domingo, 7 de abril de 2019

Pavilhão de Portugal na Exposição Internacional Panamá-Pacífco, São Francisco, 1915.(Extinto)

Pavilhão de Portugal na Exposição Internacional Panamá-Pacífco
São Francisco, 1915. Foto da Sociedade Fraterna Portuguesa da América

Depois do terramoto que a 18 de abril de 1906 destruiu a cidade de São Francisco nos Estados Unidos da América, a cidade quis mostrar ao mundo a sua rápida recuperação e em 1911 foi anunciada uma Exposição Universal que pretendeu celebrar o final da construção do Canal do Panamá, inaugurado em 1914. Portugal foi uma das 24 nações mundiais convidadas, a 19 de junho de 1911 pelo Presidente dos EUA, William Howard Taft, a participar nesta feira mundial que viria a decorrer entre 20 de fevereiro e 4 de dezembro de 1915. 

Poster da Exposição Internacional Panamá
Pacifico, 1915
. In wikipedia.org

Apesar da exposição assinalar o desenvolvimento tecnológico da abertura do canal, nomeadamente no ponto de vista arquitectónico, não foi conduzido um estilo especifico para a construção dos pavilhões dos países participantes, embora os estilos clássicos tenham predominado, nomeadamente Romano, Neoclássico e Renascentista.

Pouco depois da implantação do novo regime republicano, Portugal decide participar na Exposição Universal Panamá- Pacífico, para os governantes republicanos era importante o reconhecimento do regime pelos Estados Unidos. Pelo propósito da comemoração do final da construção do canal Panamá, importante via comercial marítima de ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico, Portugal na sequência do importante protagonismo que desempenhou nos descobrimentos pelas cinco parets do mundo, decide construir o seu pavilhão ao estilo que melhore representa a época dourada dos descobrimentos portugueses, o estilo Manuelino também conhecido como gótico português (tardio).

Postal da Exposição Internacional Panamá
Pacifico, 1911. In wikipedia.org

A construção dos edifícios inicia-se em novembro de 1911, José Batalha de Freitas, Ministro plenipotenciário em Pequim, desloca- se a São Francisco com o objetivo de reservar o lugar de construção do Pavilhão Português. Num relatório elaborado pelo diplomata, este apresenta sugestões bastante objectivas do tipo de imagem que devemos passar do país, sobretudo pela presença da grande comunidade açoriana residente na cidade, os produtos do arquipélago não podiam faltar, assim como os produtos de maior impacto económico no país e nas colónias. Enfatizar a memória dos descobrimentos, sobre tudo "das Américas" na relação entre os continentes e estabelecer uma relação harmoniosa com o estilo arquitectónico que também ele concordava ser mais apropriado o Manuelino, uma das melhores invocações estéticas portuguesas.

António Couto de Abreu (1874-1946)
Foto extraída em: www.forumscp.com

O comissário do evento não abriu concurso para a adjudicação do projeto entregando-o ao arquiteto António do Couto Abreu, o tempo era escasso, enquanto outros países iniciaram a construção dos seus pavilhões, Portugal só iria iniciar em outubro de 1913. Couto Abreu recebeu claras indicações quanto ao estilo que deveria seguir na execução do projeto, um estilo neomanuelino quinhentista que tão hostilizado foi pelos republicanos nos últimos anos da Monarquia. 

A proposta definitiva apresentava um luxuoso pavilhão composto por um corpo central ortogonal mediado por duas galerias, decorado com o design do Renascimento Português, idêntico ao aplicado no Palácio do Buçaco. A modelação dos ornamentos foi realizada em Portugal e estava a cargo dos escultores homónimos, Costa Motta. O pavilhão viria a ser inaugurado ainda entre andaimes, na sequência da sua tardia execução. Ainda assim o  Pavilhão viria a receber inúmeras medalhas e prémios.

Palácio das Bellas Artes na Exposição Internacional Panamá-Pacífco,
São Francisco, 1915. Este e outros postais em delcampe.net

As construções utilizaram sobretudo materiais de carácter temporário, no caso do Pavilhão Português foi utilizado gesso, pois a grande maioria das construções foram destruídas no final da exposição, como previsto, restando apenas o Palácio das Bellas Artes projetado por Bernard Maybeck e de inspiração arquitectónica Greco-Romana, que por oposição popular não foi demolido, conservou-se até 1950, ano em que desmoronou por si próprio, em 1953 o palácio foi reconstruído com carácter definitivo.

Pavilhão Português da Expo 2000 de Hanôver, em Coimbra.
Foto extraída de: afaconsult.com

Desta forma perdemos um edifício bastante representativo do revivalismo  Renascentista Português,  que embora não edificado em território nacional nos enchia de orgulho como portugueses, com especial importância para a extensa comunidade portuguesa que ainda hoje reside naquele estado. 
Por outro lado, poderiam ter optado pelo seu desmantelamento e reconstrução em Portugal como foi o caso do Pavilhão Português dos arquitetos Souto Moura e Siza Vieira para a Expo 2000, realizada em Hanôver na Alemanha, no fim da exposição este foi trazido e reconstruído em Coimbra destinando-se à utilização para eventos culturais.


Fontes:

Arquitetura Expositiva e Identidade Nacional: Os pavilhões de Portugal em Exposições Internacionais entre a Primeira república e o Estado Novo; Teresa João Baptista Neto, 2016;
Os pavilhões de portugal e as Exposições Universais; Isabel Maria de Moura Anjinho Marques dos Carvalhos,2006;
Portuguese Fraternal Society of America: http://www.ppie100.org;
Exposição Universal de 1915: pt.wikipedia.org;

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