quinta-feira, 9 de maio de 2019

Castelo de Lamego e a Lenda de Ardínia e Dom Tedon

Castelo de Lamego, antes da remoção dos sinos e da construção das ameias, entre(1914-1940).
Foto extraída do Bilhete Postal n.º5 Castello, Editora Loja Vermelha, Lamego

Lamego situa-se na margem sul do Rio Douro e foi considerado um centro estratégico desde a Alta Idade Média, estima-se que já no século IX constituía um posto avançado da estratégia de expansão Cristã. Mas foi pela conquista da cidade aos romanos por Dom Fernando Magno, na Campanha das Beiras, em 1057, que surgem as suas primeiras referências documentais.


Castelo de Lamego reconstruido, aspeto atual
Foto Pedro Paiva, 2019

Rapidamente se começam a erguer estruturas de estratégia militar, toda via o castelo como o conhecemos hoje, começou a ser construído no século XII, sobre um antigo castelo lusitano, já sob domínio português. Estima-se que a torre de menagem e a definição genérica da alcáçova, sejam construções de meados do século XII, e o fato da torre se encontrar desviada para um dos topos da cerca, associa esta construção a arquitetura gótica.


Porta do Sol, uma de duas portas das
muralhas do castelo de Lamego,
Autor N/I,  datada entre (1914 - 1940)

A torre de menagem é de planta quadrangular e possui três pisos, com porta elevada ao nível do segundo andar e a muralha é irregular, de secção levemente hexagonal, com entrada principal voltada a nascente e muros dotados de adarve.


Vista Geral sobre Lamego em 1903,
Foto de Bilhete Postal S/N, Editor Manuel Queiroz

Estima-se que a cerca que protegia o primitivo povoado, tenha sido construída no século XIII, apartir das Inquirições de 1258, sob o reinado de Dom Afonso III. Trata-se de uma segunda linha de defesa, cuja construção se terá prolongado até ao século XIV.


Castelo de Lamego, perspectiva noturna,
Foto de Pedro Paiva, 2019

Durante os sécs. XVI e XVII a Torre serviu de Paços do Concelho. Destaque na Porta do Sol, para uma janela setecentista com a data de 1642.

Porta do Sol vista do interior da muralha,
Foto de Pedro Paiva, 2019

A par do que aconteceu com outros castelos, depois de desocupado e inutilizado foi alvo de desmantelamento parcial para aproveitamento da pedra para outras construções, até meados do século XIX tudo foi permitido. Em 1824 foi dada autorização para a construção de casas sobre as muralhas e a execução de um sino, já em 1834 um negociante da cidade obteve licença para demolir um torreão que estava inserido na sua casa, em 1875 foi executado outro sino.


Casario da Rua Direita, dentro das muralhas,
Foto de Pedro Paiva, 2019


Em 1910 é classificado com Monumento Nacional e em 1914 é executado um terceiro sino.


Castelo de Lamego, visto da Avenida,
Estátua de D. Miguel, Bispo de Lamego,
Foto de Pedro Paiva, 2019

Começa em 1940 a ser revertido todo o processo de descaracterização do castelo, por iniciativa da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) dentro do Plano de Restauro dos Monumentos Nacionais empreendido pelo Estado Novo no âmbito da comemoração dos centenários da Fundação e Restauração da nacionalidade (1140, 1640), procedeu-se à remoção dos sinos e foram construídas as ameias. Os sinos são transferidos para a Igreja de Santa Maria de Almacave.




Igreja de Santa Maria de Almacave
Foto de Pedro Paiva, 2019

Em 1949 são reparados os acessos, entre 1955 e 1991, libertando o monumento de edificações adossadas, consolidando, recuperando e reconstruídas estruturas, em beneficiações diversas.


A Lenda de Ardínia e Dom Tedon


Ilustração do Conto, por Pedro Emanuel,
Editora Quartzo, 2003, 36 páginas

Nos tempos idos das guerras entre Mouros e Cristãos, viveu no Castelo de Lamego um Rei Mouro de nome Alboacém que tinha uma filha muito bela, de nome Ardínia, e que estava destinada a casar com um príncipe mouro de um reino vizinho.

O Rei determinado a honrar o seu compromisso em relação à filha prometida, fez de tudo para evitar que esta tivesse qualquer contacto com os notáveis heróis das conquistas cristãs, não fossem também conquistar o coração da princesa. 

Painel de Azulejos, alusivo a Ardínia e Irmã
Foto In www.cm-tabuaco.pt

Um dos conquistadores afamado era Dom Todon, um cavaleiro cristão, bisneto do Rei de Leão, D. Ramiro II, falava-se dele em toda a região do Douro. Os seus feitos notáveis não tardaram a despertar, em Ardina, o interesse de o vir a conhecer. Certo dia, por descuido do rei, o encontro aconteceu e Dom Tedon rendeu-se à beleza da princesa moura, conhecedor do seu compromisso não desejado, propôs-lhe que desfizesse o compromisso e o aceitasse a ele para esposo.


Painel de Azulejos, alusivo a Ardínia e Irmã, Granja do Tedo
Foto de 2008, In http://triplov.com

Para Ardínia, não estava só em causa o amor mas também a fé e a desobediência ao pai, por fim, depois de muito pensar, decidiu-se. Soube que Dom Tedon assentava arraiais no mosteiro de São Pedro das Águias, em Tabuaço, e partiu ao seu encontro.


Painel de Azulejos, alusivo a Dom Tedon
Foto In www.cm-tabuaco.pt


Chegando ao mosteiro, não encontrou Don Tedon e foi recebida pelo pároco de Paradela que, sabendo ao que ela vinha, no intuito de anular incompatibilidades matrimoniais, a convenceu a aceitar o sacramento do baptismo, Ardínia prontamente se converteu.

Entretanto, o rei mouro, sabendo da fuga e do seu paradeiro,partiu em sua perseguição. Ao dar com ela no mosteiro e ao saber da sua conversão, logo aí a degolou sem dó nem piedade, lançando o corpo ao rio Távora. 

Painel de Azulejos, alusivo a Dom Tedon, Granja do Tedo
Foto de 2008, In http://triplov.com


Durante as suas expedições, Dom Tedon ao inteirar-se do destino da sua amada, de desgosto, decide tomar o hábito e viver em exclusivo para a fé até ao fim dos seus dias.

Não satisfeito, o rei mouro, lança uma perseguição para vingar a filha, acabando por matar Dom Tedon numa ribeira próxima, cujas águas ficaram de tal forma tingidas com o seu sangue que o povo acabaria por lhe dar o seu nome ribeira do Tedo e a localidade passa a ser denominado Granja do Tedo.

Fonte:
Castelo de Lamego, Direção Geral do Património Cultural, 2011.
Castelos de Portugal, Roteiro e Lendas, Volume 2, Alexandre Parafita, 2018.

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