sábado, 9 de março de 2019

O Palácio da Brejoeira como nunca o viu...

Palácio da Brejoeira, Monção
Bilhete Postal, Off do Commercio do Porto, Edição de J.S. Guimarães, 1900

A poucos quilómetro da vila de Monção, junto a uma pequena estrada para Arcos de Valdavez, na freguesia de Pinheiros, campeia um dos mais magníficos palácios portugueses, mandado construir na Quinta do Val da Rosa pelo Senhor Luís Pereira Velho de Moscoso, Fidalgo da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo, Tetente das Melicias da Ponte da Barca e posteriormente Coronel das Melícias de Viana, natural de Badim nascido em 29 de novembro de 1767 e casado com Maria Cleófa Pereira Caldas, de Lisboa, sua prima direita, filha de uma tia que havia casado em Lisboa, local onde o Senhora da Brejoeira passaria grande parte do seu tempo na juventude. 

Ao Senhor Luis Pereira Velho de Moscoso, pertencia o vestuto da Brejoeira, instituído, segundo a voz tradicional, no ano de 1500. Aventurou-se este no grandioso empreendimento, o de substituir a velha casa-mãe dos morgados da Brejoeira, por um magnifico palácio, notável pela sua grandeza, riqueza arquitetónica exterior, pela exuberância mobiliária (estilo império) e ornamentação de interiores e ainda pelo parque e jardins. 

A sua construção terá iniciado na primeira década do século XIX, estima-se que em 1905, ainda que posterior ao seu casamento e nascimento do seu primogénito que não vingaria aos primeiros anos de vida. A herança do morgadio caberia ao segundo filho nascido em 1805, chamado Simão Pereira de Mosocoso. A obra terá se prolongado até 1834, consequência das invasões francesas que obrigaram à suspensão das obras durante alguns anos. 

Palácio da Brejoeira visto do lago, Monção
Union Postele Aniversele do Porto, Edição de J.S. Guimarães, s/d.

Embora não haja provas evidentes sobre a autoria do seu projeto, a construção tem sido atribuído a Carlos Amarante, à época, um dos mais importantes arquitetos em atividade no norte do país. Um sumptuoso palácio de arquitetura neoclássica, com características semelhantes ao Palácio da Ajuda, em Lisboa e que por esse motivo alguns autores atribuem também ao arquiteto José da Costa e Silva (coautor do projeto do Palácio da Ajuda), a autoria do projeto do palácio que só não o viria a construir porque o Rei D. João VI pediu a sua presença no Brasil para chefiar outros projetos, como Carlos Amarante, arquiteto militar, na sequência da reconstrução dos danos provocados pelas invasões francesas andaria pelo norte do país, viria a orientar a construção do palácio.

O palácio em forma de "L", marcado com uma torre em cada ângulo , genericamente composto por quatro fachadas, a fachada principal é dórica e as três restantes, voltadas para o jardim das camélias, de ordem toscana. De salientar que inicialmente a entrada principal fazia-se pela travessia do jardim onde ainda é possível observar o imponente portão primitivo, com o novo traçado da estrada por volta de 1875, a fachada anterior viria a ganhar protagonismo e pro volta de 1910, iniciam-se as obras de construção de uma nova entrada principal na outra extremidade do palacete.


Palácio Caldas no Antigo Largo do Caldas;
Largo Adelino Amaro da Costa, 2-7; Rua de São Mamede;
Rua do Chão do Loureiro, 8-18 Eduardo Portugal, c1940, in AML

Embora os Senhoras da Brejoeira fossem uma família abastada, o palacete existente no Largo do Caldas em Lisboa era propriedade da família, não pertencendo à nobreza, Luís de Moscoso não podia construir um palácio com torres, estas teriam que ser autorizadas pelo rei e que este terá autorizada apenas a construção de duas das três torres que compõem o palácio. Luís de Moscoso morreu em 1837 e as obras prosseguiram sob a responsabilidade do seu novo morgado, Simão Pereira Valho de Moscoso (1805-1881), este acaba por falecer sem descendência e nessa sequência, o palácio foi herdado pela família Caldas de Lisboa. 

Sabe-se que a D. Joana Caldas foi a sua terceira proprietária. Seguem-se tempos de abandono e degradação que duraria cerca de 20 anos.

Por volta de 1901,  a família Caldas residente em Lisboa deixa de ser proprietária do palacete, que é vendido em hasta pública, a Pedro Maria da Fonseca Araújo (1862-1922), presidente da Associação Comercial do Porto. A década de 1900 foi de elevada importancia para a recoperação do palácio, que viria a receber ampbas obras de restauro, projetadas pelo célebre arquiteto Ventura Terra. O imóvel, sem perder as suas características originais,  foi enriquecido com uma capela palatina e um teatro, o mobiliário e papel de parede ao estilo Império teria sido reposto de forma fiel ao anterior entretanto vendido, o arquiteto acrescenta azulejos ao revestimento das paredes do átrio e da escadaria interior, os jardins e o bosque foram reformados, além da construção de um lago. As obras nos jardins e diferentes zonas da quinta foram levadas a cabo pelo horticultor e jardineiro portuense Jacinto de Matos. A par do que aconteceu com a grande maioria dos monumentos portugueses, também o Palácio da Brejoeira, em 23 de junho de 1910 foi classificado como Monumento Nacional.

Palácio da Brejoeira visto do lago, Monção
Caldas de Monção - Alto Minho - Portugal, c1940

Com a morte de Pedro Araújo em 1922, o palácio fica sobre a responsabilidade do seu filho primogénito Dr. Eugénio Araújo que se suicida poucos anos depois, mais uma vez o palácio passa para as mãos de um segundo filho,voltou a decadência ao palácio.

Em 1937, o imóvel foi vendido a Francisco de Oliveira Pais, de Lisboa, seu quinto proprietário. Na década de 1960, por falência deste, o palácio foi adquirido pelo companheiro de sua filha, Feliciano dos Anjos Pereira, que fez construir uma moderna adega e, em 1977, lançou no mercado, com grande sucesso, uma marca própria, o vinho Alvarinho "Palácio da Brejoeira".

Palácio da Brejoeira visto do lago, Monção
Travelling Portugal, 1914

O Palácio pertenceu a Maria Hermínia Oliveira Paes (21 de janeiro de 1918 – 30 de dezembro de 2015 (97 anos)), filha de Francisco Paes. Maria Hermínia foi casada Feliciano dos Anjos Pereira (2 do Outubro de 1894-Julho de 1981). Não tiveram descendência. Feliciano dos Anjos Pereira, casado em segundas núpcias com Maria Hermínia, teve descendência do seu primeiro casamento com Maria Marta Assunção (falecida em Junho de 1979).

Desde 2010 que o Palácio recebe visitas guiadas ao publico.

Actualmente, é nos seus terrenos agrícolas que se cultiva a casta nobre "Alvarinho", responsável pela produção de um dos mais importantes vinhos verdes da região.

 
Palácio da Brejoeira visto do lago, Monção
Palácio Da Brejoeira (Página Oficial), 1910



Fontes:
Uma Monografia de Monção, J. Marques Rocha, 1988;
"Visita Guiada" RTP2, Episódio 12, junho de 2017;
Fotos em delcamp.com e Facebook.com;


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