quarta-feira, 5 de junho de 2019

Hotel Parque de São Martinho do Porto

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Hotel Paquer, entrada principal, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

O edifício conhecido actualmente como Hotel Parque de São Martinho do Porto, localiza-se no numero 7 da Rua Marechal Carmona em São Martinho do Porto e foi mandado construir em 1910 pelo Comendador António Rosa, um brasileiro de torna-viagem que regressara à vila depois gerar fortuna no Brasil, para incrementar as fileiras da burguesia local, com os seus lucros e esforços além-mar.

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Villa Rosas, posterior Hotel Parque de São Martinho do Porto, c.1930.
Postal Ilustrado de São Martinho do Porto, Vila Rosas, aqui.

O edifício, inicialmente denominado "Villa Rosas", de arquitectura feliz e generosa nas suas dimensões, cujo objectivo era demonstrar riqueza do proprietário reflectida na sua habitação, reúne elementos dos géneros mais populares daquela época, como "Arte Nova", "Arte Déco", "Brasil", "Chalet" e "Belle-époque". A traça do projecto original é da responsabilidade do arquitecto brasileiro José Venceslau de Oliveira, personalidade homenageada na vila de São Martinho do Porto, com a atribuição de seu nome a uma rua. Após vinte anos, este imóvel adaptou-se para a Pensão Rosa, e posteriormente para o Hotel Rosa, dez anos depois mudaria para Hotel Parque.

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Vista Geral de São Martinho do Porto, Hotel Parque no centro da imagem com seu torreão, c.1950.
Postal Ilustrado de São Martinho do Porto, aqui.

A vila de São Martinho de Porto possui uma das mais belas praias da nossa costa, uma pequena baía protegida naturalmente do mar por dois promontórios que a moldam em forma de concha, proporcionam à praia da vila uma singularidade muito atractiva onde a beleza natural se associa á tranquilidade das aguas do mar. 
Na parte alta da vila, predominam as moradias tradicionais de a arquitectura civil destacando-se várias residências de veraneio ao gosto "Arte Nova". com a intensificação do turismo, na parte baixa, próxima da praia, desenvolveu-se um malha urbana moderna, mais vocacionada para a actividade turística.

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Hotel Parque de São Martinho do Porto, c.1950.
Postal Ilustrado de São Martinho do Porto, Hotel Parque, aqui.

O edifício principal apresenta uma planta composta em "U" resultando de um corpo longitudinal com duas curtas alas laterais envolvendo a fachada, com cobertura de 2 águas no central e de 3 nos laterais. A fachada principal desenvolvem-se em dois pisos com vãos de arco de volta perfeita com fechos, uma cave bastante alta e um piso de habitação acessado por uma escadaria de encontro ao pórtico principal. Sobre a ala esquerda, ergue-se um torreão com três pisos e cobertura em cúpula, mais tarde, e na sequência de muitas outras alterações, a cúpula é substituída por coruchéu piramidal de quatro águas. 

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Hotel Parque de São Martinho do Porto, c.1950.
Postal Ilustrado, Colecções Passaporte, Editora "LOTY", em delcampe.net.

A fachada principal apresenta-se com um vão de fenestrações molduradas em cantaria estilo "Arte Nova" e por uma porta central encimada por óculo redondo, decorado com traceira, cuja muldura forma um frontão sob a forma circular. Nas fachadas correspondentes ás alas laterais, abrem-se janelas duplas de sacada. Toda a fachada é percorrida por um friso superior de azulejos rosa e verde. 

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Hotel Parque de São Martinho do Porto, c.1970.
Postal Ilustrado, Portugal Colorido, Edição RAN, em delcampe.net.

O edifício estava envolvido por belo jardim murado, com relvados, canteiros floridos e árvores de bom porte, de entre as quais, algumas espécies exóticas. No jardim existiam ainda explanadas distribuídas por gazebos com ramagens que lhe proporcionavam sombra e alguma frescura.

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Hotel Parque, vista grande plano, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

Quando mudou de nome para Hotel Parque, o espaço ganhou também uma fama que se espalhou por toda a região, Segundo uma declaração do IGESPAR, de 2011, o edifício é um “testemunho de São Martinho do Porto como um dos mais importantes e tradicionais locais de veraneio da costa Oeste". Possuía um factor de diferenciação que garantia uma elevada percentagem de ocupação, praticava o regime de pensão completa, muito apreciado na época. No entanto, o negócio foi tendo altos e baixos, em 1950 passou a residencial e em 1956 a administração acabaria mesmo por fechar o hotel.

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Hotel Parque, vista edifícios adjacentes, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

Por ser considerado uma das casas mais populares da baía, a população de São Martinho do Porto, apontavam que a ruptura poderia ter sido provocada pela gestão, nesse sentido, nos 20 anos que se seguiram, foram várias as tentativas de reabrir, mas nenhuma avançou. Desde os anos 80 que o edifício se encontra devoluto. Existindo algumas iniciativas populares que defende a sua reabilitação, Amigos do Hotel Parque.

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Hotel Parque, vista grande plano, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

Em 2006 um incendeio defraudou num dos quartos do hotel, felizmente a rapidez da intervenção das autoridades, evitou o pior. Actualmente o edifício é propriedade de Joaquim Coutinho, um empresário na área da construção civil das Caldas da Rainha, que se mostrou bastante preocupado com a vulnerabilidade do edifício, apresar da GNR local se dividir em esforços em incluir o edifício nas rotas de patrulha. 

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Hotel Parque, vista do jardim e torreão, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

Segundo algumas fontes, o actual proprietário quer desenvolver um novo projecto turístico-hoteleiro para o antigo Hotel Parque, em parceria com algumas cadeias de hotéis já instaladas. Todavia, a "desvalorização" do edifício pelo indeferimento em 2008, do processo de classificação do edifício como valor nacional, e o encerramento do processo pelo director do IGESPAR, não abonam a favor da sua valorização.

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Hotel Parque, vista do coruchéu, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

O conjunto constitui parte do núcleo mais característico de São Martinho do Porto, e nesse sentido, foi sem dúvida merecedor de protecção enquanto imóvel de interesse municipal.conferida classificação atribuída em 2009 a pedido da Câmara Municipal de Alcobaça. Uma vez que o IGESPAR não aceitou a classificação nacional, avançou-se com a municipal para garantir a defesa do edifício. Desde então o Hotel Parque não pode ser demolido, pois está protegido pela classificação que obriga ainda, no caso de obras de conservação e restauro, a manter a sua traça original.

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Hotel Parque, fachada da ala lateral, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

Entretanto o tempo passa e o edifício centenário assim como o seu meio envolvente continuam a degradar-se, segundo o “Jornal de Leiria“, o proprietário garantia, no verão de 2017 que o hotel iria finalmente ser recuperado e reabilitado, num então o Jornal NIT, junto da Câmara de Alcobaça, informou-se de que até a data, março de 2018, não havia sido dada entrada de qualquer documentação ou pedido de licenciamento nesse sentido, o que lamenta.

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Hotel Parque, entrada principal e protão, 2018
Fotografia de José Paiva Wolff, frame.

Fontes:

"Hotel Parque de São Martinho do Porto", Direção geral do Património Cultural, Texto de Sílvia Leite, 2011;

Artigo "Edifícios abandonados: Hotel Parque, um ícone da belle-époque a cair aos bocados", Jornal New in Town, Texto de Patrícia Naves, março de 2018;

"Viagens na Nossa Terra", Seleções do Reader's Digest, Texto da Arquitecta Filipa Nogueira, 1997;

1 comentário:

  1. I am in Portugal now and was in Sao Martinho do Porto a few days ago. The hotel still is dilapidating more and more and no work is going on there.It is such shame.

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