domingo, 9 de junho de 2019

Lugares ligados à vida de Almeida Garrett


João Baptista da Silva Leitão de (Almeida Garrett) (1799-1854):


João Baptista da Silva Leitão, que mais tarde adoptaria os apelidos Almeida Garrett (1.º Visconde de Almeida Garrett), nasce no Porto a 4 de fevereiro de 1799  na casa da antiga Rua do Calvário, n.ºs 18, 19 e 20, actual Rua Dr. Barbosa de Castro, n.ºs 37, 39 e 41 e morre em Lisboa a 9 de dezembro de 1854 na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, n.º 68, em Campo de Ourique, Lisboa . Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, tendo sido trasladado a 3 de Maio de 1903 para o Mosteiro dos Jerónimos. Os seus restos mortais foram posteriormente trasladados para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia em princípios de Dezembro de 1966. Almeida Garrett foi uma das mais célebres personalidades portuguesas do século XIX, destacando-se sobretudo na escrita,  foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática. 

No período de sua adolescência foi viver para os Açores, na ilha Terceira, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal. Em 1816 foi para Coimbra onde acabou por se matricular no curso de Direito. Em 1821 publicou O Retrato de Vénus, trabalho que fez com que fosse processado por ser considerado materialista, ateu e imoral, tendo sido absolvido.

Participou na revolução liberal de 1820 e em 1823 foi para o exílio em Inglaterra após a Vila-francada. Foi em Inglaterra que tomou contacto com o movimento romântico, descobrindo Shakespeare e Walter Scott entre outros autores. Visita castelos feudais e ruínas de igrejas e abadias góticas, vivências que se reflectiriam na sua obra posterior.
Tomou parte no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833 integrado no exército de D. Pedro IV.

De entre as suas obras destaque para o Arco de Santana em dois volumes, publicados em 1845 e 1850 e Viagens na Minha Terra que publica na Revista Universal Lisbonense em 1943, com a primeira publicação(integral) em 1846.

Porto, o Berço;


Rua Dr. Barbosa de Castro, n.º 37, na Vitória, Porto

Almeida Garrett  nasce num prédio de banda, típico da cidade Porto, com os números 18, 19 e 20 da antiga Rua do Calvário (Calvário Novo), assim conhecida desde 1679 para se distinguir do Calvário Velho onde se ergueu o já desaparecido convento das Carmelitas Descalças(Rua do Calvário). 
Hoje o prédio possui os números 37, 39 e 41 da renomeada Rua Dr. Barbosa de Castro desde 1920, em tributo ao advogado, Presidente da Câmara e juiz do Tribunal de Comércio do Porto, José Gonçalves Barbosa de Castro (1858-1920).

Filho segundo de António Bernardo da Silva Garrett (1740-1834)e de Ana Augusta de Almeida Leitão (1770-1841), casados em 1796. Neto paterno de José Ferreira da Silva e Antónia Margarida Garrett, materno de José Bento Leitão (sargento-mor de Ordenanças) e Maria do Nascimento de Almeida. Foi baptizado na Igreja Paroquial de Santo Ildefonso a 10 de Fevereiro de 1799. Os seus cinco primeiros anos  de vida passou-os nesta casa com os seus quatro irmãos. 

Rua Dr. Barbosa de Castro, n.º 37, na Vitória, Porto

Para assinalar o décimo aniversário da sua morte, em 1864, foi colocado na fachada, ao nível do 1.º piso, um medalhão em gesso, ao gosto neoclássico,  iniciativa da Câmara Municipal do Porto, com a seguinte inscrição, em letras maiúsculas: "Casa onde nasceu aos 4 de Fevereiro de 1799 João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett / Mandou gravar à memória do grande poeta a Câmara Municipal d’esta cidade em 1864".

O prédio encontrava-se devoluto há já vários anos, e a Câmara do Porto já tinha demonstrado interesse em adquirir o imóvel em diversas ocasiões, no entanto o inesperado aconteceu, na madrugada de sábado do dia 27 de abri deste ano, deflagrou um incendeio que destruiu o prédio por completo, restando apenas as paredes exteriores.

Rua Dr. Barbosa de Castro, n.º 37, na Vitória, Porto

Ainda assim a Câmara Municipal do Porto veio de imediato reafirmar que mantém o interesse na compra do imóvel privado, para a qual realizada proposta de aquisição. A ideia da aquisição do imóvel onde nasceu Almeida Garrett neste momento, prende-se com a intenção de assinalar os 200 anos da Revolução Liberal do Porto (1820), da qual Almeida Garrett foi acérrimo defensor.

"Tendo sido o Porto o berço da Revolução Liberal de 1820, de que se irão comemorar os 200 anos no próximo ano, é importante que, desde já, se procure adquirir a casa onde nasceu um dos maiores vultos do liberalismo e do romantismo, Almeida Garrett, visando instalar aí o que pode vir a ser um polo do museu do liberalismo".

Ilda Figueiredo, vereadora da CDU,(Noticias SIC)

A cidade do Porto deu o seu nome  à Praça fronteira à Estação de S. Bento, um largo, situado na zona histórica da cidade, digno do homem que viveu o Cerco do Porto e ajudou a suster as tropas miguelistas. Em sua memória a cidade encomendou a sua estátua, esculpida por Barata Feyo, que ergueu perto da Praça do General Humberto Delgado e em frente à Câmara Municipal do Porto.

 Vila Nova de Gaia, a Infância;


Gravura do morro do Candal (ou morro do Castelo de Gaia),1849.
Cesário Augusto Pinto (1825-1896), Gaia in As margens do Douro, Collecção de doze vistas.

Em 1804, com 5 anos de idade, foi viver para Vila Nova de Gaia, onde a família tinha propriedades. Numa primeira fase, habitou a Quinta do Castelo, no lugar do Candal (morro do castelo de Gaia), freguesia de Santa Marinha, sita nas proximidades das ruínas do Castelo de Gaia. Esta quinta pertencia à família do pai, António Bernardo da Silva Garrett, descende de uma família irlandesa, católica, emigrada por motivos religiosos. Vem para Portugal no séquito da rainha D. Maria Ana Vitória, mulher do rei D. José. Fidalgo cavaleiro da casa real, tornou-se selador-mor da alfândega do Porto, onde casa com D. Ana Augusta de Almeida Leitão, filha de um negociante rico e deputado dos vinhos do Alto-Douro.

Solar da Quinta do Sardão, c.1905. 
Fotografia de autor não identificado, espólio de Foto-Porto.

Numa segunda fase, fixou-se na Quinta do Sardão, em Oliveira do Douro, imponente propriedade rural servida de água pelo aqueduto dos Arcos do Sardão, construído  em 1720 por José Bento Leitão, seu avô materno, que pelo aqueduto trazia água de Vilar de Andorinho para a Quinta do Sardão. A este propósito escreveu o seguinte: “ Eu passei os primeiros anos da minha vida entre duas quintas, a pequena Quinta do Castelo, que era de meu pai, e a grande Quinta do Sardão que era, e ainda é, da família do meu avô materno, José Bento Leitão; ambas eram ao sul do Douro, ambas perto do Porto, mas tão isoladas e tão fora do contacto da cidade que era perfeitamente do campo a vida que ali viviam (...)".

Colégio do Sardão, 2016 
Fotografia de autor não identificado, espólio de Foto-Porto.

Em 1879 as tias maternas de Garrett doaram a Quinta do Sardão à congregação Instituto das Irmãs de Santa Doroteia que visavam a educação e a vida cristã regional. de Almeida Garrett ofereceu a quinta às Irmãs Doroteias, onde instalaram um colégio. No início, o Colégio tinha uma organização escolar de três tipos: uma escola masculina, uma feminina para alunas externas e outra, também feminina, para alunas internas. Por questões politicas fechou em 1910 e reabre em 1921 como escola feminina, interna e externa, depois de 1969 alarga-se ao recém criado ensino infantil.

Terceira (Angra do Heroísmo) e Graciosa, a Educação;


Rua de S. João, n.º 76,  Angra do Heroísmo

Por volta de 1909 e na sequência das invasões francesas, Almeida Garrett foi com a família para os Angra, Açores, procurando a segurança nas propriedades que a família paterna possuía na da Ilha Terceira. Foi aí que foi iniciado na vida eclesiástica, destinado a entrar na Ordem de Cristo e a formação clássica literária que lhe despertou o gosto e especial aptidão para o neoclassicismo arcádico que marcará as suas primeiras obras. A sua educação foi acompanhada sobretudo pelo seu tio paterno, bispo de Malaca, Frei Alexandre da Sagrada Família, e do tio materno tio João Carlos Leitão, formado em cânones e depois juiz de fora no Faial.

Apaixona-se por Elisabeth Hewsson, uma inglesa de família ligada ao comércio da laranja e já há alguns anos estabelecida na Terceira e equaciona a sua vocação religiosa. O tio Frei Alexandre, sabendo do namoro, resolve afastar da jovem inglesa o futuro eclesiástico, mandando-o, em 1814, passar uns tempos na Graciosa em casa do tio João Carlos Leitão.

João (Dias) Afonso discursando no descerramento da placa existente na casa onde viveu Almeida Garrett na Rua de S. João, n.º 76, Angra, 1954. Foto reproduzida do blog: Bagos d'uva

São deste período da sua vida as "Odes Anacreônticas",1814(pseudónimo de Josino Duriense), algumas das primeiras poesias inclusas na Lírica, poema épico inacabado Afonseida, ou fundação do império lusitano, 1815-16, um esboço trágico de Ifigénia em Tauride, 1816 e a tragédia Xerxes.

Em 1816 ingressa na Universidade de Coimbra, para seguir estudos de Leis. A vivência académica seria determinante na sua iniciação política e filosófica. Ainda estudante, participa no movimento conspirativo que conduziria à revolução de 1820. Terminado o curso em 1820, trabalhou como oficial na Secretaria dos Negócios do Reino.  Paralelamente despontava, irreverente, a vocação literária: no ano seguinte surgia o seu primeiro livro, "O Retrato de Vénus", um ousado poema que lhe mereceu um processo em tribunal.

Em 1821, regressa aos Açores numa viagem de possível motivação maçónica e em 1832, integra a expedição comandada por D. Pedro IV em Ponta Delga, juntamente com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar, tomou parte no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833. No século XIX, Angra do Heroísmo constitui-se no centro e alma do movimento liberal em Portugal. Tendo abraçado a causa constitucional, aqui se estabeleceu em 1828 a Junta Provisória, em nome de Maria II de Portugal. Portanto foi natural que em 1830 fosse nomeada capital do reino.


No memorial a Almeida Garrett, erguido no jardim público Duque da Terceira em Angra do Heroísmo, é sublinho o apreço que o escritor nutria pela sua ilha Terceira "Um dos mais nobres padrões da glória portuguesa". No mesmo jardim, foi esboçado no chão o seu retrato em calçada portuguesa.

Angra passou a chamar-se "do Heroísmo" por sugestão e empenho de Almeida Garrett, sendo-lhe concedido o título de "Sempre Constante, Mui Nobre e Leal, Heroísmo" e ainda a condecoração a Angra com o Colar da Ordem Militar do Grau máximo da Grã-cruz da torre e Espada, do Valor Lealdade e Mérito (com palma) -- pois esta condecoração só é concedida quando é necessário galardoar feitos heróicos em campanha e/ou por serviços excepcionalmente distintos, de abnegação e sacrifício pela Pátria ou pela Humanidade.

Lisboa, a Política;


Prédio paredes-meias com Palácio dos Condes da Regaleira, Largo de S. Domingos, n.º 17,1933
Fotografia de Mário Novais, arquivo da Biblioteca de Arte F.C.G.

Em 1821, Almeida Garrett pouco tempo teve nos Açores, junto da sua família, nos finais de agosto desembarca em Lisboa, em setembro assiste à tragédia "Catão" de sua autoria, no teatro do Bairro Alto, durante essa récita conhece D. Luíza Cândido Midosi, uma menina de 14 anos por quem se apaixona e com quem casa a 11 de novembro de 1822. Ainda nesse ano,  fixa residência em Lisboa no actual numeroº 17 do  Largo de São Domingos, uma casa mobilada meses antes para o efeito , na sua biografia a identificação  da casa é feita da seguinte forma "Regressando a Lisboa, ainda nésse mez de novembro, ahi fixou definitivamente a sua residencia, indo morar n'uma casa proxima á calçada do Garcia, que pegava com a que vinte ou trinta annos depois se denominou da Baroneza da Regaleira".  Em junho de 1823, vai para o exílio em Inglaterra fugindo das perseguições absolutistas, depois da libertação de D. Miguel (Vilafrancada), viveu entre Inglaterra e França durante vários anos.

Palácio dos Condes de Almada ou Palácio da Independência, Largo de São Domingos, s/d.
Fotografia de Octávio Bobone, Arquivo Municipal de Lisboa

Volta do exílio em 1827 com a protecção da Infanta D. Isabel Maria, vem morar para a capital, alugando uma casa na Travessa da Conceição em Campolide. Depois de ter passado três meses na cadeia do Lumiar, consequência de censura jornalística, vai morar para o numero 9-A da Rua da Saudade, por essa altura habita também a Rua da Bela Vista, antes de emigrar novamente para Inglaterra, sequência das perseguições miguelistas. Depois de deambular entre Inglaterra, França e Bélgica, depois de cumprir uma missão diplomática junto do governo inglês no habito das causas liberais, da qual participou também o Conde de Palmela e Mourinho de Albuquerque, regressa a Portugal em julho de 1833 e instala-se num quarto do Palácio dos Condes de Almada, no Largo de São Domingos.

Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 2019
Fotografia da Câmara Municipal de Lisboa

Pelas habilitações que possuía e por não ter ocupação foi nomeado oficial da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, neste palácio reunia a Comissão de reforma dos estudos para os quais Almeida Garrett havia sido nomeado. Foi nomeado Encarregado de Negócio de Portugal em Bruxelas parte para a Bélgica em 1834 onde representa Portugal até 1836. Volta para Lisboa e vai murar para uma residente na Rua do Bandeira n.º 15, depois de poucos meses muda-se para uma casa cuja descrita na biografia como "casa do pátio do Pimenta, que fica à esquerda (Casa da Rua do Bandeira), entrando, com um jardinzinho do lado de oeste, e tem o n.º 13-A", curiosamente, habitada anos mais tarde pela Viscondessa da Luz, musa inspiradora das suas poesias de "Folhas Caídas". 

Pátio do Pimenta, Misericórdia, Lisboa, 1954.
Fotografia de Eduardo Portugal (1900-1958), Arquivo Municipal de Lisboa.

Nesta "casa pequena, mas bonita, contornada com arbustos e flores, tendo uma linda vista sôbre o Tejo (...) Lá estava (...) senhora interessante, que muito amava Garrett, e elle não memos por ella", esta senhora era D. Adelina Pastor, enteada do negociante João António Lopes Pastor e de D. Jerónima Deville. Nesta época Garrett estava separado amigavelmente da sua legitima esposa, D. Luiza Candida Midosi. Nesta casa nasce em 1837 o seu primeiro filho, Nuno que viria a falecer dois anos depois. Daqui se mudou, pouco depois da morte de seu filho, para o n.º 7 da Traveessa da Conceição da Graça, a escassos metros onde Fernando Pessoa instalaria a sua Tipografia e Editora "Empresa Íbis" em 1907.

Travessa da Conceição da Graça, n.º 7, Santo António, Lisboa, 1954.
Fotografia de Eduardo Portugal (1900-1958), Arquivo Municipal de Lisboa

Na sua biografia, em relação à localização da casa, é dito que  "é a ultima, do lado esquerdo, na Travessa da Conceição de Cima, indo da Rua de S. Sebastião (vindo das taipas), junto à cortina grande da calçada Nova da Patriarcal Queimada. Tem hoje (1884) o n.º 17 é de andar nobre, com sete janellas, cinco ao rez do chão e portão largo. Está renovada e revestida de azulejos".

Travessa da Conceição da Graça, n.º17, Santo António, Lisboa, c.1954.
Fotografia de Eduardo Portugal (1900-1958), Arquivo Municipal de Lisboa

Tudo indica que a descrição, anterior, feita em relação à casa, diga respeito na verdade, a uma outra casa na mesma rua, existem de facto algumas características que tenha induzido em erro na sua identificação, atribuindo a casa do n.º 17 e não a casa do n.º 7 como casa onde o escritor tenha residido, e em termos comparativos, pela dimensão do edifício, a n.º 17 aproxima-se mais dos "tipos de casa" que este habitou. De qualquer forma, também esta foi demolida e em seu lugar, nasceu um edifício com uma fachada semelhante, mas recuada. Existem várias indicações em como esta casa também tenha sido habitada por Almeida Garrett, a correspondência que existe desta época, refere-se ao n.º7. O n.º17 apenas aparece numa descrição, mas à velocidade que Garrett mudava de casa, nada impede que também por esta tenha passado. Assim como outras, por exemplo, em Coimbra, nos anos de universidade, não existem grandes referencias sobre as casas onde viveu.

Demolição do prédio cito na Travessa da Conceição da Graça, n.º 7, Santo António, Lisboa, 2015
Fotografia da Fundação Cardoso de Moura

Andes de Almeida Garrett, outras ilustres personalidades já lá haviam habitado também, como Francisco de Paula Cardoso(Morgado de assentiz), D. Gastão Fausto da Câmara Coutinho de entre outros amigos de Bocage e Joaquim António de Aguiar(Duque de Bragança, Ministro de D. Pedro), conhecido como "o mata frades", por ter assinado o decreto da sua expulsão.

Novo edifício cito na Travessa da Conceição da Graça, n.º 6, Santo António, Lisboa, 2017
Fotografia da Imovirtual

Recentemente (2015) o prédio foi demolido, e construindo um novo edifício de proporções volumétricas semelhantes, o edifício assume hoje o n.º 6 da Travessa da Conceição da Graça pertence ao património da Fundação Cardoso de Moura, Benemérito António Cardoso de Moura(1892-1967).
O novo edifício foi projectado por forma a respeitar a harmonia arquitectónica da rua, foi preservado um perquue logradouro que se localiza nas traseiras, protegido por um muro alto, em alvenaria, encimado por ameias ao estilo românico.

Novo edifício cito na Travessa da Conceição da Graça, n.º 6, Santo António, Lisboa, 2017
Fotografia da Imovirtual

O imóvel destinado a habitação multifamiliar, disponível nas tipologias T1 e T2, de arquitectura contemporânea onde prevalece a sobriedade das linhas direitas, brinda-nos com alguns pormenores realmente surpreendentes, como é o caso de uma réplica de um painel de azulejos alusivo à Ribeira de Lisboa, antes do terramoto de Lisboa, o precioso painel original, encontra-se no Moseu dos Azulejos em Lisboa. 

Grémio Literário, Rua de S. Francisco, atual Rua Ivens, n.º37, c.1910.
Fotografia de Joshua Benoliel (1873-1932), Arquivo Municipal de Lisboa

A partir de meados de 1839, Garrett muda-se para o n.º 40 da Rua de S. Francisco, hoje Rua Ivens, por esta altura é oficializada a separação da sua primeira mulher. 
Curiosamente a casa é muito próxima do Palacete do Visconde de Loures, que em 1875 acolhe o Grémio Literário, instituição de utilidade pública da qual Garrett é cofundador em 1846, juntamente com Alexandre Herculano, Rebelo da Silva, (dramaturgo), de entre outras personalidades.
Nesta casa nasce também a 6 de novembro de 1893 o seu segundo filho, João, assim como o primeiro não vingaria, acabou por falecer a 16 de dezembro. Mais uma vez, o desgosto pela perda os convida a abandonar o lugar e minimizar as recordações que aguça o sofrimento.

Palácio Setecentista da Baronesa de Almeida Rua da Barroca, n.º 49-59, c.1900
Fotografia da Machado & Souza. Fl. (1896-1908), arquivo Municipal de Lisboa.

Assim, nos princípios de 1840 mudam-se para a Rua da Barroca, passando a habitar o primeiro andar do Palácio da Baronesa de Almeida, hoje nos n.º 49 a 59. Nesta casa vem a nascer a sua filha, Maria Adelaide Garrett. No verão de 1840, Garrett passam alguns dias em casa dos Pastores, na Quinta da Buraca, em Benfica, esta quinta pertencia então ao padrasto da sua companheira, João António Lopes Pastor, alugou também a casa em Campolide, para passar o resto do verão. A Quinta do Bom Pastor, para além do palacete, onde hoje funcionam os serviços da Conferência Episcopal, tinha também casas de apoio, após obras de requalificação e a necessária adaptação, foram transformadas nas instalações da Rádio Renascença, foi numa dessas casa que Garrett morou.

Palacete na Quinta do Bom Pastor, estrada da Buraca, Amadora, Lisboa
Fotografia de Rui Prata Ribeiro, Lda. (Arquitectos).

No inicio de 1841, muda-se desta vez para o n.º 42 da Rua do Alecrim, nesta casa havia de assentar durante vários anos a sua residência, pouco abaixo do Largo do Barão de Quintela, à direita. Passados poucos meses, teve o desgosto de perder a sua mulher,  D. Adelina Pastor morre a 26 de julho de 1841, durante três meses foi morara novamente para a Quinta da Buraca ou Quinta do Bom Pastor. Depois da morte da mulher a escrita intensifica-se , talvez por mecanismo de defesa, e é durante o período de luto que o escritor, na Rua do Alecrim escreve a peça "Frei Luís de Sousa, onde a angustia do personagem se confunde com o sofrimento do autor... Segundo a sua biografia, "Retido  em casa, pela ferida resultante de forte canellada, desde princípios de março até fim de abril desse anno de 1843, começou e concluiu o maior monumento que existiu no theatro portuguez - Frei Luís de Sousa". Nesta casa escreve também "Viagens na minha terra" e o prefácio do "Arco de Santana".

Pórtico de Entrada do Pátio do Pimenta, Misericórdia, Lisboa, 2013
Foto reproduzido do blog: Apontamentos de Lisboa

Na sequência de perseguições politicas, em junho de 1846, residia já no n.º13-F do Pátio Pimenta, nesta casa, decorreram vários reuniões politicas, com a presença de notáveis personalidades que influenciaram o destino da nação aportuguesa, como o Duque de Palmela e Mousinho de Albuquerque.

Teatro Nacional Dona Maria II, c. 1890, 
Fotografia de Eduardo Portugal (1900-1958), Arquivo Municipal de Lisboa

O Teatro Nacional D. Maria II, abriu em 1846, durante as comemorações do 27.º aniversário de D. Maria II, passando por isso a exibir o seu nome na designação oficial. Mas a história do Teatro Nacional, começou dez anos antes da sua inauguração.  Quando Passos Manuel assume a direcção do Governo,  encarrega  Almeida Garrett de pensar o teatro português em termos globais e incumbi-lo de apresentar  um plano para a fundação e organização de um teatro nacional, regular direitos autorais e edificar um Teatro Nacional "em que decentemente se pudessem representar os dramas nacionais". Em 17 de Dezembro de 1928 foi classificado como imóvel de interesse público pelo Decreto n.º 15 962 com a designação de Teatro Nacional de Almeida Garrett.

Antigo Palácio do Barão de Quintela e conde do Farrobo, Misericordia, Lisboa, c.1910
Fotografia de Joshua Benoliel (1873-1932), Arquivo Municipal de Lisboa

No inicio de 1849, na sequência de buscas efectuada pela policia na casa da Rua do Alecrim, muda-se da Rua do Alecrim para a Rua Salitre, n.º 180, passa a ser inclino de Francisco Carlos Botelho Moniz.
"Era prédio pequeno, independente, que ainda conservava a mesma physiologia, com as suas três janellas de frente no primeiro andar, grades de ferro nas duas do rez do chão e o velho portão ao centro (...) a casa agradara por ter quintal, o poeta amava as flores", muitas mais descrições foram efectuadas em relação à casa e mesmo a amplo jardim que possuía, mas neste caso, nem pelas descrições os biógrafos conseguiram identificar a mesma, isto para sublinhar que as descrições nos documentos podem induzir em erro ou, os edifícios podem sofre drásticas alterações que não permitam a sua identificação. Por esta altura o Palácio do Farrobo, a escassos metros da sua casa na Rua do Alecrim, acolhia também o Grémio Literário, depois da sua fundação em 1846,o grémio passou por várias sedes nos primeiros anos de sua vida, sempre na zona do Chiado, entre as quais este Palácio.

Governador do Forte do Bom Sucesso (Arco da Torre ou Arco de Belém), Lisboa, 1940
Fotografia de Eduardo Portugal (1900-1958), Arquivo Municipal de Lisboa

Em 1851 Garrett foi morar para Belém, no 1.ºAndar do n.º 16 das casas que se alinhavam do Largo ou Praça de D. Fernando, em direcção à "ponte dos vapores", onde passou o fim do verão e parte do outono desse ano. O destino repetiu-se no ano seguinte pela mesma época.
"O poeta passou o resto d'esse verão e o começo do outono na casa do arco da passagem para a torre, a qual tem hoje o n.º 40, na porta do meio, à direita, indo para o Bom Sucesso".
Esta casa era a antiga residência do Governador do Forte do Bom Sucesso (Casa do Arco da Torre), ficava ao fundo da Avenida da Torre de Belém, junto aos semáforos. Hoje nada mais resta para além da fachada.
Num documento de correspondência, o verão de 1953 terá sido passado numa casa do Largo do Pátio das Vacas, junto à Igreja da Memória, "é uma das que hoje (1882) teem o n.º 36 ou o n.º 40, subindo, à direita".


Casa do Marquês de Angeja" na Rua da Junqueira, n.º 1-7, Lisboa


Já no ano de 1854 foi murar para o n.º 1 a 7 da Rua da Junqueira, numa casa construída no antigo Forte da Estrela, de quem era proprietário o Marquês de Angeja, "Num domingo do mez de Junho de 1854, tendo já alugado os baixos da casa do Marquez de Angeja, para ir passar ao pé da filha o resto do verão(...), tomou o rez do chão da casa do marquez(...)", a filha  lecionava no Convento das Salésias. "No principio da Rua Direita da Junqueira, à esquerda, indo para Belém. è a que tem na parede o letreiro da citada rua, (...). A porta da entrada, para um pequeno largo ou recanto, mostra o n.º1".  Nesta casa campos a comédia "O Conde Novion", ou será marquês?...

Lisboa, o Leito da Morte;


A gravura reproduzida do Revista "Archivo Pittoresco" de 1857

No inicio de 1854, a 5 de janeiro, Garrett alugou a casa da Rua de Santa Isabel, n.º 56, que depois alterou para n.º 78,  hoje n.º 68, era seu proprietário Francisco José de Araújo Barros, encacrregou o armador Gaspar da mudança dos móveis da casa da Rua do Salitre.  Tendo adoecido na Junqueira, veio já meio debelitado par a nova murada em 30 de outubro de 1854, foi organizado um almoço de inauguração da nova morada, em que além do Biógrafo Gomes de Amorim, estiveram presentes os escritores Mendes Leal, Rebelo da Silva e Felner.

Casa onde morreu Almeida Garrett, na Rua de Santa Isabel, n.º 68, Lisboa, 1962
 Fotografia de Arnaldo (1940-), Arquivo Municipal de Lisboa

Gomes de Amorim, descreve pormenorizadamente e de forma exaustiva esta nova e ultima residência de Garrett, "no rez do chão ficava a porta principal, que dava para um pequeno vestíbulo, tendo de cada lado uma janela de grades e um portão. o portão da esquerda era o da cavalariça e o da direita correspondia a uma rampa que levava aos pátios, jardim e quintal. o Andar nobre tinha cinco janelas de frente: duas da bibliotéca, duas da sala e uma da saleta. nesse mesmo andar ficava o quarto de cama, com a respetiva retrete; o quarto destinado à filha; a casa de jantar, com a sua copa e a cosinha. Nas suas àguas furtadas havia ainda dois quartos, um, provisoriamente, revestido para a sua filha e outro para a criada. As diferentes divisões estavam guarnecidas poe móveis artísticos e de bom gosto." 

Modelo de uma biblioteca caseira do século XIX
A. L. Leroy (1827)

"Assim na biblioteca patenteavam-se duas magnificas estantes de pau santo e jacarandá, que lhe havia sido oferecido pelo Duque de Palmela; outras duas estantes mais modestas, que estão na Biblioteca Publica, de Angra; um bufete, presente do ministro do Brasil, em Lisboa, Vasconcelos Drummond e a célebre cadeira abacual, que fôra de seu tio D. Fr. Alexandre da sagrada família, que, presentemente, pertence ao Museu do Conservatório nacional de Musica."

"No quarto de cama havia entre outros móveis, uma magnifica cama de pau santo, em estilo sebastianista; na sala viam-se mesas, de embutidos, bufetes, banquinhas, cadeiras, colunas torneadas, etc., e na casa do jantar estava colocada uma mesa elástica de um só pé, dois móveis hamburgueses e doze cadeiras cobretas de marroquim."



"Como casa particular, foi a sua apesar de pequena, a primeira que em Lisboa se conheceu ornada quasi toda de móveis antigos restaurados. havia-as muito mais ricas, de pessoas opulentas, mas nenhuma de mais harmonia no conjunto artístico:"

Foi nesta casa que, pelas seis horas e vinte e cinco minutos da tarde de sábado, 9 de dezembro de 1854, "se findou o divino" expressão utilizada pelo próprio e popularizada em Coimbra por entre a estudantada.
De imediato, Gomes de Amorim, defendeu a indeia de conservar a casa intacta e ali criar o Museu Garrett, infelizmente essa ideia não se viria a realizar.


Nesta casa foi colocada em 1865, uma lápide de mármore branco, guarnecida com cortinas, com a seguinte designação:

NO DIA 9 DE DEZEMBRO DE 1854
FALLECEU N'ESTA CASA
O POETA PORTUGUEZ
VISCONDE DE ALMEIDA GARRETT

FOI ESTA LAPIDE FEITA NAS OFICINAS DE
SERGIO AUGUSTO DE BARROS
E ASSENTE NA DITA CASA
NO DIA 25 DE JUNHO DE 1865 - AO MEIO DIA

Em 1939 era proprietária da casa, onde falecer Garrett a Senhora Maria Pinto Soares e Silva, avó de Augusto Pinto Soares e Silva casado com D. Maria Clotilde Tôrres pinto Soares e Silva. 
Em 2004 o prédio pertencia o Banco BES, que o vende a Manuel Pinho, ex-ministro da Economia.


É de lamentar que depois de colocar um memorial em forma de lápide placa no frontispício do prédio, o mesmo tenha sido depois desconsiderado e não tenha sido tomada nenhuma iniciativa cultural associada ao local. As iniciativas da preservação da memória não são coerentes a médio prazo e esse facto não é exclusivo do caso Garrett, existem muitas outras casa com memoriais, tenham eles sido políticos, artistas, escritores, compositores, que se encontras a caminhar para situações  igualmente catastróficas.


Em 2004, defensores do edifício, elaboram um abaixo assinado no qual pretentem que a Câmara de Lisboa "classifique aquele edifício como património de interesse concelhio e aquela rua como conjunto de interesse municipal". Promover a utilização da casa como "um espaço cultural condizente com a vida e obra de Garrett". Os promotores da petição consideravam que a demolição do imóvel, que tinha sido autorizada pela Câmara de Lisboa era "ilógica, incorrecta e indesejável" e com a demolição, "Lisboa perderá mais uma casa de indiscutível valor estético e histórico".


Na verdade este edifício carregou com ele uma historio de resiliência popular sem precedentes, desde 1874 que eram movidos esforços no sentido de  o classificar o monumento com base no seu significado histórico. Passados precisamente 30 anos de "luta" para salvar o edifício da demolição, em 2004 a Câmara Municipal de Lisboa autoriza a  a implantação de um empreendimento de habitação para o local que incluía a demolição do edifício antigo, de entre avanços e recuos, em 2006 o edifício foi efectivamente demolido e desde 2009 que existe uma frenética especulação imobiliária em  torno das suas fracções, cuja alguns dos  intervenientes, envolvidos em algumas polémicas.

Resta-nos por fim acreditar na boa vontade demonstrada pela Câmara Municipal do Porto, em salvar o edifício onde o escritor nasceu o que também não se tem demonstrado uma tarefa fácil, exemplo disso foi o incendeio que quase destruiu a casa no ultimo mês de abril....

Fontes:
Biografia Almeida Garrett - Biblioteca Nacional (Digital), Investigação de Luís Augusto Costa Dias;
"Casas onde em Lisboa, morou Almeida Garrett", Olisipo : boletim do grupo «Amigos de Lisboa, Ano II, n.º 8, Outubro de 1939;
Artigo "Câmara do Porto mantém vontade de adquirir casa de Almeida Garrett que ardeu", SIC Noticias,(Lusa, 27 de abril de 2019);

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