quarta-feira, 13 de março de 2019

O Palácio-Fonte Monumental da Mitra como nunca o viu...

Palácio-Fonte Monumental da Mitra em ruínas, Santo Antão do Tojal
CML - AML - Série folhas de contacto, c.1930

O Palácio da Mitra, também vulgarmente conhecido como Palácio dos Arcebispos, denominação consequente das entidades tutelares ao longo da sua história, é uma antiga residência de veraneio, primeiro de Arcebispos, e depois, de Patriarcas de Lisboa, situando-se na freguesia de Santo Antão do Tojal, em Loures.

Vista aérea de Santo Antão do Tojal, de salientar a Mitra e o Aqueduto
CML - AML - Série folhas de contacto, 2001.

Na sua origem este uma grande quinta com referencias documentais remontantes ao século XIII, designada de Quinta de Pêro Viegas, não existem referencias em relação a data da edificação dos edifícios, a igreja e o palácio, apenas que em 1554, necessitavam de obras, que foram realizadas pelo então Bispo de Lisboa, D. Fernando de Menezes e Vasconcelos (sendo este arcebispo também o responsável pela construção da Igreja Matriz de Santo Antão do Tojal), e concluídas por D. Miguel de Castro ainda no século XVI. 

Praça do Palácio da Mitra, Santo Antão do Tojal
Arquivo da Câmara Municipal de Loures, 2016.

Já no século XVIII, todos os edifícios sofreram alterações profundas, transformando a propriedade de cariz rural em uma quinta de recreio, por volta de 1730 D. Tomás de Almeida que em 1717 havia sido elevado à categoria de Patriarca (e em 1737 à de Cardeal) mandou-o reconstruir em estilo barroco, contemporâneo à época, promovido essencialmente por arquitectos Italianos, no caso o responsável pela transformação e atual traça foi o arquiteto Canaveri, que nele trabalhou até 1732. 

Pormenor do portal: frontão e armas de D. Tomás de Almeida
Foto de Vanda Silva, SIPA, 2007

Para alem da alteração do palácio principal e da igreja, desenvolveu-se também uma ampla praça, ao centro, pelas mãos do mesmo arquiteto italiano, e também ao estilo barroco,nasce um novo palácio e fonte. Este chafariz monumental rematado por uma escadaria e enquadrada pelos braços do palácio em forma de "U", representam uma arquitatura ímpar em portugal, muito ao gosto italiano de conseguir conciliar a beleza e a funcionalidade no menor espaço possível. Esta fonte era abastecida pelo aqueduto, que trazia água de Pintéus e que havia também sido concebido pelo mesmo arquiteto. Alguns dos arcos ainda existentes, na última parte do percurso, transportavam também água para um outro chafariz, desta forma o arcebispo pretendia colmatar todas as necessidades do abastecimento de água da população, e que de bela forma o conseguiu!

Aqueduto e chafariz na estrada nacional
Foto de Vanda Silva, SIPA, 2007

O conjunto formado pelo Palácio da Mitra, Palácio-Fonte e Igreja com sua torre sineira configuram uma praça monumental barroca que se completa a Oeste por alargamento semicircular de onde parte uma alameda de articulação do conjunto com o aglomerado rural envolvente. Constitui um exemplo raro de "urbanismo" barroco em Portugal que de certa forma determina a organização espacial do aglomerado.

Interior do palácio: escadaria de aparato com figuras de convite
Foto de Manuel Villaverde, SIPA, 2007.

Para alem deste elementos, faz parte deste ambicioso projeto dois pombais, um aqueduto com dois quilómetros destinado a abastecer os dois chafarizes, tudo construções também do século XVIII e ainda os jardins de recreio.

Jardim do Palácio da Mitra - Pormenor do Pombal
Foto SIPA, 2007

O conjunto formado por palácio, aqueduto, pombais, chafarizes, capela e ainda o monumental portão da entrada encontra-se protegido como Imóvel de Interesse Público, pelos decretos de 1940 e 1943, recentemente, em 2012 esta proteção foi alargada a Zona Especial de Protecção (ZEP) e mudada a designação do monumento a proteger para “Palácio da Mitra, aqueduto, pombais, chafarizes, igreja, monumental portão de entrada e toda a área murada da antiga quinta”.

Palácio-Fonte Monumental da Mitra, Santo Antão do Tojal
Foto de Fátima Ferreira, In flickr.com
Já em 1947 o palácio é cedido à Casa do Gaiato, com algumas adaptações as salas recebem agora novas funções e a comunicação entre o palácio e a igreja encerra.


Vista aérea de da praça de Mitra, de salientar a vista do Palácio e Igreja
Foto SIPA, 1996.

A sua finalidade inicial foi cuidar de crianças desprotegidas, uma espécie de internato escola, nas palavras do fundador Padre Américo Monteiro de Aguiar, “somos a família para os que não têm família”. Hoje vivem na Casa do Gaiato do Tojal cerca de 23 jovens com idades compreendidas entre os quatro e vinte e dois anos. 

Palácio-Fonte Monumental da Mitra em ruínas, Santo Antão do Tojal
Original Old Real Photo, 1930

Ao longo do século XX tem vindo a sofrer várias obras de restauro custeadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais; actualmente, encontram-se sediadas no Palácio da Mitra as instalações da Casa do Gaiato.

Palácio-Fonte Monumental da Mitra, Santo Antão do Tojal
Foto de Ivo Mendes, 2005.

Fontes:
Direção Geral do Património Cultural, 2011;
Em Loures o Passado tem Futuro, CML, 2019;

Fotos:
delcampe.net;
Arquivo Municipal de Loures(AML);
Sistema de Informação Para o Património Arquitetónico (SIPA);
Fotos antigas editadas.

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