quarta-feira, 31 de julho de 2019

Teatro Alves Coelho, Arganil

Arganil é uma vila do distrito de Coimbra, na província da Beira Litoral, região do Centro e sub-região Região de Coimbra, é sede de município e de comarca, subdividido em 14 freguesias. Localiza-se numa planície, na margem esquerda da Ribeira de Folques. O município é limitado a norte pelos municípios de Penacova, Tábua e Oliveira do Hospital, a nordeste por Seia, a leste pela Covilhã, a sul por Pampilhosa da Serra, por Góis e pela Lousã e a oeste por Vila Nova de Poiares.
A vila é uma das localidades mais importantes do distrito de Coimbra, a sua fundação é atribuída os Romanos por volta de 150 d.c. com o nome de "Argos", esta tese é fundamentada com base numas moedas de ouro e prata que ali foram encontradas em 1710.No ano de 716 Arganil foi invadida pelos árabes que arruinaram a vila, reedificando-a depois mas não com a grandeza que havia tido. Todavia o documento mais antigo relativo a Arganil respeita à doação de D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, à Sé de Coimbra, prova da sua existência ainda antes da fundação da monarquia portuguesa. 
A 25 de Dezembro de 1114, D. Gonçalo, Bispo de Coimbra, outorgou uma carta de povoamento e a 01 de Janeiro de 1175, Pedro Uzbertiz outorga uma carta de foro a Arganil, assinada no acervo do Arquivo Público. Em 1219 era senhor desta vila Afonso Pires de Arganil, o mesmo que trouxe as Relíquias dos Mártires de Marrocos para a Igreja de Santa Cruz, de Coimbra. No reinado de D. Afonso IV, decorria o ano de 1392 e a vila era doada a sua neta, Infanta D. Maria, filha de D. Pedro I, que após a sua morte, foi doada por D. João I a Martim Vasques da Cunha, decorria o ano de 1423. Por esta altura volta à Sé de Coimbra por troca do couto de Belmenonte e S. Romão. Em 1472 os Bispos de Coimbra foram feitos Condes de Arganil pela vossa mercê d’El-Rei D. Afonso V em agradecimento da companhia que lhe fez o Bispo D. João Galvão na sua jornada a África em 1471.
Em 1514 recebe novo foram de D. Manuel I. No século XIX, durante a Invasão Francesa, foi um dos concelhos que mais saqueados do país.Em 1758, ainda não havia hospital na vila, e o concelho era já composto por cinco freguesias com quatorze lugares, por testamento da Senhora Condessa das Canas de 1870 a sua casa foi transformada no hospital para os pobres.

Brasão: de prata com um pinheiro de sua cor, saínte de um terrado de verde realçado de negro, acompanhado por dois crescentes de vermelho. Coroa mural de prata de quatro torres.
Postal: Delcamp.net
O Teatro Alves Coelho ou Cine-teatro Alves Coelho localiza-se no centro urbano de Arganil, junto da Estrada Nacional n.º 342, mesmo em frente à Câmara Municipal e ao lado do Jardim da Misericordiosa. 
De arquitectura civil, modernista, o Teatro Alves Coelho, assim chamando em homenagem a João Rodrigues Alves Coelho, um famoso maestro e compositor, filho da terra, foi projectado por volta de 1950 por um arquitecto, urbanista, pintor e crítico de arte português, Mário Gonçalves de Oliveira.
O edifício foi inaugurado em Abril de 1954, na sua decoração Mário Gonçalves de Oliveira contou ainda com a colaboração de dois ilustres artistas portugueses, a do escultor Aureliano Lima a quem se devem os baixos-relevos ostentados na frontaria do edifício e a do pintor Guilherme Filipe que executou três painéis para o Cine-Teatro de Arganil.
Foto: Maria de Lurdes, 2011
O teatro apresenta um planta longitudinal composta por quatro volumes articulados, o volume central que se destaca pela horizontalidade, um pais pequeno que se adossa a este e corresponde ao vestibulo do edificio e ainda os outros dois que o enquadram e se destacam em altura e que assumem a zona do palco e escadas do balcão e casa da máquina. Coberturas diferenciadas em telhado de 2 águas e terraços.
Fachada principal a E. possui 4 corpos rematados por respectivamente por filete; embasamento em pedra; bloco do vão das escadas do balcão a S. rasgado no ângulo por frestas de iluminação com lâminas quebra-luz fixas; corpo da entrada em tijolo burro rasgado ao centro por grande vão rectangular de 3 portas; 7 figuras alegóricas em relevo sobre a entrada na empena correspondente à sala. Fachada lateral S., desenvolve-se em 2 níveis também rematados por filete; pano de parede à esquerda em tijolo maciço; flanco da torre das escadas do balcão à direita; 3 grandes vãos tripartidos ao centro, com divisória das janelas em tijolo nos andares e sacada no 1.º. 
Fachada lateral N. lisa, com porta rectangular simples a cada lado de acesso ao palco e varanda com grade de ferro; portas e janelas rectangulares rasgadas na parede sob esta. Fachada posterior rasgada por uma série de 6 janelas pequenas, na empena correspondente à sala; porta de sacada à altura do 1.º andar na face do balcão com duas janelas pequenas à direita; fiada de 5 janelas e 2 pequenas no 2.º andar. INTERIOR: espaço diferenciado apresenta átrio rectangular pequeno e baixo; plateia em frente, escadas do balcão e casa da máquina à esquerda; sala de plateia rectangular, de pé-direito alto e paredes onduladas; pavimento em tacos; tecto de cimento; cadeiras e palco de madeira.
Descrição: Texto Francisco Jesus, 2000, SIPA
Foto: Público, 2016

Antes do cine-teatro, Arganil teve outros espaços improvisados que funcionaram como sala de espectáculos, como foi o caso do celeiro condal, mais tarde demolido para aí se edificar a casa do povo, ou ainda o Paço grande, o primeiro edifício para fins de teatro e cinema conhecido por barracão,visto ser uma estrutura frágil, construído em 1922. 

Foto: Rodrigo Oliveira, 2017
A necessidade de construção de uma sala de espectáculos com maior comodidade surge pelo força da população que se organizaram criando uma sociedade por acções para a qual contribuíram de acordo com as suas possibilidades, os ex-colonos como Saúl Brandão tiveram uma acção preponderante na iniciativa do projecto. Empresas contribuíram com materiais de construção, mobiliário e outros. Segundo Miguel Torga "Erguido por teimosos e cabeçudos beirões, da mesma maneira e com o mesmo espírito com que antigamente se construíram as catedrais: cada um trazendo a sua pedra".

Foto: Rodrigo Oliveira, 2017
O Cine-teatro Alves Coelho é hoje propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Arganil, e encontra-se devoluto desde 2002, assim como em outras pequenas vilas, também em Arganil a bilheteira da sala de cinema sofreu com a popularização da Internet, a introdução da televisão por cabo e a preferência pelas companhias das grandes superfícies comerciais com várias salas e maior oferta.
Foto: SIPA, 2011
Por volta de 2005, a Santa Casa, no sentido de voltar a disponibilizar o espaço à população de Arganil, negociou com a Câmara Municipal a cadencie do edifício pelo período de 50 anos, mediante um conjunto de condições, de entre as quais a Câmara se comprometeria com a recuperação e manutenção do edifício e garantisse a "manutenção da natureza e essência cultural do edifício na sua plenitude", nomeadamente cinema e teatro. Depois de várias negociações e afinações a cedência do espaço teve lugar em 2008, todavia o cumprimento do contrato na integra, só avia de ser verificado até ao final do ano de 2013, prazo estabelecido para que a câmara pudesse  implementar ou recuperar um projecto existente e aprovado já em 2005.

Infelizmente, como é fácil de comprovar olhando para o edifício, as clausulas do contrato não foram cumpridas, não interessa aqui apurar responsabilidades mas sim, sublinhar o lamentável desaproveitamento de um espaço  cultural da vila, ignorando o seu potencial e privando a população da sua utilização.  Desde então novas negociações têm sido efectuadas entres as entidades, mas a falta de acordo tem insistido em ditar a triste sorte do Cine-teatro.

Foto: Inês Caetado, 2015
Desde 2015 que foram devidamente sinalizados junto dos serviços da Câmara Municipal os  investimentos prioritários para os quais deveriam ter sido elaborados projectos e submetidos a candidaturas de fundos comunitários, de entre os quais se destacam o antigo Hospital Condessa das Canas, antiga Escola Adães Bermudes e o  Cine-teatro Alves Coelho. Contudo, neste âmbito, nunca viria a ser aberto qualquer concurso pela Autoridade de Gestão, pelo que não foi possível obter o financiamento desejado para a execução do investimento.
O edifício é uma obra de referência da arquitectura contemporânea pela Ordem do Arquitectos Portugueses.

João Rodrigues Alves Coelho(Maestro e Compositor):


João Rodrigues Alves Coelho, famoso maestro e compositor nasceu em Arganil, em 1882. Desde cedo mostrou apetência para os estudos, tendo ingressado no Magistério Primário e tornando-se professor. Curiosamente, consta que do seu diploma da Escola Normal tenha realizado um exame de Canto Coral, com classificação de 20 valores. Foi Mestre de Escola em Lisboa, na Escola Municipal nº78. Apesar de ser um professor considerado, rapidamente começou a dedicar-se à composição musical, pois essa era, na verdade, a sua grande paixão.

Em 1902 João Alves Coelho foi convidado a compor a música de uma opereta de Raimundo Alves - "Visões de Rabi". Tal obra foi exibida várias vezes no antigo Teatro da rua de São Bento. Era, pois o início de uma carreira fulgurante no teatro musicado.

Em 1911 inicia uma colaboração assídua na composição de temas que animaram tantos e tantos espectáculos de teatro e Revista, de Norte a Sul de Portugal, em Espanha, Marrocos, Brasil e nas colónias portuguesas. Durante 20 anos vários sucessos do Maestro Alves Coelho entraram no ouvido da sociedade portuguesa, muito graças às edições discográficas e impressas. De entre alguns dos seus temas mais conhecidos, destaque para: "Fado do 31"", "Dia da Espiga" e "Giestas".

A sua criação musical chamou aos teatros multidões apreciadoras de revistas e operetas recheadas de sátira social e política. Por vezes, acumulou o cargo de Director de Orquestra. Conviveu com os nomes mais sonantes do espectáculo de então, merecendo a admiração, respeito e carinho dos seus colegas e colaboradores. Foi precisamente, entre os seus pares, enquanto dirigia um ensaio de uma Revista, que foi vítima de congestão cerebral. Dois dias depois, às 20h30 de 23 de Outubro de 1931 viria a falecer, com 49 anos, deixando viúva a D. Anália Henriques e dois filhos. Um deles, Alberto Alves Coelho (Alves Coelho, Filho) seguiu as pisadas do pai e tornou-se autor de brilhantes temas de música popular, como "Cartas de Amor" e "Olhos Castanhos". A trágica morte de Alves Coelho, Pai, deixou para sempre uma interrogação: até onde poderia ter chegado o talento do Maestro?
De todos os sucessos musicais que compôs, a obra-prima que sobressai é "Giestas". Tal tema exalta a beleza do brilho do luar sobre aquelas flores amarelas da Serra do Açor. Na verdade, Alves Coelho nunca se esqueceu das suas origens. Todavia, também Arganil jamais se esqueceu do seu Maestro: faz parte da toponímia da vila; a 9 de Maio de 1954 foi inaugurado o Teatro, com o seu nome; em 2010, o Coro Misto da Santa Casa de Misericórdia de Arganil, pela mão do seu Provedor, Professor José Dias Coimbra, presta-lhe homenagem, relembrando o seu nome e a sua vida.

Mário Gonçalves de Oliveira(Arquitecto, Urbanista, Pintor e Crítico de Arte):


Mário Gonçalves de Oliveira (Alcobaça, 17 de Dezembro de 1914 — Vila Real, 10 de Dezembro de 2013) foi um arquiteto, urbanista, pintor e crítico de arte português.
Frequentou arquitetura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, concluindo o curso na Escola de Belas-Artes do Porto. Foi estagiário no atelier de José Almeida Segurado. Na sua formação como urbanista foi importante o período passado em Espanha como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura. Estagiou na Direção Geral das Regiões Devastadas, Oviedo; frequentou o curso de Salubridade, Higiene e Urbanologia, na Escola Superior de Arquitetura , Madrid, e o curso Técnico de Urbanista, no Instituto de Estudos de Administração Local.

Participou no I Congresso Nacional de Arquitectura (1948), onde foi uma voz dissonante face às tendências modernistas em afirmação em Portugal no período posterior ao termo da Segunda Guerra Mundial. Aí, bateu-se por uma expressão estética que traduzisse uma via nacionalista, baseada na cultura e economia locais e na especificidade do território. A historiografia tem-no associado às atitudes retrógradas desse congresso, mas a sua posição permitiu-lhe, cerca de vinte anos mais tarde, encontrar sintonia com as teses que ancoravam a prática do urbanismo no conhecimento do habitat local, tornando-o num "progressista" à luz das ideias urbanísticas em voga na década de 1960.

Foi funcionário do Gabinete de Urbanização Colonial entre 1947 e 1974. Desenhou edifícios públicos e planos urbanos para as regiões que então constituíam o império colonial português, com a exceção de Macau. Entre os livros e ensaios de sua autoria destaquem-se: Urbanismo no ultramar: Problemas essenciais do urbanismo no ultramar – estruturas urbanas de integração e convivência, Agência Geral do Ultramar, 1962; Urbanismo no ultramar: os novos povoamentos nas províncias ultramarinas, Agência Geral do Ultramar, 1965; "O «Habitat» nas zonas suburbanas de Quelimane: um caso positivo de formação de sociedades multirraciais", revista Geographica, nº 3, 1968. Desenvolveu planos de urbanização para as seguintes povoações do ultramar português: Namaacha (1948), Praia Varela (1959), Bairros Populares de Bissau (1959), Quelimane (1964) e São Tomé (1963-68).

Como arquiteto e do ponto de vista estilístico, Mário de Oliveira foi sobretudo um conservador, como comprova o Pavilhão de Tisiologia do Hospital de Bissau, hoje Hospital 3 de Agosto, realizado em parceria com Lucínio Cruz em 1951. Assinou também edifícios que se aproximaram de um léxico mais moderno. Entre os seus projetos assinale-se a Escola Técnica Silva e Cunha, atual Liceu Nacional de São Tomé e Príncipe (inaugurada em 1969) e o edifício do Museu Nacional de Etnografia de Nampula (inaugurado em 1956) .

Mário de Oliveira trabalhou dentro do sistema colonial e talvez isso possa explicar o porquê de as suas produções urbanística e arquitetónica, quase sempre de promoção pública, terem sido por vezes negligenciadas. "O seu compromisso, contudo, residiu num saber técnico, empenhado em solucionar as carências estruturais das populações coloniais".

Paralelamente à arquitetura e planeamento desenvolveu atividade enquanto pintor e crítico de arte. Expôs individualmente (Lisboa, Porto, Coimbra, etc.) e participou em inúmeras mostras coletivas, nomeadamente em diversas Exposições de Arte Moderna do S.P.N./S.N.I. (Prémio Domingos Sequeira, 1954), nas I e II Exposições de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian (1957, 1961), etc. Teve uma importante ação enquanto crítico de arte publicando nas páginas do Diário Popular, do Diário de Notícias, etc., tendo-lhe sido atribuído o Prémio da Crítica de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (1962) e o Prémio Internacional de Crítica de Arte (1964), Madrid.

Na década de 1980 retirou-se voluntariamente da vida pública e exilou-se no Hotel Mira Corgo, em Trás-os-Montes, para se dedicar à pintura. Morreu sete dias antes de completar 99 anos.

Aureliano Lima(Escultor e Poeta):


Aureliano Lima (Carregal do Sal, 23 de Setembro de 1916 — 15 de Dezembro de 1984) foi um escultor, desenhador, medalhista e poeta português. Pertence à terceira geração de artistas modernistas portugueses.

Autodidata, antes de se dedicar às artes plásticas exerce diversas profissões. Em 1939 estabelece-se na cidade de Coimbra. Nos anos que se seguem escreve, reune-se em tertúlias, colabora em jornais e inicia a atividade artística. Em 1948 participa na Exposição de Artistas de Coimbra e na III Exposição Geral de Artes Plásticas (Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa).

Em 1958, vai para o Porto e pouco tempo depois para Vila Nova de Gaia, onde chegou a trabalhar no atelier do escultor Manuel Pereira da Silva, entrando em definitivo para os meios artísticos e culturais e abrindo-se a novas experiências, a novas criações e actividades.


Participa na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, 1961. Nessa época a sua obra escultórica sofre uma importante reformulação: "Nas novas experiências não figurativas percebe-se uma dupla tensão, traduzida no diálogo entre forma cheia e forma oca, entre a linha [...] e os volumes aliviados do seu carácter sólido ou tridimensional, em obras de feição biomórfica ou antropomórfica".

Aureliano Lima abandona as massas compactas, preferindo a "irrupção expressiva da forma vertical no espaço, a interacção daquela com este último, deixando-o penetrar na matéria, ora sublimada na cor, ora reforçada na sua presença crua (através de texturas, contrastes, marcas de fabricação...). Mais tarde, a tensão parece pender para um entendimento da escultura como jogo de formas geométricas elementares". Também aqui, desde as décadas de 1960 e 70, o seu trabalho traduz-se no modo inovador com que trabalha a linguagem contemporânea do ferro pintado e do plástico. "A escultura reduz-se então a um sinal abstrato, que interrompe a continuidade do espaço físico [...]. Nestas obras, o contraste entre cheio e vazio, a redução da escultura a uma estrutura rigorosa de planos, rectas e círculos pintados de cor uniforme, aproxima-se de uma interrogação acerca do valor sinalético e óptico da escultura, muito rara em Portugal".

Importante no contexto da arte portuguesa das dácadas de 1960 e 70, sobretudo pelos novos caminhos explorados, "a sua obra escultórica permaneceria relativamente desconhecida. As dificuldades pessoais na afirmação de uma carreira artística, a escassez de recursos, a relativa discrição do seu trajecto criativo, contribuíram para escamotear o sentido de uma criatividade marcada pela experimentação plástica e pela irreverência perante os modelos estéticos tradicionais". 

Expôs individualmente pela primeira vez em 1963 (Galeria Alvarez, Porto). Entre 1965 e 1967, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris. Em 1985, foi publicada postumamente a antologia poética Os Rios e os Lugares (Brasília Editora, Porto).

Em 1988, a Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, promoveu uma exposição restrospectiva da sua obra artística e literária.

Guilherme Filipe(Pintor):


Guilherme Filipe Teixeira (Pampilhosa da Serra, Fajão, 1897 - Pampilhosa da Serra, Fajão, 1971) foi um pintor português.
Nascido em Fajão, Guilherme Filipe desde muito novo manifestou a sua vocação para a pintura. Estudou nas escolas de Belas-Artes de Lisboa e Belas-Artes de Madrid, tendo como patrono Cândido Sotto Mayor.

No período em que frequentou a escola de Belas-Artes em Lisboa, era assíduo dos cursos livres da Sociedade Nacional de Belas Artes e frequentou os ateliês dos mestres, José Malhoa e António Tomás da Conceição Silva.

Nos seis anos que passou na capital espanhola foi aluno de Joaquín Sorolla na Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, montou um ateliê com os escultores José Planes e José Clara, participou numa série de exposições colectivas e individuais e fez parte de várias tertúlias artísticas e literárias, nomeadamente no famoso café madrileno El Pombo onde é introduzido pelo escritor e jornalista Ramón Gómez de la Serna.

A sua estreia nas exposições madrilenas deu-se numa exposição colectiva no Palácio das Artes (1918), com um quadro de gigantescas proporções intitulado Salomé. Por não caber na porta Guilherme Filipe pendura-o numa árvore no exterior do edifício. A imprensa espanhola referiu-se largamente ao acontecimento, que foi comentado pelo rei de Espanha à saída da Exposição como sendo um acto de "rebeldia lusitana muy simpática". Tinha então o artista 21 anos. De Madrid Guilherme Filipe parte para Toledo onde passa uma larga temporada com o caricaturista Luis Bagaria.

Regressa a Portugal, no momento em que se esboçava um forte movimento de renovação da Arte Portuguesa. Instala-se primeiro em Coimbra, onde o poeta Eugénio de Castro lhe proporcionou um ateliê na Faculdade de Letras, produzindo aí algumas interessantes composições picturais como O Cristo Negro, Aldeia da Beira, O Retrato do Poeta (Miguel Torga de quem era amigo pessoal), etc. Em 1923 realiza nesta cidade a sua primeira exposição individual, cujo catálogo foi editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra. Realiza a sua segunda exposição individual em Lisboa, para onde se mudou depois.

Guilherme Filipe volta a ausentar-se de Portugal, desta vez para se dirigir a Paris tendo realizado no caminho várias exposições em Coimbra, Lisboa, Porto, Corunha, Vigo, Santander, Oviedo, Bilbau e Madrid, tendo os museus de Arte Moderna destas últimas cidades adquirido quadros seus. Fez também algumas conferências e publicou dois manifestos sobre arte e política. De regresso de Paris volta a fixar-se em Madrid por mais um ano.

Quando regressa a Portugal definitivamente (1932) Guilherme Filipe dedica-se a uma série de actividades culturais e políticas a par com a pintura:
Em 1933, com o patrocíno de Guilherme Cardim e Fausto Figueiredo funda no Estoril uma Escola de Acção Artística, em colaboração com Augusto Pina. Nas palavras do pintor esta escola pretendia - "estimular as crianças e desenvolver-lhes a intuição artística, para que com as noções elementares de cor, de pintura, e música enriqueçam a inteligência e criem o sentido de ritmos fortes." A escola, fecha pouco tempo depois da sua criação por falta de apoios, uma vez que o ensino era gratuito e a maioria das crianças que a frequentava provinha de meios desfavorecidos.
Funda também o Jardim Universitário de Belas-Artes em Lisboa, que promoveu, entre outras actividades, a criação de uma orquestra sinfónica que se apresentou no Coliseu dos Recreios; debates sobre arte e filosofia na Sociedade Nacional de Belas Artes; uma homenagem ao prof. Egas Moniz pela sua consagração com o Prémio Nobel; sessões clássicas de cinema, as célebres "matinés das terças-feiras" no cinema Tivoli, com exibição de filmes comentados (tendo sido um dos comentadores); etc.
Em meados da década de 30, e durante cinco anos, Guilherme Filipe afasta-se da vida cultural e artística da capital e refugia-se na Nazaré onde se dedica a pintar temas relacionados com a pesca e os pescadores, no que é considerado por vários autores como um dos seus períodos mais profícuos em termos artísticos. Foi também na Nazaré que Guilherme Filipe organiza a Primeira Festa do Mar (Setembro de 1939), na qual colaboraram Afonso Lopes Vieira, Joaquim Manso, Hipólito Raposo e Almada Negreiros.
Em 1958 participa na campanha de apoio a Humberto Delgado e faz um estágio na Universidade de Santander (secção de Humanidades). Neste período pinta o retrato equestre de Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque e três painéis para o Cine-Teatro de Arganil. Pintou também os retratos do poeta Santiago Presado, Guida Keil do Amaral, dos professores Diogo Furtado, Barahona Fernandes, Adelino da Palma Carlos, Dias Agudo, Santana Dionísio (pai e filho) e Seabra Dinis.

Guilherme Filipe fez parte de um grupo de intelectuais que em 1958 apoiou a candidatura do General Humberto Delgado à presidência da República. Numa sociedade em que a censura imperava e que os opositores ao regime eram silenciados, Guilherme Filipe viveu a partir de então como um proscrito tendo morrido três anos antes da instauração da democracia em Portugal.

Existem quadros seus nos museus de Coimbra, Lisboa, Porto, Nazaré, Caldas da Rainha, Arganil, assim como em várias colecções particulares em Portugal e no estrangeiro.
Colaborou na revista Renovação (1925-1926).
Recomendação: José Queiroga

Fontes:

"Arganil", Archivo Histórico de Portugal, n.º 31, janeiro de 1890;
"Teatro Alves Coelho voltou para a Misericórdia mas sem obras", Artigo Público, texto de Camilo Soldado, 2016;
"Teatro Alves Coelho", Sistema de Informação para o Património Arquitetonico, Francisco Jesus, 2000;
Arquivo Digital: Teatro de Arganil, C.M.A.

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