terça-feira, 16 de julho de 2019

Antiga Cadeia da Anadia do Arquitecto Adães Bermudes(Extinta)

Anadia é uma jovem cidade do distrito e diocese de Aveiro, região Centro e sub-região Região de Aveiro. Anadia situa-se aproximadamente a meio caminho entre as cidades de Aveiro e Coimbra.
É comarca e sede de um município subdividido em 10 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Águeda, a leste por Mortágua, a sul pela Mealhada, a sul e oeste por Cantanhede e a noroeste por Oliveira do Bairro.
Apesar de muito mal documentada, existem vestígios da presença humano no concelho no período Paleolítico (Monte Crasto – Anadia, Carvalhais e Vila Nova de Monsarros), ao Neolítico (Moita) e à Idade do Ferro (Monte Crasto – Anadia).
Quanto à presença romana, têm sido detectada um pouco por toda a área do concelho, para além dos numerosos vestígios de cerâmica de cobertura doméstica, torna-se imperativo aludir à estrada que unia Olissipo (Lisboa) a Cale (Porto), e que percorria esta região, num traçado que continua a suscitar novas investigações e teorias.
Do século XII ao século XVI a Anadia pertenceu ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, passando para a Universidade de Coimbra no reinado de D. João III e este na sua posse até às lutas liberais. O concelho recebeu foral de D. Manuel I em 1514 e em 1863 passou a se de do concelho, o actual município foi criado em 1839 pela fusão de vários concelhos, tendo a vila sido elevada a cidade em 9 de dezembro de 2004.
As suas caves são das mais afamadas do País quanto à produção de espumantes naturais do tipo champanhes, região da Bairrada. São também importantes fontes de economia a criação de gado suíno, centro minério de manganés e carvão e ainda a actividade turística.
Brasão do Município de Anadia
Escudo de negro, uma vide arrancada de prata, com dois ramos passados em aspa, folhados de verde e frutados de dois cachos de uvas púrpura, um à dextra e outro à sinistra. Coroa mural de prata, de cinco torres. Listel branco com a legenda “Anadia”, a negro.
O centro histórico da Anadia é marcado pela pela Praça Visconde Seabra e Praça do Município, em tempos foram separadas por uma rua, mas hoje estão unificadas, por tal, torna difícil estabelecer a sua separação. Na Praça do Município aparece ao fundo a Câmara Municipal e o edifício da Cadeia da Comarca e e na Praça Visconde Seabra localiza-se o Palácio da Justiça. Esta praça teve diversas designações desde praça da República a Largo Cândido dos Reis, até à actual denominação Visconde Seabra.
As alterações levadas a cabo pelos diferentes órgãos de gestão, imprimiram profundas transformações nestas duas praças. Actualmente o enorme jardim público, que outrora foi um imenso espaço verde e colorido, é um local empedrado com alguns repuxos e com um relvado à sua volta.

No inicio do século XX,  houve uma transformação no conceito de  prisão,  dentro do novo entendimento,  vindo a aproximar-se do conceito de "colónia"  e tanto o edifico como a noção se mostraram-se estimulantes.   Neste sentido, a necessidade da construção de novos e modernos edifício era uma necessidade para as autoridades municipais, confrontadas com a falta de condições na antiga cadeia, assim, em 1903, Anadia convida o Arquitecto Adães Bermudes para elabora um projecto que respondesse às novas necessidades da  Cadeia da Comarca. 
O projecto havia de ter sido tão bem sucedido que também a Comarca de Sintra se adianta a encomendar um projecto com os mesmo princípios e volumetrias para a Cadeia da sua Comarca.

Adães Bermudes consegue dar resposta às novas exigências de higiene e de dignidade humana, adoptando para as zonas de celas, um hexágono, cujo espaço central era coberto e onde os reclusos desenvolviam as suas actividades durante o dia, em torno do qual se inscrevem celas individuais, dotadas de sanitas e chuveiro. Para além disso, havia uma clara separação de sexos, ocupando os homens o piso térreo e as mulheres o andar superior. A vigilância podia ser feita por um único Guarda Prisional, sem ser visto e sem utilizar qualquer meio repressivo tradicional, através de um sistema de gelosias, que possibilitava um raio de visibilidade sobre a totalidade da área prisional.

Assim o edifício que a colheu a prisão do Concelho e da Comarca da Anadia, projectado por Adães Bermudes e que serviu a comarca durante a primeira metade do século XX, foi concluída em 1906. Este edifício, localizava-se a "paredes-meias" com o Paços do Concelho, onde hoje temos o entroncamento ou intercepção das Rua Padre Américo e Rua Mercado e uma pequena praça com jardim e bancos. 

O edifício acastelado, apresenta uma planta hexagonal distribuída por três pisos,  exibindo uma arquitectura revivalista ao gosto manuelino. Ao grade edifício hexagonal, o arquitecto Adães Bermudes juntou uma extensão que permitiu efectuar a ligação com o corpo  do Paço do Concelho, nesta entrada adossavan-se as escadarias de acesso ao piso superior.
A Planta centralizada, de volume único e com cobertura em terraço e em telhado de quatro águas, de telha tipo Marselha. Fachadas rebocadas e pintadas, rasgadas por janelas com caixilharias de madeira pintada, com uma folha na cela e duas nas dependências da guarda, as primeiras protegidas por grades. Fachada principal com porta de verga, protegida por portões de ferro. A cobertura no interior era revestida de madeira e abobadilhas, paredes rebocadas e pintadas e pavimento em soalho nas celas e em betonilha de cimento nas demais dependências. A circulação processa-se por escadas do mesmo material, iluminadas por lanternim com vidros; entre o segundo piso e o terraço, existe uma escada de ferro, em caracol. As dependências possuem portas de madeira.
O aspecto romântico provavelmente inspirou em imagens idealizadas de castelos medievais, evidente no coroamento sistemático dos alçados com merlões e guaritas nos ângulos, a que se associam bandas lombardas. 
Outros aspectos arquitectónicos a retirar, é a conjunção dos elementos de defesa militares com outras marcas do manuelino  apresentado nos arcos as janelas e portas dos vãos das fachadas. A arquitectura ao gosto neomanuelino é talvez o elemento mais interessante na concepção do edifício, e que de alguma forma conjuga bem com a finalidade do mesmo, por representar de forma irrepressível a melhor ligação entre a arquitectura civil e a arquitectura militar.   por este estilo arquitectónico  


De facto este acabaria pro ser demolido em 1968 de forma a permitir o novo acesso ao Mercado Municipal, construído também na década de 60, entretanto também ele demolido.
O novo edifício da Cadeia da Comarca foi concluído em 1968, poucos anos depois, em 1973 a Comarca passou a ser servida pelo Estabelecimento Prisional Regional de Aveiro e em 2003 é anulada a protecção e ónus que afectavam o então edifício da cadeia da Anadia.


Arnaldo Redondo Adães Bermudes(1864-1948):


Arnaldo Redondo Adães Bermudes nasceu em Santo Ildefonso, no Porto, a 1 de Outubro de 1864. Era filho de Félix Redondo Adães Bermudes e de Cesina Romana Bermudes, um casal galego residente na cidade.
Frequentou a Academia Portuense de Belas Artes entre 1880 e 1886, onde foi discípulo de José Geraldo da Silva Sardinha, embora tenha concluído o curso na Escola de Belas-Artes de Lisboa.
Em 1888 obteve uma bolsa que lhe permitiu aperfeiçoar os estudos em França com o mestre Pierre Blondel (1847-1897).
No regressou a Portugal, em 1894, iniciou a carreira de arquiteto. Nesse ano perdeu o concurso para o monumento ao Infante D. Henrique, no Porto, mas a sua qualidade ficou patente na obtenção da 2ª Medalha na Exposição do Grémio Artístico de Lisboa.

Durante a sua carreira exerceu diversos cargos na Função Pública. Foi adjunto na Direção-Geral de Instrução Pública (1899), responsável por projetos de construção de estabelecimentos escolares, diretor das Construções Escolares da Direção-Geral do Ministério do Reino (1901-1906), secretário da Comissão de Estudo das Construções nas Regiões Sísmicas (1909), vogal do Conselho de Arte e Arqueologia (1911), vogal do Conselho Superior de Instrução Pública (1911), secretário da Comissão dos Monumentos Nacionais (1911), chefe da 3.ª Repartição da Direção-Geral de Belas-Artes do Ministério da Instrução Pública (1926) e diretor dos Monumentos Nacionais, no Ministério do Comércio e Comunicações (1929-1933).

Entre 1917 e 1933, a par das atividades artísticas e da atividade na função pública, lecionou na Escola de Belas-Artes de Lisboa as cadeiras de Construção e Resistência dos Materiais, de Geometria Descritiva e Perspetiva, participou na vida política da capital, colaborou em publicações periódicas de áreas da sua especialidade no "Anuário da Sociedade dos Arquitectos Portugueses", "A Construção", "Boletim da Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses" e "Arquitectura Portuguesa", participou em congressos e comissões em representação dos arquitetos portugueses (nos VI, VII, VIII e IX congressos internacionais de arquitetos - em Madrid (1904), em Londres (1906), em Viena (1908) e em Roma (1911) - e foi membro da Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses, da Sociedade dos Arquitetos Portugueses, da Sociedade Nacional de Belas-Artes, do Royal Institut of Brithish Architects, da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses, assim como da Sociedade dos Arquitectos da Argentina e do Uruguai.

Na sua eclética obra arquitetónica, na qual se misturam referências aos estilos manuelino e barroco, à Arte Nova e ao Design Moderno, podem destacar-se: o projeto-modelo para a construção de 184 escolas (1902-1912); a Escola Central Primária de Santa Cruz, em Coimbra (1905-1907); o Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, na Tapada da Ajuda (1910); a Escola Normal de Lisboa, em Benfica (1913), atual Escola Superior de Educação de Lisboa; os hospitais da Covilhã e de Oleiros; as agências do Banco de Portugal, em Coimbra, em Bragança, em Viseu, em Faro, em Évora e em Vila Real; as cadeias de Anadia e de Sintra; as igrejas de Espinho e de Amorim; o Hotel Astória, em Coimbra; o Cemitério do Alto de S. João e o palacete do Conde de Agrolongo, em Lisboa.
Adães Bermudes participou, também, em projetos de restauro e conservação de emblemáticos monumentos nacionais, como os palácios de Mafra, de Sintra e de Queluz, a igreja do Mosteiro dos Jerónimos e o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Foi autor do projeto vencedor do concurso para o Monumento o Marquês de Pombal em Lisboa, em parceria com António C. Abreu e o escultor Francisco dos Santos.

Ganhou o Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura em 1908, pela primeira vez atribuído a um edifício de rendimento, que faz gaveto na Avenida Almirante Reis, e uma Menção Honrosa (1909), no mesmo concurso, com o Palacete na Rua do Sacramento, do Conde de Agrolongo. Em 1900 fora premiado na Exposição Universal de Paris.
Casou com Albertina Bermudes de quem teve o filho Jorge, que seguiu a profissão do pai.
Adães Bermudes, arquiteto, homem de cultura republicano e maçon morreu a 18 de Fevereiro de 1948, em Paiões, Sintra. 
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2010) - Transcrição da U. Porto

Fontes:
"Cadeia da Comarca de Sintra", Mariana Carrolo, 2012;

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