Quinta da Pauliceia, Águeda, 2014
Fotografia extraída do Google Maps e editada, 2019
A Quinta da Pauliceia é uma generosa propriedade existente no coração da cidade de Águeda, encontra-se inserida numa grande mancha verde composta por várias propriedades que, de uma maneira ou outra, têm sido preservadas da malha urbana.
A propriedade possui um conjunto de edifícios característicos dos finais do século XIX e inícios do século XX, e representa o sonho de um português que realizou os seus desejos conseguindo fortuna no Brasil. Manuel de Sousa Carneiro, o senhor desta casa, foi herdeiro e seguidor de um dos "novo ricos" da época, sendo a maior parte destes grandes homens, não só altos dinamizadores locais, como fortes empregadores, beneméritos, e até homens de elevada cultura intelectual.
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Ilustração da representação das Armas de Portugal e Brasil
Revista "Duas Pátrias", 15 de novembro de 1889.
O população da região de Aveiro desde sempre se aventurou para a migração, dentro e fora do país, quando o Brasil se torna uma oportunidade, meados do século XIX, miseráveis, pobres ou apenas aspirantes a uma nova vida, partem com a intenção de fazerem fortuna.
Quando regressam às suas origens, constroem novas habitações,
onde exprimem o sucesso alcançado, exibindo-as como troféus do sucesso. Todavia este sucesso não havia de ser apreciado por todos, Camilo Castelo Branco e Eça de
Queirós, intelectuais deste tempo, não resistiram a os caricaturar.
Villa Paulicêia;
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Villa Paulicêia, vista da Avenida 25 de Abril, Águeda, 2015.
Foto reproduzida e editada do site: hostelsclub.com.
Erigido mesmo no centro da quinta e com uma dimensão palaciana, o edifício apresenta uma arquitectura que marcou toda uma época, em que o abuso das formas, dos pormenores decorativos exteriores e interiores, assim como a conjugação de variadíssimos materiais como vidro, ferro e porcelanas, eram evidentes, proporcionando uma liberdade artística, conhecida como "Arte Nova".
Os elementos Arte Nova são notórios ao nível dos vãos, recorrendo à cantaria trabalhada em alguns deles, no uso azulejar do interior e do exterior e nos portões, onde o ferro forjado marca presença imperativa de forma cuidada.
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Villa Paulicêia, pormenor da fachada, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
O palacete representa na verdade uma "Villa" ao estilo brasileiro, pois até o nome com que a propriedade foi baptizada, Paulicêa, é de uma localidade do Estado de São Paulo. Era frequente os "brasileiros de torna viagem" edificarem as suas casas nas localidades de onde eram naturais, assim como também era comum que as mesmas fossem projectadas de acordo com as casas existentes na região onde foram emigrados.
O palacete representa na verdade uma "Villa" ao estilo brasileiro, pois até o nome com que a propriedade foi baptizada, Paulicêa, é de uma localidade do Estado de São Paulo. Era frequente os "brasileiros de torna viagem" edificarem as suas casas nas localidades de onde eram naturais, assim como também era comum que as mesmas fossem projectadas de acordo com as casas existentes na região onde foram emigrados.
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Villa Paulicêia, pormenor de um dos três portões da quinta, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Quando os portugueses regressavam à terra natal, não era comum trazerem já projectos definidos do que idealizavam para a materialização dos seus sonhos, na verdade, traziam ideias dos lugares por onde passaram e as comunicavam aos seus empreiteiros e arquitectos. O seu gosto ou afinidade, era posteriormente identificado pelos profissionais no que respeita ao enquadramento do projecto ou de movimento arquitectónico.
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Villa Paulicêia, pormenor da fachada principal, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Para alem do gosto pessoal, outros factores influenciavam o tipo de arquitectura adoptada, nomeadamente o poder económico do proprietário, gosto dominante regional em determinada época, o terreno e os próprios autores do projecto, arquitectos e empreiteiros.
Villa Paulicêia, pormenor da fachada principal, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Portão das trazeiras da Quinta Pauliceia, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Toda a quinta é delimitada por um moro em alvenaria interrompido por três portões de ferro, o muro do lado poente, fachada principal, é rematado por um gradeamento a todo o comprimento, reforçado por pilares espaçados.
Villa Paulicêia, pormenor da fachada principal, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
São de destacar as janelas, com talhe em cantaria, Outros aspectos, que lhe conferem graciosidade, são os frisos e painéis de azulejos, com motivos florais coloridos, cores que alias combinam com todo o meio envolvente onde o palacete está inserido.
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Torre Mirante da Quinta da Pauliceia, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Localizada num recanto da quinta, completamente engolido pela vegetação que cresce descontrolada, encontra-se uma torre acastelada, completamente construiria em perda e rematada por ameias ao estilo românico. Nesta torre situada no canto mais elevado da quinta, proporcionado pelo pequeno declive que marca o terreno, funciona o mirante, cuja vista desafogada, permite uma boa vista sobre a zona poente da cidade.
Localizada num recanto da quinta, completamente engolido pela vegetação que cresce descontrolada, encontra-se uma torre acastelada, completamente construiria em perda e rematada por ameias ao estilo românico. Nesta torre situada no canto mais elevado da quinta, proporcionado pelo pequeno declive que marca o terreno, funciona o mirante, cuja vista desafogada, permite uma boa vista sobre a zona poente da cidade.
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Torre Mirante da Quinta da Pauliceia, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Na quinta não são visíveis sinais de cultivo, presume-se que toda a sua área integrava um vasto e organizado jardim composto por canteiros, arbustos e algumas árvores autóctones e exóticas. Na lateral esquerda, mesmo encostadas à vedação, um conjunto de pequenas casas funcionavam como anexos e habitações independentes para a criadagem.
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Olhar sobre a quinta com pormenor do palacete, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Estas casas os " Palacetes Brasileiros", são a prova que muitos Portugueses que sonharam, conseguiram realizar os seus desejos conseguindo fortuna naquela época no Brasil.
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Vista sobre a Villa Paulicêia, Águeda, 2013.
Foto reproduzida e editada da página Abandoned places and.
Algumas destas construções sobreviveram, outras foram profundamente descaracterizadas, outros ainda acabaria por ser demolidos, como foi o caso desta Villa Paulicêia, deixando apenas uma vaga memória dos Portugueses que não se conformaram na transição do Século XIX para o Século XX, com aquilo que parecia ser uma má sina, ficando conformados com à interioridade que os votaria à pobreza.
Manuel de Sousa Carneiro (1907-1944);
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Retrato de Manuel de Sousa Carneiro (Neca Correia)
Pintura de 1993 de autor não identificado, foto partilhada por Abandoned places and, 2013.
Manuel de Sousa Carneiro nasce a 6 de setembro de 1907 em São Paulo, Brasil. Filho de aguedenses emigrados em terras de Vera Cruz, país onde, pela persistência do trabalho, conseguiram vingar e fazer fortuna.
Ainda em criança vem para Águeda onde passa a ser tratado por "Neca Carneiro", os tempos difíceis que o país atravessava nessa época, pela participação na Primeira Guerra Mundial, deixou muitas cicatrizes na sociedade portuguesa, como se não bastasse a Gripe Espanhola ou Pneumónica em 1918, ceifa a vida aos seus irmãos e outros familiares próximos, cujo duro golpe o abalou profundamente.
Beneficiou de uma educação eximia correspondente com a sua condição social, possuidor de uma grande sensibilidade social, participou e dirigiu algumas importantes instituições de carácter social e cultural no concelho. Assim, ainda jovem, com um espírito altruísta, despertou para a vida social, cultural, associativa, e desportiva de Águeda, as quais apoiou também financeiramente.
Com um espírito vivo e enérgico, numa época em que a Europa vivia as agruras proporcionadas pela Segunda Guerra Mundial, Neca Carneiro dinamizava a sociedade aguedense e motivava-a para a participação nos eventos sociais, culturais e recreativos, contaminando toda gente com o seu entusiasmo e dando o exemplo no voluntariado, conquistou um lugar de relevo na sociedade local, sobejamente reconhecido pelos seus concidadãos.
De entre as múltiplas iniciativas locais, as suas acções destacaram-se:
Na cooperação para a fundação do Corpo de Bombeiros de Águeda, onde onde foi Soldado da Paz, Director e Comandante;
Na fundação do Recreio Desportivo de Águeda, onde foi jogador, Treinador e Director, sendo o promotor da inauguração do Campo de S. Sebastião, onde hoje se encontra a Praça do Município;
Com um espírito vivo e enérgico, numa época em que a Europa vivia as agruras proporcionadas pela Segunda Guerra Mundial, Neca Carneiro dinamizava a sociedade aguedense e motivava-a para a participação nos eventos sociais, culturais e recreativos, contaminando toda gente com o seu entusiasmo e dando o exemplo no voluntariado, conquistou um lugar de relevo na sociedade local, sobejamente reconhecido pelos seus concidadãos.
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Personalidades da fundação do Recreio de Águeda: José Augusto Quaresma, Gil Brinco da Costa e Neca Carneiro.
Foto do Arquivo Recreio Desportivo de Águeda.
Foto do Arquivo Recreio Desportivo de Águeda.
De entre as múltiplas iniciativas locais, as suas acções destacaram-se:
Na cooperação para a fundação do Corpo de Bombeiros de Águeda, onde onde foi Soldado da Paz, Director e Comandante;
Na colaboração para a fundação do Orfeão de Águeda, onde foi Orfeonista, Diretor, e Dinamizador Cénico do Teatro;
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Casamento de Neca Carneiro e Éster, c.1930.
Fotografia do Espólio de André Borges, partilhada em 2017.
E sobretudo, na dinamização de vários grupos folclóricos do concelho, participou no Rancho de Águeda, fundou e dirigiu o Rancho de Recardães, mais tarde e em sua homenagem passou a designar-se "Rancho Manuel Sousa Carneiro". E ainda na organização e ensaio do Rancho Conde de Sucena e da Baixa de Águeda e do Rancho do Cabo, de Assequins.
Também na música mostrou ter talento, foi baterista do Águeda-Jazz, participou e organizou diversos espectáculos em Águeda, na Bairrada e até em Lisboa.
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Livro "No Centenário de Neca Carneiro" de José Luis Santos, 2007.
Foto reproduzida do site da Livraria Traça 1986.
Neca Carneiro casou, e não teve filhos, apesar de ter tido uma vida muito preenchida, viria a falecer muito novo, a 19 de Dezembro de 1944, tinham então completos 37 anos.
As suas nobres qualidades, o seu bairrismo, e a vocação para o associativismo fizeram dele uma pessoa muito querida entre a comunidade do seu tempo, sendo sem duvida um elevado humanista e uma das figuras cuja memória se materializou no seu busto esculpido e erguido, em sua homenagem na Rotunda Pauliceia em Águeda.
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Fontes:
"História do Recreio de Águeda", Site oficial do Recreio Desportivo de Águeda;
"Casas de Emigrantes - Enquadramento fotográfico numa região - Uma análise visual - Um projeto fotográfico", João Miguel Simões Vidal de Lemos, 2016;
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