terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O Mosteiro do Jerónimos como nunca o viu...

Mosteiro dos Jerónimos, ruínas do desmoronamento da torre central.
Foto de 1878, autor n/i, In AML

O Mosteiro dos Jerónimos ou Mosteiro de Santa Maria de Belém mandado construir por D. Manuel I sobre a Ermida de Santa Maria de Belém, em homenagem às incursões marítimas à Índia, em 1496, o Rei D. Manuel, pediu à Santa Sé, autorização para a construção do grande mosteiro à entrada de Lisboa, pedido esse concedido, tendo as obras o seu inicio em 1501 e só terminando quase um século depois, sendo que na sua construção ao longo dos tempos estiveram envolvidos vários arquitectos assim como construtores, de entre os principais Diogo de Boitaca, João de Castilho, Diogo de Torralva e, por último, Jerónimo de Ruão.

Torre original do Mosteiro dos Jerónimos
Gravura da revista "O Ocidente", de 15 Janeiro de 1879.

O Mosteiro foi atribuído aos monges da Ordem de São Jerónimo para sua ocupação, que deram origem ao atual nome, estiveram instalados até à extinção das ordens religiosas ocorrida no século XIX (1834). 

Mosteiro dos Jerónimos.
Foto de Artur Pastor, 1951, In AML

O mosteiro foi então entregue à Real Casa Pia de Lisboa, a mesma instituição que funciona ainda hoje mas num outro espaço,  esta ocupou o seu claustro ate 1940, por sua vez a igreja passou a servir a Paróquia de Santa Maria de Belém. Com estas mudanças o mosteiro acabaria por perder grande parte do seu espolio valioso.

Espelho de água do Mosteiro dos Jerónimos.
Foto de Amadeu Ferrari, data n/i, In AML

 A partir de 1860 iniciam-se as obras de remodelação do Mosteiro com o levantamento e desenho da fachada sul do Mosteiro pelo arquitecto Rafael Silva e Castro, copiado em 1898 pelo arquitecto Domingos Parente da Silva. É demolido o tanque do claustro, os tabiques das galerias e a cozinha do Mosteiro.

Mosteiro dos Jerónimos, ruínas do desmoronamento da torre central.
Foto de Eduardo Portugal, data n/i, In AML


Na mesma data o arquitecto J. Colson elabora três projectos para a reconstrução do Mosteiro que não são aprovados. O último introduz já elementos revivalistas neomanuelinos. Em 1863, é nomeado o arquitecto de obras do Mosteiro Valentim José Correia que trabalha sob a alçada directa do Provedor da Casa Pia, Eugénio de Almeida. 

Espelho de água do Mosteiro dos Jerónimos.
Foto de Amadeu Ferrari, data n/i, In AML

Entre 1863 e 1865 reorganiza-se o andar superior do antigo dormitório e desenham-se as janelas. A partir desta data Valentim José Correia é substituído por Samuel Barret que vai construir os torreões no extremo poente dos antigos dormitórios. Este, por sua vez, é substituído como arquitecto das obras do Mosteiro, em 1867, pelos cenógrafos italianos do teatro de S. Carlos, Rambois e Cinatti. 

Espelho de água do Mosteiro dos Jerónimos.
Foto de Ferreira da Cunha, 1930, In AML

Entre 1867 e 1878 estes cenógrafos vão reformular profundamente o anexo e a fachada da igreja, dando ao monumento o aspecto que conhecemos hoje. Vão, assim, demolir a galilé e a sala dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório, a rosácea do coro-alto e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por uma cobertura mitrada. 

 Mosteiro dos Jerónimos. jardim e Praça do Império.
Foto de António Passaporte, data n/i, In AML

Todo o processo de obras nos torrões do mosteiro, devido à sua profunda intervenção, culminam  em  derrocada pelas 9 horas do dia 18 de dezembro de 1878, de todo o corpo central do dormitório. Neste lamentável acidente descrito na revista Ilustrada de Portugal de 1 de janeiro de 1879, onde é lamentada a perda da vida de 8 trabalhadores que ficaram suterrados pela derrocada, apanhados desprevenidos por aquele  acidente que não se fazia adivinhar e outros tantos feridos tinham sido levados de urgência para o Hospital de São José. 

 Mosteiro dos Jerónimos. jardim e Praça do Império.
Foto de António Passaporte, data n/i, In AML

O Diário de Notícias diria, mais tarde, que a derrocada se teria dado devido ao facto de as obras não terem sido cobertas, num dia chuvoso, e que a infiltração por cima da estrutura tenha sido fatal. outros ainda corroboram a ideia de um simples desabamento da Torre do Relógio devido às intervenções recentemente realizadas.

Mosteiro dos Jerónimos, ruínas do desmoronamento da torre central.
Foto de Eduardo Portugal, data n/i, In AML

A partir 1884, entra em campo o Eng. Raymundo Valladas que em 1886 inicia o restauro do Claustro e da Sala da Capítulo, com a construção da respectiva abóbada, mas só no início do século XX  é que as ruínas foram demolidas e o entulho removido, e a reconstrução do corpo central do edifício arrasta-se ao longo de décadas, da Torre do Relógio é que  nunca mais se ouviu falar...


Mosteiro dos Jerónimos, 1951.
Postal n.º 30, Coleção Passaporte (António Passaporte)
Edição LOTY

O Mosteiro dos Jerónimos encontra-se classificado como Monumento Nacional desde 1907 e, em 1983, foi classificado como Património Mundial pela UNESCO, juntamente com a Torre de Belém. A 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal.

Estreitamente ligado à Casa Real Portuguesa e à epopeia dos Descobrimentos, o Mosteiro dos Jerónimos foi, desde muito cedo, "interiorizado como um dos símbolos da nação".
É hoje uma das mais importantes atrações turísticas de Portugal. 



FONTES:
Sites municipais culturais;
Boletins Informativos de arquivo digital, municipal e nacional;
Todas as fotos do Arquivo Municipal de Lisboa foram editadas.

4 comentários:

  1. Como artista plástico, só posso dizer que é o maior cartão de visita da arquitetura e também da escultura portuguesa. Mas não se esqueçam senhores governantes de tantos outros monumentos com historia abandonados nos mais diversos locais de Portugal.

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    1. Obrigado pelo apelo de sensibilização!
      Subscrevo o seu apelo.

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  2. Respostas
    1. Portugal é um país cheio de grandes histórias de fortunas e infortúnios, ventura e desventuras, é só procura estão por toda a parte. Fico contente que tenha gostado. Obrigado!

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