quinta-feira, 9 de maio de 2019

Paços do Duque de Bragança, como nunca viu...


Vista panorâmica sobre o Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, s/d
Bilhete Postal de Guimarães, este e outros postais em delcampe.net.

Dom Afonso de Portugal, 1.º Duque de Bragança;


D. Afonso de Portugal, 1.º Duque de Bragança,
8º Conde de Barcelos, 2º Conde de Neiva
e o 1º Duque de Bragança. Gravura de Michel Aubert,
a partir de Carolus Florentinus. Buril e água-forte.

Afonso de Portugal nasceu na freguesia de Veiros no concelho de Estremoz a 10 de agosto de 1377 e morreu em Chaves a 15 de dezembro de 1461, filho ilegítimo de João I, Mestre de Avis com sua amante Inês Perez Estevez, filha de Pero Estevez e Maria Anes Maceiro. Era ainda Infante Dom João quando conhecera a bela filha de um sapateiro de Veiros pela qual se perdera de amores, seduzira e trouxera para o Convento de Santos em Lisboa, teria este vinte anos quando nascera o Afonso de Portugal.

Já enquanto Rei, Dom João I institui os dois primeiros ducados portugueses, Ducado de Coimbra atribuído a seu filho D. Pedro de Avis e o Ducado de Viseu atribuído ao seu filho Henrique de Avis, a Casa de Bragança foi criada já após o seu falecimento, atribuída a 30 de dezembro de 1442 pelo Regente de Portugal, Infante D. Pedro de Avis, ao seu meio-irmão D. Afonso, 2.º Conde de Neiva, 8. º Conde de Barcelos pelo casamento, e a partir de então, 1.º Duque de Bragança.


Armas do Duque de Bragança & Armas da Sereníssima
Casa de Bragança, livro do Armeiro-Mor, 1509.

Ainda era apenas conde quando Afonso de Portugal casa a 1 de novembro de 1401 com Dona Beatriz Pereira de Alvim (1380-1415), Condessa de Barcelos e Condessa de Arraiolos, filha única do Condestável Dom Nuno Álvares Pereira e de Leonor de Alvim, a herdeira da casa mais opulenta do reino.

O dote feito por Dom Nuno Álvares Pereira incluiu a vila e castelo de Chaves, com seus termos, terras e julgado de Monte Negro; o castelo e fortaleza de Monte Alegre; terras do Barroso e Baltar; Paços e Barcelos; quintas de Carvalhosa, Covas, Canedos, Seraes, Godinhaes, Sanfims, Temporam, Moreira e Piusada; e os casais de Bustelo.

Anos mais tarde, por volta de 1460, Nuno Álvares Pereira acrescentou ao dote o condado e Vila de Arraiolos, rendas e direitos de Montemor, Évora Monte, Estremoz, Souzel, Alter do Chão, Fermosa, Chancelaria, Assumar, Lagomel, Vila Viçosa, Borba, Monsaraz, Portel, Vidigueira, Frades, Vilalva, Ruivas, Beja, Campo de Ourique, e padroados de S. Salvador de Elvas e Vila Nova de Anços.

Em bom rigor este património que fortaleceu a Casa de Bragança, havia sido atribuído por D. João I ao Condestável, Nuno Alvares Pereira, na sequência de feitos militares que este empreendera na guerra contra Castela e que por casamento de sua única filha, Dona Beatriz Pereira de Alvim, com o filho ilegítimo de D. João I, acaba por voltar, de certa forma, ao ponto de partida.


Retrato de Dom Afonso I, Fundador da Casa de Bragança e
D Beatriz Pereira de Alvim. Acervo do Paço Ducal de Vila Viçosa.
 

Também D. João I atribuiu um dote de casamento do seu primeiro filho, ainda que ilegítimo, que consistia nas terras e julgados de Neiva, Danque, Parelhal, Faria, Rates e Vermoim, com todos os seus bens e coutos. Anos mais tarde o dote é revisto ao qual são acrescentadas as terras em Penafiel, Bastos e Coutos das Vargeas.

Depois da morte precoce de Dona Beatriz, o Duque de Bragança casa pela segunda vez, em 1420, com Constança de Noronha, neta Ilegítima do Rei Henrique II de Castela, casamento do qual não resultaram filhos. 

Túmulo de D. Afonso de Portugal, 1.º Duque de Bragança
Postal Ilustrado n.º14, Edição da Sociedade de Defesa e
Propaganda de Chaves, Foto de Alves Chaves, em delcampe.net

Depois de sua morte em 1461, foi sepultado na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves, sendo trasladado depois para a Igreja de N.ª Sra. do Rosário no Convento de S. Francisco. Desde 1942, repousa no Panteão dos Duques de Bragança da Igreja dos Agostinhos em Vila Viçosa. Sucede-lhe no ducado o seu segundo filho, Fernando I, por morte de seu irmão mais velho, este foi viver para Arraiolos, no Sul do país. 

Com o Ducado de Bragança, forma-se a Sereníssima Casa de Bragança. titulo que em Portugal, mais terras, povoações, privilégios e rendas possuía, uma das casas mais poderosas que apenas perdia poder para a Família Real. De forma resumida poderei enumerar que dispunham de quarenta e uma Comendas da Ordem de Cristo com total independência e autonomia em relação aos mestres da mesma; o seu poder abrangia mais de quinhentas ofícios rendosos (fontes de renda); mais de cento e sessenta benefícios eclesiásticos(direitos adquiridos vinculados a um cargo eclesiástico, como rendimento ou côngrua); dezoito castelos cuja alcaides-mor eram de sua nomeação; o seu poder estendia-se a vilas das mais importantes do reino e também a enumeras aldeias e lugares de que eram senhores no reinado de D. João II e contavam com cerca de oitenta mil vassalos.


Cronograma da Quarta Dinastia Real Portuguesa,
Também conhecida como Dinastia dos Bragança.
Imagem extraída no blog: ascarinhaslarocas.blogspot.com

A descendência de Afonso de Portugal, 1.º Duque de Bragança, haviam de formar mais dois importantes ducado, o seu neto Fernando II, 3.º Duque de Bragança e Duques de Guimarães a partir de 23 de novembro de 1470 e D. João de Bragança, 6.º Duque de Bragança, também Duque de Barcelos a partir de 5 de agosto de 1562. Dos títulos honoríficos mais importantes, dos Duques de Bragança, de Barcelos e de Guimarães, acumularam os de Marqueses de Valença, de Vila Viçosa, de Montemor, Condes de Barcelos, de Ourem, de Arraiolos, de Faro, de Neiva e Faria e de Penafiel.

O seu neto na sexta geração, D. João II, 8° Duque de Bragança, viria a tornar-se D. João IV de Portugal com a Restauração da Independência a 1 de dezembro de 1640. Vigésimo primeiro rei, inicia desta forma a quarta dinastia ou Dinastia dos Bragança, a mais longa Dinastia Real Portuguesa. A importância e o poder da Casa de Bragança é de tal forma notável que mesmo enquanto "Reis de Portugal", os monarcas vão continuar a utilizar cumulativamente o título de "Duque de Bragança".

Paço dos Duques de Bragança, em Chaves;



"A Villa de Chaves / Praça das Armas da Província de Tras os Montes". Gravura, autor
desconhecido, s.d. (séc. XVIII). Em primeiro plano o Revelim da Madalena, defendendo a antiga
ponte romana sobre o rio Tâmega. Em plano intermediário, as muralhas abaluartadas da vila, e o
Forte de São Francisco, dominados pela torre de menagem do antigo castelo. Em último plano, à
direita, o Forte de São Neutel. In fortalezas.org.

Logo após o seu casamento com D Beatriz Pereira de Alvim, D. Afonso de Portugal, escolhe a então Vila de Chaves para residência onde mandou construir o seu Paço, nas mediações das muralhas bem perto do castelo, alguns autores apontam que a construção do Paço terá começado em 1410 e concluída em 1446. Mais do que residência de um nobre o Paço é um verdadeiro lar, onde nasceram os seus três filhos: D. Isabel, D.Afonso e D. Fernando. Com a morte de D. Beatriz, D. Afonso retirou-se para Barcelos.

Antigo Paço do Duque de Bragança adaptado a Quartel, Chaves,
Início do século XX, in chavesantiga.blogs.sapo.pt.

Com efeito, o Paço dos Duques em Chaves, foi mandado construir no século XV para residência de Dom Afonso, 1.º Duque de Bragança, cuja memória foi imortalizada na estátua que, deste 1970, decora a Praça de Camões, praça para a qual o edifico orienta a sua principal fachada.  Apesar de ser possível encontrar, com alguma facilidade, fotografias antigas desta praça, o mesmo não se verifica em relação ao edifício, nesta foto podemos observar provavelmente alguma traça original do antigo Paço. 

De arquitectura quadrangular sóbria, o Paço era constituído por  um único piso rematado por terraço formado por lages de granito e que, segundo algumas fontes mais antigas, havia uma ligação entre o edifício e a Torre de Menagem através de uma passagem para os panos de muralha que rodeiam a Torre. Na época, a par do que aconteceu  com outros castelos em Portugal, também este foi transformando em espaço residencial que se manteve por muitos anos.

Brasão do Conde de Bragança no Paço de Chaves, in picbon.com.

Por volta do século XVIII, numa época em que a torre medieval se torna  obsoleta, o Paço, edifício anexo, passou a assumir um papel de maior relevância, sendo ampliado e melhorado, acabando por perder algumas das características arquitectónica que  definiam o  seu carácter. De entre os elementos preservados, destaca-se o frontão da entrada principal, encimado pelo brasão com as armas do Duque de Bragança.

Com efeito, em 1739 o Governador das Armas da Província de Trás-os-Montes, General Francisco da Veiga Cabral, mandou reabilitar o edifício, cuja fachada se volta para a actual Praça de Camões, para nele instalar o quartel da Guarda Principal e a Prisão Militar. Esta ocupação veio alterar a arquitectura do edifício, foi  eliminada a ligação que este mantinha com a Torre, sobre o Terraço foi construindo um andar de taipa para instalar casernas com o intuito de aumentar a capacidade de acomodação das tropas. Esta primeira adaptação terá-se mantido até os finais da década de 30 do século XX.


Antigo Paço do Duque de Bragança, após novas obras de ampliação no início
da década de 1940. Foto partilhada pela página da Cidade Chaves no Facebook.

No inicio da década de 1940, procederam-se a novas obras de ampliação do Quartel, acrescentando-lhe dois pisos definitivos para acolher as casernas de um Regimento de Infantaria. Os historiadores consideram que estas obras tenham contribuído de forma irreversível para a destruição do monumento, dado que essa intervenção implicou a destruição de dois panos da Muralha Medieval.

Antigo Paço Ducal, obras de retrocesso, apeamento do 3º piso, depois da retirada do Quartel Militar
 para a sua atual localização, 1962. Foto partilhada pela página da Cidade Chaves no Facebook.

Desde o século XVIII, em que o edifico passou a desempenhar funções militares, foi sofrendo graduais intervenções arquitectónicas de diferentes autores e datas. Quando, em 1956, o novo Quartel para acolher o Regimento de Infantaria N.º 19 fica pronto, o antigo Paço fica inutilizado e completamente descaracterizado. Para minimizar o efeito das intervenções de que foi alvo, foi-lhe retirado o terceiro piso, reposta a traça que chegou aos dias de hoje. Num entanto outros elementos, que compunham o meio envolvente ao antigo Paço, foram perdidos definitivamente, nomeadamente uma primitiva capela que servia o Paço dos Duques e um pano de muralha, que se localizavam onde hoje está construiria uma parte da Misericórdia, assim como outros dois panos de muralha, já referidos anteriormente, e que foram destruídos durante as primeiras obras de adaptação do Paço a Quartel.

Antigo Paço dos Duques, depois das ultimas intervenções exteriores, 1967.
Foto partilhada pela página da Cidade Chaves no Facebook.

As ultimas obras realizadas no edifício permitiram restabelecer a quota em relação aos restantes edifícios circundantes à praça e desafogar a vista sobre as ameias da torre que já se podem ver novamente. Ao contrário do que se fez com o Paço de Guimarães, não foi possível restituir a traça medieval do edifício, uma vez que em Chaves a traça foi constantemente alterada, talvez se o edifício tivesse permanecido inutilizado ou até mesmo caído em ruínas, fosse mais fácil restituir a sua construção original, ou parte dela.

Vista sobre a Praça Camões onde se podem observar o Museu da Região Flaviense e
a Câmara Municipal de Chaves. Postal Ilustrado em em delcampe.net.

Com efeito o edifício acabaria por ficar inutilizado durante alguns anos, quando em 1978, na sequência das comemorações milenares da existência do Município Flaviense, elevada a município em 78 d.c., durante o Império Romano, se decidiu transferir o Museu da Região Flaviense agora para o edifício do Paço dos Duques de Bragança, onde também já se encontrava instalada a biblioteca-museu do duque, onde permanece.
A instalação deste Museu neste monumental edifício, acaba por honrar, desta forma, a memória de D. Afonso, que nele viveu parte da sua vida, homem culto, muito viajado e um fervoroso entusiasta das artes e das letras.


Núcleo de Arqueologia e Pré-História do Museu da Região Flaviense, 2014
Fotografia partilhada por Portugal Romano no Facebook.

Em 1993, foi criada uma Comissão de Reformulação do Museu da Região Flaviense constituída por vários especialistas das áreas de História, Arqueologia e Museologia, e o que inicialmente significava o nome de um museu, veio transformar-se na designação de uma rede de museus municipais, que abrange os vários museus temáticos da região, passando este museu, que encabeça a rede, a designar-se por Núcleo de Arqueologia e de Pré-História.

O Núcleo de Arqueologia e de Pré-História instalado no Paço Ducal, é um espaço museológico composto pela sala principal, onde está exposta a colecção permanente, pela sala de exposição de pintura, dedicada ao Mestre Nadir Afonso, pelos gabinetes administrativos e pela sala de trabalhos arqueológicos. Toda via a rede de museus integra também: um Núcleo da História Militar, instalado na Torre de Menagem; um Núcleo de Arte Sacra, situado num edifício anexo à Igreja Matriz; e um Núcleo de História dos Transportes Ferroviários, situado no cais de mercadorias da antiga estação de caminho de ferro de Chaves.

Paço dos Duques de Bragança, em Barcelos;



Ruínas do Paço do Duques de Bragança em Barcelos, 2013
Fotografia de António Da Silva Pereira, partilhada no Facebook.

O Palácio dos Duques de Bragança (Condes de Barcelos), ou o que sobrou dele, localiza-se no ponto mais elevado da cidade, em posição dominante sobre o Rio Cávado, mesmo em direcção ao tabuleiro da Ponte Mediava de Barcelos. Durante muitos anos foi o edifício mais importante de toda a localidade, tutelando o espaço e os homens desta área ao longo dos séculos.

Ruínas do Paço do Duques de Bragança em Barcelos, s/d
Fotografia do Grupo Foto Portugal, partilhada no Facebook.

A data e mandatário da sua construção não é consensual, alguns autores defendem que o Paço tenha tenha sido mandado construir por D. Afonso, 8.º Conde de Barcelos e outros defendem que tenha sido mandado construir por D. Fernando, 9.º Conde de Barcelos, seu filho, e que as obras se tenham prolongado e concluídas pelo filho deste. Pelos documentos que chegaram aos dias de hoje, é plausível afirmar que a construção do Paço tenha começado no século XV e que a configuração final tenha resultada de intervenções efectuadas em vários períodos ou em diferentes fazes.

Urbanização do Condado de Barcelos, Reprodução de um Desenho de 1510.
Pintura de Américo Carneiro com base no desenho de Duarte D’Armas, encarregado por
El-Rei D. Manuel I, de fazer o levantamento das fortificações do país.
Imagem publicada no Facebook por Alfredo Souto Neves Côrte-Real

Durante o reinado de D. Dinis (1279-1325) a povoação havia crescido consideravelmente a ponto de este instituir ali um condado, Condado de Barcelos, do qual foi agraciado, por D. João I, o Condestável Dom Nunes Alvares Pereira que por sua vez o transmite ao genro D. Afonso de Portugal. Dom Afonso vivia então em Chaves quando, em resposta às necessidades da população de Barcelos, inicia uma série de obras de melhoramento, de entre as mais relevantes, executa modificações na cerca por forma a melhorar a circulação das vias e reconstruir a ponte medieval, um importante meio de comunicação, entre Barcelos e Barcelinhos, para a população local, mas também para as peregrinações a Santiago de Compostela, cuja um dos principais "Caminhos de Santiago" passava por Barcelos. 


Padrão ou Cruzeiro do Senhor Galo, Séc.XVIII, dentro da muralha no recinto do Paço, c.1960.
Postal Ilustrado n.º 8, Colecção Passaporte, Edição LOTY, in Delcampe.net.

A presença dos peregrinos foi de tal importância que se encontra na base do maior símbolo da Cidade e um dos maiores símbolos do país, o "Galo de Barcelos". Com origem numa lenda, o galo que depois de assado se levanta e canta em frente ao juiz, como que apelando à revogação de uma sentença por este proferida, na condenação à morte de um peregrino inocente, acusado de roubo pela graça de uma estalajadeira.
Quando o juiz se dirigem apressadamente para a forca, a fim de evitar a execução do inocente, percebe ao aproximar-se, que a execução foi consumada mas não teve o desfecho esperado, a corda encontrava-se laça no pescoço do peregrino e o corpo suspenso pelas mão de São Tiago.
Os símbolos deste milagre encanto-se gravados na coluna do cruzeiro, onde está representada a execução do peregrino na forca e São Tiago por baixo impedindo que este caia dependurado, o galo está representado na base da cruz. 


Galo de Barcelos, Símbolo Nacional
Bilhete Postal, S/n, Edição Gótica, Porto, in Delcampe.net.

A consagração dos Galos de Barcelos da-se na aurora Estado Novo pelas mãos Jornalista António Maciel que organizava uma conferencia internacional em Portugal e necessitava de objetos de artesanato que pudessem simbolizar o país, desta feita encarrega o pintor Manuel Couto Viana da compra desses objetos, este por sua vez, por sujeitarão de Leitão de Barros, compra "Galos de Barcelos" que abundavam nas feiras pelo norte do país.

Palácio dos Duques de Bragança - Barcelos, Desenho de Manuel Lima, século XX.
Destaque para a ponte medieval e as ameias da muralha da fortaleza.
Bilhete Postal Ilustrado, Série D, n.º 7, Editora Bertrand, in Delcampe.net.

Voltando ao assunto central, a construção do Paço não pode ser dissociada da cerca ou muralha da vila que após a sua renovação, Dom Afonso proteja a sua construção dentro das suas mediações. A existência do Paço, por representar um dos edifícios mais  importantes da vila, àquela época, é referida em vários documentos que, deforma indirecta, permitem balizar o período da sua construção entre 1406 e 1425, correspondendo o período posterior a 1412 como mais plausível por coincidir com o inicio dos preparativos da expedição a Ceuta, onde Dom Afonso se viria a destacar.

Palácio dos Duques de Bragança, séc.XVI, a partir do desenho de Manuel Luís Pereira de 1786
Painel de azulejos no Museu Arqueológico de Barcelos.

Todavia este palácio não teria, pelas mãos de Dom Afonso, a configuração que se deixa adivinhar pelas ruínas que hoje persistem, segundo a interpretação de alguns autores sobre um documento de 1481, existente nos arquivos do Município de Ponte de Lima, deixa perceber que o palácio que Dom Afonso havia construído, sofreu obras de remodelação empreendidas por Dom Fernando I e, principalmente, por  Dom Fernando II, 3.º Duque de Bragança, seu filho. Essa intervenção mais tardia estaria sobretudo relacionada com o corpo superior da torre sobre a ponte. 

Urbanização do Condado de Barcelos, 1510. Desenho de Duarte D’Armas, encarregado por
El-Rei D. Manuel I, de fazer o levantamento das fortificações do país. 

Não existe vestígios da existência dessa torre, apenas o desenho de Duarte D'Armas realizado no início do século XVI nos permite perceber com maior clareza como era constituído o Paço à época, permitindo concluir que a referida torre é coroada com merlões, característica arquitectónica posterior à construção do Paço. O desenho permite ainda colocar a hipótese de tal construção ter influencia estrangeira, que Dom Afonso  introduz no seu Paço Condal e posteriormente no seu Paço Ducal em Guimarães, ambos de inspiração gótica.  De entre as semelhanças mais comuns destacam-se os telhados com uma inclinação superior ao habitual, as grandes chaminés e as janelas em cruzeta lancetada distribuídas,, neste caso, sobre tudo, em vãos distribuídos pelas fachadas voltadas para o rio.

Pintura de Barcelos - "Palácio dos Sereníssimos Duques de Bragança"
Desenhado a partir da margem esquerda do Cavado em 1786,
pelo afamado pintor Manuel Luís Pereira e copiado por
seu filho António Augusto Pereira em 20 de Janeiro de 1856,
e por ele oferecido ao Rei e Senhor Dom Fernando 2º.

O Paço de Barcelos era uma construção compacta que se organizava em cinco corpos rectangulares, de diferentes volumetrias, que se organizavam a montante de um sexto corpo, a torre avançada em direcção ao tabuleiro da ponte sustentada por grandes arcos que se abrem sobre as vias de travessia.
Ao contrario do que era habitual nas casas senhorias da época, o Paço não possuía capela própria, ao invés disso, possuiria uma característica curiosa, tratava-se de um passadiço, do lado norte, que unia o Paço ao coro alto da Colegiada, construindo mais tarde. Estes arcos podem ser identificados no desenho de  Manuel Luís Pereira, que apesar de esboçada de forma fantasiosa uma vez que o Paço é reproduzido numa escala exagerada alem de representar um estado de conservação que o edifício já não apresentava no século XVIII.

Pelourinho Gótico e Paço dos Condes Duques, c.1960.
Postal Ilustrado n.º 3, Colecção Passaporte, Edição LOTY, in Delcampe.net.

Quando Dom Fernando I, 2.º Duque de Bragança, recebe de seu Avô, o Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, muda-se para o Alentejo, abandonando o Paço Ducal de Guimarães, do qual passa apenas a receber os tributos. Assim se estabeleceram os Bragança em Vila Viçosa, no primitivo Paço do Castelo.
D Fernando II, por sua vez toma o comando do Condado de Barcelos quando, D. João II, o acusa de traição e o condena numa execução decorrida a 1483, confiscando desta forma todos os bens da Casa de Bragança, a família foi exilada para Castela e só regressa após a morte do rei. Os bens só viriam a ser restituídos em 1501, no reinado de D. Manuel I, ao então herdeiro D. Jaime, 4.º Duque de Bragança.

Paço dos Condes Duques de Barcelos (século XV e XVI), c.1960.
Postal Ilustrado n.º 17, Colecção Passaporte, Edição LOTY, in Delcampe.net.

Uma vez reabilitado o Ducado, o 4º Duque, D. Jaime, não quis habitar o Paço do Castelo, em Vila Viçosa, por estar ligado à memória do seu pai. Desta feita pretende ampliar o Paço de Barcelos para nele se instalar mas por este se encontrar na extremidade da muralha só poderia ser ampliado para norte, onde se encontra a igreja Matriz, numa autorização pedida ao Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, para deslocar a Matriz para outro local, este aceitas mas com condições que o fazem desistir.
Este foi o ponto de viragem a partir do qual o Paço de Barcelos perde  o interesse por parte da Casa de Bragança e fica um pouco jogado à sua sorte.
D. Jaime acaba por mandar construir um palácio novo, no sítio chamado do Reguengo, assim começou a ser erguido o que é hoje o magnífico Palácio Ducal de Vila Viçosa.

Museu Arqueológico, antigo Paço Ducal (Século XV e XVI), c.1960.
Postal Ilustrado n.º 18, Colecção Passaporte, Edição LOTY, in Delcampe.net.

A história da sua ruína conta já com mais de quatro séculos. Em 1609 já estava em muito mau estado e, um século depois, os cónegos da Colegiada pediram autorização ao rei para utilizar a sua pedra na renovação da Igreja Matriz. Em registos de 1706, o Paço é descrito como apresentando já algumas ruínas, casas descobertas sem telhados nem sobrados. Com efeito, a partir do século XVII, o Paço  não desperta já qualquer interesse dos prioritários o que acaba por provocar a gradual degradação das suas estruturas. Na passagem para o século XIX, no ano exacto de 1800, uma derrocada da torre sobre a ponte acaba por provocar danos sérios no tabuleiro e estragos irreversíveis na estrutura do Paço, desta forma o Engenheiro Custódio José Gomes de Vilas-Boas é chamado para avaliara situação  e propor uma solução de entre as quais as paredes que ameaçavam ruir foram removidas e o trajecto da ponte foi provisoriamente estabelecido com a ajuda de um barco.

Ponte Medieval e Paço dos Condes-Duques de Barcelos, c.1960.
Postal Ilustrado n.º 24, Colecção Passaporte, Edição LOTY, in Delcampe.net.

Nas décadas que se seguem mais paredes são removidas, por questões de segurança e reestruturação urbana, todas as ligações estabelecidas entre o Paço e a Matriz são retiradas, também parte da cerca é desmantelada e o que restava da grande torre, varandas e chaminés, são também apeadas, que acabam por justificar, em grande parte, a descaracterização da ruína.
Desta forma deduz-se que tenha havido uma certa intencionalidade para reaproveitamento das pedras do Paço. Num episódio ocorrido em Barcelos em 1852, consta que na sequência de um incendeio numa casa onde tinha estado hospedada D. Maria II, esta autoriza que pedras, para a reconstrução da casa, sejam retiradas do antigo Paço. Como esta outras situações se seguiram. Em 1871 esteve encima da mesa da Câmara a possibilidade da sua completa demolição para lá fazer um jardim público e um monumento de homenagem a velha casa senhorial.

Restauração do Paço dos Condes de Barcelos (Prejecto Korrodi), nº 3, Fachada Sul,1903

Já no inicio do século XX, o arquitecto Ernesto Korrodi realiza um projecto de restauro que pretende converter as ruínas em Biblioteca e Museu Municipais, todavia este projecto não foi levado acabo por falta de verbas necessárias à sua execução.

Até 1937 o Paço sofreu todo o tipo de agressão possível pela vulnerabilidade a que este exposto, mesmo já depois de ter sido classificado como Monumento Nacional desde 1019.  Com efeito no final da década de 30, foram realizadas obras de preservação e restauro levadas a cabo pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumento.

Grande plano do Paço dos Condes-Duques de Barcelos, s/d
Postal Ilustrado in Delcampe.net.

Foram efectuadas várias demolições de pequenas habitações circundantes por forma abrir espaços aprazíveis que permitam a contemplação dos monumentos históricos e de forma a preservar o Museu Arqueológico que é a ruína do Paço dos Condes-Duques desde 1903. O Pelourinho é aqui instalado por volta de 1905, originalmente encontrava-se em frente ao Paços do Concelho. 

Com efeito entre a década de 30 e 50 foram efectuadas várias mudanças nesta zona, demolição de casas para alargar e melhorar acessos, quarteirões inteiros forma demolidos nas periferias da Matriz e do Paços do Concelho, já nos anos 70 é proibida circulação de viaturas e uma valorização cultural do terreiro do Paço.

Vista sobre o centro histórico(sul) de Barcelos (Matriz, Pelourinho e Paço)
Foto patinhada no Facebook pelo Autor: Eduardo Campos, 2014

Mais uma vez, em 1954, é apresentado um projecto académico, trabalho de final de curso de Francisco Azevedo, que consistia na recuperação das ruínas transformando-as em Museu e Biblioteca, merecedor da atenção por parte do município que em 1960 pede autorização a D.G.E.M.N. para a implantação do projecto. Todavia o parecer dos técnicos da instituição dizia que a reconstituição do Paço de forma fidedigna é impossível uma vez que não existe elementos que corroborem a arquitectura que o Paço facto apresentava e desta forma o projecto não é aprovado.


Vista sobre parte de Barcelinhos a partir dos jardins do centro histórico(sul) de Barcelos
Foto patinhada no Facebook pelo Autor: Eduardo Campos, 2014.

A par do que aconteceu com a fortaleza de Barcelos, também em outros pontos do país castelos e muralhas acolheram palácios senhoriais, e apesar de este estar em ruínas há já largos séculos, continua a ser um bom testemunho das construções nobres apalaçadas do final da Idade Média, num processo de engrandecimento dessas antigas fortalezas, que passaram a caracterizar-se também por uma engenharia inventiva de soluções arquitectónicas de função residencial com aspectos militares.

O Paço do Duque de Bragança em Guimarães;



Vista panorâmica sobre o Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, c.1940
Foto partilhada por Nuno Saavedra no Facebook em 2016.

O Paço de Guimarães situa-se no lado ocidental da cidade num terreno que se eleva em direcção ao assombroso Castelo de Dom Afonso Henriques, também de grandes proporções, composto por quatro corpos principais que se ligam entre si pelos vértices formando uma grande praça ou pátio quadrangular no centro. De arquitectura civil, apresentava características nítidas de fortificação, visíveis na robustez dos seus murros e na disposição da abertura das suas janelas.


Vista panorâmica sobre o Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.
Fotografia publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

Mandado construir no século XV, entre 1420 e 1422, por D. Afonso de Portugal, 1º Duque da Casa de Bragança, por altura do seu segundo casamento com D. Constança de Noronha, havia de ser concluído já pelo seu filho o Duque D. Fernando I. Com efeito, as obras prolongaram-se até ao século XVI pelo 2.º Duque que introduziu alguns melhoramentos, a ele se deve o acrescento de um piso sobre a porta principal, proporcionando uma maior harmonia e monumentalidade ao palácio. 

Todavia a funcionalidade deste fora bem definida já no projecto original, onde eram destacadas duas grandes áreas divididas em altura, no primeiro piso, as dependências de serviços e de apoio, e no segundo, as habitações nobres, estruturadas a partir da capela em áreas para o duque e para a duquesa, acessadas por umas escadas que davam para a entrada da capela e galerias do piso nobre.


Palácio dos Reis de Maiorca, em Perpignan, s/d
Bilhete Postal em delcampe.net, aqui.

As características arquitectónicas fazem deste monumento um dos melhores exemplos portugueses da tradição construtiva nobre tardo-medieval, baseado nas construções desenvolvidas nas regiões francesas desde a segunda metade do século XIV, e de que o Palácio dos Reis de Maiorca, em Perpignan, são um fiel modelo.


Claustro do Paço dos Duques de Bragança depois do restaurado, data e autor n/i
foto partilhada pela Página Portugal Mais no Facebook em 2016.

Alguns autores defendem a hipótese de este ter sido construído sobre as fundações de um primitivo Paço românico pertencente ao Conde D. Henrique que, fazendo parte dos bens da coroa, foi incluído no dote de D. João I a favor do seu filho bastardo D. Afonso a quando do seu casamento.

Também o autor da traça da sua construção não é identificado de forma clara, para alguns autores, com base na fusão de elementos góticos de carácter normando e português, o paço terá sido construído por um Mestre da Normandia que se encontrava estabelecido em Guimarães e na qual deixou uma basta obra realizada de seu nome Antom. 


Vista da fachada interior do lado sul do Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.
Fotografia publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

Em meados do século XIX o edifício apresentava-se bastante degradado, da frontaria principal voltada a sul apenas restavam as paredes do piso térreo com uma porta central de acesso ao pátio interior, debaixo de um alpendre sustentado por duas colunas, a cobertura apresentava um debilitado telhado ou o que restava dele.


Fachada Norte do Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.
Fotografia publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

A norte, a fachada voltada para a antiga muralha da cidade, apresentava paredes bastante conservadas e a praticamente toda a altura da construção original, o mesmo não se verificava em relação às paredes da frente deste corpo para o lado do pátio que se apresentavam desmoronadas.


Fachada Poente do Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.
Fotografia publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

A poente, a fachada encontrava-se parcialmente desmoronada mas dispunha de estruturas, ao nível do piso inferior, susceptíveis de utilização. Na parte exterior à fachada podia ser observado um alpendre a todo o cumprimento da mesma em bom estado de conservação.


Vista da fachada do lado do Poente do Paço dos Duques, no início do século XX
Postal Ilustrado da Union Postal Universaille - Guimarães em delcampe.net.

Este corpo do palácio foi profundamente alterado em 1807 para acolher um quartel de com um regimento numeroso que ali se acomodou durante mais de cem anos. Disponha de grandes salas e nas extremidades duas escadas "em caracol" que conduziam aos telhados onde outrora houvera grandes terraços.


Fachada Nascente do Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.
Fotografia publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

A nascente, a fachada apresentava-se completa, distribuída por três corpos, os dois corpos laterais apresentavam-se recuados e eram corados com grandes varandas sustentadas por cachorros de pedra a todo o cumprimento. O corpo central apresentava-se avançado em relação os restantes, e destacava-se por possuir duas lindíssimas janelas com cerca de sete metros de altura, excelentes exemplares do gótico em Portugal. Estas janelas pertenciam a uma capela, cujo pórtico formado por colunas alinhava-se em direcção ao interior do palácio, interrompida por uma galeria que estabelecia a ligação ao andar nobre. Nos restantes corpos da fachada, são apresentadas varias janelas distribuídas por três e quatro andares, com formatos e dimensões variadas.


Fachada do lado do Nascente do Paço dos Duques, no início do século XX.
Em primeiro plano, casas da antiga Rua Santa Cruz.
Fotografia publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

Do lado desta fachada, talvez a fachada mais rica do ponto de vista arquitectónico, existia uma pequena cerca que pertencera ao palácio, depois que este se arruinou, pequenas casas se foram construindo por onde corria o seu muro.

Este palácio de construção sóbria, também no seu interior, no ponto de vista arquitectónico, não haviam de ter existido grandes extravagancias luxuosas, consta que os interiores eram ricamente decorados com tapeçarias e alfaias. A par do que ainda hoje podemos observar no Palácio de Vila Viçosa, alem da sua imponência, a sua riqueza assentava sobre tudo, na decoração dos interiores.

Visto de longe podemos observar umas estruturas esguias e cilíndricas que se destacam simetricamente a cima das fachadas do palácio, estas estruturas são chaminés construídas em tijolo.


Janela da igreja do Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.
Fotografia publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

Neste palácio havia de viver durante muitos anos a Condessa D. Constança de Noronha, principalmente após enviuvar de D. Afonso, período a partir do qual nele estabeleceu uma espécie de hospital-enfermaria, tratando os doentes e repartindo os seus bens pelos mais carenciados Acabaria também por nele falecer a 26 de janeiro de 1480. 

Com a passagem do Condado para Dom Fernando, 2.º Duque de Bragança, este desloca o centro da Casa Ducal para Vila Viçosa com o intuito de a aproximar da Corte em Lisboa. Com efeito, Vila Viçosa tornou-se sede do importante ducado de Bragança quando D. Fernando sucedeu a seu pai, tornando-se o 2º Duque de Bragança, em 1461. Na verdade, o 2º Duque de Bragança recebera de seu avô, o Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, o título de Conde de Arraiolos, pelo que quando chegou a Duque, não quis trocar as planuras alentejanas pelo Paço Ducal de Guimarães. Assim se estabeleceram os Bragança em Vila Viçosa, no primitivo Paço do Castelo.

Quando o paço se encontrava na posse de D. Fernando II, 3º Duque de Bragança, D. João II acusando-o de traição, consegue que este seja executado em 1483, confisca todos os bens da Casa de Bragança a favor da coroa, só em 1501 os bens são restituídos a D. Jaime, 4.º Duque de Bragança, pelo Rei D. Manuel I. 

O ultimo Bragança a residir no palácio terá sido D. Duarte de Portugal(1541-1576), 5.º Duque de Guimarães, filho do Infante D. Duarte e da Infanta D. Isabel, neto do Rei Manuel I.


Obras a decorrer no claustro do Paço dos Duques de Bragança, Guimarães, c.1940
Fotografia do arquivo SIPA.

Ainda durante o século XVI, Gaspar Estaço, Cónego de N. Sr.a da Oliveira de Guimarães, na sua obra "Várias Antiguidades de Portugal" publicada depois da sua morte, refere que o Paço dos Duques de Bragança, mandado construir por D. Afonso, Conde de Ourem, genro de D. Nuno Álvares Pereira, se encontrava já meio arruinado.

Todavia o maior golpe que o Paço havia de sofrer aconteceu, por volta de 1666, quando os Frades Capuchos obtiveram autorização do Rei para a utilização de pedra do Paço para obras a decorrer no seu convento, num entanto esta autorização não foi bem vista pelo população de Guimarães que se manifestou contra a decisão do monarca, e numa tentativa de salvar o Paços ofereceram aos religiosos a pedra do muro de Santa Barbara pertencente ao castelo. A negociação não surtiu efeito e perdas foram retirada do Paço, principalmente do seu interior Depois deste exemplo, vários roubos se sucederam e a indignação popular pouco pôde fazer.


Obras a decorrer no claustro do Paço dos Duques de Bragança,
Guimarães, c.1940. Fotografia do arquivo SIPA.

Classificado como Monumento Nacional em 1910, ainda nele se estabelecia o Regimento do Quartel de Infantaria n.º 20 que acabaria por sair em 1935 quando foi tomada a decisão de restaurar o edifício. Entre 1937 e 1959 realizou-se uma ampla e complexa intervenção de reconstrução, executada a partir de projectos do arquitecto Rogério de Azevedo. 


Vista panorâmica sobre o Paço dos Duques e sobre o Castelo de Guimarães, c. 1960
Postal Ilustrado de Guimarães em delcampe.net.

Todavia o restauro havia de ser tão polémico como revitalizador, o arrojado projecto baseou-se na análise de outros Paços medievais estrangeiros, mas também numa pretensa ilusão de monumentalidade, que o cumulo dos homens da década de 30 do século XX, em portugal, estavam longe de perspectivar.


Aspecto da fachada poente, antes e depois das obras de restauro
Foto publicada no Boletim da DGEMN, n.º 102, Dezembro de 1960.

O projecto foi elaborado tendo em consideração a carga simbólica de Guimarães como berço da nacionalidade e neste sentido o restauro teve como objectivo a criação de uma ala destinada a residência oficial da Presidência da República, no norte do país, e ao mesmo tempo estruturas de acolhimento museológicas.

Vista panorâmica sobre o foto de Dia Internacional dos Museus, facebook 2016

Com base num auto de medição do Paço dos Duques de 1761 foram identificadas muitas características da construção original, que hoje não teríamos outra forma de saber face a degradação que o edifício apresentava, que o projecto de reabilitação não considerou na sua execução, de forma a corresponder fielmente à construção primitiva, pelo contrário, o projecto foi de encontro ao tipo de construção da época idealizada à época e à semelhança dos castelos da região do Loire. De entre os elementos identificados que fizeram parte da construção inicial e não foram reproduzidos, constam o alpendre e a escada de acesso à Capela, aliás as escada foi construída numa primeira fase, como pode ver-se numa foto anterior, e posteriormente retirada.


Sala das tapeçarias Pastrana no Paço dos Duques de Bragança, Guimarães, 2012.
in Nove Séculos de Cultura Portuguesa

Com efeito em 1959 foi inaugurado como Palácio Nacional e aberto ao público como museu com uma exposição com um espólio de objectos de Artes Decorativas do século XVII e XVIII. Esta colecção foi disposta de forma a reproduzir quotidiano do paço entre os século XVI e XVIII, da qual são de especial relevância, pelo seu valioso contributo para a História dos Descobrimentos, o conjunto de quatro cópias das tapeçarias de Pastrana, que narram alguns dos passos das conquistas do Norte de África e cujo desenho vem sendo atribuído ao pintor Nuno Gonçalves, autor do políptico de São Vicente de Fora; a colecção de porcelanas da Companhia das Índias; o conjunto de faianças portuguesas de importantes fábricas: Prado, Viana, Rocha Soares, Rato; o núcleo de tapeçarias flamengas, de Pieter Paul Rubens, entre muitas outras obras.


Capela-mor da Capela do Paço dos Duques de Bragança em Guimarães
Fotografia do Paço dos Duques, aqui.

O projecto da autoria de Rogério de Azevedo para o arranjo do interior da Capela foi adaptado, resultado de várias intervenções divergentes na execução do projecto original, sobretudo no que respeita às características da cobertura. A quando do restauro, na capela existiam ainda as paredes, o janelão, a porta e a escadaria, no entanto, o janelão já não dispunha de vitrais e a capela do seu recheio. O mobiliário foi desenhado pelo arquitecto Mário Barbosa Ferreira ao estilo de uma capela do século XV, mesa de altar, tribunas, cadeiras, balaustrada do coro e bancos, tudo executado, em 1959, em madeira de castanho. o Alçado da cobertura do pórtico de entrada está decorado com mais de cinquenta desenhos , nas paredes laterais foram colocadas reproduções de duas telas famosas dos séculos XVI e XVII, dos italianos Rafael e Domenico Zampiere.


Paço dos Duques de Bragança recuperado, Guimarães, s/d
Fotografia de Artur Pastor no Arquivo Municipal de Lisboa.

Inserido no Centro Histórico de Guimarães, protegido pela UNESCO desde 2001 como Património da Humanidade, o Paço dos Duques é actualmente gerido pela Direcção Regional de Cultura do Norte e integra o Museu no seu primeiro piso, uma ala destinada à Presidência da República no segundo piso e uma vasta área vocacionada para diversas iniciativas culturais. 



Fontes:

"Paço dos Duques de Bragança em Guimarães", Archivo Pittoresco n.º 5 de 1861;
"Paço dos Duques de Bragança", Direção geral do património Cultural, em patrimoniocultural.gov.pt;
"Rogério de Azevedo e o Paço dos Duques de Guimarães: Estudos e Projetos de Restauro", Jorge Cunha Pimentel, 2004;
"O Paço dos Condes de Barcelos", Archivo Pittoresco n.º 5 de 1861;
"O Paço dos Condes de Barcelos", Direção geral do património Cultural, em patrimoniocultural.gov.pt;
"O Paço dos Condes de Barcelos" Joaquim António de Moura Flores, trabalho realizado do âmbito do Curso de Mestrado, FAUTL;
"Rede de Museus Municipais"; Página Digital do Municipio de Chaves, chaves.pt;

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