quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Antigo Paços do Concelho do Porto (extinto)

Antigos Paços do Concelho do Porto, autor e data n/i.

No inicio do século XX, o êxodo rural impulsionado pelo desenvolvimento industrial contribuíram fortemente para desenvolvimento e crescimento da cidade.

A conclusão da Avenida da Boavista por volta de 1915, representou uma nova direcção de expansão do crescimento da cidade para ocidente em direcção ao mar e aproximou-a do Porto de Leixões, inaugurado em 1895.

Avenida dos Aliados, vista do atual Paços do Concelho, década de 1940.
Bilhete Postal n.º 25 - Porto Turístico, Edição Luxuosa - Impresso em Itália.

Na Baixa, a abertura da Avenida dos Aliados, em 1916, implicou a demolição do edifício dos antigos Paços do Concelho (Palácio dos Monteiro Moreira) e o desaparecimento do bairro do Laranjal e desencadeou a transferência da banca e das empresas seguradoras do antigo centro São Domingos-Rua do Infante para a zona da Praça Nova, que se tornou também pólo financeiro.

Na arquitectura do início do século XX salientam-se grandes edifícios dispersos pela Baixa, representativos da influência do estilo francês que inspirou os projectos do arquitecto Marques da Silva, formado na escola de Paris.

São exemplos a Estação de São Bento, o quarteirão das Carmelitas, o Teatro de São João e várias fachadas de edifícios da Avenida dos Aliados.

Praça da Liberdade, ao fundo o antigo Paços do Concelho. Postal Ilustrado
s/i. Data atribuída de acordo com a proposta para substituir a designação
Praça D. Pedro para Liberdade, aprovada pela Câmara em  28-10-1913.

O Palácio dos Monteiro Moreira,palacete barroco projectado por António Pereira, edificado em 1724 na então Praça Nova das Hortas, (ao longo do tempo foi denominada, Hortas do Bispo, Praça Nova, Praça da Constituição, voltou a chamar-se Praça Nova, Praça de D. Pedro, Praça da República (durante 14 dias), e a partir de 27 de Outubro de 1910 Praça da Liberdade).

Esse edifício, opulento, foi mandado construir por Monteiro Moreira, e, algumas décadas mais tarde, foi lá que se instalou o Senado da Relação.

Vista geral da fachada em ruínas do que resta
da Câmara ou Casa dos Vinte e Quatro.
Foto de  Guilherme Bonfim Barreiros, 1951.

Primitivamente o Senado Municipal funcionou numa casa de madeira mesmo a paredes meias com a Sé.  A historia do Paços do Concelho, começa por volta de 1350, na então Rua da Sapataria, hoje Rua de São Sebastião, junto à rua escura, ao lado da Catedral, foi ai que nasceu a Torre da Relação conhecida popularmente como a Casa dos 24 que até 1784 albergou a Câmara Municipal.


Ruína Exterior da  Casa Torre, Câmara do Concelho,
designada Torre da Relação e conhecida pela Casa dos 24.
Foto de Jorge Portojo em 2010.

Provisoriamente e na sequência do terramoto de 1755, os serviços municipais do concelho mudaram-se para o também extinto edifício, lugar de repouso dos Monges do Convento de Santo António do Vale da Piedade, junto a Corduaria(Jardim de João Chagas), onde hoje temos o tribunal da Relação ou Palácio da Justiça.

Edifício do Governo Civil (Real Casa Pia), década de 1940.
Bilhete Postal n.º 19 -  Porto, data, autor e editora n/i.

Após 1784 a Câmara passou a funcionar no Convento de São Lourenço conhecida hoje como a Igreja dos Grilos e em 1805 passaria para o edifício da Casa Pia e aí ficara instalada até 1819.


Praça de D. Pedro e Paços do Concelho do Porto.
Bilhete Postal n.º 4b - Editor Alberto Ferreira,  Praça da Batalha, 1900.

Em Agosto de 1819, devido à crescente centralidade da Praça Nova, a Câmara Municipal do Porto instalou-se no palacete. Para tal, recebeu inúmeras obras de adaptação e reformulação, foi construído um frontão com as armas da cidade, rematado pela estátua de um guerreiro intitulada “O Porto”, colocando-os no topo da frontaria do edifício.

Vista parcial da antiga praça D. Pedro, destacando-se um  grande aglomerado
de pessoas em frente da Câmara durante a visita de uma individualidade.Porto.
Foto Guedes, década de 1900

Aspeto dos manifestantes em frente à extinta Câmara Municipal do Porto,
festejando a proclamação da República, vista das varandas da Casa das Cardosas.
Foto Guedes de 6 de outubro de 1910.

Da varanda destes Paços do Concelho foi proclamado, a 24 de Agosto de 1820, o liberalismo, D. Pedro IV proclamou, em 1832, a Carta Constitucional, pouco tempo antes do Cerco do Porto, e os revoltosos do 31 de Janeiro de 1891, anunciaram a República (de muito curta existência…).

Demolição do antigo edifício dos Paços do Concelho, na praça da Liberdade.
Foto de 1916, autor n/i.

O palacete começou a ser demolido em 1 Fevereiro de 1916, simbolicamente o então Presidente da Republica Bernardino Machado, veio derrubar a primeira pedra dos Paços do Concelho para que se efectuasse a abertura da Avenida dos Aliados.

Entulho da demolição dos antigos Paços do Concelho do Porto em 1916.

No entanto, nem todo o edifício desapareceu dos olhares dos portuenses. Partes houve que se espalharam pela cidade, sem que no entanto, disso, hoje, haja notícia ou relato de conhecimento público e generalizado.

Paço Episcopal, sede do Município entre 1916 e 1957.
Foto de  Guilherme Bonfim Barreiros, 1935.

Na sequência da demolição a a Câmara do Porto passa a sua sede para o Paço Episcopal onde permaneceria até 1957, com a demolição do antigo Paços do Concelho, a estátua de "O Porto" que encabeçava o edifício foi colocada em frente à nova sede.

Estátua "O Porto" sendo apeada, Aurélio da Paz dos Reis, 1916

A estátua “O Porto”, feita pelo Mestre Pedreiro João da Silva, que encimava o edifício, lá no alto via todos os portuenses na Praça e estes percebiam a hierarquia do poder. A emblemática estátua de granito era quase tosca, mas vista ao longe parecia a mais perfeita das obras. Ela sabia o que representava, pois representava todos os portuenses e nunca podia aproximar-se do chão que todos pisavam.

Estátua "O Porto" provisoriamente ao pé do Banco de Portugal.
In ssru.wordpress.com

O “Porto” de volta ao frontão do edifício camarário, esse sim,
o seu poiso natural!!!, In ssru.wordpress.com

Com a demolição do edifício para abrir a Avenida dos Aliados, apartir de 1917 a estátua deambulou por diversos pontos da cidade. Esteve junto ao Paço Episcopal como já referido, onde a Câmara se instalou aquando da demolição do Palácio dos Monteiro Moreira, no Largo Actor Dias (junto à Muralha Fernandina), foi para o Palácio de Cristal, foi posta de costas para a cidade, face à Torre Medieval ou Torre da Relação (ideia do Arquitecto Fernando Távora) e hoje, encontra-se em frente ao Banco de Portugal, nas proximidades da sua localização original, olhando a Praça da Liberdade e a Avenida dos Aliados (a única peça, oriunda do Palacete, com direito a uma placa explicativa).

As armas da cidade do frontão do palacete, feitas pelo Mestre Pedreiro
Manoel Luiz, ornamentam hoje os jardins do Palácio de Cristal.
Foto de José Fernando Magalhães, 2018

As armas da cidade do frontão do palacete (na altura ainda sem que houvesse lugar ao Dragão que durante cerca de cem anos delas viria a fazer parte), feitas pelo Mestre Pedreiro Manoel Luiz, ornamentam hoje os jardins do Palácio de Cristal, numa espécie de “Museu ao Ar-Livre” (assim lhe chama o Prof. Germano Silva), o Roseiral, onde também se encontra uma fonte, lindíssima, que estava no átrio de entrada do edifício da Câmara.

Fonte existente no exterior do Edifício do Palacete, hoje no jardim da Palácio
de Cristal. Foto de José Fernando Magalhães, 2018.

Janelas do paço no jardim do palacio de cristal,
Foto José Fernando Magalhães, 2018

Também as janelas do palácio, três, foram parar ao Roseiral, e, colocando-me na do meio, tento imaginar-me como salvador da Pátria a discursar para o povo atento e sedento das minhas palavras, dando-lhe boas-novas, coisa de que bem precisamos nos dias difíceis dos tempos que vivemos, sendo que agora, não o poderia fazer com o Palácio das Cardosas como pano de fundo, nem olhando a garupa do cavalo de D. Pedro e as costas do Rei distraidamente parecendo ignorar as minhas palavras, mas com a beleza imensa da vista sobre a parte ribeirinha da cidade e sobre o nosso rio Douro.

Abertura da Avenida dos Aliados, Nova Câmara Municipal em construção.
BPI da década de 20

Hoje o conjunto da Praça da Liberdade, Avenida dos Aliados e Praça do General Humberto Delgado constituem a principal artéria da cidade do Porto, o que poucos sabem é que o sacrifício do património arquitectónico de alguns edifícios esteve na origem da abertura e ampliação da então Praça de D. Pedro, hoje Praça da Liberdade, que culminou no desenvolvimento arquitectónico envolvente promovido sobretudo por empresas de prestigio. Depois destas demolições foram efectuadas alterações mais recentes, mas nenhuma com um impacto tão significativo como a demolição do Antigo Paços do Concelho, a ela lhe deve o Palácio das Cardosas, (antigo Convento dos Loíos ou de Santo Elói, a visibilidade e importância que veio a ter para a avenida albergando hoje um hotel da cadeia InterContinental.


Conjunto das Praça da Liberdade, Avenida dos Aliados e
Praça do General Humberto Delgado, depois da demolição.

Fontes:
Sites municipais culturais;
Boletins Informativos de arquivo digital, municipal e nacional.

Imagens:
Arquivo Municipal do Porto;
www.delcampe.net;
DGEMN;
Todas as imagens foram editadas.

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