quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Menção Honrosa Premio Valmor em 1914 (Casa Braz Simões)

Foto de pormenor dos azulejos da fachada principal da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16
Fotografia de Ana Lopes Almeida, In flickr.com 

Em 1914 foram distinguidas três obras com Menções Honrosas, duas delas atribuídas a projetos idealizados por não arquitetos e cujos edifícios já foram demolidos. Referimo-nos a duas habitações unifamiliares, uma na Rua Pascoal de Melo, N.º 5-7, post anterior, e outra na Rua Cidade de Liverpool, 16 pertencente a José Simões de Sousa, objeto ora em análise.

Foto de pormenor da fachada lateral da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16
Fotografia de Ana Lopes Almeida, In flickr.com 

Os seus autores foram o “condutor de obras públicas” António da Silva Júnior e o “desenhador” Rafael Duarte de Melo, respetivamente. A terceira Menção Honrosa também foi para uma moradia unifamiliar situada no Campo Grande, 382 pertencente a Artur Magalhães com Arquitetura de Álvaro Machado (1874-1944). Nesta escolha o júri considerou que as “duas fachadas de estilização portuguesa recomendam-se”. O projeto teve menção honrosa do Prémio Valmor de 1914.

 
Foto da fachada principal da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16
Fotografia de Ana Lopes Almeida, In flickr.com 

Na rua Cidade de Liverpool, 16, foi projetada por Rafael Duarte de Melo uma moradia para José Braz Simões de Sousa, no bairro que o prórpio promoveu, dono de um grande terreno entre Avenida Almirante Reis e encosta da penha de França, acabaria por ser loteado com ruas bastante espaçosas que ve viria a revelar numa grande mais valia na valorização dos lotes. 

A urbanização viria a ser aceite pela Câmara Municipal, todavia, as canalizações e iluminação da via pública teria ficado a cargo de Braz Simões, assim como a sua manutenção. Apesar de estas responsabilidades configurarem um grande custo, viria a revelar-se um bom investimento uma vez que o terreno havia valorizado exponencialmente. Esta nova urbanização havia nascido exactamente entre a Charca até a Rua Heliodoro Salgado, quase a chegar a estrada da Penha de França.

Janela da fachada principal da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16
Fotografia de Ana Lopes Almeida, In flickr.com 

Foi neste local por ele escolhido, que na Rua José de Sousa que mais tarde em homenagem aos ingleses (pela influencia que tiveram no desenvolvimento portuário de Lisboa), passou a chamar-se Rua Cidade de Liverpool , logo no inicio da intercepção com a Avenida Almirante Reis, foi edificada a habitação em questão, não porque tenha sido construída para sua habitação, construiu outras também, mas porque foi com os seus recursos e a seu gosto.

Habitação de reduzidas dimensões, "acolhedora" como se diz hoje em dia, mas com a sua elegância artística harmoniosa. Na sua fachada principal merece destaque a composição artística no coroamento do corpo lateral, a entrada abrigada por um alpendre apoiado em colunas com belos capitéis.

Foi construída num promontório, com escadaria exterior de desenho sinuoso, em planta e ferragens Arte Nova, o mesmo da acesso a um átrio no qual existia uma cascata e em seguida apresentava-se uma escadaria bifurcada de acesso convidativo ao edifício

Foto de pormenor dos azulejos da fachada principal da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16
Fotografia de Ana Lopes Almeida, In flickr.com 

A utilização de estruturas de ferro e vidro, na fachada principal permite marcar a sua presença urbana, e na galeria lateral, que liga contornando a escada, a cozinha á sala de jantar, resolve de forma eficaz a circulação entre os dois compartimentos.

Foto da fachada principal da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16
Revista "Architetura Portugueza" n.º6 de 1914 

Na fachada principal o pintor criou um motivo padronizado de flores polícromas. Estas emolduram um leão representado de forma realista. A originalidade deste conjunto é sublimada pelas estilizações Arte Nova, cujos tons denotam uma certa fantasia. 

Foto da fachada lateral da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16
Revista "Architetura Portugueza" n.º6 de 1914 

Na obra de Joaquim Luís Cardoso encontramos referências ecléticas e Arte Nova, eximiamente exploradas. O traço e o rigor no desenho são de qualidade excecional, além de dominar a técnica das cores durante a cozedura. Também desenvolveu, de forma original, o contraste e degrades cromáticos, conseguindo assim um certo efeito de luz e fantasia nas composições criadas.

Ficha técnica da planta parcial da Casa Braz Simões,
Rua Cidade de Liverpool, 16 

Fontes:

Estudo: A Arte Nova em Lisboa, António Francisco Arruda de Melo Cota, Fevereiro, 2017.
A Casa Unifamiliar Burguesa na Arquitectura Portuguesa, Rui Jorge Garcia Ramos, FAUP, 2004;
Revista Mensal "Architetura Portugueza" Anno VII, n.º6 de junho de 1914;
archive.is;
flickr.com;

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