sábado, 27 de abril de 2019

O Palácio de São Bento (Assembleia da República) como nunca viu...

Palácio das Cortes que veio a transformar-se na Assembleia da República depois de remodelações,
 1873-1895, Foto de autor não identificado, In AFML

A Ordem de São Bento ou Ordem Beneditina é a mais antiga ordem religiosa católica de clausura monástica, fundada em Itália por volta do ano 529. A presença dos Monges Beneditinos em Portugal, terá acontecido na sequência do Concílio de Coyanza (1050-1055) decorrido em Leão, Espanha. Aderiram, então, à beneditização diversos mosteiros de observância autóctone (Regra de S. Frutuoso) na região do Entre Douro e Minho, a Ordem Beneditina entrava em cada uma das regiões do Reino de Portugal à medida que estas eram conquistadas.

Palácio das Cortes, fachada e estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães entre 1878 a 93.
Foto de Francesco Roccinino no Arquivo Municipal de Lisboa.

Depois do Concílio de Trento (1545 e 1563) e das alterações teológicas e litúrgicas dele decorrentes, D. Sebastião favorece a reformação monástica, à semelhança do que acontecia  com as reformas em Castela, por cá, a ação de Fr. Pedro de Chaves, abade geral e reformador da ordem em Portugal, propõe ao Cardeal-Rei D. Henrique(1512-1580), a instituição da “Congregação dos Monges Negros de S. Bento dos Reinos de Portugal”, que pela aprovação do Papa Pio V, a congregação fundou entre outros, o Mosteiro de São Bento em Lisboa.

Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela, primeiro Mosteiro da Ordem Beneditina em Lisboa.
A torre sineira à esquerda na foto, corresponde a uma das duas torres da Basílica da Estrela.
Data e autor não identificados, Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa, ACML

Frei Pedro de Chaves escolheu, para edificar o mosteiro, numa parte de uma quinta pertencente a Luís Alter Andrade, uma de duas grandes quintas que por volta do século XVI, ocupavam a zona que hoje conhecemos como Largo da Estrela. A compra do terreno teve o aval e apoio do Cardeal-Rei D. Henrique, em dois anos é construída a igreja e um mosteiro, denominado Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela com capacidade para acolher cerca de trinta monges, nela é celebrada a missa de Natal de 1573.

Fachada principal do Palácio das Cortes e Largo das Cortes, finais do século XIX.
Gravura em papel vegetal, em delcampe.net.

Por diversas razões, nomeadamente necessidade de maior espaço para uma comunidade religiosa crescente, assim como por motivos de salubridade e desejo de maior proximidade com o núcleo urbano e seus fiéis, apartir de 1581 a Ordem de São Bento, em congregação geral, decidiu construir um novo mosteiro. Ainda que a mudança não fosse de imediato, o desejo de encontrar um lugar que ao mesmo tempo se encontrasse fora da cidade, respeitando os limites de isolação geográfica condição essencial da clausura monástica, por outro lado, a proximidade à cidade que permitiria maior aproximação das populações à igreja e os padres do convento, agradavam bastante à Ordem.

Palácio das Cortes, fachada e estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães, 1906.
Bilhete Postal n.º 284, Editora M&R Lisboa, este e outros postais em delcampe.net.

Em 1596 adquiriram a quinta de Antão Martins, apelidada popularmente como "Quinta da Saúde" em virtude de lá se ter instalado, por volta de 1570, uma espécie de hospital de campanha para recolher os doentes atingidos pela peste. Para elaborar o projeto, escolheram o arquiteto Balthasar Alvares(1560-1630), da escolha a muito se deve a boa conta em que o tinha o Cardeal-Rei D. Henrique, pois a ele já tinha encarregue várias obras realizadas sobre tudo no Alentejo. As obras iniciam-se em 1598 sobre a ordem do Frei Balthasar de Braga e direção do Frei Pedro Quaresma.

Palácio das Cortes, fachada e estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães, 1906.
Bilhete Postal n.º 117, Editora M&R Lisboa, este e outros postais em delcampe.net.

Em 1615 a fase da construção do novo mosteiro está concluída e os religiosos são todos transferidos para as novas instalações, deixando o Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela devoluto até 1632, data em que este passa a albergar o Colégio do Noviciado. Este Convento de S. Bento-o-Velho, como também ficou conhecido acolheu o colégio até 1797 data em que por interesse do Estado, o edifício passa a acolher um hospital militar para utilização das tropas auxiliares britânicas, o Hospital Militar da Estela, como é conhecido ainda hoje, expandiu-se progressivamente para a cerca do Convento do Sagrado Coração de Jesus (Basílica da Estrela).

Palácio das Cortes, fachada e estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães, 1905.
Bilhete Postal de Lisboa, Edição Francesa, este e outros postais em delcampe.net.

O Mosteiro de S. Bento, o Novo(para se diferenciar do "Velho" na Calçada da Estrela), da Saúde (em memória ao sítio da saúde), ou dos Negros (também assim designado por pertencer ao Frades Negros de Tibães e por estes envergarem hábito negro) tinha capacidade para albergar cerca de 50 monges. Inserido num amplo recinto, cercado por um muro aberto por duas portas,  propicio à circulação de viaturas, o Mosteiro de planta quadrangular, apresenta ao centro um pórtico enquadrado por seis colunas e cinco arcos sobre os quais corre uma valente cimalha e por cima dela, sobre os três arcos do meio, se apresentam três nichos de cantaria em arco redondo e sobre o arco do meio tem lugar o do meio frontispicio neoclássico. Este pórtico centrar dá acesso a igreja que se encontra entre dois corpos laterais, cada um com o seu claustro, que integram o mosteiro, para alem destes dois claustros fechados, existem um outro claustro aberto, incompleto, adjacente a um dos corpos laterais.

Palácio das Cortes (Mosteiro de São Bento da Saúde), vista lateral, 1875,
Foto de José Artur Leitão Bárcia, no Arquivo Municipal de Lisboa.

O projeto inicial contemplava quatro claustros fechados mas apenas dois vão ser executados por completo. A Igreja apresenta uma única nave central, capelas laterais, sacristia, coro, duas torres sineiras e uma cripta. O mosteiro integrava livraria, sala do capítulo, hospedaria, cárcere, enfermaria, botica, dormitórios, barbearia, cozinha, refeitório, adegas, lagares, celeiro, forno, oficinas e uma cerca.

Mosteiro de São Bento da Saúde e Mosteiro Convento do Santo Crucifixo,
Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755, José Vicente, Museu de Lisboa, 2013.

Quando em 1755 se dá o terramoto que arrasou quase por completo a cidade de Lisboa, o Mosteiro de S. Bento, o Novo, não sofreu danos de maior, já o Castelo de São Jorge onde se encontrava o Arquivo Nacional na "Torre do Tombo" desde a sua instituição, sofreu danos diversos que obrigaram a deslocalização dos documentos para outros arquivos. O Mosteiro por se encontra em boas condições e possuir uma grande parte desocupada, foi aproveitado a partir de 1757 para a acolher os arquivos provenientes da Torre do Tombo do Castelo de São Jorge. O termo "Torre do Tombo" utilizado para identificar o Arquivo Nacional, é também o nome da torre do castelo onde estavam depositados os arquivos recuperados da nação. Também o novo edifício de 1990, para onde é definitivamente transferido o Arquivo Nacional, é denominado Arquivo Nacional da Torre do Tombo e até 2006, é criado um organismo dependente do Ministério da Cultura, oficialmente denominado Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IANTT), possuindo simultaneamente funções de arquivo nacional e de órgão de coordenação da política arquivística nacional. Durante este período também esteve arquivado o depósito da Inquisição.

Convento do Santo Crucifixo de Lisboa e Convento de S. Bento da Saúde em Lisboa, 1853
Pintura de João Lewicki, Estúdios de Mário Novais, 1947, Arquivo Municipal de Lisboa.

Com efeito depois do terramoto de 1755 as estruturas com condições para acolher de imediatos as instituições e serviços públicos escassearam, desta feita os monges cederam uma parte das suas instalações para vários fins. De 1769 a 1772, foi sede da Patriarcal de Lisboa que depois da destruição da Capela Real, situada perto de São Julião, onde esteve sediada até 1755, deambulou por vários outros locais até ali se instalar durante esse período. Em 1757, também mo mosteiro se instalou a Academia Militar de Lisboa. Numa das suas dependências anexas, em 1791 se instalou o Cartório do Registo das Mercês. 

Retrato de Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805)

Em 1796 e 1798, numa dependência que existia próxima ao refeitório dos Frades, uma das poucas salas que preserva a traça do antigo convento beneditino, terá existido uma prisão onde passaram ilustres portugueses, de entre eles o Poeta Barbosa du Bocage, na sequência da opressão religiosa (Inquisição), este episódio terá ocorrido a 17 de fevereiro de 1798.
Entre 1797 e 1801, serviu de instalação ao Batalhão de Gomes Freire de Andrade. Antes da extinção das ordens religiosas, o mosteiro também serviu de hospedaria para Bispos, sepultura de incógnitos e notórios como um Embaixador de Espanhol e , refúgio, depósito de destroços de regimentos militares, academia militar e patriarcal.

Brasão da Ordem de São Bento, do Mosteiro de São Bento, datados de 1630,
Encontra-se hoje no Museu Nacional do Azulejo.

Ainda antes da extinção das ordens religiosas, por volta de 1833 a comunidade de monges que havia decrescido significativamente, desloca-se para o Mosteiro de Tibães em Braga, a decadência daquele que foi um dos mais prestigiados mosteiros de Lisboa, no qual eram presenças assíduas a Corte  e as grandes famílias da nobreza, começou a partir do governo de Marquês de Pombal, acentuada pelas Invasões Francesas e pelas Guerras Liberais.
Na sequência da vitória do regime liberal, o local foi aproveitado para as reuniões das Cortes Constituintes (1820), consideradas como o primeiro parlamento português no sentido moderno do conceito, passando a ser denominado como Palácio das Cortes com as respetivas funções até 1911.

O Mosteiro de São Bento da Saúde, vista panorâmica, século  XVIII,
Museu Nacional de Arte Antiga.

Esta conversão de Mosteiro em Palácio proporcionou-se porque em 1834, na sequência da reforma eclesiástica levada a cabo pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar e executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), extinguem-se todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens. Desta reforma institucional resulta um extenso espólio patrimonial que é incorporado nos bens da Fazenda Nacional, muitos dos imóveis não vão ser adaptados, largados ao abandono, acabam por cair em ruínas consequentemente na perda inestimável de património religioso, cultural e artístico Português.

A primeira Sala da Câmara dos Deputados do arquiteto Joaquim
Possidónio Narciso da Silva. In A Guarda Avançada dos Domingos, 10 de maio de 1835.

Com efeito o vitorioso D. Pedro IV, em 1834 decreta que as Cortes (Câmaras dos Pares e dos Deputados) passam a funcionar no edifício do Mosteiro entretanto denominado Palácio das Cortes e submetido a diversas intervenções arquitetónicas a fim de promover as adaptações necessárias ao novo propósito laico político.
Esta primeira grande intervenção foi baseada num projeto da responsabilidade do arquiteto Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806 - 1896) do qual resulta alteração significativas no interior do edifício, sendo aproveitada a Sala do Capítulo para instalação da Câmara dos Pares e o claustro da ala esquerda para a construção de raiz da Câmara dos Deputados.

Sala do Pariato ou Pares do Reino, hoje Sala do Senado da autoria de Jean-François Gilles Colson,
Fotografia de Miguel Saavedra de 2011, publicada no Boletim da Assembler da Republica, aqui.

Em 1856 foi elaborado um projeto de remodelação do imóvel da autoria de Jean-François Gilles Colson (1833-1903) que acabou por não avançar por falta de verba, anos mais tarde, em 1863, são aprovadas obras na Sala do Pariato, projeto da autoria do mesmo arquiteto, este vai alterar a provisória sala onde reunia o Pariato desde 1834, resultante da conversão da antiga livraria e sala do Capítulo do extinto Mosteiro, transformadas pelo arquiteto de Obras Públicas João Maria Feijó.

Uma das mais belas salas de todo o edifício, começou por se chamar Sala do Pariato ou Pares do Rei durante a Monarquia, Sala do Senado entre 1911 e 1935 e Sala da Câmara Coperativa entre 1093 e 1974, voltando atualmente a denominar-se Sala do Senado. Embora hoje o Parlamento possua uma única Câmara e não lhe confira um utilização especifica, na sequência do incendeio de 1895 que destruiu a sala de Sessões, entre 1897 e e 1903 esta sala acolheu simultaneamente a Câmara dos Pares e a Câmara dos Deputados. Voltando em 2008 a acolher as sessões plenárias dos Deputados enquanto a Sala das Sessões sofria obras de reabilitação e restauro.

A mesa da presidência do Senado - presidida por Anselmo Braamcamp Freire,
Na antiga sala dos pares do reino em agosto de 1911.
Foto de Alberto Carlos Lima, no Arquivo Municipal de Lisboa, AML.

Um retrato do Rei D. Luís, monarca contemporâneo da inauguração da Câmara dos Pares, domina a tribuna da presidência, onde já tinha estado originalmente, depois de ser substituído pelo retrato de D. Carlos, com a República a coroa dourada que encimava o retrato foi substituída pela esfera armilar dourada e o retrato substituído por um pano aveludado e a Bandeira Portuguesa, mais tarde a esfera dourada foi substituída por uma esfera em madeira, que se mantém atualmente e o pano foi substituído por um busto da República, este por sua vez é substituído por uma pintura intitulada "Pátria" e em 1992 o retrato original volta ao seu pouso.

Era presidente da Câmara dos Pares em 1834, o Duque de Palmela, que durante uma comissão para discutir o casamento da D. MAria II com D. Fernado II, se terá manifestado contra alegando desvantagens politicas que apenas pretendiam camuflar a verdadeira intenção de casar seu filho com a herdeira da coroa.

Retrato de Pedro de Sousa Holstein, (1781-1850) 1.º Duque de Palmela
Presidente do Conselho de Ministros 1834/35, 1842 e 1846


Encontram-se distribuídas junto ás galerias do anfiteatro, os bustos em mármore correspondentes aos aos Pares do Reino, Duque de Palmela do escultor Araújo Cerqueira, D. Guilherme e Duque da Terceira, ambos da autoria de Manuel Bordalo Pinheiro, Conde de Lavradio, da autoria de Miguel Santos, Duque de Loulé, de Anatole Calmels ,Duque de Saldanha, de Alberto Nunes,  Duque de Ávila e Bolama e Fontes Pereira de Melo, ambos da autoria de Simões de Almeida. Todos esculpidos ao longo da segunda metade do século XIX.

Também em 1870 pelas mãos de Vitor Bastos nasce uma estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães (1809-1862), um incondicional Liberal, que se destacou em várias áreas profissionais, nomeadamente na política quando fez parte deste parlamento. A sua estátua foi inaugurada em 1878 no Largo das Cortes.

Palacete de São Bento, Residencial Oficial do Primeiro Ministro, 2017
Autor não identificado, foto da Agenda Cultural de Lisboa, aqui.

Em 1877, nos terrenos pertencentes ao antigo mosteiro, existentes ao pé do jardim nas traseiras do Palácio de São Bento, foi construído o Palacete de São Bento, propriedade de Joaquim Machado Caires e sua residencia em Lisboa. Com a chegada de Oliveira Salazar ao poder, em 1937 o edifício foi expropriado e transformado em Residência Oficial do Presidente do Conselho de Ministros. Depois de alguma obras de adaptação, Oliveira Salazar passou a residir nele efectivamente. Depois das necessárias obras, Oliveira Salazar passou a residir neste palacete a partir de maio do ano seguinte. Hoje o palacete continua a ser a Residência Oficial do Primeiro Ministro e do Poder executivo.


Obras de remodelação da Sala de Sessões no Palácio das Cortes/ São Bento, 1900
Autor desconhecido, Arquivo Municipal de Lisboa.

Na sequência de obras que decorriam na cobertura do edifício, a 17 de junho de 1895 deflagrou um incêndio que destruiu completamente a Câmara dos Deputados que havia sido construída num dos claustros do antigo Mosteiro, desta feita os deputados são instalados, provisoriamente, na Academia das Ciências de Lisboa e o Parlamento funciona na sua Biblioteca, posteriormente a Sala do Senado acaba por acolher as duas Câmaras.

Sala das Sessões da Assembleia da República no Palácio de São Bento c.1900
Foto de Domingos Alvão no Arquivo Municipal de Lisboa.

Apesar do incendeio ter atingido sobretudo a Sala dos Deputados, são pedidos projetos para a remodelação integral do antigo Mosteiro e novo Palácio das Cortes, para o efeito destacam-se duas propostas da autoria de Domingos Parente da Silva e outro de Miguel Ventura Terra, este ultimo acabaria por ganhar o concurso com um ambicioso projeto ao gosto neoclássico bem distante do discreto estilo conventual. A nova Sala das Sessões é inaugurada em 1903, a antiga Câmara dos Deputados desenhada por Possidónio da Silva, até então retangular, passa configurar a forma de anfiteatro.

Sala de Sessões da Assembleia da República, durante uma votação, 2019.

As obras de remodelação do edifício vão prolongar-se cerca de 50 anos com a intervenção também de outros arquitetos, escultores e pintores.
Luís Cristino da Silva e Lino António, trabalharam juntos nos estudos para a reformulação da zona envolvente do Palácio, nomeadamente a construção de uma dupla escadaria que liga os dois planos de jardins, o que liga o Palácio ao Palacete de S. Bento (Residencial Oficial do Chefe do Governo) e a sul o Jardim de São Bento onde ficava o Convento do Santo Crucifixo de Lisboa, demolido em 1911.

Sala Lisboa, Pintura Conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques (1147).
Foto de Eduardo Gageiro, 1999, In Assembleia da República.

O Pinto Lino António realizou também algumas obras pontuais no interior do Palácio, com destaque para os o friso na Sala Lisboa, é uma das salas mais conhecidas dos jornalistas, usada para conferências de imprensa e reuniões. Durante o Estado Novo era o gabinete de trabalho do presidente da Assembleia Nacional.


Salão Nobre da Assembleia da República, Foto de Miguel Saavedra, 2011.

O Salão Nobre da Assembleia da República ocupa o espaço do antigo coro alto da Igreja do Mosteiro de São Bento da Saúde e destina-se a recessões oficiais. A sala resulta de uma intervenção de Pardal Monteiro, ao gosto e estética do Estado Novo, seguindo o conteúdo programático da sua política cultural e histórica, concluída em em 1941. Decorado com pinturas de Adriano Sousa Lopes concluídas após a morte deste por Domingos Rebelo e Joaquim Rebocho. A única varanda da fachada principal é acessada por esta sala e foi nela que Anselmo Braamcamp Freire, Presidente da Assembleia Constituinte em 1911, anunciou ao povo de Lisboa que o Parlamento tinha proclamado a República.

Sala dos Passos Perdidos, 1913.
Bilhete Postal n.º 1607, Editora M&R Lisboa, em delcampe.net.

A Sala dos Passos Perdidos é assedio pela Escadaria Nobre e adjacente à Sala das Sessões, funciona como sala de intervalo entre sessões e sala de imprensa. O curioso nome desta sala está relacionada com o facto da cobrança de promessas que os requerentes vinham efetuar às portas da Câmara dos Deputados, muitas vezes, viagens perdidas ou passos perdidos. A sala, da autoria de Ventura Terra, foi construída sobre o Átrio, respeitando e seguindo o traçado e dimensões deste, já por si adaptadas ao desenho original da igreja monástica beneditina.

Escadaria Nobre da Assembler da Republica, Palácio de São Bento, 2004
Foto de Carlos Pombo, In Assembleia da República.

A Escadaria Nobre foi projetada pelo arquitecto Ventura Terra e reformulada pelo arquitecto António Lino, nos anos de 1936-1937, encontra-se onde anteriormente existia também a escadaria do antigo Mosteiro. O escadario da acesso a um conjunto de portas, ao nível do Andar Nobre, que ostentam frontões triangulares encimados por esculturas que representam as oito províncias existentes à época, Estremadura, Minho, Beira Alta, Trás-os-Montes, Algarve, Alentejo, Douro e Beira Baixa, identificadas pelos brasões das suas capitais, também representados na estatuária.

Biblioteca Passos Manuel, biblioteca parlamentar da Assembleia da República.

A Biblioteca Passos Manuel, assim designada desde 2017 em homenagem ao Ministro Manuel da Silva Passos, que em 1836 cria por decreto a Biblioteca das Cortes, inicialmente localizada no antigo coro da Igreja Beneditina onde hoje se instala o Salão Nobre. Hoje situada no Andar Nobre do Palácio de São Bento, a anteriormente denominada Biblioteca Nacional e Biblioteca da Assembleia da Republica, ocupa quatro salas do espaço onde outrora estiveram instalados os aposentos de monges. A nova biblioteca foi projetada por Adolfo Marques da Silva e mobilada com estantes em dois pisos com galerias de acesso e postos de consulta, dispõe de um acervo com mais de 180 000 volumes, na sua grande parte relacionados com a a atividade parlamentar, Direito, Ciência Política, História, Economia e Estatística.


Sala D. Maria II, Palácio de São Bento, 2007
Foto de Carlos Pombo, Assembleia da República, aqui.

A Sala de D. Maria II foi concedida muito provavelmente pouco depois da construção da Sala do Pariato ou Pares do Reino e servia para acolher conferências entre os Dignos Pares do Reino e integra a galeria de retratos dos Presidentes da Câmara dos Pares.
De salientar o Retrato de D. Maria II de grandes dimensões pintado a óleo sobre tela. Retrato de corpo inteiro, destacam-se também o busto de seu pai, D. Pedro IV, e a Carta Constitucional de 1826. Trata-se de uma cópia de autor desconhecido do retrato existente no Palácio da Ajuda, concebido por Ferdinand Krumholz.


Claustro do Palácio de São Bento, preservado do antigo Mosteiro Ordem Beneditina, 2006.
Foto de Rui Morais de Sousa, in Assembler da República, aqui.

O Claustro da ala sul do palácio, um dos três construídos e único preservado mantém ainda muitos aspetos semelhantes à sua traça original dos projectos do arquitecto seiscentista Baltasar Álvares. De forma quadrangular, fechado por uma galeria formada por 12 arcos de volta perfeita e 8 arcos retos. A fonte que se apresenta ao cento remonta aos finais do século XVIII, inícios do século XIX.

Átrio do Palácio de São Bento, Eduardo Gageiro, 1999, In Assembleia República, aqui.

O Átrio Principal do Palácio de São Bento, juntamente com o antigo Refeitório dos Frades, são dos poucos espaços que mantêm elementos arquitetónicos originárias do antigo Mosteiro. Neste local alinhado com a fachada principal, encontrava-se a primitiva igreja da qual ainda se mantém o pavimento original revestido de mármores coloridos, configurando figuras geométricas. Os arcos de acesso às antigas capelas laterais, apresentam-se hoje fechados por paredes cegas formando pequenos nichos que foram preenchidos por bustos de grandes figuras nacionais, de entre elas encontram-se no átrio os bustos do escritor e poeta Luís Vaz de Camões, de alguns notáveis parlamentares da Monarquia e da 1ª República, como Hintze Ribeiro e António Cândido, Bernardino Machado, António José de Almeida, Afonso Costa e ainda o busto do Presidente da Assembleia Constituinte de 1975, Henrique de Barros. Os dois sinos que podem ser observados dispostos no piso deste átrio pertence à extinta torre desta Igreja, antes de ser desmantelada e convertida.


Refeitório dos Monges, do Antigo Mosteiro, atual Palácio de são Bento, 2011
Foto de , Miguel Saavedra, in Assembleia da República, aqui.

O antigo Refeitório dos Monges situado no piso térreo do palácio, apesar de não ter tido alterações muito significativas, também não tem uma utilidade de destaque que permita ser mais visitado e conhecido, de destacar apenas a função de Centro de Acolhimento ao Cidadão, onde os visitantes podem ver um vídeo sobre a Assembleia da República e descobrir outras informações sobre o Parlamento.

Aspeto das obras na fachada principal do Palácio de São Bento, 23 de novembro de 1935.

A nova fachada do Palácio de São Bento foi construída durante a primeira metade do século XX,  ao gosto neoclássico segundo um projeto de Ventura Terra, adaptado por Adolfo Marques da Silva a partir dos anos 20, em que este toma a direção da obra.
Caracteriza-se por um conjunto de volumes uniformes de três andares com vãos de janelas retangulares verticais encimadas por frontões triangulares e semicirculares no Andar Nobre, janelas quadradas simples no piso intermédio e janelas retangulares verticais no rés-do-chão.  


Escadaria e Fachada principal do Palácio de São Bento (Assembleia da República), s/d.
Bilhete Postal com fotografia autentica, Editora J.C.A.L, em delcampe.net.

A fachada possui um equilíbrio clássico de volumes distribuídos horizontalmente do qual se destaca um corpo avançado central, correspondente à entrada principal do edifício. Sobre o ultimo vão de escadas eleva-se uma arcada em volta perfeita com inscrição da palavra "Lex" nas colunas do arco central, símbolo alusivo à função legislativa do Parlamento. A marcar cada um dos arcos laterais, quatro estátuas alegóricas femininas representam a Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança.
A grande escadaria exterior composta por vários lances de escadas, foi construida em 1941 pelo arquiteto Cristino da Silva, também responsável pelos jardins e outros apontamentos exteriores. Os lances de escadas são limitados por dois pequenos muros, rematados com dois leões sentinela de simbologia apotropaica (afastar o mal).

Fachada do Palácio de São Bento, foto de Rui Morais de Sousa, 2008.

O copo central é rematado por um enorme frontão triangular construído a partir do espaço da galilé da antiga igreja do Mosteiro e decorado pelo escultor Simões de Almeida (sobrinho), dentro de uma estética contemporânea respeitando o programa ideológico da politica do Estado Novo, representando ao centro a "Pátria" rodeada por dezoito figuras representando, classes sociais.
A varanda que antecede a zona nobre do andar, cujo acesso é assegurado por cinco janelas em carco redondo, possui treze colunas coríntias que ostentam o imponente frontão.


Postal comemorativo dos 100 anos de Assembleia da República (1910-2010), em delcampe.net.

Pelo que o edifício representa historicamente, não apenas para a cidade de Lisboa mas para todo o País, por todas a serventia de que lhe foi dada utilidade, pelas importantes funções que desempenha ainda hoje, pela quantidade de peças de arte e arquivo histórico que encerra e disponível de contemplação e consulta a todos que lhe tenham especial interesse, o Palácio de São Bento conjuntamente com o seu meio envolvente foi classificado como Monumento Nacional desde 2002, por Decreto publicado no Diário da República.


Fontes:

Artigo "Palácio das Cortes (Antigo Mosteiro de S. Bento)", Archivo Pittoresco, n.º 52, 1860;

"Mosteiro de S. Bento da Saúde de Lisboa",Arquivo Nacional da Torre do Tombo, (Arquivo digital: digitarq.arquivos.pt);

"Mosteiro de São Bento da Saúde/ Palácio de São Bento/ Palácio das Cortes/ Assembleia da República", Sistema de Informação para o Património Arquitetónico;

Jornal "Correio da Manhã", artigo digital "15 PRECIOSIDADES DE SÃO BENTO"
Ler mais em: https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/15-preciosidades-de-sao-bento

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