Foto: Mis Castillos, 2018
Situada no Norte do Concelho, a freguesia de Alvorge faz fronteira com as freguesias de Santiago da Guarda e Ansião, e com os Concelhos de Penela, Soure e Condeixa. Auto intitulada de "Vila", Alvorge integrou até 1853 o concelho do Rabaçal, até 1855 o concelho de Soure e desde então o concelho de Ansião, a sua paróquia dedicada à Nossa Senhora da Conceição, integra a Diocese de Coimbra, e pertenceu durante vários séculos à Universidade de Coimbra.
A região e a freguesia foram habitadas desde tempos imemoriais, como se comprova pela existência de muitos vestígios arqueológicos. Existe, por exemplo, um castro romanizado, em Trás de Figueiró. Ainda assim a primeira referência a Alvorge surge apenas em 1141 num documento, onde D. Afonso Henriques doa em testamento a herdade de Alvorge e a sua torre de origem romana, situada na Terra da Ladeia, ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
A Torre de defesa da Fonte do Alvorge, para além de proteger uma nascente, era também um importante equipamento militar de defesa da Ladeia, particularmente relevante no contexto da Reconquista Cristã, quando estava em causa a defesa da importante cidade de Coimbra.
O topónimo Alvorge significa "pequeno forte ou torrinha", remete para a ocupação árabe existente na região. A colonização cristã das terras da Ladeia, onde se inclui Alvorge, teve início com D. Afonso Henriques com o intuito de alargar fronteiras a sul. Para tal mandou construir, em 1142, o Castelo do Germanelo, na freguesia do Rabaçal, conferindo-lhe grandes privilégios através da atribuição de foral, hoje as suas ruínas são dignas de uma visita pois mantêm um troço do pano de muralha praticamente intacto.
Brasão de Armadas da freguesia de Alvorge
Armas: Escudo de ouro, torre quadrada de azul, aberta, iluminada e lavrada de prata; em chefe, cruz latina de vermelho. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: “ ALVORGE “. Heráldica - Wiki
Foto: SIPA.
A noroeste da povoação de Alvorge, na charneca próximo da estrada nacional de ligação a Coimbra, encontram-se as ruínas da "Torre da Ladeia", também conhecidas como "Torre ou Quinta de Alvorge" ou ainda Casa da Quinta da Ladeira".
O nome "Ladeira" aparece nesta região pela mãos dos cristãos, a quando da reconquista da região aos mouros, por volta do século XII, nomeadamente por representar, na época, uma região fronteiriça, palco de violentos combates, com a ladeia a mover-se constantemente, consoante os avanços e recuos das forças em batalha.
Foto: SIPA.
Com efeito, o principal objectivo da Torre era o de defesa militar, ainda que servisse também para defesa de uma boa fonte que ali existe, principalmente por não serem abundares as nascentes de água na região. A sua construção medieval terá assentado sobre uma construção romana ali existente, e foi muito importante na defesa da cidade de Coimbra durante o tempo da invasão cristã das terras a sul do Mondego até ao Tejo. Nas Memórias Paroquiais de 1758, existe uma referencia ao local na qual é evidenciada a existência de uma primitiva fortaleza romana, essa teoria ganha maior consistência quando se estabelece uma relação entre analogias e factos histórico-arqueológicos que permitem supor a existência dessas estruturas romanas. Também nas Memórias Paroquiais de 1758, é referida a existência de uma capela erigida pelo ano de 1693 e dedicada a Nossa Senhora do Pilar, hoje numa completa ruína assim como todo o complexo.
Foto: SIPA.
Por volta de 1129, Coimbra já pertencia ao reino de Portugal e d. Anfonso henriques a havia feito capital do reino. Por volta de 1135 D. Afonso Henriques construía o Castelo de Leiria, e poucos anos depois, dirigia já o fossado da Ladeia, entre 1136 e 1137, Fernão Peres Cativo, seu alferes-mor, inicia presúria, ocupação de terras através da captação e fixação de pessoas, povoamento da Ladeia.
Foto: SIPA.
Mais tarde, com a estabilização das fronteiras nacionais, a torre perde a sua função estratégica militar, sendo a sua estrutura adaptada para funções habitacionais. Em 1438 a torre está já associada à Quinta da Ladeia, e pertencia a uma nobre família, no tempo de D. Afonso V, é Senhor da Torre e Quinta da Ladeira, Pedro Guerra, filho de Fernão da Guerra e neto de Dom Pedro da Guerra, por sua vez filho do Infante Dom João, neto de Dom Pedro I e de Dona Inês de Castro.
Foto: SIPA.
Em 1630 a propriedade pertencia ainda a descendentes dos "Guerra", era Senhora desta Quinta, Dona Luísa da Guerra que casa nesta data com João Rodrigues de Figueiredo, de Condeixa-a-Nova, fidalgo do Duque de Bragança. Em 1670 o filho destes casa com Dona Filipa Carneiro de Sottomayor, e o seu primogénito é baptizado de Belchior Carneiro Sottomayor de Figueiredo da Guerra.
A construção da capela partiu da iniciativa de Dona Filipa e seu marido, todavia, esta havia de ser concluída em 1698 pelo seu filho, então casado com Dona Francisca Luisa Pereira de Sampaio, foi por eles colocados o brasão de armas "Carneiro Figueiredo" no frontispício da Capela, assim como no portal.
Foto: SIPA.
Por testamento, Dona Filipa pede que seja sepultada na sua capela, ela viria a morrer em 1707, sem que no entanto haja informação condizente com o seu desejo. A neta de Dona Filipa casa com Pedro José de Salazar Jordão da Cunha de Eça e passam a ser senhores da casa pela morte de Belchior Carneiro Sottomayor de Figueiredo da Guerra. Em 1795, é senhor desta casa José de Figueiredo de Guerra, a casa ainda se encontra na posse da família.
Foto: SIPA.
Esta sequência haveria de ser quebrada em 1857, quando a casa é vendida ao Dr. Adriano Augusto Lopes Vieira, e a outros dois proprietários de Alvorge. Esta transacção estará na origem do declínio da quinta, a capela ainda estaria intacta no inicio do século XX, anos mais tarde a imagem de Nossa Senhora do Pilar, padroeira da capela, recolhe à Quinta de São Tomé em Condeixa-a-Nova, carecem de confirmação memórias de que esta capela celebrava ainda o culto em meados do século XX.
Foto: SIPA.
As ruínas hoje existentes, destacam duas construções de épocas diferentes: uma de arquitectura residencial do século XV, relativas a um solar e outra de arquitectura religiosos do século XVII, relativa a uma capela e que melhor se encontra preservada.
De planta rectangular e orientado para oeste, do solar os vestígios já pouco mostram para alem da configuração das fundações e algumas divisões da casa, devido ao estado evoluído de ruína.
Em relação à capela privada, sabemos que apresentava uma só nave e capela-mor, a zona do altar era coberta por uma cúpula, no exterior, existe uma escadaria de dois lanços opostos que convergia para um patamar de acesso à capela, que se fazia por uma larga porta rectangular. O frontispício é encimado pelo brasão, sobrepujado por óculo redondo. São evidentes ainda ligações directas do corpo da capela a alguns espaços reservados à habitação. Voltado a nascente, encontra-se um prédio alto com piso poligonal irregular, que fica a paredes meias com a capela, a torre da Ladeia, aquando da reedificação de todo o alcácer, em 1683, faz-se demolir o terceiro andar do torreão, ficando este reduzido a dois, com tecto em cúpula piramidal, ficando toda a área habitacional com um pavimento único.
Foto: SIPA.
Fontes:
"Torre da Ladeia / Casa da Quinta da Ladeia", Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, Lurdes Perdigão, 2000;
Arquivo Digital: Câmara Municipal de Ansião;
Arquivo Digital: Câmara Municipal de Ansião;
Blog: Viajando no Tempo;
Blog: Quintaisisa;
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