com seis portas, formado após o foral de D. Sancho II em 1239. O burgo novo ou Arrabalde de S. Pedro protegido por uma muralha guarnecida por oito torres, foi uma ampliação da povoação levada a cabo por D. Dinis em 1285 e tinha reputação de ser uma resistente fortaleza. Com o terramoto de 1755 a muralha sofreu um rude golpe ficando parcialmente destruída. D. Manuel deu-lhe foral novo em 1510. A primeira referência a "Castro Mendi" consta de um documento escrito de 1202, todavia o local apresenta vestígios de ocupação que remontam à Idade do Bronze e à mais recente presença romana.

Os Pombais;


Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

Os pombais são construções com tradição milenar, tão antigas quanto a domesticação dos pombos, as mais antigas representações de pombos conhecidas, remontam a cerca de 4.500 a.C. e apareceram na antiga Mesopotâmia. Na Europa da idade média os pombais eram edifícios utilizados para a reprodução dos pombos e borrachos como alimento, pela sua carne e ovos e posteriormente, incrementou-se a produção de estrume de pombo, difundindo-se o seu uso. Na Europa renascentista e nos séculos seguintes os pombais tornaram-se uma moda, pela sua riqueza arquitectónica e pela capacidade dos pombos se integrarem no meio ambiente rural e urbano, privado e público, jardins e campos. 

Estima-se que em Portugal já existiam pombais ainda antes da ocupação romana verificando-se uma intensificação rural no início de século XIX e primeira metade do século XX, principalmente no nordeste Transmontano, Beira–Alta e Douro Superior (Almendra, Escalhão, Freixo de Espada Cinta e Vila Nova de Foz Côa), embora possamos encontrar pombais noutras regiões do nosso país como na Beira Baixa, Estremadura e Alentejo. Mas é sobretudo junto da zona fronteiriça espanhola das províncias de Castela e Leão, onde ainda hoje, apesar de vazios, existem milhares de pombais tradicionais que melhor representam este tipo de construções, apresentando características singulares na sua arquitectura.

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

Apesar de hoje ser considerado uma praga e problema de saúde pública, durante o século XX, o pombo domestico era animal bastante considerado pela sua grande contribuição na estratégia militar decorrida principalmente durante o século XIX, nas suas funções de pombo-correio, actividade ainda hoje apreciada a titulo desportivo.

Durante a década de sessenta do século XX, na sequência de um acentuado abandono rural e da intensificação da caça, a criação de pombos domésticos diminui drasticamente e os pombais foram abandonados, encontrando-se hoje a maioria em avançado estado de ruína e alguns readaptados para palheiros e celeiros. Alguns municípios têm-se desdobrado em esforços para a reabilitação dos pombais, reconhecendo-lhes um potencial turístico para a região.

A arquitectura dos pombais obedece a regras especificas, permitindo a utilização de materiais variados, tipologias variadas e estilos simples ou mais elaborados. As tipologias mais comuns e que melhor descrevem a arquitectura vernácula dos pombais em Portugal são: Forma de Ferradura; Planta Circular de uma ou duas águas; Planta circular de telhado cónico; e Planta quadrangular de uma água.

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo;


Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

O Pombal da Porta da Villa está construído numa propriedade inserida nos arrabaldes da "cerca nova" orientado para a porta principal do forte. Estima-se que a construção respeite ao século XIX, não tendo sido, no entanto, identificados indícios que permitam corroborar esta informação. 

Construção destinada à produção e exploração de pombos, com uma arquitectura pecuária de construção vernácula a base de granito, alvenaria, reboco e madeira, o pombal apresenta uma planimetria quadrangular formando um único volume, com uma pequena porta e janela de lintel recto sem moldura, em fachadas opostas. No interior do pombal, as paredes são revestidas por pequenas cavidades quadrangulares que se assemelham a pequenos alvéolos e que acolhem os ninhos dos pombos.

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

O chão é composto em terra batida, não possui qualquer tipo de pavimento, apenas a mesa de alimentação. A cobertura de um único caimento(informação indicada pelo formato das empenas), era originalmente em madeira coberto com telha cerâmica. 

O edifico encontra-se em ruínas, já sem telhado e muito vulnerável a desmoronamentos. Inserido numa das 12 aldeias históricas de Portugal, elemento incluído na zona de protecção da Aldeia de Castelo Mendo, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1984.

Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo;


Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

O Pombal do Calvário está construído num outeiro entre o cemitério e o calvário, nos arrabaldes da "cerca nova" orientado para a porta principal do forte, localizado próximo do Pombal da Porta da Villa. Estima-se que a construção respeite ao século XIX, não tendo sido, no entanto, identificados indícios que permitam corroborar esta informação. A referencia cronológica à sua construção é a aferição com outras construções idênticas e tradicionais.

Construção destinada à produção e exploração de pombos, com uma arquitectura pecuária de construção vernácula a base de granito, alvenaria, reboco, madeira e telha de canudo, o pombal apresenta uma planimetria circular formando um único volume de grossas paredes construídas em pedra, com uma pequena porta e janela de lintel recto sem moldura. A concordância entre a planta e a cobertura cónica realiza-se através de um acrescento em altura, a partir de uma zona marcada por pequenos blocos graníticos salientes. 

Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo, Almeida, 2018.
Fotografia reproduzida e editada de Recantos de Portugal em fotos.

No interior do pombal, as paredes são revestidas por pequenas cavidades quadrangulares que se assemelham a pequenos alvéolos e que acolhem os ninhos dos pombos. O chão é térreo com afloramentos rochosos onde se encontrava a mesa de alimentação entretanto retirada em virtude do pombal ter sido transformado em palheiro na sequência de obras realizadas nos anos 50 do século XX, durante essas obras o telhado foi alterado para cobertura de duas águas com as necessárias adaptações das empenas. Já no inicio do século XX o edifico foi alvo de novas intervenções, foi reposta a configuração cónica do telhado origina, substituição da porta e da janela e reabilitação do espaço interior. O edifício encontra-se inserido numa das 12 aldeias históricas de Portugal, elemento incluído na zona de protecção da Aldeia de Castelo Mendo, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1984.

Actualmente existem cada vez mais entidades sensibilizadas para a causa da preservação e reabilitação dos pombais em Portugal. A 4 de maio de 2000 foi fundada Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste “Palombar”, cujo objectivo é recuperar, conservar e revitalizar os pombais tradicionais existentes na região do nordeste transmontano (distritos de Bragança e da Guarda), projecto e iniciativa do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI). Outras associações continuaram este trabalho como a Leader (Associações de desenvolvimento Local) e a Corane (Associação de Desenvolvimento dos Concelhos da Raia Nordestina), que se destinam a preservar este tipo de arquitectura popular.


Fontes:
"Narrativa da Fundação das Cidades e Villas do Reino, os Seus Brazões d'Armas, etc." Archivo Historico, 1.ª Série, n.º1, setembro de 1889;
"Pombal junto à Porta da Vila de Castelo Mendo", Sistemas de informação para o Património Arquitetonico, texto de Margarida Conceição, 1997;
"Pombal junto ao Cemitério de Castelo Mendo", Sistemas de informação para o Património Arquitetonico, texto de Margarida Conceição, 1997;
"A Arquitetura Columbófila: Imagética e Personificação", Escola Superior de Design, Casimira Gonçalves da Mata Matos, 2013;