Imagem: Perdidos & Abandonados, 2017
A Amadora é uma jovem cidade portuguesa pertencente ao distrito e área metropolitana de Lisboa. É sede de um dos mais pequenos municípios de Portugal e ao mesmo tempo o mais densamente povoado e a quarta cidade mais populosa do país, composto por seis freguesias. O município é limitado a nordeste pelo município de Odivelas, a sueste por Lisboa, a sul e oeste por Oeiras e a oeste e norte por Sintra.
A povoação do território remonta ao período pré-histórica, no entanto, a cidade da Amadora constituiu-se em torno do lugar da Porcalhota, servida pela Capela de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, sede de irmandade própria que dispunha de avultados bens. Integrou a freguesia de Carnaxide e o concelho de Oeiras durante o século XIX e XX, fo elevada a freguesia independente em 1936 e a vila no ano seguinte. Em 1979, é elevada a cidade e passa a dispor de município próprio pelo seu desenvolvimento demográfico.
Brasão do Município da Amadora
Armas: Campo de verde, tendo em faixa um aqueduto de 3 arcos, de prata, lavrada de negro.
Em chefe, manga de vento enfunada de prata, posta em banda, colocada à dextra, com haste e rolamentos de ouro e ferros de negro; brocante sobre esta e colocada à sinistra, hélice de avião com cubo de vermelho e 2 pás de ouro, posta em contrabanda, com cores e metais entrecambados.
Em contrachefe, romãzeiro de 3 ramos, arrancado, florido e frutado de ouro, com bagas de fruto vermelho. Coroa mural de 5 torres de prata.
Desde a revolução industrial, que em Portugal não se fez notar tanto como nos grandes países da Europa, que a periferia de Lisboa se tornou muito atractiva para se instalarem as pequenas industrias imergente, com o intuito de reduzir o investimento inicial no que respeita às instalações, até porque o espaço em Lisboa escasseava. Assim, ainda antes do grande desenvolvimento de Amadora nos meados do século XX, consequência do aparecimento do comboio, já a indústria se tinha instalado neste território, essencialmente na Amadora e na Porcalhota, ampliando graduadamente a mancha urbana.
Imagem:Pintura da Fábrica, espólio da Fundação d'Ávila
Com um espírito empreendedor, Diogo d’Ávila, natural de Lisboa, filho de um Segurador bem sucedido, que não quis ingressar no ensino superior, desde muito sedo se dedicou ao mundo dos negócios. Era ainda jovem quando, a 23 de Setembro de 1923, numa antiga capela pertencente à família da sua mulher, iniciou a sua actividade industrial, apenas com dois trabalhadores, no Bairro Alto, em Lisboa, e produziu fios para automóveis. evoluindo para a produção de fio e cabos eléctricos, que lhe valeu o titulo de pioneiro nesta industria em Portugal, numa altura crucial da implementação da rede eléctrica no país.
Imagem: Recorte reproduzido de Stadium, n.º161, Janeiro de 1946.
Começou com a actividade em nome individual e em 1944 funda uma sociedade por quotas denominada Fabrica de Condutores Eléctricos Diogo d'Ávila Lda., na qual integra os seus filhos Manuel Diogo e Jorge Manuel como sócios. Estava criada a primeira empresa de condutores eléctricos, a maior, a mais prestigiada no seu sector. Mais tarde passou para o Dafundo e em 1949 transfere as instalações para a Portela da Ajuda, na Estrada Ajuda-Queluz onde onde a empresa se expandiu em dimensão e tecnologia.
Foto: Estrada Cabos d'Ávila, a torre do relógio ao fundo, 1961.
Autor:Arnaldo Madureira em Arquivo Fotográfico da CML
Em 1952 são construção mais instalações da Fábrica de Cabos Eléctricos Diogo d’Ávila em Alfragide, dando nome aquela que ainda hoje é conhecida por "recta dos Cabos d’Avila", esta zona que ainda hoje se encontra em crescimento.
A opção por um terreno organizado num eixo longitudinal junto a uma importante via de saída de Lisboa corresponde a um período de ampliação e afirmação económica desta fábrica de cabos eléctricos.
Projectado pelo arquitecto Edmundo Tavares, o edifício de arquitectura moderna e características marcadamente industriais, possuía uma grande torre do relógio, importante para a realização das experiências das suspensões dos cabos, para a sua experimentação.
Foto: Reproduzida de Citizem Grave para quase todos, 2012.
Pioneira na actividade e na vanguarda da tecnologia em Portugal, a empresa foi projectada pela grande fase da industrialização associada à electricidade. Esta unidade fabril não se impõe nem procura uma consonância com os novos valores estéticos de uma arquitectura modernista que de algum modo propagasse e anunciasse essa nova era mental e comportamental.
Foto: Rui Teodósio, 2012
O arrojada edifício apresenta uma planta poligonal longitudinal de três corpos rectangulares, de três e dois pisos e de uma torre, que acompanham o declive do terreno, com cobertura maioritariamente em terraço,(com excreção do volume de depois pisos que apresenta telhado de quatro aguas), e cuja fachada é marcada por linhas geométricas cuja modelação ritmada acompanha os vãos das janelas.
Foto: Rui Teodósio, 2012.
O vasto recinto industrial integra corpos vários para distintas funções produtivas ou administrativas com recorrência, na sua maioria, a modelos clássicos de construção industrial. É no edifício de análises químicas que o arquitecto Edmundo Tavares assume algum arrojo linguístico quando projecta a torre encimada por relógio.
Foto: Rui Teodósio, 2012.
Os dois volumes verticais, vão de escadas e a torre, cuja fachada é preenchida por enormes grelhas que permitem a entrada de grandes quantidades de luz natural, equilibram o peso deste maciço horizontal interceptado por estas linhas verticais, adivinhando os princípios de alguma modernidade plástica.
Foto: Rui Teodósio, 2012.
Com a morte de Diogo d'Ávila em 1962, os dos dois filhos tomar as rédeas do negócio ficando a a cargo de Manuel Diogo o sector de produção até ao ano de dia morte em 1992. Perante a classe operária Manuel Diogo d'Ávila não deixou uma memoria muito abonatória na história da empresa, pela frieza com que despedia e sobretudo pelos baixos salários que praticava.
Foto: Rui Teodósio, 2012.
O edifício cessou a sua laboração em 1997, ficando devoluto, desde então, tendo sido parcialmente demolido em 2004. Em 2008 a Câmara Municipal da Amadora determinou a abertura do procedimento de classificação como de Interesse Municipal, cuja classificação é aprovada em abril de 2017. A ruína esta classificada no IGESPAR como "Património Industrial da Arquitectura Industrial Moderna (1925-1965), uma classificação que não protege o edifício.
De acordo com uma noticia do Público de dezembro de 2018, a marca de decoração e mobiliário Kinda Home vai abrir uma loja nos terrenos da fábrica, cujo projecto prevê a preservação da emblemática torre, assim como o edifício adossado, vão ser integrados na nova construção. A conclusão do projecto está prevista para o finas deste ano.
Arquitecto Edmundo Tavares (1892-1983):
Edmundo Tavares nasceu em Oeiras a 8 de fevereiro de 1892 e foi um professor e arquitecto, discípulo de José Luís Monteiro, fez o Curso Especial de Arquitectura Civil da Escola de Belas Artes de Lisboa entre 1903 e 1913, foi premiado em várias Exposições de trabalhos na SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes e me diversas Exposições regionais do País, de entre eles a exposição de “casas de estilização portuguesa” de 1915; foi premiado com várias medalhas de bronze e prata, no final do curso com o prémio da mais alta classificação de todos os cursos leccionados naquela escola.
Recebeu terceira classificação no concurso do monumento ao Marquês de Pombal (1913); terceiro preiado nos concursos para os edifícios dos Paços do Concelho de Guimarães e do Porto (1916) e para o do Liceu Dr. Júlio Henriques, de Coimbra; galardoado com o prémio do concurso de pensionistas arquitectos no estrangeiro – legado Valmor em Paris (1919) e Roma (1922); terceiro premiado no concurso para a construção do Liceu Dr. Júlio Henriques, em Coimbra (1930).
Foi arquitecto das Câmaras de Lisboa desde 1914 e da Figueira da Foz a partir de 1939, trabalhando, sempre, paralelamente exerceu a sua profissão no Continente e na Ilha da Madeira, sendo da sua autoria vários projectos de edifícios importantes da cidade do Funchal, como o Liceu Jaime Moniz, o Mercado dos Lavradores e a Agência do Banco de Portugal.
No Ensino Técnico Profissional desempenhou o cargo de Professor e Director da Escola Industrial e Comercial de Tomás Bordalo Pinheiro, da Figueira da Foz(1939), é de sua autoria o projecto do novo edifício deste estabelecimento de ensino; Professor agregado da Escola Industrial e Comercial de Pedro Nunes, em Águeda(1945); Professor efectivo da Escola Industrial e Comercial de António Augusto de Aguiar, no Funchal(1932); da Escola Industrial e Comercial de Brotero, em Coimbra, a cujo corpo docente pertenceu(1950); e Director da Escola Machado de Castro em Lisboa(1955). Faleceu a 9 de Abril de 1983.
Empresário Diogo Eduardo Borges d’Almeida d’Avila (1891-1962):
Diogo Eduardo Borges d’Almeida d’Avila nasceu em Lisboa a 13 de Outubro de 1891. Estudou no antigo Liceu da Lapa e não segui o ensino superior. Filho do Director da Companhia de Seguros Probidade, ingressou na companhia onde colaborou com o pai. Em 1919 cria a sua primeira, teve como sócio Filipe Moreira, seu cunhado, dedicando-lhe todo o tempo disponível, para além do seu trabalho na Seguradora TAGUS, convite que aceitara cerca de um ano depois da entrada na Probidade. Haveria de participar mais tarde, como sócio, na Samaral, Lda., onde trabalhava Filipe Moreira.
Por sua iniciativa a Samaral, Lda., funda a Companhia Comercial de Máquinas, Lda. Nesta nova empresa, criou uma secção de cobertura têxtil de condutores eléctricos, os quais, importados da Bélgica. Assim desenvolvendo o seu espírito empreendedor, que se deram os primeiros passos em Portugal para a Indústria dos Condutores Eléctricos, de energia e telecomunicações. Durante a Primeira Guerra (1914-1918) vende o negócio a um novo investidor, no entanto, conhecendo da importância que viria a ter a electricidade, compra as máquinas da secção que criara na Companhia Comercial de Máquinas.
Em 23 de Setembro de 1923, numa antiga capela retirada ao culto, propriedade de sua mulher, iniciou a sua carreira de industrial, desta vez em nome individual, que lhe havia de trazer o justo título de pioneiro na Indústria de Cabos Eléctricos, a Fábrica de Condutores Eléctricos Diogo d’Avila. Em 1944 viria a transformar-se em sociedade por quotas, integrando nela seus filhos Manuel Diogo e Jorge Manuel. Estava criada a primeira empresa de condutores electricos, a maior, a mais prestigiada no seu sector.
Faleceu a 12 de Agosto de 1962, vítima de enfarte.
Fontes:
"Fábrica de Cabos Eléctricos Diogo de Ávila / Edifício Torreado da Fábrica dos Cabos de Ávila", Direcção Geral do Património Cultural, texto de Deolinda Folgado(Docomomo Ibérico), Junho 2002;
"Fábrica de Cabos Eléctricos Diogo de Ávila / Edifício Torreado da Fábrica dos Cabos de Ávila", Sistemas de informação para o Património Cultura, Paula Tereno, 2017;"Fábrica de Cabos Eléctricos Diogo de Ávila / Edifício Torreado da Fábrica dos Cabos de Ávila", Direcção Geral do Património Cultural, texto de Deolinda Folgado(Docomomo Ibérico), Junho 2002;
"Biografia de Diogo d'Ávila" consultada na página da Fundação Diogo d'Ávila;
“Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira” (Volume 30, Pág. 806), consulta do artigo "Ilustres desconhecidos" no blog: Ruas com História, 2017;
"A ruína da fabrica dos cabos de D´Ávila", Lisboa, um Olhar para o passado, 2012;
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