quarta-feira, 24 de julho de 2019

Casa ou Castelo de Sistelo, Arcos de Valdevez

Foto editada : António Vieira, 2013
Sistelo é uma freguesia portuguesa do concelho de Arcos de Valdevez, situada a norte do concelho, em plena serra da Peneda, Parque Nacional da Peneda-Gerês, tendo o Rio Vez a iniciar aí o seu percurso de águas límpidas e cristalinas. A freguesia encontra-se limitada a norte, pela freguesia de Merufe do concelho de Monção, a sul e a nascente, pela freguesia de Cabreiro e a poente pela freguesia de Loureda.
A aldeia de Sistelo é famosa pelas suas paisagens em socalcos, onde se cultiva o milho e pasta o gado, a aldeia encontra-se muito bem preservada, tendo sido recuperadas as casas típicas de granito, os espigueiros e os lavadouros públicos.
Fazem parte das sua paisagem, pastando nas suas encostas as vacas das raças autóctones Cachena e Barrosã, a região de Sistelo, faz parte da reserva da Biosfera Gerês-Xurés. O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa promulgou em 28 de dezembro de 2017, a classificação como Monumento Nacional da paisagem cultural da aldeia de Sistelo considerado o ‘pequeno Tibete português’. A classificação foi aprovada num Conselho de Ministros de 7 de Dezembro que fixou “restrições para a protecção e salvaguarda da aldeia de Sistelo e paisagem envolvente”. Esta foi a primeira paisagem do país a ser classificada como Monumento Nacional, título atribuído até então a património edificado.

A Ordem de Malta deteve importantes bens na área desta freguesia. Razão pela qual o brasão de armas da freguesia ostenta, em chefe, a cruz oitavada daquela antiquíssima Ordem Religiosa e Militar. Segundo as inquirições de 1258, Sistelo era uma recente e pequena póvoa, que a família do fundador havia doado à Ordem de Malta ou Cavaleiros Hospitalários. Deduz-se que os seus habitantes estavam sujeitos à anúduva, bem como à cobertura da fronteira, guardando o “porto de couso”. O “porto de couso” deve situar-se perto do marco geodésico do Couço, a um altitude de 752 m.
Na antiga povoação medieval de Sistelo, entrando pela rua principal, pode apreciar um conjunto de espigueiros, uma antiga fonte e a igreja de São João Baptista, localizada num dos topos da aldeia e cuja data de construção remontará aos finais do século XV. 


Brasão da freguesia de Sistelo
Escudo de vermelho, ponte de um arco de prata, lavrada de negro, movente dos flancos e de um pé ondado de prata e azul de quatro tiras; em chefe, cruz da Ordem de São João de Jerusalém ou de Malta, de prata. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro, em maiúsculas : “ SISTELO “.


Ao chegar a Sistelo, assim que se avista a encosta, sobranceira à confluência do Rio do Outeiro com o Rio Vez, na margem esquerda deste último, onde se desenha a povoação, destaca-se uma casa com uma imponente fachada acastelada, por isso conhecida como Casa ou Castelo de Sistelo.

Este edifício terá sido construído por volta do século XIX, a mandado de Manuel António Gonçalves Roque, brasileiro de torna viagem que depois de fazer fortuna no Brasil, regressou à sua terra natal onde quis demonstrar o quão bem sucedido foi por terras devera cruz.
Manuel António Gonçalves Roque, que cedo partiu para o Brasil e aí se tornou num comerciante de sucesso amealhando uma fortuna considerável, tornando-se posteriormente no primeiro e único Visconde de Sistelo.



A Casa do Sitelo encontra-se enquadrada, a Este e a Sul pelas vias e casario da aldeia, estando alguns edifícios, incaracterísticos, implantados no recinto da antiga propriedade. Encontra-se limitado a Norte pelo cemitério, onde se destaca o jazigo neogótico da família do Visconde, encimado pelo brasão da família. A Oeste encontram-se os socalcos que se organizam formando o vale que se forma praticamente desde a fachada poente da Casa até ao Rio Vez.

O palácio revivalista encontra-se integrando numa ampla propriedade agrícola, desenvolvida em socalcos, onde se dispõem os campos de cultivo, com predomínio da vinha, uma eira, um espigueiro e um tanque circular de rega. A casa nobre construiria a gosto ecléctico, apresenta uma planta rectangular, com dupla fachada de aparato, a principal, de influência neobarroca, com vãos rasgados de forma simétrica, com portas de verga recta no piso inferior e com janelas de sacada no superior, sendo o remate em friso e cornija, alteada e curva na zona central, sublinhando a pedra de armas. 

A fachada posterior, virada ao vale, possui maior aparato, com características neogóticas, composta por ampla arcada no piso inferior e loggia no superior, flanqueada por duas torres ameadas, octogonais, rasgadas por portas rectilíneas, e, no nível superior, por frestas, tendo coberturas em cantaria. Fachadas flanqueadas por cunhais de cantaria e rematadas em cornija, sendo as
laterais rasgadas por vãos rectilíneos, a lateral direita com escadas de acesso ao piso superior. Interior
composto por corredor central, que liga às várias dependências. Um passadiço liga ao corpo secundário, talvez a antiga habitação dos caseiros, de dois e três pisos, rasgados uniformemente por vãos rectilíneos.

Com o falecimento de Manuel António Gonçalves Roque em 1885, e na ausência de descendência directa, passa a seu herdeiro o sobrinho, Francisco José Roque de Pinho, casado com Renate Solaro di Monasterolo, do Piemonte. Por volta da década de 30 e 40 do século XX, da-se inicio ao vertiginoso abandono espiral de decadência que culminaram na total ruína do edifício chegando mesmo a ponto critico de ruir.

Já no inicio do século XXI, na sequência da requalificação da aldeia, o município desenvolve um estudo com o intuito de criar um projecto que envolva a Casa de Sitelo, a autarquia pretende salvar o monumento que é um "autêntico ex-libris" da freguesia.

O projecto avaliado na ordem dos 500 mil euros, pretendia acolher simultaneamente um cento-de-dia no rés-do-chão e no primeiro andar, um gabinete médico e de enfermagem, um pequeno museu agrícola, um salão polivalente e a sede da Junta de Freguesia, ficando a actual a funcionar edifício de apoio ao centro de dia.

De forma a recorrer a financiamento comunitário a junta de freguesia pretendia expropriar o edifico alegando abandono completo durante décadas, quando conhecedores dessa pretensão, os herdeiros dos antigos proprietários do castelo avançaram para os tribunais, reivindicando a sua titularidade. Para que o projecto seja submetido a avaliação para viabilidade financeira, era necessário que o edifício se encontrasse já registado como propriedade da junta de freguesia de Soutelo.

Foto: Wikiloc
As primeiras obras de recuperação do edifício ocorreram até 2014, em dezembro de 2015, é publicada a abertura de procedimento de classificação da Paisagem Cultural de Sistelo, promovida pela autarquia e submetida à Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) e promulgada no mesmo mês pelo Presidente da República Marcelo Rebelo.

Foto: Um Par de Botas, 2016
Em 2017, Sistelo foi um das vencedores do concurso “7 Maravilhas de Portugal – Aldeias”, acabando por impulsionar mais turismo e incentivar a mais investimentos, não só para a aldeia mas para toda a região. Nesse sentido estão em marcha uma serie de projectos integrado numa estratégia conjunta de reabilitação e promoção ecencialmente das povoações de Ermelo, Soajo e Sistelo, utilizando para tal a ferramenta de apoio Leader – Programa de Desenvolvimento Rural, cuja candidatura permitirá a recuperação de moinhos, um conjunto alargado de espigueiros, recuperação do Mosteiro de Ermelo (Ordem Cister), um ponto de informação em Padrão, intervenção em alguns caminhos(criação de circuitos temáticos) e no passadiço entre Sistelo e Soajo já existente.

No castelo de Sistelo, ao contrário do que estava inicialmente previsto, está em curso uma obra financiada pelo programa Valorizar, do Turismo de Portugal, para reabilitação e transformação da antiga Casa Castelo num centro interpretativo da paisagem(Centro de Biodiversidade do Alto Vez), entre outras funções.

Foto: Ambitur, 2017

Manuel António Gonçalves Roque, 1º Visconde de Sistelo:



Manuel António Gonçalves Roque, primeiro e único visconde de Sistelo, (Sistelo, 14 de junho de 1834 — novembro de 1885), filho de Francisco Gonçalves Roque e Maria Gonçalves, foi um comerciante e filantropo português. Era irmão e genro do Boaventura Gonçalves Roque, 1º visconde de Rio Vez.
Muito novo partiu para o Brasil onde tornou-se próspero comerciante vindo a ser uma figura de relevo na colónia portuguesa daquela capital.Foi negociante de grosso trato, matriculado como tal no tribunal do Comércio do Rio de Janeiro. 
Teve várias associações culturais e humanitárias medalhas que galardoaram a sua acção protectora e filantrópica, em favor das mesmas, tanto em Portugal como no Brasil. 
Como seu irmão, foi um reconhecido benemérito de diversas instituições pias no Brasil e em Portugal.

Designado 1º. Visconde de Sistelo por carta régia de 3 de Novembro de 1880. A 7 de fevereiro de 1883 foi concedida a pedra de armas Visconde de Sistelo, de acordo com a carta, tinha "escudo bipartido em pala, na primeira as armas dos Gonçalves,  na 2.ª, em campo vermelho uma figura de mulher, de oiro, coroada, tendo na mão esquerda 3 dormideiras, também de ouro, assente sobre nuvens de prata, representando a Beneficência, no chefe, um sol de ouro. Coroa de Visconde. Timbre: o leão das armas dos Gonçalves. Diferença - uma brica de azul carregada com uma estrela de ouro de 5 pontas". A 4 de fevereiro de 1884 a pedra de armas foi alterada, substituindo os tenentes, na forma de uma mulher, representando as Artes, e Mercúrio, representando o Comércio, por dois leões de ouro, armados de vermelho.
Foi condecorado com Hábito da Ordem da Rosa, do Brasil e era fidalgo Cavaleiro da Casa Real de Portugal. Comendador da Ordem de São Silvestre Magno, pelo Papa.
Diplomado Primeiro Vogal perpétuo do Real Gabinete Português de Leitura Rio de Janeiro, foi membro de sua diretoria. Era prior jubilado da Ordem Terceira do Carmo e sócio-benemérito da Sociedade Portuguesa de Beneficência.
Casou em 1870 com D. Júlia Labourdonnay Gonçalves Roque, sua sobrinha e filha dos Viscondes de Rio Vez. Não tiveram filhos. Os viscondes contribuíram generosamente para as gentes de Sistelo, tendo, por exemplo, custeado a construção da escola local, o chafariz e o cruzeiro que se encontra à entrada da localidade e que ostenta o seu brasão.

Fontes:
"Casa de Sistelo ou Castelo de Sitelo", Sistema de Informação para o Património Cultural", texto de Paulo Dordio,  1996 e Paulo Amaral, 2004;
"Recuperação castelo de Sistelo em Arcos de Valdevez encrava em processo judicial", Artigo Lusa, RTP, 2004;
" Cerca de 1ME de investimento público reabilita três freguesias de Arcos de Valdevez", Artigo Lusa, RTP, 2019;

Sem comentários:

Enviar um comentário