Maçãs de Dona Maria é uma freguesia portuguesa pertencente ao concelho de Alvaiázere e deve o seu nome ao facto de ter pertencido a D. Maria Pais Ribeira, amante de D. Sancho I de Portugal, que lha doou em 1210. Em 1514 D. Manuel I eleva-a a vila e cria o concelho de Maçãs de D. Maria.
Em 1855, deixa de ser concelho e é integrada no de Figueiró dos Vinhos, curiosamente no ano em que é inaugurado o Cemitério de Maçãs de Dona Maria. Nos finais do século XVIII o concelho era composto por uma única freguesia. No início do século XIX foram-lhe anexadas as freguesias de Aguda e Arega.
Na época manuelina integrou o grupo das «Cinco Vilas» da Comarca de Chão de Couce (Maçãs de Dona Maria, Aguda, Avelar, Chão de Couce e Pousaflores), tendo todas recebido foral por D. Manuel a 12 de Novembro de 1514.
Pertenceu ao concelho de Figueiró dos Vinhos entre 1855 e 1895, durante cerca de 40 anos, a 7 de setembo de 1895 passou a integrar o concelho de Ansião e a 13 de Janeiro de 1898 passou a pertencer ao concelho actual, Alvaiázere.
Ao longo dos séculos a vila passou por uma grande instabilidade administrativa, a construção e a breve utilização do antigo cemitério reflecte de alguma forma a falta de visão a longo prazo na gestão pública da localidade.
"Depois dos grandes surtos de cólera dos anos trinta do século XIX e da publicação do decreto do governo liberal de 21 de setembro de 1535 que proibia o enterramento nas igrejas e nas capelas, tornando obrigatória a construção em todo o território nacional de cemitérios municipais e paroquiais; depois do decreto do Conde de Tomar, Costa Cabral de 15 de setembro de 1544 e da contestação popular a esta legislação (revoltas de Maria da Fonte a partir de 1864), maças de Dona Maria toma a iniciativa de construir um dos primeiros cemitérios paroquiais do país. Corria então o ano de 1855 e desde então, os muros e o espaço envolvente foram sendo preservados: em 1885 um emolumento funerário esculpido em pedra foi colocado junto ao portão, em 1886 foi construída a escada sul do cemitério; e em 1925 houve necessidade de grandes reparações neste espaço (escadarias interiores e argamassas).
A bênção do terreno foi efectuada à medida que o cemitério foi sendo ocupado, mantendo-se sempre um espaço para cadáveres não católicos. Com o aumento da população de Maças de Dona Maria, viu-se na contingência de encontrar alternativas para a expansão do velho cemitério, tendo-se optado pela construção de um novo, o que viria a acontecer cem anos depois, em 1955."
Breve história do Cemitério exibida em painel à entrada do mesmo.
Construído em 1855, o cemitério antigo de Maçãs de Dona Maria, em Alvaiázere, encontra-se localizado á entrada da Vila, do lado poente da Igreja Matriz ou Igreja Paroquial de São Paulo.
Possui vários jazigos e campas de pedra Ançã, Portunho e Lioz e ferro forjado, os jazigos localizam-se no lado direito do cemitério e as sepulturas rasas no lado esquerdo.
Planta quadrangular, foi construído em socalcos, num plano inclinado acompanhando o acentuado declive do terreno. O recinto é delimitado por altos muros caiados, com portão de acesso em ferro forjado.
Desactivado desde a década de 50 do século XX, o espaço já esteve, por diversas vezes, condenado, inclusive ameaças de demolição, a hipótese de se transformar em jardim também esteve em cima da mesa dos serviços urbanísticos camarários. Agora, pode ganhar vida com o projecto de recuperação e de musealização que a Junta de Freguesia está a desenvolver para o local, com o apoio da Al-Baiäz - Associação Defesa Património e da Câmara Municipal de Alvaiázere.
Em setembro de 2018 foi realizado um colóquio sobre práticas funerárias e atitudes perante a morte, que juntou investigadores de áreas como a arqueologia, história, arte e antropologia. Um dos primeiros pontos a resolver prende-se com a transladação das ossadas para o novo cemitério, independentemente dos jazigos históricos permanecerem todos ou não no antigo cemitério.
De entre os objectivos da iniciativa para a musealização do espaço estava a “sensibilização” da comunidade para “a importância da preservação do seu património funerário no ponto de vista sociológico e arquitectónico.
Tendo em conta que a população é muito sensível no que respeita às questões relacionadas com o futuro do antigo cemitério, o que não surpreende pois é la que se encontram sepultados os seus ancestrais e as pessoas pretendem respeitar a sua memória. Neste sentido o Presidente da Junta, Sr. Eduardo Laranjeira, reconheceu que este é um tema que mexe com a sensibilidade das pessoas, cujo feedback já tinha obtido quando se equacionava a sua demolição. Assim, a autarquia entendeu fazer um trabalho de “preparação” antes de avançar com o projecto a desenvolver. Para esse fim têm contribuídos os colóquios realizados ao longo do ultimo ano.
O facto de já não serem realizadas novas sepulturas no antigo cemitério levou a que a sua manutenção deixasse gradualmente de ser assegurada quer pelos familiares, quer principalmente pelos serviços públicos. Culminando para que se conjectura-se “um mau cartão de visita” pela sua “degradação”, uma vez que o espaço se encontra junto à entrada principal da localidade.
A gota d'agua foi uma derrocada de parte do muro que para alem do mau impacto a quem chega, reserva também algumas questões de falta de segurança.
Já para não falar dos mausoléus abertos deixando expostos aos olhares indiscretos os caixões que, pelo seu mau estado de conservação, deixam expostos também os seus conteúdos.
Das duas propostas sobre o futuro do cemitério, demolição ou recuperação. A demolição foi excluída por manifesta indignação pública, assim enveredou-se pela recuperar e valorizar, cuja obras de intervenção já decorrem há algum tempo, nomeadamente relativa à recuperação do muro e do portão de ferro oitocentista.
Numa segunda fase, foram recuperados os espaços interiores, os jardins, os mausoléus, as campas e jazigos, e a musealização do espaço, com a colocação das plataformas informativas com indicações históricas e de boas práticas para usufruir do espaço, o projecto do museu contou com a participação de uma instituição de ensino superior e a Al-Baiäz.
O Presidente da Al-Baiäz apoiou a iniciativa da Junta e da Câmara em preservar e musealizar o antigo cemitério. O cemitério está classificado como IM - Interesse Municipal desde 1997, por despacho do Ministério da Cultura.
INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
"Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
Mario Quintana
Fontes:
"Cemitério de Maças de dona Maria", Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, Lurdes Perdigão, 1998;
"Antigo cemitério em Alvaiázere vai ganhar vida com musealização", Jornal de Leiria, Texto de Maria Anabela Silva, setembro de 2018;
"Maçãs de D. Maria vai debater práticas funerárias", Artigo Terras de Sicó, março de 2018;
Crédito de Imagens:
Fotos reproduzidas e editadas do Grupo Genealogia das "Cinco Vilas", 2012-2014;
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