sábado, 11 de maio de 2019

Ponte Pênsil D. Maria II, Rio Douro (Extinta)

Vista sobre a Ponte Pênsil D. Maria II, Rio Douro e Porto
Reprodução de Gravura de cerca de 1850, Autor Isidore-Laurent Deroy
Bilhete Postal Comemorativo da Inauguração da Ponte da Arrábida, Editor L. Turgis, París.

A Ponte Pênsil, sobre o Rio Douro, foi mandada construir pela Rainha D. Maria II em maio de 1841, foi a primeira travessia suspensa, com carácter definitivo, a assegurar a comunicação entre as duas margens do Rio Douro, entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia, em Portugal. Na época permitiu a continuidade rodoviária ininterrupta entre Arcos de Valdevez e Lisboa que mais tarde se estendera até Valença.

Vista sobre uma ponte de barcas, Rio Douro e Porto
"Vue de la ville et du port de Porto", Documento subordinado
Ato informacional, 1817–1817, Reprodução de gravura publicada 1817, representando
as atividades da zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, o Rio Douro com embarcações,
a ponte das barcas, e uma vista sobre a cidade do Porto. Autoria: Henry L’Evêque
(des.). Local de edição: Londres. Editor: Henry L’Evêque.

Durante séculos a travessia entre Porto e Gaia foi assegurada por pontes de barcas, que como o próprio nome indica, consistia num grande numero de barcas alinhadas entre si, sobre as quais era colocado um tabuleiro amovível que permitia a circulação sobre as bascas. Num entanto esta foi-se revelando uma solução com grandes fragilidades uma vez que durante as intempéries e outros fenómenos meteorológicos esta ligação era drasticamente afectadas.

"Projecto d'huma ponte, para a Cidade do Porto sobre o rio Douro.
De hum só arco de 600 palmos de diâmetro".

Engº Carlos Amarante. 1802

A construção de pontes de barcas foi-se sucedendo e cada vez mais aperfeiçoadas, em resposta ao também crescente comercio e industria, neste sentido o desejo de construir uma ponte verdadeiramente permanente e capaz de dar resposta ao intenso tráfego que cada vez se fazia notar mais entre as duas margens. Com os avanços tecnológicos dos materiais, sobretudo na indústria do ferro, foi tomada a decisão de construir uma ponte segundo o sistema de suspensão em ferro. O primeiro projecto para construção de uma ponte definitiva foi desenhado por um arquitecto e engenheiro militar, Carlos Amarante, que em 1802 já ambicionava essa possibilidade, todavia, por diversos acontecimentos negativos que ali tiveram lugar, nomeadamente as batalhas da invasão francesa e da guerra neoliberais, contribuíram para que a realidade de uma ponte definitiva tivesse aparecido décadas depois.

Vista sobre a Ponte Pênsil D. Maria II, Rio Douro e Porto
Gravura "Veduta della citá presa dalla Serra do Pilar", Reprodução de gravura publicada em 1851,
 representando o Rio Douro, a Ponte Pênsil, e uma vista da parte central da cidade do Porto, tomada
 de Vila Nova de Gaia, Autor ia: Enrico Gonin (des. e grav.).

A primeira tentativa para construir uma ponte suspensa, sobre o indomável Rio Douro, surge no ano de 1837, quando o Sr. Conde Claranges Lucotte, em representação da sua companhia, Claranges Lucotte & Cie, apresentou ao governo uma proposta acompanhada por um projecto do engenheiro Estanislão Bigot, para a construção de uma ponte de carácter definitivo, entre o cais de Gaia e a praça da ribeira no Porto. Todavia o projecto não foi do agrado popular pois as estruturas das amarras da ponte ocupavam uma parte significativa da praça da ribeira, a ponto de comprometer o bom funcionamento do comércio.

Ponte, D. Maria II, Ponte Pênsil, 1880.
Bilhete Postal n.º 67, Colecção Porto Desaparecido, Editor: Le Temps Perdu, In AMP

Neste sentido a companhia altera o projecto inicial, substituindo os dois arcos das extremidades da ponte por um único de grande dimensão, no meio do rio, e nas margens apenas uma estrutura suficiente que permitisse suportar as amarras. Este projecto, de uma dimensão colossal, foi recebido com bastante entusiasmo pela câmara municipal por nele ter identificado diversas vantagens económicas para a cidade e uma riqueza arquitectónica monumental para o património público. 
Já as fundações começavam de ser formandas nas margens do rio quando as obras são interrompidas por se considerar que o local estabelecido, estava vulnerável às muitas cheias que o aumento do caudal do rio provocava, as primeiras barragens em portugal só começaram a ser construídas no final do século XIX.

Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque (1792-1846)
Pintura publicada na página aprenderamadeira.net

Neste sentido a companhia responsável pela construção recorre a inspector geral das obras públicas do reino, Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque,  para que este se prenuncie sobre o problema. Na sua deslocação ao Porto, Mouzinho de Albuquerque, engenheiro experiente,  analisa as margens do rio e indica, como local mais propicio para a construção da entrada da ponte, as abas da Serra do Pilar mesmo ao pé das rochas que se elevam sobre a forma de escarpas. A sua escolha baseou-se em três factores principais,  não interferir com os portos e praças de comércio, permitir que a ponte desse passagem a boas estradas e que interferissem o mínimo possível com a urbanização estabelecida e, principalmente, estabelecer uma cota o mais elevada possível a fim de diminuir a sua exposição a cheias.

Vista de Vila Nova de Gaia sobre a Ponte Pênsil e sobre a Ribeira, c. 1870
Bilhete Postal, n. 5, Série Porto Desaparecido, Editora Le Temps Perdu, 1980

Com efeito o parecer de Mouzinho de Albuquerque foi levado em conta quer pelo governo, quer pela companhia francesa do Conde Claranges Lucotte, que encomenda ao seu engenheiro Estanislão Bigot, com a colaboração do engenheiro José Vitorino Damásio, a elaboração de um novo traçado da ponte que a câmara municipal viria a aprovar.

Vista sobre o Rio Douro e a Ponte Pênsil ou D. Maria II, c.1880
Bilhete Postal, n.º 1, Série Geral, Porto, Editor Alberto Ferreira, 1908

As obras da construção da nova ponte iniciam-se simbolicamente a 2 de maio de 1841, a escolha desta data para inauguração, foi intencionalmente feita de forma a coincidir com a comemoração do aniversário da coroação de D. Maria II, por abdicação de seu pai, D. Pedro IV,  primeiro Imperador do Brasil. A construção da ponte, que contou também com a colaboração dos engenheiros Mellet e Amédée Carruette, durou cerca de dois anos e a fevereiro de 1843, a nova ponte encontrava-se praticamente terminada, faltavam apenas alguns acabamentos acessórios, enquanto eram efectuados os testes necessários para garantir a sua segurança e resistência.

Vista sobre o Rio Douro, ao fundo a Ponte Pênsil, finais do século XIX
Postal Ilustrado, n.º 72, Série Porto Desaparecido, Editora Le Temps Perdu, 1980

Enquanto era escolhida a data e organizada a cerimonia de inauguração da Ponte D. MAria II, uma grande cheia se abate sobre a ribeira, obrigando ao desmantelamento da ponte das barcas e obrigando à antecipação da abertura da nova ponte, que se verificou a 17 de maio de 1843 sem a ambicionada cerimónia de inauguração
De resto, a salientar que a construção da ponte decorreu sem incidentes de maior,  os engenheiros envolvido desempenharam com grande profissionalismo e competência a a desafiante missão de construir sobre o Douro.

O Porto : Pormenor da cidade mostrando a Ponte Pênsil, Meados do século XIX
Vista panorâmica da cidade do Porto, dos Guindais a Miragaia, tirada da Serra do Pilar.
Reprodução fotográfica de Teófilo Rego. Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto.
 Vol.18, nº1-2 (1955), p.32-33.

No final, a ponte resultou numa solida e elegante construção, um monumento admirável que veio alterar a paisagem de forma definitiva, ou pelo menos pretendia-se que assim fosse, não se denotassem necessidades futuras que culminariam na construção de outras mais que melhor respondessem ás novas necessidades.
Suportavam a ponte quatro obelisco ou pilares de cantaria de 18 metros de altura, colocados dois em cada extremidade, unidos junto aos capitéis dóricos, por uma barra de ferro, com a seguinte inscrição "D. Maria II - 1842". Os pilares lavrados em quatro faces, são coroados com esferas de pedra sobre acrotérios.

Vista do Porto na zona da Ribeira e Ponte Pensil, c. 1870
Panorâmica do Porto e Vila Nova de Gaia, vendo-se a abertura da rua Nova da Alfândega, a ponte
pênsil, o casario da zona ribeirinha do Porto, o rio Douro e suas embarcações; e o Mosteiro da Serra
 do Pilar.

Com uma extensão total de 170, 14 metros, a ponte possuía apenas mais 15 metros que a largura do rio Douro, naquele lugar. A largura do pavimento, incluindo os dois passeios laterais, era de 6,00 metros de largura e elevava-se do nível médio das águas do rio a cerca de 10 metros. 
No pavimento e nas guardas da ponte foi utilizada madeira, pinho de Flandres, nas traves, estribos, cabos de amarração e suspensão, foi utilizado ferro. 
Apesar  da nova ponte carecer de manutenção periódica, esta veio assegurar um melhoramento no tráfego entre as duas margens, substituindo as sucessivas e itinerantes pontes de barcas.

Entrada do tabuleiro da Ponte Pênsil, vista do Porto na década de 1870.
Fotografia partilhada pela Foto-porto no Facebook em 2018.

Durante a sua curta existência, a ponte veio a revelar-se bastante funcional e segura,  passado 20 anos, foi submetida a novos testes de de resistência e segurança e passa com distinção, sendo certo que a derradeira prova de resistência era o tráfego diário a que a mesma era aleatoriamente submetida, sobretudo pelo aumento do fluxo comercial do vinho do porto.
O financiamento da ponte resultou de uma comunidade de investidores que viram um grande potencial na exploração da travessia da ponte, receitas obtidas pela cobrança das passagens dos transportes, valores tabelados e previamente acordados com o governo.

Ponte Maria Pia e Barco Rabelo, em primeiro plano, c.1910.
Postal Ilustrado do Porto, Autor e Editora não identificados, In AMP.

Na segunda metade do século XIX, o comércio do Vinho do Porto atraiu uma comunidade britânica com grande  interesse e capacidade empresarial, e a região tornara-se o grande pólo industrial, o porto comercial no rio Douro apresentava uma actividade crescente de transporte fluvial e marítimo,  a necessidade de fortalecer e diversificas as ligações entre Porto e Vila Nova de Gaia, cresciam. O desenvolvimento ferroviário precipitou-se e a 4 de novembro de 1877 era inaugurada a Ponte Maria Pia,  magnífica ponte projectada pelos Engenheiros Gustave Eiffel e Théophile Seyrig. 

Exposição os Ingleses e o Porto : Construção da Ponte Luís I, 1885
Exposição organizada pela Câmara Municipal do Porto, ocasião da visita de S.M. Britânica a
 Rainha Isabel II e S.A.R. o Duque de Edimburgo. No Palácio da Bolsa a 29 de Março de 1985.
 Ponte Pênsil e início d a construção da Ponte Luís I. Aguarela da autoria de Isabel Reid.

Quatro anos depois de terminada a construção da ponte Maria Pia, decide-se proceder a construção de uma outra ponte rodoviária concebida pelo engenheiro Théophile Seyrig com base no projecto
elaborado pelo engenheiro João Joaquim Matoso. A grande superação desta nova ponte, me relação á Ponte Maria II, é que esta foi concebida com dois tabuleiros metálicos, com capacidade de resposta ao tráfego rodoviário muito superior, com a particularidade de diferenciar tráfego com necessidades completamente diferentes. Esta nova ponte viria a ser inaugurada a 31 de Outubro de 1886 com o nome de Ponte D. Luís I.

Vista do Porto a entrada para a Ponte D. Luís I e os pilares da antiga Ponte Maria II, 2019
Fotografia nocturna, Pedro Paiva

Como a nova ponte foi construída mesmo ao lado da Ponte Maria II, esta deixa de ter razão de ser e após 45 de grande serventia e utilidade para a região portuária, e desmantelada nos finais de 1887.
Em sua memória foram preservados os pilares e as ruínas da casa da guarda militar que assegurava a ordem e o regulamento da ponte, hoje monumento e património das cidades. A base inferior que sustentava o tabuleiro, é utilizada como esplanada de um bar e funciona também como um mira douro, na verdadeira ascensão da palavra.

Vista de Vila Nova de Gaia sobre os pilares e base da antiga Ponte D. Maria II, 2019
Fotografia Pedro Paiva

Fontes:

"Panorama do Porto e Villa Nova, ponte pensil sobre o Douro", Archivo Pittoresco, n.º19, 1864;
"As Pontes do porto Sobre o Rio Douro no Porto, Portugal", Anais do 48.º Congresso Brasileiro do Concreto, António Adão da Fonseca, 2006;

1 comentário:

  1. encontrei a foto igual num calendário que data de 1979 do banco Borges e irmão.

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