Foto: Quintaisisa, 2016
Santiago da Guarda é uma freguesia portuguesa do concelho de Ansião e distrito de Leiria, os vestígios arqueológicos da sua povoação remontam ao período do neolítico.
Ainda no reinado de D. Afonso Henriques, em 1141, o território de Façalamim (actual Granja ou Várzea), a sul de Alvorge, foi doada ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Anos mais tarde, em 1191, já no reinado de D. Sancho I, é doada ao Mosteiro de São Jorge de Coimbra.
A devoção ao apóstolo Santiago, remonta também ao período da Reconquista Cristã, e se manteve ao longo dos tempos. Na origem estará o facto de que por aqui passava um dos "caminhos de peregrinação a Santiago", por isso, as populações desta região se apegaram tanto a esse culto, que deu nome à freguesia.
A freguesia de Santiago da Guarda ou de São Tiago da Guarda, tal como o concelho de Ansião, manteve-se no Bispado de Coimbra desde o século XII.
Santiago da Guarda, como viria a chamar-se definitivamente, integrou o concelho de Rabaçal, em 1839, e, mais tarde, integrou o concelho de Ansião.
Na aldeia da Granja, anteriormente denominada de "Cabeça de Façalamim", pertencente à freguesia de Santiago da Guarda, encontra a Capela de Nossa Senhora da Orada, a Casa-Museu dos Fósseis de Sicóe as ruínas de um Paço da Granja dos Jesuíta, que no século XX viria a dar o nome a localidade "Granja".
Brasão da freguesia de Santiago da Guarda
Armas - Escudo de púrpura, torre quadrangular de prata, lavrada de negro, aberta, aberta e iluminada de verde, entre duas espigas de milho de ouro, realçadas de negro; em chefe, vieira de ouro, realçada de negro. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda em maiúsculas a negro :
“ SANTIAGO DA GUARDA “.
Simbologia - A torre - Representa o solar quinhentista dos Condes de castelo Melhor, um dos principais monumentos do património cultural e edificado do concelho;As espigas de milho - Representam todas as actividades económicas praticadas, com destaque para a agricultura, de tradição secular na freguesia.; A vieira - Representa o orago e a religiosidade dos habitantes.
Foto: SIPA.
O Paço da Granja, situada na Herdade de Falsalamim, na aldeia da Granja, terá sido construído pelos Jesuítas no final do século XVII, a prova-lo estão duas inscrições: uma no pórtico da capela dizendo "IGNCIO DE LOYOLA (_) DA COMP.A DE HIS ROGAI POR (NOS)", outra na verga de uma das portas da casa com a indicação de uma data "1693"e o símbolo da ordem "IHS".
Foto: SIPA.
Para além desta residência, a Companhia de Jesus possuía algumas mais, os benefícios estabelecidos nesta terra revertiam a favor do Colégio do Espírito Santo de Évora, responsável pela administração dos bens e recebedora dos rendimentos. O Mosteiro de S. Jorge não tardou em demarcar a imensa propriedade com uma cruz grega centrada num círculo gravada.
Foto: SIPA.
A Companhia de Jesus, ou “Jesuítas”, é uma Ordem Religiosa da Igreja Católica. Idealizada por Inácio de Loiola e outros seis estudantes da Universidade de Paris, por se identificarem com os ensinamentos de jesus, a sua ideia era irem para a Terra Santa, anunciando a Sua palavra e prestar a caridade. Em 1534 foram para Jerusalém mas não foram autorizados a ficar, de regresso, fizeram-se voluntários à disposição do Papa para servir a Igreja. Em 1540, o Papa Paulo III aprovou a Companhia de Jesus. Quando Inácio de Loyola morreu, em 1556, já havia no mundo cerca de 1000 jesuítas.
Em Portugal, os Jesuítas chegaram ainda durante o século XVI, pela mão de D. João III. Destacaram-se no ensino universitário e como pregadores, tanto na corte, como nas viagens de expansão marítima. Permaneceram no país até 1759, ano em que foram expulsos pelo Marquês de Pombal. Seguiu-se a supressão da Companhia pelo Papa Clemente XIV, em 1773. Durante os anos que se seguiram, apenas a Rússia não obedeceu à bula papal, pelo que aí se mantiveram alguns jesuítas.
Quando se deu a restauração da Ordem, em 1814, os Jesuítas regressaram aos seus anteriores trabalhos de apostolado. Mais atribulado foi o regresso a Portugal, de onde foram novamente expulsos, em 1834, pelo exército liberal. Entre 1858 e 1910 deu-se nova incursão, durante a qual foi fundada a Revista Brotéria, que ainda hoje existe. No decurso da Iª República foi restaurada a lei pombalina de expulsão. Apesar da propaganda antijesuítica, os Jesuítas continuaram a sua actividade a partir do exílio e foram paulatinamente regressando a Portugal.
Foto: SIPA.
A universidade portuguesa é fundada em Lisboa em 1290 por iniciativa do rei D. Dinis, após um período de alternância entre as cidades de Lisboa e Coimbra, é transferida definitivamente em 1537 para Coimbra, pela mão de D. João III, por influencia do Mosteiro de Santa Cruz. Em 1559 o Cardeal D. Henrique funda a Universidade de Évora, uma importe cidade para a corte na altura, a ele se deve também a fundação do Colégio do Espírito Santo em Évora, em 1551, confiando-o à então recentemente fundada Companhia de Jesus. A companhia de Jesus foram também confiados, em 1542 o Colégio de Jesus, Coimbra, e em 1553 o Colégio de São Antão, Lisboa(Mosteiro de Santo Antão, na Mouraria).
Com efeito, até 1759, a Companhia de Jesus instituiu diversos estabelecimentos de ensino em todo o país, com eles o ensino português é reconhecido internacionalmente, tornando-se ponto de passagem para matemáticos e astrónomos jesuítas europeus que nele estudaram ou ensinaram.
Foto: Quintaisisa, 2016
Apesar da construção respeitar aos finais do século XVII, é portável que a presença de Jesuítas na região, seja bastante anterior, meados do século XVI, pesas a favor dessa possibilidade o facto destas terras serem beneficio do Mosteiro de São Jorge de Coimbra ainda no século XII e ainda, vestígios da sua presença na povoação de Alvorge, numa casa demolida, junto à Capela do Espírito Santo, também já demolida, cujas pedras, reutilizadas noutras construções, apresentam inscrições em latim e exibem a sigla dos Jesuítas. Desde o inicio da fundação do país estas terras ficaram ligadas a Coimbra.
O Paços e Residência dos Jesuítas, é um edifício de arquitectura residencial de planta rectangular, distribuída por dois pisos, com construções dependentes frente à fachada principal. As fachadas apresentam múltiplas portas e janelas rectas e de avental. A coisinha sitiava-se na piso térreo, sob o piso das arcadas.
Foto: Quintaisisa, 2016
Uma pequena capela acabaria por ser o edifício central do complexo(várias fontes apontam que esta capela possuía originalmente 6 altares), de um lado a área social do Paço, do outro lado e unidos pelas traseiras, o refeitório e dormitórios dos jesuítas, das fachadas dos quais se destacam pequenos janelos. Todas as divisões do interior são ligadas por inúmeros corredores, existentes em ambos os pisos.
Foto: Quintaisisa, 2016
No quintal localizado nas traseiras do Paço, foi construído um pombal, Estima-se que a construção seja de uma época posterior à construção do Paço, talvez inicio do século XIX. O pombal apresenta uma arquitectura pecuária de construção vernácula a base de granito, alvenaria e reboco. Apresenta uma planimetria circular formando um único volume de grossas paredes construídas em pedra, com uma pequena porta e janela de lintel recto sem moldura, já não apresenta vestígios da cobertura.
No interior do pombal, as paredes são revestidas por pequenas cavidades quadrangulares que se assemelham a pequenos alvéolos e que acolhem os ninhos dos pombos. O chão é térreo com afloramentos rochosos onde se encontrava a mesa de alimentação.
Foto: de Nuno António Jesus, publicada por Quintaisisa, 2016
Na fachada nobre do edifício, onde são exibidas lindas varandas de arcadas duplas, uma pedra bem polida apresenta uma saliência com formato de paralelepípedo, que dada mais é do que um Relógio de Sol de Horas Francesas ou Modernos, típico do século XVII, terceira geração de relógios.
Foto: de Nuno António Jesus, publicada por Quintaisisa, 2016
Com a expulsão dos Jesuítas, promovida pelo regime Republicano de 1910, os seus bens e direitos foram confiscados e o Paço fica sobre a alçada da Diocese de Coimbra e depois passa para as mãos de particulares que não conseguem rentabilizar as terras por forma o o manter, acabando por ficar jogado à sua sorte até aos dias de hoje, o que justifica o estado ruinoso a que chegou.
Fontes:
"Paço da Granja", Sistema de Informação para o Patrímonio Arqutetónico, texto de Lurdes Perdigão, 2000;Arquivo Digital: Junta de Freguesia de Santiago da Guarda;
Arquivo Digital: Jesuítas em Portugal;
Arquivo Digital: Universidade de Coimbra;
Arquivo Digital: Universidade de Évora;
Arquivo Digital: Universidade de Coimbra;
Arquivo Digital: Universidade de Évora;
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