quinta-feira, 25 de julho de 2019

Sim Meu Senhor, São Rosas! Mas o foram quatro vezes...

O Milagre das Rosas, muito conhecido em Portugal, retrata a transformação milagrosa de pães em rosas  que estavam a ser transportados no regaço por santas senhoras que ao serem denunciadas por os levarem furtivamente aos pobres, foram transformados por obra divina. Por detrás do milagre das rosas, há um resistente fio de verosimilhança histórica, que aproxima as personagem históricas e a sua conduta caridosa com o milagre da transformação originalmente associado a Jesus Cristo. 
O Milagre das Rosas ficou especificamente associado, em Portugal, à   Rainha Santa Isabel(de Aragão) de Portugal, mas já antes havia sido associado a uma tia-avó sua, Isabel da Hungria.  Isabel de Portugal  era filha de D. Pedro III de Aragão( Pedro, O Grande), e este filho de Jaime(O Conquistador), casado com Iolanda ou Violante da Hungria que por sua vez era filha do Rei André II, isto é Violante da Hungria era avó da Isabel de Aragão ou Rainha Isabel de Portugal, e Violante teve uma Irmã cujo nome era também Isabel que se celebrizou pelo amor aos pobres e pela renuncia completa dos bens terrenos, foi Rainha regente, daí se eternizou Rainha Isabel da Hungria.  
 O milagre está ainda associado à história de Santa Cacilda de um aprofunda vocação cristã, filha do Rei Almancrin de Toledo, um rei mouro e Santa  Zita.

Princesa Santa Cacilda de Toledo:


No século XI, dominava as terras da região de Toledo, de Guadarrama, ao norte, até Serra Morena, ao sul, o Rei Almancrin,  rei mouro de fortes convicções religiosas. Por outro lado a Princesa Cacilda, sua filha,  nutria uma profunda devoção cristã e de forma secreta praticava com devoção os seus ensinamentos. 
A riqueza deste reino era conhecida até no oriente, Cacilda como filha herdeira desta fortuna podia por e dispor satisfazendo as suas vontades, todavia esses tesouros não satisfaziam o espírito da jovem que procurava alegria e conforto, na companhia dos cristãos que gemiam e sofriam, presos nos subterrâneos da grande fortaleza do reino.
Com efeito, a determinação anti-cristã do Reia Almancrin, ao saber que este ou aquele súdito era cristão, ordenava a sua detenção e os aprisionava nas masmorras junto com todo o tipo de criminosos e os torturava. 


Os prisioneiros religiosos eram privados de aliemnto durante dias a fio,  conhecedora da maldade do pai, Cacilda sofria em silêncio, pelos pobres relegados ao deus-dará. Assim, um dia decide que os havia de alimentar ás escondidas, Cacilda, secretamente visita os cativos cristãos, alimentando-os e cuidando dos enfermos, sujeitando-se a contrair varias doenças. O milagre acontece quando a princesa  levava rosas no colo e ao chegar à prisão as rosas se transformavam em pães com os quais ela alimentavam os cristãos presos, quando os guardas a surpreendiam com pães no regaço, esses transformavam-se de imediato em rosas. 
Com efeito, Cacilda foi-se afeiçoando cada dia mais aos cristãos e, por intermédio deles, soube da existência de uma fonte em terras castelhanas cujas águas operavam milagres. O desejo de curar-se de uma doença que sofria e a simpatia que sentia pelos cristãos, fizeram com que ela insistisse com o pai, até conseguir autorização para realizar essa longa peregrinação. O pai lhe deu acompanhamento real e cartas de recomendação para o rei de Castela, Fernando I, que recebeu a princesa moura com honras reais. Cacilda banhou-se nas águas do Poço de São Vicente, localizado na cidade de Burgos e obteve não apenas a cura do corpo, mas a cura definitiva da alma. 


Recebeu o batismo, fez-se cristã e no local construiu uma ermida, a fim de aí passar o resto da vida em penitência e oração. Esse pequeno santuário foi posteriormente convertido num espaçoso templo onde se encontram seus restos mortais. Santa Cacilda é a padroeira da cidade de Burgos, na Espanha.
No mundo de hoje onde as honrarias são buscados com sofreguidão desenfreada, Santa Cacilda, a jovem que cedo compreendeu a fugacidade dos valores terrenos, a princesa moura que teve a coragem de mudar radicalmente de vida, trocando a riqueza pela pobreza, a opulência dos palácios pela tranquilidade e paz de uma ermida, nos traz preciosas lições: o caminho que nos leva ao encontro de Deus passa necessariamente pelo caminho que nos leva ao encontro ao próximo. 
Na arte litúrgica ela é representada como uma jovem sarracena, carregando rosas no colo e as vezes com pães que se transformam em rosas. Ela é invocada em tempos de guerra. Sua festa é celebrada no dia 9 de abril.

Santa Zita de Lucca, Itália:


Zita de Lucca ou Santa Zita, nasceu em 1212 na vila de Monsagrati, próxima a Lucca, na Toscana, Itália.
A sua família era pobre mas honesta e piedosa, mas muito devota. A sua irmã mais velha entrou no convento cisterciense e o seu tio era eremita com fama popular de santidade. Graças á solida educação paterna  que recebeu no santo temor de Deus, Zita cedo seguiu o caminho da virtude e da perfeição cristã. Zita era uma menina, por sua mansidão e modéstia de todos querida, pouco faladora, tanto mais trabalhando e conservando sua alma em constante recolhimento. 

Aos 12 anos foi trabalhar como empregada doméstica numa casa abastada pertencente ao senhor de nome Pagano di Fatineli, que residia perto da igreja de São Fridigiano, na cidade de Luca, onde permaneceu cerca de 48 anos, até a sua morte em 27 de abril de 1272.

Por sua bondade e esforço era frequentemente vilanizada e até maltratada pelo resto da criadagem, mas nunca se deixou abater nem permitiu que isso alterasse sua calma interior. Aos poucos foi sendo aceita por todos e chegou a ser responsável por toda a administração da casa. Bem cedo, antes dos outros levantarem-se, ia à igreja assistir à missa. À hora marcada infalivelmente se achava no seu trabalho. Quando de sua morte era praticamente venerada pela família Fatinelli, à qual serviu fielmente por toda a vida.
Desde pequena mostrou um grande amor para com todos, e uma grande compaixão e solidariedade especialmente os pobres e abandonados. O tempo que Zita dedicava à causa dos mais necessitados incomodava os Fatinelli, receosos que esta desviasse a atenção da família e descuidasse dos seus afazeres. Numa ocasião, Zita foi servir a um necessitado deixando momentaneamente o seu trabalho na cozinha. Outros servos, incomodados com o seu comportamento denunciaram-na aos seus Senhores, que a quando da averiguação das tarefas domesticas inacabadas da devota, encontram anjos fazendo o seu trabalho. Desde aquele dia lhe permitiram mais liberdade para servir os pobres, o que acabaria por alimentar maiores divergências nos outros servos.

Certa vez, um mendigo pediu a esta um copo de vinho. Zita, não dispondo de nenhuma gota desta bebida para servir ao pobre, foi com o cântaro à fonte, e cheio deu-o ao mendigo. Este não pouco se admirou quando, levando-o à boca, provou um vinho delicioso.

Uma vez que a fome atingiu a cidade, Zita tinha o hábito de distribuir tudo o que possuía, inclusive a sua comida, com os pobres. Mas por tão grandes necessidades, e perante a sua incapacidade decide  distribuiu aos pobres alimentos pertencentes à despensa dos seus Senhores, com o intuito de os ir repondo. Conhecedores da situação, e cheios de inveja dos privilégios que a família lhe concedera, os outros servos denunciam o comportamento de Zita aos seus patrões. Isto seria uma falta bastante grave. Por sua vez, Zita teria muita dificuldade para provar que estava sendo vítima de uma falsa acusação. Quando Zita vinha carregando um grande volume de algo em seu avental, o grande patriarca da casa chegou e, influenciado pela criada invejosa, perguntou a Zita o que ela estava levando escondido no avental. Zita respondeu: "são flores". Então, ela soltou o avental um grande volume de flores caiu e cobriu os pés da santa. Neste instante ao verificar a despensa encontra-a recheada de mantimentos. Pela mão divina, a sua inocência ficou provada e a sua honra defendida.

Foram muitos os episódios milagrosos da sua vida. Certa ocasião, quando todos iam assistir à missa do galo na noite de Natal, fazendo um frio intensíssimo, Zita encontrou que na porta da igreja de São Fredaino, um homem frágil e muito mal agasalhado. Ela tomou um valioso manto da família e entregou-o, avisando-o que deveria devolvê-lo depois da missa para que ela pudesse por sua vez devolvê-lo ao seu dono. Mas o homem desapareceu e com ele o manto, dando pela sua falta o seu  Senhor Fatinelli indignou-se, considerando esta atitude da serva por demais, neste instante veio um idoso à porta devolver o manto, mais tarde o idoso foi interpretado como sendo um anjo,  por isso desde então a porta de São Fredaino passou a ser conhecida como "O Portal do Anjo".

Morreu aos 60 anos e imediatamente o seu culto se espalhou especialmente em Palermo, Sicília, outras partes da Itália e da Inglaterra. Foi canonizada pelo Papa Leão X a 5 de setembro de 1696 após o reconhecimento de cento e cinquenta milagres atribuídos à sua intercessão. Seu corpo foi exumado em 1580 e descobriu-se estar incorrupto, mas foi-se mumificando desde então. Atualmente seu corpo mumificado, deitado em uma cama de brocado, está em exposição em um relicário de vidro para veneração pública na Basílica de São Frediano, em Lucca.

Santa Isabel, Rainha da Hungria e da Turíngia:


Santa Isabel da Hungria também conhecida como Santa Isabel da Turíngia ou Santa Isabel da Turíngia nasceu a 7 de julho de 1207 na Hungria(Pressburgo) e faleceu a 17 de novembro de 1231 na Alemanha(Marburgo), com apenas 24 anos de idade.

Isabel de Andechs foi a segunda filha de André II da Hungria e de sua esposa Gertrudes da Merânia, Princesa da Hungria, em seu sangue fluía a nobreza das mais poderosas casas reais da Europa. Do lado materno, era sobrinha de Edviges da Silésia e tia das santas Cunegunda (Kinga) e Margarida da Hungria e tia-avó de Isabel de Aragão, Rainha de Portugal e, do lado paterno, prima de Inês de Praga.

Aos 4 anos, entrava na capela do castelo, abria os livros sagrados, e ainda sem saber ler, olhava-o longamente e passava muitas horas recolhida em oração. Ao brincar com outras meninas, procurava algum jeito de encaminhá-las para a capela. Quando esta estava fechada, beijava-lhe a porta, a fechadura, as paredes, pois, dizia ela, “Deus lá dentro repousa”.

Antes de completar dez anos, perdeu a mãe, a Rainha Gertrudes. Na mesma época, faleceu também seu protetor, o Duque Herman,que a tratava como filha, o qual era pai de seu futuro esposo, Duque Luiz da Turíngia, com quem casaria aos 13 anos de idade. 

Em sua curta existência, faleceu aos 24 anos, ainda teve tempo de enviuvar aos 20 anos. Após a morte do marido, ela mandou seus filhos embora e recuperou seu dote, usando o dinheiro para construir um hospital onde ela própria servia os doentes. 

Ela se tornou um símbolo da caridade cristã após sua morte aos 24 anos e foi canonizada em 25 de maio de 1235.A sua santidade manifestou-se de forma extraordinária e seu nome tornou-se famoso em todas as montanhas da Alemanha. Dizia-se que São João Batista vinha lhe trazer pessoalmente a comunhão e que inúmeras vezes ela foi visitada pelo próprio Jesus Cristo e pela Virgem Maria, que a consolavam em seus sofrimentos. Uma de suas amigas depôs no processo de canonização algo que surpreendeu a todos: várias vezes a santa era elevada no ar a mais de um metro do chão, enquanto contemplava o Santíssimo Sacramento absorta em êxtase contemplativo. Perguntada certa vez sobre que fim queria dar à herança que lhe pertencia disse: "Minha herança é Jesus Cristo!".

Mas de todos os seus feitos o que a tornou mais conhecida foi o seu milagre das rosas, que diz que enquanto ela estava levando pão para os pobres em segredo, ela conheceu seu marido Ludwig em uma festa de caça, que, para acalmar as suspeitas da nobreza que ela estava roubando tesouro do castelo, pediu-lhe para revelar o que estava escondido debaixo de sua capa. Naquele momento, seu manto se abriu e uma visão de rosas brancas e vermelhas pôde ser vista, o que provou a Ludwig que a mão protectora de Deus estava em acção. 

Seu marido, nunca se incomodou com sua caridade e sempre a apoiou. Em algumas versões dessa história, é seu cunhado, Heinrich Raspe, que a questiona. É um dos mais conhecidos milagres que associam santos cristãos a rosas, e também o mais frequentemente retratado na iconografia do santo.


Santa Isabel de Aragão, Rainha de Portugal:


Isabel de Aragão ou Elisabet d'Aragó, nasceu em Barcelona ou Saragoça a 4 de janeiro de 1271 e morreu em Estremoz a 4 de julho de 1336. Foi infanta de Aragão, Rainha Consorte de Portugal, por casamento com D. Dinis de Portugal em 1282.

Isabel descende de grandes linhagens e casas reais muito importantes da Europa medieval, era a filha mais velha do Rei Pedro II de Aragão e de Constança de Hohenstaufen, Princesa da Sicília. Por via materna, era tetraneta de Frederico II do Sacro Imperador Romano-Germânico e bisneta de Manfredo de Hohenstaufen, Rei da Sicília. Pelo lado do pai, era neta de Jaime(O Conquistador), Rei de Aragão e bisneta do Rei André II da Hungria.

Para além disso, foi sobrinha paterna de Santa Isabel da Hungria, também considerada santa pela Igreja Católica.

Possuidora de uma profunda devoção e grande dedicação ás causas sociais que lhe terão valido alguns desentendimentos com D. Dinis, que preocupado com os bens, via com maus olhos o desvelo com que ela tratava os mais pobres e necessitados, a quem oferecia pão e dinheiro a título de esmolas que lhe conferiram a fama de santa ainda em vida.
Ao longo da vida, Isabel desempenhou papel social muito importante, quer em Portugal, quer em Castela, não só durante o período em que foi rainha mas também depois de viúva, interveio muitas vezes como mediadora em conflitos variados evitando a guerra e alcançando a paz entre os oponentes. Sendo que depois da morte de D. Dinis, vestiu o hábito e entrou para o Convento de Santa Clara, em Coimbra. 

Estará na origem da sua infinita bondade o episódio conhecido como o "Milagre das Rosas" que romanticamente se espalhou em Portugal e que acabou por influir largamente na definição do espectro da espiritualidade nacional. Com efeito o "Milagre das Rosas" é o episódio mais conhecido relacionado com a vida da Rainha Santa Isabel, e uma das histórias romatizadas da História de Portugal. 

Reza a lenda que D. Dinis preocupado com os excessivos gastos de D. Isabel, por andar sempre a distribuir dinheiro pelos pobres, a proibiu de dar mais esmolas.Contudo, apesar da proibição do marido, a sua convicção e determinação falaram mais alto e a piedosa rainha continuou a ajudar os mais carenciados, escapando do castelo às escondidas com o o regaço cheio de pão, disfarçado pelo manto.

Certo dia, em pleno inverno D. Isabel é avistada a sair à socapa do castelo e D. Dinis é avisado do seu comportamento, desconfiado, decidiu segui-la e alcançando-a surpreende-a perguntar-lhe o que levava escondido no regaço. 
—“São rosas, senhor!”, respondeu-lhe a Rainha Santa;
— “Rosas? Em Janeiro?”, duvidou o rei. 
De olhos pregados no chão, a rainha abriu o manto. Do seu regaço, caíram rosas, as mais belas que alguma vez se tinham visto.

Ao longo do tempo a história foi assumindo várias variantes, em vez de pão carrega moedas e em vez de rosas, são flores. A localização também não é consensual, sendo que, de acordo com a história de D. Dinis, o milagre terá acontecido em Coimbra, Estremoz ou no castelo do Sabugal durante o inverno. Independentemente da versão e da inquestionável dedicação de D. Isabel aos pobres, este episódio é contado já depois da morte da rainha.

Os registos mais antigos da lenda remontam ao século XV conservado no Museu da Catalunha, mas admite-se a possibilidade de ser anterior e de circular oralmente desde o século XIV. Foi passada pela primeira vez para o papel em 1562, por Frei Marcos de Lisboa, autor da Crónica dos Frades Menores.

A fama da sua santidade foi reconhecida pela Igreja 180 anos depois da sua morte. Foi beatificada em 1516 e canonizada em 1625. Ficou popularmente conhecida como Rainha Santa Isabelou, simplesmente, A Rainha Santa e é padroeira da cidade de Coimbra.

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