quarta-feira, 26 de junho de 2019

Os Pombais da Antiga Villa de Castelo Mendo, Almeida

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, 2006
Fotografia de domínio público, Wikipédia.

Castelo Mendo é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Almeida, extinta em 2013 no âmbito da reforma administrativa nacional, tendo sido agregada às freguesias de Ade, Monteperobolso e Mesquitela, é uma das Aldeias Históricas de Portugal. A freguesia foi formada em tempos por três paróquias: São Pedro, Santa Maria e São Vicente. Foi vila e sede de concelho entre 1239 e 1855. 

Aldeia de Castelo Mendo, Vista geral, s/d
Fotografia reproduzida e editada da DGPC.

Situada num alto fragoso nas margens do Côa, Castelo Mendo apresenta características predominantemente medievais, constituída por dois núcleos amuralhados, a Cidadela e a Barbacã. A cidadela de formato oval corresponde ao burgo velho originalmente protegido por muralhas com seis portas, formado após o foral de D. Sancho II em 1239. O burgo novo ou Arrabalde de S. Pedro protegido por uma muralha guarnecida por oito torres, foi uma ampliação da povoação levada a cabo por D. Dinis em 1285 e tinha reputação de ser uma resistente fortaleza. Com o terramoto de 1755 a muralha sofreu um rude golpe ficando parcialmente destruída. D. Manuel deu-lhe foral novo em 1510. A primeira referência a "Castro Mendi" consta de um documento escrito de 1202, todavia o local apresenta vestígios de ocupação que remontam à Idade do Bronze e à mais recente presença romana.

Os Pombais;


Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

Os pombais são construções com tradição milenar, tão antigas quanto a domesticação dos pombos, as mais antigas representações de pombos conhecidas, remontam a cerca de 4.500 a.C. e apareceram na antiga Mesopotâmia. Na Europa da idade média os pombais eram edifícios utilizados para a reprodução dos pombos e borrachos como alimento, pela sua carne e ovos e posteriormente, incrementou-se a produção de estrume de pombo, difundindo-se o seu uso. Na Europa renascentista e nos séculos seguintes os pombais tornaram-se uma moda, pela sua riqueza arquitectónica e pela capacidade dos pombos se integrarem no meio ambiente rural e urbano, privado e público, jardins e campos. 

Estima-se que em Portugal já existiam pombais ainda antes da ocupação romana verificando-se uma intensificação rural no início de século XIX e primeira metade do século XX, principalmente no nordeste Transmontano, Beira–Alta e Douro Superior (Almendra, Escalhão, Freixo de Espada Cinta e Vila Nova de Foz Côa), embora possamos encontrar pombais noutras regiões do nosso país como na Beira Baixa, Estremadura e Alentejo. Mas é sobretudo junto da zona fronteiriça espanhola das províncias de Castela e Leão, onde ainda hoje, apesar de vazios, existem milhares de pombais tradicionais que melhor representam este tipo de construções, apresentando características singulares na sua arquitectura.

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

Apesar de hoje ser considerado uma praga e problema de saúde pública, durante o século XX, o pombo domestico era animal bastante considerado pela sua grande contribuição na estratégia militar decorrida principalmente durante o século XIX, nas suas funções de pombo-correio, actividade ainda hoje apreciada a titulo desportivo.

Durante a década de sessenta do século XX, na sequência de um acentuado abandono rural e da intensificação da caça, a criação de pombos domésticos diminui drasticamente e os pombais foram abandonados, encontrando-se hoje a maioria em avançado estado de ruína e alguns readaptados para palheiros e celeiros. Alguns municípios têm-se desdobrado em esforços para a reabilitação dos pombais, reconhecendo-lhes um potencial turístico para a região.

A arquitectura dos pombais obedece a regras especificas, permitindo a utilização de materiais variados, tipologias variadas e estilos simples ou mais elaborados. As tipologias mais comuns e que melhor descrevem a arquitectura vernácula dos pombais em Portugal são: Forma de Ferradura; Planta Circular de uma ou duas águas; Planta circular de telhado cónico; e Planta quadrangular de uma água.

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo;


Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

O Pombal da Porta da Villa está construído numa propriedade inserida nos arrabaldes da "cerca nova" orientado para a porta principal do forte. Estima-se que a construção respeite ao século XIX, não tendo sido, no entanto, identificados indícios que permitam corroborar esta informação. 

Construção destinada à produção e exploração de pombos, com uma arquitectura pecuária de construção vernácula a base de granito, alvenaria, reboco e madeira, o pombal apresenta uma planimetria quadrangular formando um único volume, com uma pequena porta e janela de lintel recto sem moldura, em fachadas opostas. No interior do pombal, as paredes são revestidas por pequenas cavidades quadrangulares que se assemelham a pequenos alvéolos e que acolhem os ninhos dos pombos.

Pombal (quadrangular) junto à Porta da "Villa" de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

O chão é composto em terra batida, não possui qualquer tipo de pavimento, apenas a mesa de alimentação. A cobertura de um único caimento(informação indicada pelo formato das empenas), era originalmente em madeira coberto com telha cerâmica. 

O edifico encontra-se em ruínas, já sem telhado e muito vulnerável a desmoronamentos. Inserido numa das 12 aldeias históricas de Portugal, elemento incluído na zona de protecção da Aldeia de Castelo Mendo, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1984.

Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo;


Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo, Almeida, s/d.
Fotografia reproduzida e editada de SIPA.

O Pombal do Calvário está construído num outeiro entre o cemitério e o calvário, nos arrabaldes da "cerca nova" orientado para a porta principal do forte, localizado próximo do Pombal da Porta da Villa. Estima-se que a construção respeite ao século XIX, não tendo sido, no entanto, identificados indícios que permitam corroborar esta informação. A referencia cronológica à sua construção é a aferição com outras construções idênticas e tradicionais.

Construção destinada à produção e exploração de pombos, com uma arquitectura pecuária de construção vernácula a base de granito, alvenaria, reboco, madeira e telha de canudo, o pombal apresenta uma planimetria circular formando um único volume de grossas paredes construídas em pedra, com uma pequena porta e janela de lintel recto sem moldura. A concordância entre a planta e a cobertura cónica realiza-se através de um acrescento em altura, a partir de uma zona marcada por pequenos blocos graníticos salientes. 

Pombal (circular) junto ao Cemitério de Castelo Mendo, Almeida, 2018.
Fotografia reproduzida e editada de Recantos de Portugal em fotos.

No interior do pombal, as paredes são revestidas por pequenas cavidades quadrangulares que se assemelham a pequenos alvéolos e que acolhem os ninhos dos pombos. O chão é térreo com afloramentos rochosos onde se encontrava a mesa de alimentação entretanto retirada em virtude do pombal ter sido transformado em palheiro na sequência de obras realizadas nos anos 50 do século XX, durante essas obras o telhado foi alterado para cobertura de duas águas com as necessárias adaptações das empenas. Já no inicio do século XX o edifico foi alvo de novas intervenções, foi reposta a configuração cónica do telhado origina, substituição da porta e da janela e reabilitação do espaço interior. O edifício encontra-se inserido numa das 12 aldeias históricas de Portugal, elemento incluído na zona de protecção da Aldeia de Castelo Mendo, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1984.

Actualmente existem cada vez mais entidades sensibilizadas para a causa da preservação e reabilitação dos pombais em Portugal. A 4 de maio de 2000 foi fundada Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste “Palombar”, cujo objectivo é recuperar, conservar e revitalizar os pombais tradicionais existentes na região do nordeste transmontano (distritos de Bragança e da Guarda), projecto e iniciativa do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI). Outras associações continuaram este trabalho como a Leader (Associações de desenvolvimento Local) e a Corane (Associação de Desenvolvimento dos Concelhos da Raia Nordestina), que se destinam a preservar este tipo de arquitectura popular.


Fontes:
"Narrativa da Fundação das Cidades e Villas do Reino, os Seus Brazões d'Armas, etc." Archivo Historico, 1.ª Série, n.º1, setembro de 1889;
"Pombal junto à Porta da Vila de Castelo Mendo", Sistemas de informação para o Património Arquitetonico, texto de Margarida Conceição, 1997;
"Pombal junto ao Cemitério de Castelo Mendo", Sistemas de informação para o Património Arquitetonico, texto de Margarida Conceição, 1997;
"A Arquitetura Columbófila: Imagética e Personificação", Escola Superior de Design, Casimira Gonçalves da Mata Matos, 2013;

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