A evolução do tráfego entre as zonas ribeirinhas do Porto e Gaia está relacionada, sobretudo, pela necessidade de comunicação e troca de bens, esta travessia foi assegurada durante muitos séculos por pequenos barcos.
Em 997 no Porto, já existem aquilo que podemos chamar de travessias através da organização de pequenas barcas, era estabelecida para determinado fim, não tinha um carácter definitivo e uma estabilidade muito deficitária, era utilizada exclusivamente para a comunicação e transporte de pequenas mercadorias.
A evolução foi inevitável tal era o tráfego de pessoas e mercadorias e já desde meados do século XVIII, se pode ler (Nas Memórias das Freguesias do Distrito do Porto de 1758) acerca do Douro, que "Nele há vários barcos que todas as semanas vão à cidade do Porto, levar fazenda de vinho, azeite, lenhas, frutas e de toda a espécie de fazendas que as terras dão de si."
Apesar de ser uma necessidade diária e de utilização civil, este na origem do desenvolvimento das postes nos grandes rios, a sua utilização militar, também nas Memórias das Freguesias do Distrito do Porto de 1758, em seu nome próprio, João Duarte de Sousa, ilustre irmão de Frei Francisco de S. José e sargento mor de infantaria, a seu respeito é dito o seguinte " foi homem de conhecido valor e por aquella celebre acção de quando se achava tomada por Castella a Praça de Miranda do Douro, não se atrever soldado algum a hir ao rio cortar as amarras que seguravam hua ponte de barcas, que nelle estava posta, elle se offereceo e por baixo de hum chuveiro de ballas se lançou a nado e cortando-as por falta dos socorros e comunicação se rendeo a praça", S. Nicolau (Porto).
Revela realmente a importância estratégica militar que as pontes teriam nestas situações. Lá diz o ditado "A necessidade aguça o engenho", era uma situação de urgência em que as tropas necessitavam de passar para a outra margem para acudir a Guimarães cercada pelos castelhanos.
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Ponte e Muralhara Fernandina,1809 Imagem da Revista Ilustração Portuguesa, 1930, N. 114 (Gravura editada por mim) |
Para as primeiras pontes de barcas devem ter sido usadas as embarcações de pesca e de transporte das zonas ribeirinhas e, mal passada a emergência, regressavam à sua função habitual.
Esta pontes terão aparecido apartir de 1744, estabeleceu-se uma carreira regular para passagem entre o Porto e Gaia, que logo em seguida, por estes motivos evoluiu para a construção de passadiços assentes sobre barcaças, isto é, de pontes de barcas.
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Ponte das Barcas, desenho do Barão de Forrester (Editado por mim) |
Como pode ser visto pelas belas ilustrações e postais, existe um sem numero de idealizações de como teriam sido as pontes das barcas uma vez que elas divergem bastante entre si, na verdade, existiram certamente várias versões umas mais robustas do que outras, consoante a sua finalidade e necessidade.
Em 15 de Agosto de 1806, projectada por Carlos Amarante e inaugurada uma ponte de barcas, com carácter mais definitivo, composta por 20 barcas robustas, ligadas por cabos de aço, ancoradas ao fundo do rio e sobre sí, estendeu-se uma estrada para permitir a passagem de pessoas, bestas e carros.
Apesar de robusta permitia alguma flexibilidade com o efeito das marés e ainda com abertura para passagem de embarcações, tráfego fluvial e permitia a sua recolha total quando as condições climatéricas assim o exigiam.
Acredita-se que o Porto tenha aperfeiçoo muito bem a técnica da construção destas pontes "amovíveis" em todo caso não o suficiente para evitar a célebre catástrofe da Ponte das Barcas, o dia 29 de Março de 1809 no qual centenas de pessoas, fugindo das tropas do Marechal Soult que atacavam a cidade sob ordens de Napoleão, faleceram na travessia da Ponte das Barcas.
O peso e a aflição da população em fuga originou o afundamento da ponte que ligava as duas margens do rio Douro. Eventualmente colapsou a meio, mas as pessoas que fugiam em pânico da morte certa não notaram. À medida que se empurravam, mais e mais vítimas caíam ao rio, provocando centenas de mortes nesse dia.
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Foto do aspeto do mural, alguns anos após a inauguração da escultura. É possível observar as portas das lojas de comércio decoradas com tecidos para atrair fregueses e a calçada das ruas. |
Em 1897, foi encomendado ao escultor Teixera Lopes, um baixo relevo em bronze alusivo e em memória do acontecimento, escultura denominada de "Alminhas da Ponte".
A ponte deve ter sido logo reparada pois a 12 de Maio de 1809, ainda no decurso da Guerra Peninsular, foi incendiada pelos franceses para impedir a passagem das tropas anglo-lusas sob o comando de Wellesley.
Depois de três anos a passar regularmente a pé enxuto pela Ponte das Barcas é natural que a população ribeirinha não se conformasse com a destruição da ponte e, mal acabada a insegurança que resultava da presença dos invasores franceses, se apressasse a reconstruir a passagem. Até à inauguração da Ponte Pênsil em 1843, foram ainda construídas duas pontes de barcas com concepção melhorada em relação à anterior.
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Escultura comemorativa do 2.º centenário da memória das vitimas da tragédia de 1809, estrutura metálica no cais da Ribeira do Porto. |
Em março de 2009, no segundo centenário da morte das cerca de quatro mil vítimas do desastre da Ponte das Barcas ocorrido em 1809, em sua memória, o Presidente da República, Cavaco Silva, inaugurou no Porto um monumento da autoria do arquiteto Souto Moura, que colocou grandes peças metálicas junto aos locais onde se procedia à amarração das cordas que prendiam as barcas que constituíam a ponte.
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Data comemorativa do 2.º centenário da memória das vitimas da tragédia de 1809, gravura em pedra no cais da Ribeira do Porto. |
Fontes:
Coleção Memórias das Freguesias do Distrito do Porto de 1758
web.fe.up.pt
imagnes: gisaweb.cm
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