sábado, 18 de maio de 2019

Ermida de Santa Clara, São Pedro de Terena


A ruína da Ermida de Santa Clara localiza-se no ermo da Herdade de Santa Clara na freguesia de Tererna, também denominada por  São Pedro ou São Pedro de Terena, concelho do Alandroal, região do Alentejo. 
Assim como a arquitectura militar, também a religiosa valorizava os cômoros roqueiros para aí edificar os seus templos, na religião os locais mais elevados sempre foram privilegiados, não para destacar a sua superioridade em relação ao "terreno" mas antes para assinalar a proximidade com o "divino".
Pouco se conhece acerca da sua origem, num entanto as suas ultimas transformações arquitectónicas apontam para meados do século XVI.


Originalmente, o monumento era composto por um único volume cúbico e encimado por uma cúpula hemisférica, característica muito frequente nos templos islâmicos,  conhecidos como Qubba, e que na era crista, através da introdução da arte mudéjar, o templo foi convertido para o culto cristão, para tal foi acrescentado um corpo rectangular, orientado para templo original sobre o qual foi construído um campanária e a antiga cúpula islâmica foi decorada com painéis de frescos com representações cristãs.


Apesar do avançado estado de degradação em que se encontra o monumento,  ainda é possível identificar algumas das cenas representadas nos seus painéis, de entre as quais se destacam: a representação da Nossa Senhora das Dores; a Paixão e a Ressurreição de Cristo; S. José e o Menino; e  Santa Inês e Santa Clara, a que o templo foi consagrado. 


A Ermida parte de uma construção popular em alvenaria, três corpos dispostos longitudinalmente, a Capela-mor, nave e galilé. A Capela-mor foi instalada no antigo templo islâmico, dispunha apenas de um pequeno nicho onde esteve a imagem de Santa Clara, uma mesa de altar também em alvenaria e decorada com frescos. A nave, acrescentada posteriormente, de construção sóbria, apresenta uma forma rectangular, desprovida artisticamente, com paredes laterais completamente cegas, com excepção de um pequeno foco de luz natural, e as outras duas estabelecem a ligação, através da abertura de duas portas em arco de volta perfeita, aos outros corpos que compõem o edifício. Encimando o antigo portal islâmico, interrompendo a empena, entre a Capela-mor e a nave, encontra-se o pequeno campanário, já desprovido de sino.


A galilé, o terceiro volume do templo,  assume uma disposição quadrangular cujas fachadas são abertas por três arcadas redondas, emolduradas, uma por banda. Na foto anterior são evidentes as marcas que denunciam as construções posterior e que  era, na sua origem, apenas constituído pela abside, este readaptação das estruturas religiosas pelos diversos povos era comum, aliás este procedimento foi bastante comum em outros monumentos religiosos no distrito de Évora. 


Infelizmente são muitas as ermidas que se encontram em estado avançado de ruína, a falta de protecção, por não lhe ser reconhecido interesse histórico e arquitectónico, o facto de estarem inseridas em propriedades privadas e não integraram roteiros turísticos vocacionados para este tipo de interesse, contribuem para que gradualmente, estes entrem em espiral de declínio.
Neste caso concreto, o estado de ruína é avançado como se pode verificar através das fotos, as coberturas da nave e da galilé desabaram, parte da abside também ruiu, as poucas peças de materiais trabalhados dos portais e janelas foram extraidas, desde os anos 30 do século XX que este monumento se encontra deitado á sua sorte, mas essa tem passado longe deste ermo...


Quando me refiro ao interesse historio e arquitectónico, propositadamente não incluí o interesse arqueológico porque esse existe, para alem da posição de domínio sobre a paisagem, o monumento encontra-se a escassos metros de um Poço Cisterna e uma Necrópole(carece de confirmação), assim como a proximidade a uma Vila Romana, tudo isto contribui para a formação de um Núcleo de Interesse Arqueológico e de área protegida.

Fontes:
"Inventário Artistico de Portugal - IX Distrito de Évora,", Concelhos de Alandroal, Borba, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Viana do Alentejo e Vila Viçosa., Túlio Espanca, 1978.

Créditos de imagens:
Autor: Luís Lobato Faria(Arqueólogo) de 2016 a 2018.

Sem comentários:

Enviar um comentário