terça-feira, 6 de agosto de 2019

Atalaias Abaluartadas de Algalé(Baldio) e das Escarninhas, Arronches

Arronches é uma vila portuguesa no Distrito de Portalegre, região Alentejo e sub-região do Alto Alentejo. É sede de um município subdividido em 3 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Portalegre, a leste pelo de Campo Maior, a sul pelo de Elvas, a oeste pelo de Monforte e a nordeste pela Espanha. Arronches situa-se num extenso e fértil vale, de onde não se avista povoação nenhuma. O rio Alegrete ou Caia cerca os seus muros.
De entre as versões da origem desta vila, a mais seguida é que no reinado de Caio Caligula, pelos anos de 45 d.C., alguns habitantes da Andaluzia, vindos da vila de Arronches, emigraram neste ponto e fundaram uma povoação a que puseram o nome de "Arronchella", e depois os romanos, segundo a opinião de alguns escritores, lhe chamaram "Plagiaria", corrompendo-se com o andar dos tempos no de Arronches. 
É certo que já existia no começo da monarquia, que o seu castelo é fundação romana e que D. Afonso Henriques a tomou aos mouros em 1166, sendo, porém, recuperada por estes, que a conservaram até 1235, data em que D. Sancho II a reconquistou e perdeu, quase em seguida, passando definitivamente ao domínio cristão sete anos depois, em 1242, sendo a conquista dirigida e realizada por D. Paio Peres Correia. A 7 de janeiro de 1236, D. Sancho II a doou aos Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra(Mosteiro de Santa Cruz). 

Foto: Fortificações de Arronches, 1772. Integra a Coleção Diogo Barbosa Machado. Acervo: Biblioteca Nacional (Brasil).
D. Afonso III trocou o senhorio de Aronches pelo padroado das igrejas de Obidos, Assumar e Albergaria de Poyares, fazendo esta troca por querer converter a vila em praça de armas, para o que muito se prestava pelas fortificações que a defendiam, sendo cercada de muros e barbacans. 
A 16 de junho de 1255, D. Afonso III lhe deu foral em Lisboa, o qual foi confirmado por outro do mesmo rei, dado na mesma cidade a 9 de janeiro de 1272.
Foto:Arronches, Alentejo, Portugal, 1720. Calcografia Espanhola, in Delcampe.net
D. Afonso incorporou na dotação de seu filho Infante D. Afosno, que possuiu por bastantes anos, até que nas disputas que teve com o seu irmão, El-Rei D. Dinis, lhe foi tirada passando ao senhorio da coroa. Nesta luta entre irmãos, não chegou a sofrer calamidade alguma, porque enquanto D. Dinis se preparava para lhe ir por cerco, a Rainha Santa Isabel voluntariou-se para mediar pacificamente o conflito levando os irmãos ao entendimento e evitando o derramamento de sangue. D. Dinis havia de reformar o castelo por volta de 1310.
Em 1475, na sequência de uma crise dinástica, D. Afonso V casou com a sobrinha D. Joana de Trastâmara, filha e herdeira de Henrique IV de Castela, assumindo pretensões ao trono de Castela, reuniu um poderoso exercito de 20.000 homens com que invadiu o vizinho reino em 1476, atraindo ao seu partido muitos nobres e grandes senhores de Castela, que o auxiliaram na tomada de diversas praças. 
Vencido na Batalha de Toro, pediu auxilio a seu filho D. João II, que governava o reino durante a expedição de seu pai em Espanha, o corajoso príncipe, numa das pelejas com os castelhanos, se cobriu de gloria e concorreu para que as armas portuguesas não sofressem uma completa derrota. D. Afonso V dirigiu-se a França a solicitar o auxilio de Luís XI, para fazer valer os direitos de sua noiva, estava porém escrito que esta senhora nunca chegaria a sentar-se no trono, apesar de lhe haver pertencido um por herança e haver adquirido de direito, pelo consorcio, outro.
Luiz XI nunca cumpriu as suas promessas, o papa anulou-lhe o casamento, por não haver sido solicitada previamente a dispensa, e D. Joana foi constrangida a encerrar-se no Convento de Santa Clara de Santarém, sendo transferida depois para o Convento de Santa Clara em Coimbra, onde veio a professar e onde morreu. Com sintomas de depressão, D. Afonso V abdicou da coroa para o filho, D. João II de Portugal, morrendo em 1481. Por sua vez D. João II morre também sem filhos legítimos, tendo escolhido para sucessor o duque de Beja, seu primo direito e cunhado, que viria a ascender ao trono como Manuel I de Portugal.
A 1 de junho de 1512 D. Manuel I concedeu a vila de Arronches novo foral.
Em 1549 D. João III deu a D. Julião d'Avila, Bispo de Portalegre, e senhorio desta vila, as igrejas suas dependentes, assim, como os de Leiria, Ourem e Óbidos, para o sustento do novo Bispo e Cónegos daquela Diocese.
Junto aos muros de Arronches, travaram-se diversas batalhas, em que sempre se provou o seu valor como praça de guerra. tomada de improviso por D. João de Áustria, filho bastardo de Filipe IV, que invadiu o reino com um forte exercito em 1661, para reduzir os portugueses ao domínio de Castela, de que se haviam libertado pela famosa e heróica revolução do 1.º de dezembro de 1640, viu o vencedor retirar de pronto em face dos valentes terços portugueses, que correram em seu socorro, em reduzido numero mas invectiveis na determinação pela independência nacional. 
No reinado de D. Afonso VI de Portugal foi instituído o título nobiliárquico de Marquês de Arronches, criado em 27 de Abril de 1674, a favor de Henrique de Sousa Tavares, 3º conde de Miranda do Corvo e 28º senhor da Casa de Sousa, passando mais tarde a integrar o morgadio do Dique de Lafões, D. Pedro Henrique de Bragança (1718-1743), 1º duque de Lafões e 7ª conde de Miranda do Corvo, neto do anterior titular.

Esta vila foi berço de muitos varões ilustres, de entre eles: 
Frei Álvaro de Castelo Branco, filho de Francisco de Sequeira Pestana e de D. Leonor de Castelo Branco, ambos descendentes de nobres famílias. Aos 21 anos recebeu o habito da ordem de Santo Agostinho, no convento de Lisboa a 3 de maio de 1640. Aprendeu com grande dedicação filosofia e teologia que ensinou com igual zelo no colégio de Santo Agostinho, em Lisboa. Grande pregador do seu tempo, chegou a fazer sermões perante as cortes, as suas pregações influenciaram o modo como se concluiu a paz  no ano de 1668. Foi nomeado pelo príncipe D. Pedro, regente do reino, para Arcebispo de Goa e depois Bispo de Portalegre, honras e privilégios que declinou  em detrimento da condição de religioso à vigilância de prelado. Faleceu no Colégio de Santo Agostinho de Lisboa, a 28 de fevereiro de 1668. Escreveu algumas obras muito apreciadas naquela época, as que se conservam na livraria do convento da graça desta cidade;
Padre Bento de Sequeira, nasceu em 1588 e na idade de dezasseis anos entrou na companhia de Jesus, no  Colégio de Évora, a 16 de fevereiro de 1602. Depois de ensinar letras, excresceu o ministério de orador evangélico, para o qual tinha todos os dotes necessários. Com grave prudência governou os colégios do Porto, Funchal, Lisboa e Coimbra, sendo ultimamente provincial da província do Alentejo. Assistiu à oitava congregação celebrada em Roma. Foi estimado dos domésticos e dos estranhos, principalmente dos Duques de Bragança, D. Teodósio II e seu filho El-rei D. João IV, glorioso libertador da coroa portuguesa. Promoveu com o seu exemplo a observância da disciplina regular, até que chegando à idade de 76 anos e 60 de companhia de jesus, faleceu no colégio de Évora, a 2 de junho de 1664. Dos muitos sermões que pregou publicaram-se: Sermão do Auto  de Fé, que se celebrou no terreiro do Paço da cidade de Lisboa a 6 de abril de 1642; Sermão em Santa Clara de Coimbra, a primeira pedra do templo e convento real que D. João IV levantou à Rainha Santa Isabel, sua avó, no momento da Esperança, e trasladação das suas relíquias, e mudança das religiosas para o templo e convento novamente levantando; Oração funeral em as honras do infante D. Duarte, irmão de El-rei D. João IV, a 15 de dezembro de 1649; Sermão na festa do Anjo Custodio do reino de Portugal, na ocasião e dia em que El-Rei D. João IV passou no Alentejo em direcção a Castela; Sermão de S. Francisco, no sei convento da Ponte, em Coimbra, a 4 de outubro de 1648; e Sermão no Auto de fé, que se celebrou na praça da cidade de Évora em 27 de julho de 1636. 
Padre Francisco Aranha, filho de Rodrigo Aranhas e de Catarina Lourenço. Tendo 15 anos de idade quando recebeu a roupeta da companhia de Jesus no colégio de Évora a 24 de dezembro de 1618, onde depois de aprender com suma habilidade as ciências amenas e severas, ensinou seis anos humanidades e retórica,  filosofia, teologia e moral. Foi perfeito dos estudos no colégio de Coimbra e reitor do colégio de Elvas, no qual por seus esforços se introduziu a agua, que lhe concedeu o senado daquela cidade. Era naturalmente jucoso, porém com tal moderação que nunca pôde ser arguido de pueril. Sofreu vários ataques de asma, até que por um fio privado da vida no colégio de Évora, a 16 de maio de 1677, contando 74 anos de idade e 59 de religião. Compôs as seguintes obras: Cometário a Virgilio, no qual se explicam os lugares  mais dificultoso do poeta; Sermão pregado em S. Gião de Lisboa, estando o Santíssimo exposto pelo feliz sucesso do exercito, que tinha saído à campanha a 20 de outubro de 1657.; Série dos reis de portugal, com suas pátrias, idades e mortes.; e Sitio e restauração da cidade de Évora.
O brasão de Armas era um Castelo em campo de sangue,  representado na gravura de Inácio de Vilhena Barbosa, em "As Cidades e Vilas da Monarchia Portugueza que teem brasão d'armas", Lisboa, 1860-1862.
É das poucas terras do reino que possuem "foral novíssimo", dado por D. Afonso  VI, em Lisboa, a 25 de julho de 1678, vindo a gozar dos seguintes privilégios: 
1.º Passado a 12 de maio de 1475, por D. Afonso V, e confirmado pelos sucessores, para não ser esta vila dada a senhorio nenhum;
2.º Não serrem os seus moradores obrigados a trabalhar nas muralhas, fontes, pontes, calçadas, etc. nem a levarem presos, nem servirem cargas de outros concelhos. (Por D. joão II, a 9 de março de 1463, também confirmado pro seus sucessores.);
3.º Não pderem fazer soldados nesta vila para fora dela. (por D. João I, em 4 de abril de 1423.);
4.º Para que as penhoras aos moradores não possam ser feitas em bens que tenham dentro de suas casas, nem em trigo que tiverem para semear, em em bois de lavoura. (Por D. Afonso IV e confirmado por D. João I, a 3 de abril de 1423.);
5.º Para que os moradores daqui não sejam obrigados a ter cavalos nem armas. (Por D. João II, a 29 de janeiro de 1463.);
6.º Para que, os que não tivessem cavalos não podessem servir de vereadores.(Por D. Afonso V, a 16 de março de 1458.);
7.º Para que os pastores tragam armas, menos em julho, agosto e setembo. (Por D. João I, em 1429.);
8.º Para que todos desta vila a seu termo possam trazer armas por todo o reino, sem lhes serem tomadas. (Por D. João I.);
9.º Todo o que quisesse vir povoar o termo desta vila lhe desse a camara terreno para a casa e horta.
Tinha ainda outros privilégios de menor importância.  
Transcrição com adaptação de Archivo Histótico de Portugal, n.º 30, Arronches, 1890
Foto: Delcampe.net
Nos finais do século XIX, a vila era composta por uma única paróquia cujo orago era Nossa Senhora da Assunção com Igreja Matriz situada junto dos Paços do Concelho e da Misericórdia, substituiu em meados do século XVI o antigo templo gótico de 1236, do padroado do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. possui hospital e misericórdia fundados pelo alcaide-mor Ruy Gonçalves no ano de 1372, dando para isso suas próprias casas e as necessárias rendas, o que consta duma inscrição que está na igreja da Misericórdia.  Teve também um convento de religiosos Agostinhos descalços e quatro ermidas das quais a mais notável, pela sua antiguidade, a ermida do Espírito Santo. 
Armas - Escudo de prata, com um castelo de púrpura aberto e iluminado do campo. Em chefe, cinco escudetes das quinas de Portugal, acompanhadas por dois ramos de sobreiro, folhados e lançados de verde. Em contra-chefe uma faixa ondada de azul. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres a negro : " ARRONCHES ".
Foto. Geocaching
Pela  sua antiguidade e importância histórica, promovida sobretudo pela sua localização fronteiriça, o concelho de Arronches possui um vasto património arqueológico, religioso e natural. A salientar:  
Abrigo Paleolítico;
Albufeira da Barragem do Rio Caia;
Anta dos Fartos; 
Anta das Sarnadas;
Atalaia do Baldio;
Castelo de Arronches;
Convento da Nossa Senhora da Luz;
Ermida do Rei Santo;
Ermida do Monte da Venda;
Igreja da Misericórdia;
Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Matriz de Arronches;
Igreja de Nossa Senhora da Esperança;
Igreja de Nossa Senhora da Luz;
Igreja de Nossa Senhora do Rosário;
Igreja de São Bartolomeu;
Igreja de Santo Isidro;
Moinhos de água de Mosteiros;
Necrópole do Baldio;
ParqueNatural de São Mamede;
Praia Fluvial de Mosteiros; e
Atalaia do Baldio de Arronches, 

A palavra Atalaide derivou directamente do Árabe "at-talai'a", e serve para designar uma torre ou lugar elevado, posto de vigia de um determinado território delimitado, funciona como apoio a outro tipo de defesa mais complexa, como uma muralha ou um castelo, sendo distribuídas em lugares estratégicos na área ao redor. Em caso de ameaça, os vigilantes nas atalaias davam avisos ou sinais aos defensores do castelo. Poderiam ainda integrar um conjunto de fortificações avançadas de vigia da fortaleza de Arronches, a atalaia das Escarninhas é a primeira de um conjunto de sete que se estendiam até á actual fronteira com Espanha, as outras são conhecidas como Água de Raiz, Louções, Outeiro Branco, Torre das Areias, São Bartolomeu e Baldío, também conhecida como Algalé.
A existência de duas atalaias, cada uma no monte que lhes deu nome, das Escarninhas e Baldio, representam a importância significância de Arronches na estratégia da defesa do território nacional. As atalaias terão sido construídas no século XVII, no contexto da Guerra da Restauração da Independência, como defesas avançadas para impedir a infiltração inimiga e, particularmente, como torres de vigia. para alertar a população e as forças locais.

Atalaia Abaluartada de Algalé no Baldio:

A velha atalaia do Baldio de Algalé, situada junto ao monte Baldio, a sul da vila, e por isso também conhecida por esse nome, domina a paisagem envolvente, pela sua imponência é possível ser avistada da Estrada Nacional 246, entre Arronches e Elvas, para acede-la, corta-se na estrada municipal com direcção ao Baldio de Arronches, virando-se à direita para caminho em terra batida, a cerca de 270 metros.

Construída na centúria de  seiscentos para defender a região das investidas espanholas, integrando o complexo defensivo das Linhas de Elvas. 
A estrutura é uma construção vernácula em pedra granítica local que face à sua robustez, apresenta ainda um relativo bom estado de conservação. Exibindo uma arquitectura piramidal quadrangular, cujo vértice é interrompido por uma cobertura plana de suporte a um terraço que serve de posto de controlo no qual existe ainda um baluarte bem conservado voltado para o leste.

Atalaia Abaluartada das Escarninhas:

A atalaia das Escarninhas localiza-se a sul da vila de Arronches a cerca de 2 quilómetros da cerca da vila. 
A construção vernácula apresenta uma planta piramidal quadrangular cortada no vestisse onde se apresenta um posto de controle no terraço quadrado com merlões cônicos em três cantos e um baluarte no outro.
Implantada sobre um monte que lhe permite um destaque na paisagem e o domínio sobre uma área bastante abrangente, a atalaia encontra-se sobranceiro a um pequeno curso de água. 
O posto de vigia terá sido construído durante o século XVIII para defender o território nacional das tropas filipinas sobre o domínio castelhano.
Pela mesma época foram construídas sete torres de vigia, a de Escarninhas, Água de Raiz, Louções, Outeiro Branco, Torre das Areias, São Bartolomeu e Baldío, também conhecida como Algalé. De todos eles, apenas a de Escarninhas e Algalé ainda se encontram em pé, ambos ao sul da cidade. A Atalaia de Escarinhas foi recuperada recentemente, com o apoio do Programa Iniciativa Comunitária Leder +. A atalaia de Algalé encontra-se debilitada à espera de intervenção.

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