terça-feira, 21 de maio de 2019

Fortaleza de Juromenha, Alandroal

1.

Sobre um outeiro na extinta freguesa de Nossa Senhora do Loreto de Juromenha, concelho de Alandroal, sobranceira ao Rio Guadiana e com vista sobre este, ergue-se a fortaleza de Juromenha. 
Juromenha é uma pacata aldeia alentejana, hoje integrada na União das Freguesias de Alandroal (Nossa Senhora da Conceição), São Brás dos Matos (Mina do Bugalho) e Juromenha, longe da "civilização", que conta com apenas cerca de 150 habitantes que se espalham pelo espaço extra muros circundante.
A fortaleza de Juromenha é limitada a Este pelo Rio Guadiana, fronteira natural entre Portugal e Espanha, estrategicamente localizada a cerca de 18 km a Nordeste do Alandroal, 16 km a Sudoeste de Elvas, 17 km a Leste de Vila Viçosa, e 11 km a Noroeste de Olivença (Espanha), muito contribuiu para a  defesa das fronteiras nacionais, hoje pelo abandono em que se encontra e pela beleza que encerra, impressiona e encanta todos os que a visitam. 

Da Fundação até ao Século XVI:


2.

Estima-se que a região era já povoada por celtas embora os vestígios romanos sejam mais frequentes ainda que não determinantes. O termo "Jeromenha" é apontado para duas possíveis origens: romana, derivando do termo "Julli Moenia" que significa (Cidade de Júlio) que aponta para que a cidade existisse já no século VII; e árabe, a mais plausível, que indica que a palavara tenha derivado derivado de “Yulumaniya” ou “Julumaniya” e evoluindo para Jeremenha, Gerumenha, ou Jorumenha.
Nos tempos muçulmanos, Jorumenha teria sido já uma importante cidade, as primeiras referências a um Castelo aparecem em 874, mas foram encontrados vestígios visigóticos dentro das muralhas, que apontam para a existência de um templo anterior. Durante mais de duzentos anos o castelo foi considerado a praça-forte de defesa da zona de Badajoz, pertencendo desde o século X ao Califado de Córdova, que havia de ser conquistada por D. Afonso Henriques em 1167, e que voltaria ao domínio do Califa Almasor em 1191. O espaço de defesa do Guadiana só seria definitivamente reconquistado pelos portugueses por volta de 1220 ou 1230, o mais tardar.

3.

Com o "Tratado de Alcanizes" de 1297, entre o Rei de Leão e Castela e o Rei de Portugal, D. Dinis, restabelecem a paz e as fronteiras, é então que se inicia a reedificação das muralhas e do castelo de Juromenha, sendo-lhe concedido foral em 1312 e as terras atribuídas à Ordem de Avis. Até ao século XV não existem referencias históricas relevantes, deduzindo que não tenha desempenhado nenhum papel de destaque. Todavia não deve ter perdido qualquer valor uma ver que D. Manuel lhe concede novo foral a 1512. 

4.

No tempo de D. Manuel, o castelo é descrito, com base nos desenhos de Duarte de Armas, com uma única cintura de muralhas, de planta irregular, percorrida por adarve e coroada de merlões, que se apresentavam degradados.

 5.

A muralha era reforçada com 16 cubelos distribuídos de forma mais ou menos uniforme por todo o perímetro, na extremidade  Este localizava-se a Torre de Menagem com cerca de 30 metros de altura.

6.

No exterior era protegido por um baluarte, semi-circular, com acesso por passadiço adossado à muralha onde se localizava a porta falsa. No lado Este abria-se a porta principal em arco pleno, gradeada. Dentro do recinto muralhado erguia-se uma igreja, que ainda lá se encontra, de planta longitudinal simples com abside coberta por cúpula hemisférica e debaixo dela, um aljube. Nos arrabaldes, a Norte, estendia-se o aglomerado urbano da vila com casario térreo e duas outras igrejas, uma delas já extinta.

Juromenha, Século XVII a XIX:


7.

Apesar da reconstrução em 1312 por ordem de D. Dinis, a fortaleza foi entrando em progressiva decadência e só a partir do século XVII, na sequência do período pós-Restauração, a fortaleza ganha novo protagonismo pela sua importância na estratégica militar. Com efeito o período das Guerras de Restauração obrigou D. João IV a fortalecer as defesas fronteiriças das investidas castelhanas, assim ampliou e modernizou as fortificações, que passaram a ser em estilo “Vauban”, conhecido estilo italiano que permitia a circulação da artilharia pesada, dentro do perímetro de defesa.

8.

Durante a guerra da Restauração que durou uns incríveis 28 anos (1640-1668), Juromenha consegue resistir às investidas do inimigo, todavia a sua estrutura havia de ser abalada em 1659 quando, por descuido, explodiu um armazém de pólvora, ceifando um numero considerado de vidas, militares e civis. Depois de se recompor, a fortaleza permaneceu atenta aos combates que se travavam ali perto, do outro lado da fronteira, na sequencia da disputa da Sucessão Espanhola, inicio do século XVIII, após a morte de Carlos II.
Com o terramoto de 1755 a fortaleza ficou muito afectada, sobretudo a área de edificação seiscentista, pelo que foram feitas obras de reconstrução, que englobaram a construção de um fortim nas muralhas junto ao Guadiana, para aportarem as barcas.

9.

Depois dos conflitos da Guerra das Laranjas, conturbado período em que Juromelha esteve sobre domínio espanhol, em 1801, revela-se ainda uma considerada fortaleza de Primeira Classe, com uma forte guarnição militar. No contexto militar, que protagonizou nos últimos séculos, a vila não desenvolveu do ponto de vista urbano,  as pessoas não se estabeleciam na localidade por considerarem uma zona de conflitos, neste sentido em meados do século XIX, deixava mesmo de ser sede de Concelhos, passando a depender do Alandroal.

O Abandono da Fortaleza de Juromenha:


10.

Durante a Guerra da Sucessão de Espanha, em 1709, a Ponte da Ajuda ou Nossa Senhora da Ajuda, que assegurava a travessia do Guadiana e estabelecia a ligação entre Juromenha e Vila Real, duas localidades principais do então concelho de Juromenha, foi parcialmente destruída. Esta quebra de ligações havia de contribuir para que em 1801, o Tratado de Badajoz. resultante da Guerra das Laranjas, fala-se em colocar os limites fronteiriços no Guadiana, assim Jorumenha, volta ao domínio portuguesa mas perde uma das localidades de maior valor, do ponto de vista agrícola, no seu concelho, Vila Real.

11.

Com efeito, Juromenha viria a perder mais do que parte do seu território, as desgraças sucediam-se, epidemias afugentavam a população. Já no inicio do século XX, um surto de peste bubónica, acabou por afastar a pouca população que tinha persistido. Após a sua anexação no concelho do Alandroal, por volta da década de 1920, a população abandonou totalmente o espaço intramuros, desenvolvendo-se o arrabalde em torno da ermida de Santo António, que é hoje o núcleo fundamental da aldeia. Passando as habitações da antiga vila, dentro das muralharas, a serem utilizadas como palheiros e currais.



12.

Dos edifícios mais importantes distinguem-se, ainda, a antiga Câmara e a Casa do Senado, Igreja da Nossa Senhora do Loreto, bem como as capelas da Misericórdia e de São Francisco de Assis, de uma antiga cadeia, quase só resta um colorido brasão. 
Apesar de interesses demonstrados por várias grupos, para lá instalar um empreendimento turístico, até à data nenhum projecto avançou e os edifícios degradam-se tornando cada vez mais difícil diferencias e identificar as suas características face ao nível de degradação que apresentam e que se acentua de ano para ano.

13.

A Igreja de Nossa Senhora do Loreto é talvez o edifício que ainda conserva grande parte da sua construção intacta, apresenta uma arquitectura gótica e seiscentista, de planta rectangular, de três naves e torre sineira. No século XVI é acrescentada a capela-mor com cobertura em cúpula hemisférica e da sacristia, e no século XVII são efectuadas as ultimas obras de conservação e adaptação do templo. Todavia, a assimetria dos muros do corpo das naves e a entrada principal ser efectuada pela lateral, portal gótico, constituem vestígio de um primitivo templo.
Apesar do estado em que se encontra a igreja, ainda é celebrado o antigo Orago de Nossa Senhora do Loreto, a 10 de agosto, numa pequena feira anual.


14.

A Fortaleza de Juromenha, é susceptível de ser visitada, mediante autorização da tutela que se encontra na nova aldeia, fora das muralhas. Parece ser contraditório reconhecerem o potencial do lugar e o interesse que desperta nas pessoas em querer conhece-lo, e ao mesmo tempo nada ser feito no sentido de travar a sua decadência. Com efeito é imperativo restaurar o monumento, conservar os edifícios ainda existentes, se possível, restaurar tanto quanto possível o traçado urbano, e fazer da fortaleza um ponto turístico.

É Monumento de Interesse Público desde 1957, a classificação está feita, falta a execução...

A Lenda da Torre de Mênha:



15.

A história da antiga vila é repassada com um misto de factos e lendas que chegam aos dias de hoje e pretendem explicar o que muitas vezes não é possível de formada documentada. cabendo-nos apreciar e distinguir a parte histórica da parte fantasiosa. 

Há muito, muito tempo, quando a região era ainda dominada pelos Godos, existia na primitiva povoação um nobre que tinha uma irmã, que por sinal era muito bela. Costa-se que este nobre não queria dividir o património da família ficando ele dono e senhor de toda a herança paterna. Para esse fim, a solução encontrada foi desposar a sua irmã ao que esta se opôs redondamente, não fazia parte dos seus planos comungar de uma relação incestuosos com o seu irmão.

Não satisfeito, pois não estava habituado a ser contrariado, o senhor feudal, mandou-a prender numa masmorra do castelo, convencido que desta forma ela cedesse à sua pretensão. 

Durante vários dias manteve a sua irmã, Mênha, em total solidão e fazendo-a passar por várias privações, convencido que mudaria as suas convicções, e que ela dobrasse e acabasse por aceder aos seus desejos. 

Periodicamente pedia aos criados que a serviam para ver se tinha mudado de parecer, ela dizia firmemente: 
-"Jura Mênha que não". 

E assim ficou o nome de Juromenha.


Fontes:
"Uma antiga vila de fronteira: Juromenha", Jornal Tornado, Autor Carlso Luna, Abril, 2018;
"Fortaleza de Juromenha" Direcção Geral do Património Cultural; TExto de Catarina Oliveira, 2005;
"Fortaleza de Juromenha" Sistemas de Informação para o Património Arquitectónico, texto de Paula Amendoeira,1998 e Lina Oliveira, 2005;

Crédito de Imagens:
1 - Pedro José Capaz Estevães, 2011; 
2 - Rodan Anjo, Publicada em este portugal Desconhecido, 2018;
3 - Foto da Página do Facebook: Fortalezas de Portugal, 2018;
4 - Castelo de Juromenha, Vista Norte. Desenho, Duarte de Armas, "Livro das Fortalezas", c. 1509;
5 - Castelo de Juromenha, Vista Sul. Desenho, Duarte de Armas, "Livro das Fortalezas", c. 1509;
6 - Castelo de Juromenha, Planta do Castelo. Desenho, Duarte de Armas, "Livro das Fortalezas", c. 1509;
7 - Planta da Praça-forte de Juromenha, Plano de Juromenha e de sua cidade e novas fortificações nos anos de 1644 e 1657. Desenho, Nicolau de Langres, 1657;
8 a 14 - Rodan Anjo, Publicada em este portugal Desconhecido, 2017;
15 - Quadro "Meeting on the Turret Stair, Hellelil & Hildebrand" , Irlanda, 1848 obra de obra de Frederic William Burton (1816-1900);

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