Foto: SIPA, 2006.
O Paço de Dona Loba Mendez é um edifício medieval, originalmente construído para habitação, apesar de possuir características de fortaleza e por isso tipificada como casa-forte medieval, é o único do género na região da "Rota do Românico" e provavelmente no país, preservando as características originais.
Foto: Rota do Românico, 2017.
A sua construção remonta ao século XII e como o próprio nome indica, terá servido como residência de Dona Loba Mendez, filha de Mem de Gonar, que casara Diogo Bravo de Riba de Minho. Esta informação constar num parágrafo das cronicas de D. Pedro II pela autoria do Padre António Carvalho da Costa(1706), que a determinado momento diz que "Aqui no lugar de Mór Milheiro está uma Torre, aonde dizem morava Dona Loba Mendez, filha de Dom Mem de Gundar, & mulher que foy de Diogo Bravo de Ribeira de Minho."
Foto: Rota do Românico, 2017.
Também Craesbeek (1726) nas "Memórias Ressuscitadas da Província de Entre-Douro-e-Minho" sugere que esta Dona Loba, a que pertenceu o paço, é a mesma que pertenceu a uma nobre linhagem desta zona nos séculos XII-XIII de seu nome Dona Loba Mendez de Gundar associada à lenda de S. Gonçalo, tese com alguma fundamentação.
Foto: Geocaching(Prodrive), 2018
Não existem referencias nem vestígios que permitam a localização do paço de Mem de Gundar, já em relação ao da sua filha Dona Loba Mendez, sabemos pela ruína e pelos registos que o paço se localiza sobre um outeiro no lugar de “Mor Milheiro”, pertencente à freguesia de Padronelo, à época integrada na domínio da freguesia de Gundar. A construção implanta-se de encontro à encosta, dominando um amplo vale, em socalcos, ao longo do rio Mendes (esta designação deriva do sobrenome de D. Loba – “Mendes”).
"Mor Milheiro" ou "Mormilheiro", topónimo alusivo à cultura do milho em terras de "Gundar", aparece mencionada em várias abordagem ao local onde se localiza a torre, a justificação para associação do lugar de Mormilheiro à localidade de Gondar, aparece nas Inquirições de 1220 (D. Afonso II) onde Padronelo ainda não era freguesia, deduzindo que o Paço de Dona Loba se localizava em Gundar e não em Padronelo, uma vez que este lugar não era referencia se não para mencionar a existência de um templo religioso, e que o território sob o domínio de Mem Gundar ia muito além dos limites da actual freguesia de Gondar.
Brasão da Freguesia de Gondar
Armas - Escudo de prata, com banda de azul carregada de uma flor-de-lis de ouro, em pala, entre duas vieiras do mesmo, postas no sentido da banda, acompanhadas por bilha de negro e roda de moinho de verde; campanha de burelas ondadas de azul e prata. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro em maiúsculas : “ GONDAR - AMARANTE “
A freguesia de Gondar pertenceu até 1836 ao concelho de Gestaçô data apartir da qual foi integrado no concelho de Amarante. A freguesia histórica de Gondar localiza-se na margem esquerda de uma ribeira(Rio Mendes) afluente do rio Tâmega, da sua história pouco se sabe, para alem do que os monumentos contam. E ainda que inicialmente denominada de "Gundar", terá sido fundada por D. Mem Gundar, um fidalgo e cavaleiro natural das Astúrias(Oviedo) e da qual veio a ser senhor. Veio para Portugal com o Conde Henrique de Borgonha, conde de Portucale, combater os Mouros ao serviço de D. Teresa. Além de ter sido Senhor de Gondar foi-o também de São Salvador de Lafões, fundou o Mosteiro de Gondar de monjas bentas, extinto em 1418. Faleceu anos mais tarde e foi sepultado na Igreja de Telões. A sua vida deu origem a uma lenda escrita por Frei Luís de Sousa no século XVII.
Foto: Rota do Românico, 2017.
Dona Loba Mendez, filha do nobre cavaleiro D. Mem Gundar, para alem dos bens, pois era uma senhora rica como se pode adivinhar pela imponência do seu paço, do pai terá herdado também nobres qualidades, de entre as quais piedade e generosidade. Consta-se que para alem de ter colaborado na construção de uma primitiva ermida erguida pelo beato Gonçalo de Amarante no início do século XIII e na Ponte de São Gonçalo, que terá na origem da "Lenda dos Bois", ao primitivo convento terá deixado também muitas rendas.
Imagem:Reconstituição do Paço publicada no JN de 18/10/2011, reproduzida de Hélder Barros.
Em relação ao Paço, de acordo com o que foi possível apurar, trata-se de uma obra de arquitectura civil medieval ao gosto românico, não excluindo a possibilidade de ter desempenhado simultaneamente funções militares, a robustez da construção e a época e sua localização, a linhagem dos Gundares (cavaleiros) e o topónimo “Lugar daTorre”, apontam para essa possibilidade. Alguns autores defendem que as características do piso térreo parecem induzir também para uma possível função alfandegária sobre os produtos que pro ali passavam.
Imagem:Reconstituição do Paço publicada no JN de 18/10/2011, reproduzida de Hélder Barros.
Todavia, estabelecendo uma analogia comparativa entre as ruínas existentes e outros edifícios equiparados da mesma época, podemos deduzir que a austeridade que o edifício torre apresenta, é apenas simbolismo do poder senhorial sobre o território e nada tem haver com funções propriamente defensivas, do ponto de vista militar. No que respeita as funções alfandegárias, o edifício tem uma boa implantação estratégica sobre o rio e os vales adjacentes por onde eram eram estabelecidas importantes passagens mediavas entre Amarante, Vila Real, Mesão Frio e Marco de Canavezes.
O paço apresenta uma planta rectangular de massa simples com fachadas em silharia de granito, de razoáveis dimensões. A fachada principal é rasgada por vão com porta larga em arco quebrado(apontado) e possui vários cachorros, possivelmente para sustentação de um alpendre ou balcões bem ao gosto medieval, provavelmente em madeira, já desaparecido. Também no interior existem vários cachorros ou modilhões que constituíam os apoios dos vigamentos do segundo piso ou, porventura mais certo, de três arcos que elevariam o pé-alto do primeiro e sustentavam o segundo piso. Poderia ainda existir um terceiro piso que, certamente, seria rodeado de ameias no topo.
O edifício encontra-se em ruína já desde o século XIX, eventualmente no seguimento da presença das tropas francesas, causadores de várias destruições na povoação e em outras a quando da sua passagem. O que resta da construção, ainda que em avançado estado de ruína, permite-nos conjeturar sobre a estrutura original do edifício. Pela dimensão do piso existente e a robustez das suas paredes, este teria certamente mais um ou dois pisos. O acesso interior aos diferentes pisos era, normalmente, assegurado por feito por escadas de madeira, razão pela qual não existem vestígios da sua existência, nem no piso térreo.
A estranha singularidade da ruína medieval e a falta de informação documental não permitiu, até à pouco tempo, grandes estudos e publicações sobre interpretações da sua arquitectura. O facto de o imóvel pertencer a particulares também não contribuiu para que se pudesse explora e estudar no ponto de vista arqueológico.
A compra do edifício por parte da Câmara de Amarante permitirá agora que se iniciem trabalhos de estudos dobre o imóvel. Com efeito estima-se que até 2020 o Paço da Loba seja alvo de um conjunto de estudos com vista à sua conservação e valorização patrimonial. Estas açcões são consideradas como fundamentais para a sua integração no grande projecto turístico a "Rota do Românico", que integra os vales do Sousa, Douro e Tâmega.
Foto: Pedro Ribeiro, 2017.
Classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 95/78, de 12-09-1978, o Paço de Dona Loba é uma construção medieval de gosto românico que continua à espera de respostas dos estudos arqueológicos que ajudem a desvendar o enigma do insólito edifício de Padronelo
A Lenda dos Bois de Dona Loba:
Paço de Dona Loba, desenho de João de Almeida em "O Minho Pittoresco", século XIX.
Por volta do século XII, Frei Gonçalo andava atarefado na construção da sua ponte sobre o Tâmega, local onde existiria já uma antiga ponte romana então substituída. Numa época em que todo o trabalho era manual, os trabalhos mais pesados como o transporte das pedras, era assegurado pela ajuda da tracção animal, os bois eram muito apreciados para este serviço pela força que possuíam. As juntas de bois eram atreladas às zorras, onde eram carregadas as pedras, e estes efectuavam o seu transporte das pedreiras até à obra.
Frei Gonçalo era conhecedor que nas proximidades, em Mormilheiro, na freguesia de Padronelo, habitava uma senhora fidalga, de seu nome Dona Loba, que possuía uma grande propriedade e grandes manadas de gado, que lhe poderiam ser úteis no transporte das pedras, pois tinha grande urgência em concluir a obra, a passagem não podia ficar obstruída durante muito tempo.
Com o intuito de apelar à bondade da Senhora, conhecedor da sua generosidade e também do seu mau temperamento, dirigiu-se ao seu Paço, humildemente agitando o batente dos grandes da torre. Informada da sua presença Dona Loba, mandou-o entrar e, sem mais demoras, quis saber a que se devia tão inesperada visita.
Adiantando-se, Frei Gonçalo pô-la ao corrente do atraso da construção da ponte e que este comprometia o normal funcionamento das vias por interromper durante demasiado tempo a sua ligação. Acabando por lhe pedir algumas juntas de bois com a finalidade de transportarem a preciosa pedra para a sua obra arquitectónica.
Sensibilizada para o problema, a fidalga mostrando-se disponível para colaborar, mas receosa que o Frei não consiga domesticar os animais, que nunca foram utilizados na lavoura e portanto não estavam domesticados. Acrescentando que seria uma "missão" muito difícil, considerando inclusivamente, impossível colocá-los no carro, pois os animais eram muito bravos, para a execução da tarefa pretendida.
Percebendo o problema, Frei Gonçalo olhando à volta pediu uma estriga de linho a uma mulher que ali estava a fiar, que, depois de ser entregue, foi transformada numa corda. Dirigiu-se aos bois, chamou-os e jungiu-os como se mansos fossem, na presença da fidalga e de alguns seus criados que ficaram atónitos com aquilo.
Depois de os domar e os ter utilizado, dirige-se novamente à propriedade da fidalga com o intuito de devolver os animais e demonstrar a sua eterna gratidão. Chegado à Torre foi novamente muito bem recebido. Reconhecido pelo favor, Frei Gonçalo pergunta a Dona Loba como quer a Senhora receber os bois, se bravos e cevados como eram ou logo domados e magros como se apresentam agora.
A fidalga, percebendo que os animais foram sujeitos a grandes esforços aos quais não estavam habituados e por reconhecer prejuízo no seu emagrecimento, sem grandes excitações pede que estes sejam entregues tais como eram antes.
No entanto, com a questão, Frei Gonçalo pretendia apenas saber se a fidalga pretendia ou não beneficiar do encantamento dos animais no futuro, utilizando-os nos trabalhos forçados do campo e nada poderia fazer em relação à sua engorda.
Assim, Frei Gonçalo devolveu os animais ao campo, entregou a corda nas mãos da Dona Loba que se transformou numa estriga de linho, e os animais voltaram a tornar-se selvagens .
Fontes:
"Paço de Dona Loba", Sistemas de informação para o Património Arquitectónico, texto de Sónia Basto, 2007;
"Paço de Dona Loba" Direcção Geral do Património Cultural, texto de Florbela Bendes Morgado, 2007;
"Paço de Dona Loba em estudo", Artigo da Câmara Municipal de Amarante, março de 2017;
“Lendas de São Gonçalo de Amarante”, António Patrício, Paróquia de São Gonçalo, 2009;
"História Antiga e Moderna da Semper leal e Antiquissima Villa de Amarante, por P. F. e A. C. de M, 1814;
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