sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Minas de Regoufe (Ingleses) VS Minas do Rio de Frades(Alemães), Arouca

Durante a II Guerra Mundial, em Arouca, inimigos coabitaram paralelamente nas explorações de volfrâmio, os Ingleses e Alemães, duas potencias de frentes opostas na guerra,  extraíram das serras de Arouca o minério com que endureciam armamento. Hoje classificadas pela UNESCO como património geológico de excepcional importância, a região integra o Geoparque de Arouca desde 2009. 
A uma distancia de cerca de 5 quilómetros, as minas de Rio de Frades, pertencentes aos Alemães, e as minas de Regoufe, aos Ingleses,  duas forças opostas no cenário de guerra, os inimigos conviveram em paz, lado a lado, em território neutro, pelo menos durante algum tempo, o Estado Novo empenhou-se em manter a neutralidade respeitando o laço que mantinha com a Inglaterra e os interesses com a Alemanha, colaborando com ambos os lados que faziam guerra por essa Europa fora. Assim, as minas, maiores na sua irónica simbologia do que na sua expressão extractiva, carregam um elevado valor histórico, geológico e paisagístico para a região.

Minas de Regoufe:


Desde o início do séc. XX que os «Manifestos de Minas» declararam numerosas áreas de interesse metalífero na região de Regoufe, e a 9 de janeiro de 1915 é concedido o alvará de exploração, para a designada «Mina de Regoufe» ou «Poça da Cadela» ao cidadão francês Gustave Thomas. O jazigo de W-Sn de Regoufe situa-se no bordo sudeste do plutonito granítico homónimo, onde a volframite é a mineralização mais frequente, apesar da ocorrência de alguma cassiterite. Ocorrem ainda alguns sulfuretos, como a arsenopirite, a esfarelite e a pirite, bem como, outros minerais de menor relevância como a bismutite, limonite, escorodite, autunite e bindheimite. Entre os minerais silicatados que suportam a mineralização destaca-se o quartzo, seguido de alguma moscovite, berilo e apatite.

Grupo de Trabalhadores da Mina de Regoufe, 1941
No ano de 1941, foi constituída a principal empresa de exploração de W-Sn em Regoufe, a Companhia Portuguesa de Minas, que funcionou essencialmente com capitais e administração britânicos. Ficou conhecida como a «Companhia Inglesa» e a ela se deve importantes melhoramentos na região, como a abertura de estrada a partir da Ponte de Telhe, a instalação de eletricidade e telefone nas minas. Contudo, os menores investimentos efetuados pela «Companhia Inglesa» comparativamente à «Companhia Alemã» ficaram a dever-se ao facto de os ingleses explorarem o volfrâmio não por necessidade direta da matéria-prima mas para bloquearem o acesso dos alemães à mesma.

A mina da «Poça da Cadela» possui uma área de exploração de W-Sn de cerca de 57 ha e integra tanto as instalações técnicas e administrativas, como as residências e diversas entradas de galerias. Foi a concessão mais rentável da área mineira de Regoufe, que se encontra «imortalizada» por múltiplas galerias e escombreiras espalhadas por toda esta região.

Este polo mineiro encontra-se bem demarcado espacialmente da aldeia agrícola tradicional homónima, da qual dista poucas centenas de metros. As ruínas monocromáticas de granito surpreendem pelo estado de abandono e destruição, conferindo a este local um estranho sossego, apenas entrecortado pelo vento e por um ou outro rebanho de cabras, que por vezes agitam as encostas e espantam o silêncio.

O núcleo do complexo mineiro, onde as construções curiosamente alternam com as bocas de diversas minas, encontra-se disposto em anfiteatro à volta de uma área relativamente plana por onde correm uma pequenas linhas de água que drenam as galerias. Do lado Norte e Nordeste, concentram-se as instalações técnicas e administrativas, destacando-se o edifício de dois andares onde funcionaram os escritórios, o qual dominava uma espécie de largo ou de praceta superior, envolvido por diversas construções espalhadas pela encosta e destinadas a oficinas, central elétrica, armazéns, entre outras. As instalações da lavaria, sucessão de tanques e maquinaria dispostas na encosta, são praticamente as últimas do complexo, a Sudoeste. No lado oposto, a Nascente, a maior parte das construções tinham carácter residencial, destacando-se sobretudo o «bairro» de pequenos compartimentos, alinhados em notória extensão e dispostos em dupla plataforma, que constituíam as «casas dos mineiros». Por último, é ainda possível identificar as instalações sanitárias, o «clube», a «venda» e até uma pequena cavalariça.
Transcrito de Minas de Regoufe - Geopark de Arouca

Minas do Rio de Frades:


Foto: Espólio SIC, c.1940
A exploração de volfrâmio e estanho na área das Minas de Rio de Frades remonta, pelo menos, ao ano de 1915, altura em que foi concebido o primeiro alvará de exploração mineira para esta área. O jazigo de W-Sn de Rio de Frades situa-se ao longo de um sistema de falhas, com direção aproximada N-S, ocorrendo em rochas metamórficas ante-ordovícicas e a ocidente do plutonito de Regoufe. Os efeitos metassomáticos provocados pela proximidade, em profundidade, de uma apófise do granito de regougue no extremo da auréola de contato com rochas metamórficas referidas, terão sido os responsáveis pela mineralização de folões de quarto, rica em volframite (a mais abundante), cassiterite e, mais raramente, scheelite. A arsenopirite é o principal sulfuroso identificado, ocorrendo outros como a pirite, esfalerite, marcassite, pirrotite, estanite e bismuto nativo.

Mineiros á Entrada da Mina de Rio de Frades s/d
Foto: Espólio de dropstones 2011, Blogspot.com
Em 1923 foi fundada a Companhia Mineira do Norte de Portugal que, por funcionar com capitais alemães, ficou conhecida com a <<Companhia Alemã>>, dedicada à exportação de volfrâmio destinado a esse país. Em 1941 ocorreu o período de maior atividade de exploração e exportação de tungsténio para a Alemanha, tendo nesse período de exploração do jazigo aqui acorrido pessoas de todo o país.

Sendo a empresa mineira com maior número de concessões e, consequentemente, uma maior área territorial, a <<Companhia Alemã>> efectuo a maior parte dos investimentos e benfeitorias da região, destacando-se um posto de transformação elétrica, uma central compressora com compressores elétricos muito potentes, e até um quartel provisório para a GNR. Houve também um elevado melhoramento das condições sociais das instalações, tanto para o pessoal dirigente como para os operários, nomeadamente a construção de mais e melhores casas, de um posto de socorros e de um consultório médico, de uma cantina, de uma barbearia e balneário, com compartimentos para homens e mulheres, além de obras gerais de saneamento. 
As ruínas das explorações e instalações mineiras de Frades encontram-se dispersas por três núcleos principais, que se recomenda serem percorridos a pé. Estas três áreas em destaque são: 
a) a aldeia tradicional com casas de xisto; 
b) o <<Bairro de Cima>>, um conjunto de antigas residências do pessoal técnico e administrativo das minas, algumas delas ainda hoje ocupadas; 
c) núcleo principal da área de trabalho das minas, localizada no fundo do vale, constituído pelo edifício do escritório, postos de socorros e consultório médico, lavaria, tanques de decantação, oficinas e outras instalações técnicas e, ainda, a capela de Santa Bárbara em estado de ruínas. 
Nas encostas que enquadram o polo mineiro encontram-se ainda vestígios de antigas habitações de mineiros e armazéns, bem como inúmeras galerias, das quais se destaca a galeria do vale de Cerdeira que, segundo os registos históricos e a memória popular, terá sido a mais produtiva em volfrâmio de entre todas as concessões mineiras de Rio de Frades.

Na atualidade é passível de ser atravessar esta galeria deparamos com uma bela queda de água na ribeira afluente do Rio de Frades. Refira-se, ainda, que o Rio de Frades constitui um rio de eleição para a prática de canyoning no território Arouca Geopark.

Transcrito de Minas de Rio de Frades - Geopark de Arouca

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