segunda-feira, 17 de junho de 2019

Antiga Residência Paroquial de Sanfins do Douro

Fachada principal da Residência Paroquial de Sanfins do Douro, 2006
Fotografia reproduzida e editada do SIPA.

A freguesia de Sanfins do Douro, no termo de Vila Real, foi uma abadia criada pela Arquidiocese de Braga, cujo abade era mitrado, portanto, tratava-se de um mosteiro, administrando Sanfins do Douro, Agrelos e Soutlinho (actualmente pertencente à Freguesia de Favaios), Cova de Lobos não existia à época. Não se sabe ao certo quando foi criada, mas já havia sido referida nas Inquirições de 1258 a quando da sua doação por D. Dinis a seu filho bastardo Fernão Sanches, nobre trovador, que nunca tomou posse destas terras por conflito com seu irmão o Rei D. Afonso IV.

Fachada principal da Residência Paroquial de Sanfins do Douro, s/d
Fotografia do espólio de Joaquim Grácio.

A abadia de Sanfins durou vários séculos, quando em 1727 foi criada a Paróquia de Santa Maria Maior ou Santa Maria por D. Rodrigo de Moura Teles, anexada ao arcebispado de Braga até 1884, data em que integrou o bispado de Lamego até à criação da diocese de Vila Real em 1922.
A paróquia de Sanfins do Douro pertence ao arciprestado de Alijó e à diocese de Vila Real, desde 22 de Abril de 1922. O seu orago foi inicialmente a Santa Margarida, mais tarde construiu-se uma capela no alto do monte dedicada a Santa Bárbara e posteriormente, nos fins do século XVIII, a Nossa Senhora da Piedade, hoje o seu orago é Nossa Senhora da Assunção, mas tem uma das romarias mais conhecidas e frequentadas do país, realizada no segundo fim-de-semana de Agosto em honra de Nossa Senhora da Piedade. 

Largo Concelheiro Teixeira de Sousa, ao cento a Igreja, ao fundo a Residência Paroquial, s/d
Foto reproduzida da página Sanfins do Douro, aqui.

Sanfins do Douro é freguesia do concelho de Alijó composta pelos seguintes lugares: Agrelos, Cheires, Cova de Lobos e Sanfins do Douro. Outrora, Sanfins do Douro, vivia principalmente do cultivo de cereais, do gado, da olivicultura e da produção de vinho tendo ainda explorado minas de volfrâmio. Actualmente produz-se apenas vinho do Porto, Moscatel e de Mesa e azeite.

Brasão Fachada principal da Residência Paroquial de Sanfins do Douro, 2006
Fotografia reproduzida e editada do SIPA.

A Residência Paroquial terá sido construída por volta de 1732 a mando do então Abade Dr. Francisco Xavier de Magalhães Feio de Azevedo. Nesta residência chegaram a morar treze sacerdotes, cinco ordinandos e dois pretendentes ao sacerdócio. De planta em "L" e de grandes dimensões, a casa paroquial, com fachada principal composta por três pisos, enquadrada por cunhais separados por friso, e terminada em friso e cornija.  

Vista das traseiras da Residência Paroquial de Sanfins do Douro, 2006
Fotografia reproduzida e editada do SIPA.

No piso térreo, a fachada é rasgada por portal de verga recta, com moldura encimada por friso, frontão de lanços e brasão com armas dos arcebispos de Braga, entre janelas de peitoril rectilíneas. Os pisos superiores apresentam vãos de janelas de sacada, com guarda de ferro, no segundo piso de verga curva e no último rectilínea. As fachadas laterais apresentam uma composição com aspecto de inacabado ou de desconstrução com fenestração irregular, e um grande arco no piso térreo.

Vista das traseiras da Residência Paroquial de Sanfins do Douro, 2006
Fotografia reproduzida e editada do SIPA.

De acordo com as Memórias Paroquiais de 1758, Sanfins do Douro, era abadia de concurso ordinário com um rendimento que ascendia aos catorze mil cruzados. Tinha 132 fogos e 424 pessoas. Reste rendimento revertia a favor do abade, que não desempenhava nenhuma função religiosa para com a paróquia e que nem sequer residia na casa paroquial, vida na cidade do Porto.

Acesso pelo adro da igreja à Residência Paroquial de Sanfins do Douro, 2006
Fotografia reproduzida e editada do SIPA.

O arcebispo de Braga, D. Frei Caetano Brandão, numa primeira visita a visita a Trás-os-Monte com o intuito de promover o culto divino, a exata administração dos sacramentos e a necessária reforma dos costumes do clero, visitando localidades que há mais de oitenta anos não viam o seu prelado, entre elas, terá passado por Sanfins do Douro e nesta casa se terá instalado. Devido à dimensão da arquidiocese, e na impossibilidade de visitar todas as paróquias, decidiu nomear representantes que o fizessem em seu nome. Visitou a comarca de Vila Real, em 1795, o padre Domingos José de Paredes, que elaborou um relatório de visita, uma espécie de avaliação de qualidade do serviço religioso e conduta pessoal dos párocos. No relatório foi incluída a avaliação do comportamento dos sacerdotes pelo zelo do património, nomeadamente a casa paroquial, e que o mesma se demonstrara deficitário.

Vista das traseiras da Residência Paroquial de Sanfins do Douro, 2006
Fotografia reproduzida e editada do SIPA.

A casa paroquial foi residência do pároco e outros aspirantes ao sacerdócio durante séculos, desde o século XIX que o passal se foi desfazendo, nomeadamente a desanexação dos terrenos para a construção da Avenida do Paço, Campo de Futebol, Adega Cooperativa, Bairro Novo, entre outros, esta gradual desagregação acabaria por culminar na ruína do passal e consequentemente no abandono da resida por incapacidade de manutenção de um edifício de tal dimensão.

Estátua em homenagem aos Bombeiros Voluntário de Sanfins do Douro, com a Residência Paroquial como pano de fundo, 2016.
Fotografia pertencente ao espólio de José João Rio Chaves.‎ 
Hoje o edifício encontra-se com visíveis sinais de degradação, trata-se de uma construção com muitos anos, é certo, mas não têm sido assegurados os necessários cuidados de preservação, pelo contrário, o desleixo e o abuso de utilização tomaram conta das suas dependências. As salas de recepção do piso nobre foram transformados em celeiros o mesmo aconteceu com os dormitórios, no rés-do-chão, onde também já estiveram instalados serviços de Correios e Bombeiros, recentemente, estava convertido num galinheiro, todos estes acontecimentos acabaram por maltratar o edifício e acelerar o estado de degradação e abandono que hoje tomam conta do mesmo.

Largo Concelheiro Teixeira de Sousa, ao cento a Igreja, ao fundo a Residência Paroquial, s/d
Foto reproduzida da página Sanfins do Douro, aqui.

De todo o património monumental de Sanfins do Douro, o edifício da Residência Paroquial, pela sua imponência, a sua actividade, a sua antiguidade, a par da Igreja, representa um dos mais importantes marcos históricos da freguesia.


Fontes:
Monografia de Sanfins do Douro, Joaquim Grácio, 1985;
DGLAB - Paróquia de Sanfins do Douro, Arquivo Distrital de Vila Real; Consulta digital, Atualização de abril de 2015;
As freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758, José Viriato Capela , 2006;
"Casa Paroquial de Sanfins do Douro", Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, texto de Paula Noé, 2008;

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