O Castelinho de Armação de Pêra, também conhecido como o "Chalet dos Bicos" ou ainda o "Chalet de Gregório Mascaranhas", é um palacete revivalista, utilizado como casa de veraneio de Gregório Nunes Mascarenhas Netto, mais conhecido como Gregório Mascarenhas, um grande empresário e politico, herdeiro de abastadas famílias.
O Castelinho terá sido construído na primeira década do século XX, na marginal de Armação de Pêra, onde foram constituas várias residências de veraneio da classe burguesa, grandes chalés de arquitecturas revivalistas a gosto variado. O aspecto acastelado que o palacete exibe, deve-se ao facto de ter sido construído com base numa planta desenhada pelo próprio Gregório Mascarenhas, o empresário terá desenhado também a planta de outros edifícios de sua propriedade.
Apaixonado por arquitectura e pelo revivalismo , Gregório Mascarenhas projectou a construção das suas quatro emblemáticas casas. A principal, localizada em Silves na Rua Manuel Arriaga, de estilo tradicional oitocentista foi edificada em 1867, em Armação de Pêra edificou o Castelinho, nas Caldas de Monchique possuía o “Chateaux Rouge” e em Lisboa o “Chalet Ideal”.
Foto editada: Geni
Assim como muitas outras localidades da costa algarvia, Armação de Pêra desenvolveu-se a partir de uma pequena comunidade piscatória, mas o que contribui de forma inquestionável para o seu desenvolvimento foi o turismo balnear e é hoje conhecida como uma estância de veraneio, que alberga nas férias de verão milhares de pessoas de todo o país à procura do sol, da praia e das águas tépidas do oceano. É também um exemplo flagrante do desordenamento urbanístico que assolou extensas áreas do Algarve desde a década de 1960, nos últimos 50 anos, a sua população residente mais do que duplicou e nas décadas anteriores estava já em franco crescimento.
A pressão imobiliária que se fez sentir na segunda metade do século XX, principalmente a partir dos anos 70, resultante da construção do aeroporto de Faro e do início da exploração de pacotes turísticos por operadores estrangeiros, originou um crescimento urbano desmedido em Armação de Pêra.
As antigas residências de veraneio da classe burguesa, foram rodeadas de construções em altura ou acabaram demolidas, como foi o caso do Castelinho de Gregório Mascarenhas e o edifício do antigo casino, também sua propriedade, arrasados na década de 1970.
Urbanizações e aldeamentos turísticos irromperam por toda a povoação. Armação de Pêra foi assolada pela construção civil, tornando-se a maior fonte de receitas directas para os cofres da Câmara de Silves.
Assim como o Castelinho outras casas de importante riqueza arquitectónica não foram poupadas à ambição desenfreada da urbanização que descaracterizou o bairro burguês ao contrário do que não aconteceu em outras vilas e cidades como é por exemplo Estoril e Cascais.
Gregório Nunes Mascarenhas Netto:
Gregório Nunes Mascarenhas Netto, filho de Manuel Mascarenhas Netto e de Ana Paula Mascarenhas Netto, nasceu em Alcantarilha em 1847. Herdeiro de abastadas famílias e pessoa com invulgar iniciativa fundou a firma Gregório Nunes Mascarenhas & C.ª em 1867, que transaccionava cortiça com ingleses. Em 1882, foi eleito Presidente da Câmara pelos Regeneradores. Possuía, desde 1884, uma fábrica de cortiça. Em 1890, no ano do Ultimatum, associou-se à “Avern, Sons & Barris”, ficando a nova empresa a designar-se “Avern, Sons & Barris e Gregório Nunes Mascarenhas”. Em 1893, deu início à construção da nova fábrica, que popularmente ficou conhecida, até aos nossos dias, por “Fábrica do Inglês”. Esteve também ligado ao sector das pescas, integrando a empresa “A Louletana – Silvense” e a “Companhia de Pescarias do Cabo de Santa Maria, Ramalhete e Forte”.
Casou em primeiras núpcias com Maria Firmina Júdice Grade e, em 1917, com Ermelinda Patrício. Atribui-se-lhe a autoria das plantas dos edifícios que construiu: os Paços do Concelho de Silves (1894), a Fábrica do Inglês (1894), o Teatro Mascarenhas Gregório (1909) e o “Castelinho”, em Armação de Pêra, que ficou conhecido como o “Chalet dos Bicos”. Nessa praia construiu um Casino. Possuía o “Chateaux Rouge” nas Caldas de Monchique e o “Chalet Ideal” em Lisboa. Foi dono do primeiro automóvel em Silves. Em 1902, foi pela segunda vez eleito para Presidente da CM de Silves. Nesse mesmo ano vendeu a sua parte da fábrica à sua associada inglesa. Por divergências familiares (políticas?) abandonou o seu último apelido, “Netto”, e inverteu o seu nome, passando a identificar-se como Mascarenhas Gregório. Era regenerador por tradição familiar, mas rendeu-se ao republicanismo. Fez parte da primeira geração de republicanos silvenses. Em 1910, foi Director e proprietário de O Silvense (1910-1911), jornal imprescindível para o estudo dos primeiros tempos da I República em Silves. Mascarenhas Gregório foi um incansável viajante e amante das artes. Faleceu em 1922.
Reprodução: Geni
Fontes:
"O Teatro Mascarenhas Gregório e o seu fundador – Exposição em Silves", artigo do Jornal do Concelho de Silves (Terra Ruiva), texto de Vera Gonçalves, julho de 2016;
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