domingo, 4 de agosto de 2019

Capela de Nossa Senhora das Necessidades ou Ermida de Santo Estêvão, São Pedro da Gafanhoeira, Arraiolos

Foto: DGPC
São Pedro de Gafanhoeira foi uma freguesia portuguesa do concelho de Arraiolos, extinta em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, tendo sido agregada à freguesia de Sabugueiro, para formar uma nova freguesia denominada União das Freguesias de Gafanhoeira (São Pedro) e Sabugueiro da qual é sede.
A aldeia de S. Pedro da Gafanhoeira situa-se junto à margem norte da Ribeira de Vide. As suas origens remontam à Baixa Idade Média.
O toponímia que deu nome à aldeia, S. Pedro da Gafanhoeira, encontra explicação na junção entre dois factos do seu passado histórico. Em documentos anteriores aos últimos anos do século XVI, sempre que a aldeia era referida, a nomenclatura utilizada era “Gafanhoeira”. Só nos finais do século XVI começou a ser denominada de S. Pedro da Gafanhoeira, o que se manteve até aos nossos dias. 
A explicação para esta dicotomia temporal na toponímia da freguesia deve-se ao facto de ter tido uma gafaria e albergaria desde o século XIII, as quais estiveram em funcionamento até 1817, ano em que foram incorporadas na Santa Casa da Misericórdia de Arraiolos. A freguesia foi curado, no termo de Arraiolos. 
Em 1757 tinha 81 fogos, e em 1874, 117 anos depois, tinha duplicado esse número, tendo 160 fogos.
Em 1839 pertencia à Comarca de Estremoz, em 1852 à de Arraiolos e no ano de 1853 passou para a Comarca de Montemor-o-Novo. Em 1862 volta a pertencer à Comarca de Arraiolos, em 1878 à Comarca de Évora e em 1889 é de novo integrada na Comarca de Arraiolos. 
Durante o século XIX a freguesia teve um grande crescimento. A aldeia de S. Pedro da Gafanhoeira teve o seu auge populacional em meados do século XX, período a partir do qual se iniciou um processo de migração e emigração, comum à maioria das localidades alentejanas, devido a mudanças estruturais na agricultura, desde sempre a principal actividade da freguesia. A mecanização das alfaias gerou um decréscimo de trabalhadores. 
No entanto, actualmente, a aldeia continua a ter uma boa dinâmica social e um aceitável número de residentes que beneficiam de uma estrutura institucional imóvel com serviços fundamentais para o bem estar de toda a população.
O seu orago é São Pedro Apóstolo.
Fotos: Célia Paulo, 2019
Escudo de púrpura, um galo de ouro cristado e barbaleado de vermelho e dois ramos de sobreiro de prata, landados do mesmo, com casculhos de ouro, tudo em roquete. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro, em maiúsculas : GAFANHOEIRA SÃO PEDRO
A Capela de Nossa Senhora das Necessidades ou Ermida de Santo Estêvão encontra-se à beira de um caminho municipal que liga a aldeia à Herdade das Hortas, na periferia de São Pedro da Gafanhoeira. A aldeia encontra-se ligada à EN 114/4, através de uma estrada municipal, que intercepta a nacional, num cruzamento no troço entre Arraiolos e Montemor-o-Novo.
Ainda que sem data oficialmente determinada a antiga capela deverá ter sido edificada anterior ao século XVI, inicialmente dedicada a Santo Estêvão. 

A sua existência esta comprovada no ano de 1534, altura pela qual foi visitada pelo Cardeal Bispo de Évora D. Afonso, dando conta de existência de templo primitivo. 
Na segunda metade do século XVII este pequeno templo foi objecto de profundas remodelações arquitectónicas, que lhe conferiram a actual estrutura.
Os paramentos da nave são revestidos de azulejo de tapete, com alguns retábulos figurados, a nave e a capela mor são revestidas por pinturas de figuras religiosos e motivos florais, todo este conjunto datará de 1781. Os painéis de azulejo apresentam-se danificados e as pinturas esbatidas ou mal recuperadas. 
Fotos: Célia Paulo, 2019
No início do século XVIII, foi oferecida ao templo, uma imagem de Nª Sr.ª das Necessidades, rapidamente transformada em objecto de "profunda devoção" pelos habitantes locais, posto isto, a respectiva confraria, que era abastada, conseguiu promover, com aparato, solenes festividades anuais, romarias e procissões, que se transformaram pouco a pouco em sítio de peregrinação regional, datando desta época a modificação do orago primitivo do templo. 

Actualmente a ermida já não se encontra aberta ao culto, a celebre imagem da Nossa Senhora das Necessidades foi transferida para a Igreja Matriz, todavia ainda estão na memória de muitos fieis as festividades que se realizavam envolta do templo, pois nos finais da década de 50 do século XX ainda eram realizadas procissões e romarias em  sua honra.
Foto: Arraiolos Branquinha - Espólio de Vasco Silva 
Por volta de 1873, volumosas transformações arquitectónicas foram realizadas na silhueta exterior do edifício, esta data aparece afirmada numa grande chaminé em memória do marcante acontecimento para a paróquia.


De arquitectura religiosa, a capela apresenta uma estrutura vernacular, cuja planta se desenvolve longitudinalmente, num conjunto composto pelos volumes do alpendre, da nave e da capela-mor. 
A galilé ocupa o primeiro registo da fachada principal do templo, constituída por arcos de volta perfeita e coberta por abóbada de aresta. No registo superior foi aberto um janelão de moldura rectangular, e o conjunto é rematado por frontão triangular com cruzeiro e ladeado por fogaréus. 
Fotos: Célia Paulo, 2019
O portal de moldura recta abre para o espaço interior da capela. De nave única, é coberto por abóbada de canhão e decorado por azulejos de tapete policromos setecentistas. A capela-mor, de secção quadrada, é revestida por abóbada de berço, apresentando ao centro um retábulo joanino de talha dourada. 
A orientação do eixo da cobertura da ábside, perpendicular ao eixo estruturador do conjunto, indicia antiguidade deste corpo, que eventualmente pertencia ao templo primitivo visitado em 1534.
Descrição SIPA
Fotos: Célia Paulo, 2019
A nave é revestida por azulejos de padrão pombalino, policromos, integrando reservas de formato rectangular com símbolos da Virgem. O padrão, em tons de azul, amarelo e roxo, é delimitado por barra azul e branca e encontra-se aplicado sobre rodapé com molduras rectangulares de ângulos cortados e motivo vegetalista ao centro destacando-se do fundo marmoreado, a roxo. As reservas alusivas à Virgem apresentam molduras de perfil em meia cana com óvulos e marmoreados. Do lado do Evangelho representa-se uma estrela, entre nuvens, e um sol com uma lua. Do lado da Epístola, um ramo de rosas. Junto à porta, do lado esquerdo, encontra-se outra reserva, mais pequena, com uma inscrição com a data e o encomendador da obra: DÁRAÕ FAZER [SIC] / DEVOTOS DEN. S RA/ DASNECESSIDADES. / COM ASSVAS ESMÓ= / LAS, NO ANNO / DE1781. / PEDESE HVM. P. N. AVE. / M. A PORESTES .
Fotos: Célia Paulo, 2019 
Em 1996 a Câmara Municipal de Arraiolos iniciou uma proposta de classificação do Imóvel como Valor Cultural,  com despacho de classificação pelo Vice-Presidente do IPPAR.
Em 2002 nova proposta do IPPAR/DRÉvora para classificação, o parecer do Conselho Consultivo do IPPAR,  foi remetido à autarquia para uma eventual classificação como Interesse Municipal.

Fontes:
Regime jurídico da reorganização administrativa da Autarquia de Arraiolos, Assembleia Municipal, setembro de 2012;
"Capela de Nossa Senhora das Necessidades ou Ermida de Santo Estêvão", Direcção Geral do Património Cultural, texto de Catarina Oliveira, 2005;
"Capela de Nossa Senhora das Necessidades ou Ermida de Santo Estêvão", Sistemas de Informação para o Património Arquitectónico, Castro Nunes, 1995, Paula Figueiredo, 2001;
Sistema de Referencia & Indexação de Azulejo, AZ - Rede de Investigação do Azulejo;

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