quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Aldeia de Drave, Arouca

A aldeia abandonada de Drave localiza-se na sub-região da Beira Alta, na encosta da Serra da Arada e enquadrara por outras duas, Serra da Freita e Serra de São Macário, ainda que despovoada, Drave integra-se União das Freguesias de Covelo de Paivó e Janarde, Concelho de Arouca, Distrito de Aveiro, Diocese de Viseu.

A misteriosa aldeia encontra-se no centro da formação montanhosa onde as escarpas abruptas mostram à superfície blocos de granito ou xisto característicos da zona, outrora conhecida por monte Fuste, que divide as bacias hidrográficas, do Douro e Vouga, e é delimitada a norte pelo Rio Arda, a este pelo Rio Sul, a sul pelo Rio Vouga e a oeste pelo rio Paiva. 


A aldeia de Drave é ainda atravessada pelo rio Palhais e pelo Ribeirinho da Bouça, convergindo ao fundo da povoação formando o Rio Drave, afluente do Rio Paivó que por sua vez é afluente do Rio Paiva.

Pela sua localização a aldeia integra o Geoparque de Arouca da Rede Global de Geoparques da UNESCO.

A sua localização de isolamento a 4 quilómetros de Regoufe e cerca de 10 quilómetros Covelo de Paivó, assim como o seu difícil acesso, a aldeia não é acessível de carro, estão nas principais causas do seu abandono. Parada no tempo, a aldeia nunca teve electricidade, água canalizada, saneamento, gás, correio e fraco sinal de rede móvel. Numa lápide colocada na parede da igreja pode ler-se "Por iniciativa de José F. Martins e esposa Maria N. Martins C. moradores em S. Pedro do Sul, chegou o telefone à Drave a 15 de novembro e a energia solar a 30 de dezembro de 1993, homenagem a quantos tornaram possível este projecto - 17-03-1994".


Drave, surge assim como uma povoação típica de casas vernáculas feitas de pedra lousinha e xisto,  que se desenvolve ao longo da encosta formando um conjunto de traçado orgânico com cerca de vinte casas de habitação com anexos de apoio à agricultura como palheiros, currais, espigueiros e azenhasAo centro da aldeia situa-se a capela que se destaca pelo seu revestimento em cal e com o telhado revestido por telha cerâmica, que contrasta com os restantes imóveis.
Os arruamentos são irregulares e a aldeia situa-se no fundo da montanha. Os dois espigueiros de dimensões generosas serviam toda a aldeia e localizam-se na zona mais baixa, à entrada do aglomerado.
Por volta dos finais do século X, Sisnando Davidiz, um moçárabe da Península Ibérica, onde foi dono das terras na zona de Coimbra e governador desta mesma cidade, doou ao abade Godinho do Mosteiro de Arouca herdades localizadas no monte Fuste, de entre as quais estavam incluídas Covelo e Regoufe. A primeira referencia a Covelo de Paivó aparece em diplomas ou cartas datadas de 1069. Já a aldeia de Drave aparece mencionada em documentos do século XIV, durante o reinado de D. Dinis.

Nas inquirições de 1527, o Cadastro da População do Reino registava as povoações de Drave, Regoufe e Covelo de Paivó na freguesia de São Martinho das Moitas no concelho de Lafões e Sul, Drave contava com dois vizinhos e oito pessoas, era ainda um lugar muito embrionário, Regoufe tinha oito vizinhos, trinta e duas pessoas e Covelo de Paivó tinha nove vizinhos, trinta e seis pessoas.
Nas Inquirições de Genere de 1706, as freguesias de São Martinho das Moitas, Covas do Rio, São Martinho de Gafanhão e Covelo de Paivó integravam o concelho de Gafanhão.
Nas Memórias Paroquiais de 1785, a freguesia de Covelo de Paivó pertencentencia ao concelho e ducado de Lafões, do qual era donatário D. Pedro Henrique de Bragança, 1.º Duque de Lafões, a freguesia era composta pelas povoações de Covelo de Paivó e Regoufe e ainda Drave com três vizinhos, vinte e duas pessoas.
No inicio do século XVIII, Francisco Martins e Maria Martins constroem uma casa em Drave, os descendentes desta família viriam a ser os últimos moradores da aldeia. 
No século XIX, Manuel Martins cria uma via de comunicação que permite os veículos aproximarem-se mais da aldeia, passando pelo Muro Redondo e fazendo a ligação a Regoufe, para alem disso constrói um pequeno solar em Drave, uma casa com varanda e adega, composta por dois pisos, que se diferencia devido ao facto do piso superior ser revestido a cal em contraste com o restante edificado que, sendo em xisto, se esbate na paisagem, assim como a sua relativa generosa dimensão.


Em 1851 foi erigida a pequena Capela ao orago de Nossa Senhora da Saúde é mandada edificar por Manuel Martins da Costa.
Drave foi berço da família Martins desde o inicio do século XVIII, numa lápide colocada na parede do solar da família pode ler-se "Neste solar dos Martins da Drave, reuniram cerca de 600 dos seus parentes em 12-09-1946. A convite do P.e João Nepomuceno Martins. Pároco de Carvalhais." e outra lápide na igreja dizendo "nesta capela do solar dos Martins da Drave houve missa solene em 12-09-1946 pelos Martins vivos e defuntos foi celebrante o P.e João Nepomuceno Martins, Pároco dos Carvalhais, assistindo cerca de 600 parentes.". Estas reuniões de família passaram a realizar-se com alguma periodicidade, tendo já sido publicada a monográfica da família.

Durante os primeiros anos da republica, a freguesia de Covelo de Paivó é anexada ao concelho de Arouca, deixando de pertencer ao concelho de S. Pedro do Sul. 
Desde a década de 1990 que Drave despertou o interesse do Corpo Nacional de Escuteiros, tornando-se um Centro Escutista de Excelência Natural e Ambiental, um dos poucos em todo o mundo, pos só existem 14, para alem de ser o único no Sul da Europa e o primeiro em que ninguém é remunerado pelo seu trabalho. A aldeia tem a particularidade de só acolher caminheiros, escuteiros entre os 18 e os 22 anos, que todos juntos formam um clã, quanto aos escuteiros das outras idades podem visitar a aldeia, mas não podem pernoitar. A sua primeira grande actividade promovida na aldeia decorreu em 1992, repetindo-se no ano seguinte. Em 1995 o CNE, Corpo Nacional de Escutas adquire algumas casa e terrenos para criar uma Base Nacional, começando desde logo a sua recuperação. 

O ultimo habitante deixou a aldeia no final do século XX, com a sua saída foi também a linha telefónica e a energia solar. 
A actividade desenvolvida pelos escuteiros é desempenhada de forma precária onde para alem do doloroso transporte dos materiais para reparação das habitações, trabalham em condições pouco favoráveis. 
Mas o facto da aldeia se encontrar privada de todas as comodidades a que estamos habituados, faça dela o lugar misterioso e encantador que é.
Já com a aldeia completamente abandonada, em 2001 os escuteiros promovem a terceira grande actividade organizada e em 2002, em drave teve lugar a terceira edição do trilhos - "Trilhos 2002" com vista a relançar o centro escutista na Drave. A abertura oficial do centro escutista da "Base Nacional da IV" aconteceu em 2003.

A aldeia integra desde 2009 o Geoparque da Arouca, reconhecido pela UNESCO pelo seu excepcional património geológico, ficando desde então a fazer parte da Rede Global de Geoparques. 

Fontes:
"Aldeia Drave", Sistemas de informação para o Património Arquitectónico, Rita Vale, 2012;
"A aldeia mágica de Drave, berço da família Martins", Artigo vortexmag, 2015;

Sem comentários:

Enviar um comentário