quarta-feira, 3 de julho de 2019

Quinta do Monte Rei, Almodôvar


Almodôvar é uma vila do distrito de Beja, é sede de um concelho rural constituído por duas zonas distintas, a planície alentejana, a Norte e a Serra do Caldeirão a Sul junto ao norte da região algarvia. Das oito freguesias que o compõem, correspondem à planície as freguesias de Aldeia dos Fernandes, Almodôvar, Senhora da Graça dos Padrões e Rosário e à serra correspondem as freguesias de São Barnabé, Santa Clara-a-Nova, Santa Cruz, Gomes Aires.


Almodôvar é habitada desde uma época bastante remota cuja origem é difícil de determinar, no entanto existem vestígios da sua existência já na Idade do Ferro. A sua cultura é reflexo dos vários povos que marcaram a sua presença nestas terras alentejanas, contudo, a sua identidade etimológica teve origem em Almodaûar ou alMuDuUar, que significa “redondo ou cercar à rodar” e que remonta ao período de domínio Árabe, quando a vila foi cercada por muralhas e edificado um castelo, de que não restam praticamente vestígios nenhuns.


Durante a primeira metade do século XIII os Cavaleiros da Ordem de Santiago, ao serviço da Coroa Portuguesa (D. Afonso III), a 17 de Abril de 1285, D. Dinis elevou Almodôvar a concelho, por carta de foral, em 1297 é doada à Ordem de Santiago, a quem pertencia um vasto território na região do baixo Alentejo. O desenvolvimento do concelho prosseguirá até o século XIV com base numa agricultura de subsistência onde o pastoreio assumia uma importante actividade, assim como as actividades associadas da tecelagem, curtumes e apicultura.


No âmbito do processo de reformas nacionais promovido por D. Manuel I, é atribuido novo foral a Almodôvar a 1512. São do tempo de D. Manuel o pórtico da Igreja Matriz de Santa Cruz e a janela manuelina na Praça da República. São contemporâneos da época manuelina também os primeiros morgadios instituídos em Almodôvar que viriam a ser extintos por decreto lei em 1863 na sequência das reformas do regime liberal. 


De entre os morgadios mais importantes instituídos em Almodôvar, destacam-se os pertencenetes às linhagens das famílias Cordes Leitão de Aguiar Guerreiro, Cordes Mascarenhas de Azevedo, Cordes da Fonseca, Gouveia Marques de Souza de Brito, Bagão de Gouveia Marques, Cordes da Ponte, Cardoso Bento de Aguiar Cordes, e Cordes de Avelar Fonseca. 

Escudo de armas dos Boim (Aboim), segundo o ”Livro do Armeiro-mor”,de Jean du Cros, (fl 74v), 1509.

Estevão Vaz de Aboim, senhor da Quinta de Monte-Rei, nasceu em Almodôvar por volta de 1500, filho de João Aires de Aboim e Isabel Esteves Correia. Neto, pela via paterna, de Bartolomeu Gomes de Aboim, um nobre de Beja e cavaleiro da Casa Real, coudel-mor da vila de Messejana, e vedor dos vassalos régios de todos os lugares de Campo de Ourique. Bartolomeu Gomes de Aboim, por sua vez, era neto, pela via materna, de Luís Mestre Toucin (1420-d), homem nobre da cidade de Beja, 2º morgado do Salvador em Beja.

Brasão da família Leitão, à esquerda, família da família Guerreiro e Aboim, à direita.
Pedra Tumular de Francisco Guerreiro Leitão de Aguiar, e de seu irmão João Leitão de Aguiar Guerreiro e de sua mulher D. Josefa Maria Moreira de Brito e Castanheda.
Fotografia de Eduardo Cardoso Mascarenhas de Lemos, 2017.

Por volta de 1529 Estevão Vaz Aboim casa com Leonor Vaz de Aboim Guerreiro(1512-d), 2ª senhora do morgadio e Quinta dos Guerreiro, filha de Bartolomeu Afonso Guerreiro de Gusmão(1485-d), 1.º senhor do morgadio e Quinta dos Guerreiro, e de Maria Toncin Guerreiro (1490-d).


Deste que as famílias Guerreiro e Aboim se juntaram, a Quinta d’El Rei esteve na família Guerreiro, morgados de Almodôvar durante vários séculos, depois de Estevão Vaz de Aboim, 1.º senhor da Quinta de Monte-Rei, passou para Afonso Guerreiro de Aboim(1540), Bartolomeu Gomes de Aboim Guerreiro(1590), Afonso Guerreiro de Aboim(1620), João Leitão de Aguiar Guerreiro(1644), Capitão-Mor de Almodovar e Afonso Guerreiro de Aboim, trineto de seu homónimo. 


Terá sido da responsabilidade deste ultimo Afonso Guerreiro de Aboim(carece de fundamentação), a construção do solar e do engenho agrícola de extracção e reservatório de água, com as características arquitectónicas hoje evidentes, apesar do seu estado avançado de ruína. Todavia é provável a existência de outras construções anteriores do tempo medieval.


O inicio do século XIX foi um período bastante conturbado para Almodôvar, primeiro as invasões francesas, depois a Guerra Civil entre o Partido Constitucionalista (liberais) e Partido Absolutista (conservadores). Com a vitória do Liberalismo dá-se, por fim, a extinção das ordens militares e religiosas, também os morgadios viriam a ser extintos na sequência de uma profunda reforma no direito de sucessão. Na sequência destas alterações e outros factores conjecturais, a gestão da Quinta do Monte Rei entra numa espiral de degradação.


De arquitectura agrícola, vernácula, barroca, as ruínas do poço e nora da quinta, tal como se apresentam hoje, terão sido construídas durante o século XVIII. Ainda que as suas estruturas se encontrem em visível estado de ruína, a extracção da tão preciosa água continua a ser efectuada através de métodos mais sofisticados e de forma a dar cumprimento às actuais normas de qualidade e controlo de segurança. Na verdade, o facto de se encontrarem em ruínas, a muito se deve a sua situação obsoleta.


A nora é composta por um poço semicircular sobreposto por uma estrutura rectangular de suporte da antiga roda, que já não existe, assente numa estrutura de quatro arcos que formam um rectângulo sobre o poço a em cujo topo se apoiava o eixo horizontal da roda, acedido por uma rampa que permitia circular sobre o mesmo.


No topo existe uma outra rampa em forma de "L" por onde desce também a caleira que conduzia a água até um tanque de rega rectangular. A sul do poço adossa-se um outro tanque quadrado mais pequeno.


A oeste, existe uma abertura de um poço, rectangular, que possui um acesso subterrâneo através de uma galeria que se desenvolve para sul e culmina num portal aberto num muro de suporte de terras.


De uma forma geral, na arquitectura vernácula do complexo agrícola, imperava a robustez e a funcionalidade da construção, enriquecida com pormenores decorativos, como cornijas, empenas curvas e nichos que lhe conferem uma animação tributária do Barroco.


O solar, do qual apenas já só restam algumas paredes e pouco mais, era um edifício de uma dimensão bastante generosa, é possessivo identificar uma grande divisão quadrangular, orientada para a fachada principal, que se assemelha a um pátio interior para o qual são orientadas vários divisões ou edifícios que se encontram à sua volta.


Apesar dos evidentes sinais de abandono apresentados, Almodôvar é um dos poucos concelhos do baixo Alentejo que não tem perdido população nos últimos anos, a industria minéria existente em Castro verde, permite que as duas vilas vejam a sua população a crescer. 

Fontes:
"Quinta do Monte Rei", Sistemas de Informação para o Património Arquitectónico, Texto de Ricardo Pereira, 2002;
"História genealógica dos Correa Manoel de Aboim", Manuel Abranches de Soveral, setembro, 2014;

Créditos de Imagens:
Google Maps;
SIPA;

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